WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

MINHA MÃE

Noventa anos de idade
Da minha mãe Enedina.

A filha de João Maurício
E de Tercília Francisca,
Fez o bem, seguiu à risca,
Do trabalho fez ofício.
Enfrentou o sacrifício
Duma mulher nordestina
E foi esta campesina
Quem me apontou a verdade.
Noventa anos de idade
Da minha mãe Enedina.

Casou-se em sessenta e três
Com o poeta Zé Vicente
E me trouxe à luz contente
No ano sessenta e seis.
Wélio quis sua vez
Na região agrestina,
Em sessenta e nove assina
Seu ingresso na cidade.
Noventa anos de idade
Da minha mãe Enedina.

Foi por Jesus escolhida
Pra cuidar dos genitores,
Seus afagos protetores
Tiveram ao final da vida.
Teve a saúde atingida
E só por obra divina
Passou pela sabatina
De toda adversidade.
Noventa anos de idade
Da minha mãe Enedina.

Mãe exemplar, amorosa,
Diante dos empecilhos,
Sempre mostrou aos seus filhos
A forma mais respeitosa.
Da vida religiosa
Fez incansável rotina,
Por isso Deus determina
A sua longevidade.
Noventa anos de idade
Da minha mãe Enedina.

Altinho-PE, 16 de maio de 2023.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

INGRATIDÃO

Para quem eu tanto fiz,
Hoje eu sou um tanto faz.

Mote enviado por José Carlos Rodrigues

Como eu amei a Estela…
Foi tanta dedicação,
Mas hoje o meu coração
Recebe o desprezo dela.
Nosso quarto virou cela
(Cópia fiel de Alcatraz)
Os meus dias não têm mais
Nenhum momento feliz.
Para quem eu tanto fiz,
Hoje eu sou um tanto faz.

Dei mais do que eu podia,
Jurei um amor eterno,
Copiei no meu caderno
Tudo o que ela queria.
Sem imaginar que ia
Ter “broncas” judiciais:
Jogou-me nos tribunais
Mentindo para o juiz.
Para quem eu tanto fiz,
Hoje eu sou um tanto faz.

Tudo nos serve de escola,
A cada hora eu aprendo,
Do que fiz não me arrependo
E saudade não me assola.
Porque a minha viola
Sempre ameniza meus ais,
Seus acordes naturais
Lembram os tempos juvenis.
Para quem eu tanto fiz,
Hoje eu sou um tanto faz.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

APELO AOS MOTORISTAS!

Caro motorista, atente
E não esqueça da seta
Quando for pegar a reta
Do sítio Novo Oriente.
À direita, à sua frente,
Observe este letreiro,
Deixe o pedal mais maneiro
Pra o carro não derrapar
E você não vitimar
Um pobre dum cachaceiro!

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

A CASA DOS MEUS AVÓS.

Quando os avós vão embora
A saudade se abriga
E aquela casa antiga
Ninguém mais visita agora.
Fins de semana vividos,
Por muitos são esquecidos
E a solidão feroz
Passa a ser a inquilina
Da fazenda da colina
Pousada dos meus avós.

Nenhum filho quis ficar
Neste recanto adorado,
Uns foram pra outro Estado
Sem intenção de voltar.
O curral que abrigou
O gado que vô criou
Hoje se rende ao cupim.
Chego a sentir, na verdade,
Um chocalho de saudade
Batendo dentro de mim.

Passei por aquela estrada,
Rezei no pé da porteira
E lembrei cada carreira
Que dei naquela calçada.
Procurei por companhia,
Vi um anum de vigia
Numa cerca de avelós.
Saí pensando num tema
Para escrever um poema
Da casa dos meus avós.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

UMA CASA NA CAATINGA

Foto copiada do Facebook de Luzia de Milton

Casa de taipa, esquecida
Entre o sertão e o agreste.
Com certeza, ainda esperas
Quem viajou ao Sudeste
Tentando escapar da seca
Que assolava o Nordeste.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

PONTO DE VISTA

Atendendo ao pedido do amigo Professor Maurício Assuero, que pediu umas opiniões sobre a falta de paz nas escolas.

Enquanto os seres humanos
Buscarem nos objetos
A compensação que cubra
A lacuna dos afetos
Estarão trilhando sempre
Por caminhos incorretos.

Sem a presença divina
(Peço perdão aos ateus…)
Toda caminhada é vã
Desde o tempo dos Hebreus
Não existe liberdade
Sem a presença de Deus.

Se a Ideologia
Tira Deus do ambiente
A escuridão se instala
Nos maquinários da mente
Por isso a Luz sempre chega
Onde Deus está presente.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

REMANESCENTES

O meu primo Zé Elias
Foi embora, dessa vez.
Eu fui rever esta foto
(Tirada em 76).
E o meu olhar percebeu:
Só a minha mãe e eu
Inda estão entre vocês.

Siga em paz, primo querido 🙏

Da esquerda para a direita: Antônio Miguel (Tõi Migué), este colunista, Enedina Maurício (Minha mãe), Everaldo Andrade (Vevé), Zé Elias, (Primos) Tercília Francisca (Avó materna), João Maurício (Avô materno) e Gumercindo Maurício (Tio materno e padrinho).

Fazenda Boa Vista, sítio Sobradinho, Altinho-PE. Setembro de 1976.

Foto do arquivo de Nivaldo Andrade Maurício.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

É MESMO ASSIM…

A marreta da morte é tão pesada
Que a pedreira da vida não aguenta.

Mote de autor desconhecido, enviado por Laci Chaves

Quando o tempo alinha seus ponteiros
E o destino determina aquela hora
A esposa lamenta o filho chora
Ficam tristes os inúmeros companheiros
Mas aí já passaram alguns janeiros
Podem ser vinte, trinta, até noventa
Quando a corda do relógio se arrebenta
É porque terminou nossa jornada
A marreta da morte é tão pesada
Que a pedreira da vida não aguenta.

Não importa qual o nível social
Pode ser rico, pobre, branco ou preto
Não existe simpatia ou amuleto
Que consiga desviar deste final
Se na vida foste bom, simples, leal
A balança das virtudes acrescenta
Ao contrário o Arcanjo só lamenta
Fica triste, mas não pode fazer nada
A marreta da morte é tão pesada
Que a pedreira da vida não aguenta.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

VIAJANTE

Mote deste colunista:

Vou viajando escanchado
No lombo da poesia.

No dia em que aportei
Na terra de Vitalino
Musas entoaram um hino
Avisando que cheguei
Lembro quando me banhei
Nas águas da santa pia
Com pingos de maestria
Saí de lá batizado
Vou viajando escanchado
No lombo da poesia.

Depois segui para Altinho
No agreste pernambucano
Onde Deus mandou-me o plano
De seguir no bom caminho
Tendo o apoio e o carinho
Da família, todo dia
E ouvindo a melodia
De um pinho bem afinado
Vou viajando escanchado
No lombo da poesia.

Hoje sou um retirante
Da minha terra adorada
Mas enfeito a minha estrada
Com inspiração constante
Que vem a qualquer instante
Ser a minha companhia
E espanto a agonia
Com verso metrificado
Vou viajando escanchado
No lombo da poesia.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

O MATUTO E O PREFEITO

A Herbert Lucena

Zé de Maria Calu
Do sítio Fogo no Eito
Por ser o mais estudado
Já se achou no direito:
Formou uma Comissão
Quatro primos, um irmão
E foram ter com o Prefeito.

Levou uma relação
De fatos mais relevantes:
Falta de água no sítio,
As quedas de luz constantes,
População desprezada
Sempre, sempre castigada
Pelas ações de assaltantes.

Sugeriu para o Prefeito
Uma Frente de Emergência
Atuando dia e noite
Numa melhor assistência.
O Prefeito, num gesto hilário,
Piscou para o Secretário:
– Vou tomar a Providência!

Altinho-PE, 09.12.2014