O repentista Otacílio Batista (1923-2003) era o mais novo dos três famosos irmãos Batistas, sendo os outros, Lourival (1915-1992) e Dimas (1921-1986). Todos eram descendentes todos eram descendentes de família tradicional de poetas e cantadores do Nordeste brasileiro. Alguns dos seus versos foram musicados pelo compositor Zé Ramalho, como os que deram origem a canção “Mulher nova, bonita e carinhosa“, gravada inicialmente pela cantora Amelinha e depois pelo próprio Zé Ramalho.
Este mestre na arte do improviso cantado foi reverenciado até pelo notável poeta do modernismo brasileiro, o pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968), que, em 1960, publicou no seu livro Estrela da Tarde, um poema exaltando os repentistas, após ter assistindo um festival de violeiros no Rio de Janeiro, com a presença de alguns dos grandes nomes da cantoria de viola da época, dentre eles, os irmãos Dimas e Otacílio Batista.
CANTADORES DO NORDESTE
Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um, a quem faltava um braço,
Tocava cuma só mão;
Mas, como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço:
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha
Ou uma oitava em quadrão,
Que a rima fosse em inha
Que a rima fosse em ão,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba;
O Cavalcanti, bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida;
Enfim, toda a comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação,
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação!