Eu vou contar uma história Que se deu no cariri Fui comer um mungunzá Deus do céu, como sofri A linguiça apimentada Me deixou agoniada E acabou em piriri.
Quando eu adentrei no carro Senti meu anel piscar A tripa engolindo a outra Minha barriga a roncar Eu sofrendo no sufoco Pra segurar o brioco Até em casa chegar.
O vuco vuco no rabo Aumentava de pressão Eu me benzia e rezava Pedindo a Deus proteção Rezei a Salve Rainha Me retorcendo todinha E o diabo do cu na mão.
Deu vontade de peidar Porém eu não me arisquei Com as pregas ajustadas Dessa vez eu segurei Se vem peido acompanhado Eu deixo o carro cagado De medo me arrepiei.
O velho trem da saudade Resolveu me visitar Na bagagem a lembrança É tanta, chega a pesar Abro a porta do vagão E deixo a recordação Pelos trilhos me guiar.
Êta saudade danada Que bateu, mas foi de mim Menina moça levada Batom da cor de carmim Faceira e desaforada Pela vida apaixonada Como eu gostava de mim.
Nas tertúlias da cidade Era a primeira a chegar Pra “tirar uma fornada” Com quem soubesse dançar Dançava bem um brecado Um bolero apaixonado E sem “macaco botar.”
Short curto, minissaia Era assim que eu me vestia Minha mãe era moderna E para minha alegria Gostava de costurar E a gente podia usar A roupa que bem queria.
Passear de bicicleta Era outra diversão Cidade do interior Ipueiras, meu sertão Banhos de açude e de rio Quando recordo sorrio Fui feliz em meu rincão.
Passei por cima de tudo Pra viver em liberdade Desdenhei até das leis Da nossa sociedade Liberta da hipocrisia E sem precisar de guia Vivi só minha verdade.
Hoje você me procura Mas não lhe dou atenção Morreu a velha paixão Virou pó na sepultura Olhando sua figura Mal reconheço seu traço Escapo do seu abraço Pois meu olhar não se engana Quem um dia já foi cana Agora é só bagaço
Antigamente eu gemia Ele gemia também Ele me chamava amor E eu chamava de meu bem Hoje quando estou gemendo Ele vai logo dizendo: Que diabo é que você tem?
Dalinha Catunda
O verdadeiro gemido Que muita gente conhece Começa ao anoitecer Termina quando amanhece Mas o gemido de dor Espanta qualquer amor Quando a gente envelhece.
Creusa Meira
Meu gemido é diferente E é capaz de assustar Porém nunca perguntei Na hora de namorar A gemedeira é no grito E a dele no mesmo rito Que até chega a desmaiar.
Lindicássia Nascimento
Na nossa lua de mel Em cima do meu colchão Eu gemia ela gemia Parecia assombração Hoje se der um gemido Ela vem com um comprimido E um copo d’água na mão
Alberto Francisco
Aqui também é assim Uma grande gemedeira Ela geme e eu gemo É a maior quebradeira Agora, gemido de amor Gemido sem sentir dor Num tem de jeito e maneira
Xico Bizerra
No começo a gemedeira Assombrava até a gente Nosso gemido era imenso Que a cama ficava quente Hoje em dia, no gemido. Ela já diz: – Meu marido Já está com dor de dente!
Marcos Silva
Como tenho sete dores Correndo por todo o corpo Já não dá mais pra gemer Até ando meio torto Sem ninguém pra me acudir A mulher só a dormir Contudo, não estou morto.
José Walter Pires
Indo puxo gemedeira De peleja e cantoria Também gemo em minhas dores Mas lamento hoje em dia Minha cobra não dá bote Sem puder pegar caçote Eu só gemo de agonia
Giovanni Arruda
Meu carro de boi gemia Nas suas longas andanças De noite do quarto ouvia Eu e outras crianças Gemidos vindo da porta Que o vento hoje corta Gemidos dessas lembranças.
Deus me livre desse mal Inda tenho tanta vida Trago meu sorriso largo Alguém me chama querida Eu não quero ir agora Ai, ai, ui, ui, Ô meu pai me dê guarida.
Quero viver utopias Tenho tanto amor pra dar No calor da minha rede Inda quero me embalar Mesmo no outono da vida Ai, ai, ui, ui, Vejo meu sonho brotar.
Quero meus dias brejeiros As noites de cantoria Com viola e lua cheia Deus do céu me alumia Salve todos do naufrágio Ai, ai, ui, ui, Nos poupe dessa agonia.
Faço prece pra Maria Faço prece pra Jesus Peço a Deus onipotente Aquele que nos conduz Que tire dos nossos ombros Ai, ai, ui, ui, Essa tão pesada cruz.
Pra mim a chuva é tela De uma linda pintura No meu Cratinho ela cai Cai agora com ternura Meu coração tá contente A chuva ,o melhor presente Traz promessa de fartura!
Lindicássia Nascimento:
É festa na agricultura Alegria pra o sertão Sertanejos se animam Com o relâmpago e o trovão A chuva é a esperança Para o tempo de bonança Pra quem fez a plantação.
Dalinha Catunda:
Chuva caindo no chão Atiça minha saudade Nós dois no banho de chuva Numa casualidade Enquanto a chuva caía O casal feliz sorria Ungindo a felicidade.
Recebi duma comadre O nome não vou dizer Uma carta reclamando Da vida ao envelhecer Chorosa se maldizia Até falava heresia Porém fiz questão de ler:
Saudações minha comadre Espero que esteja bem Pois aqui vou como posso Pouca coisa me entretém Não sei que será de mim Chegou a velhice, enfim Trazendo o que não convém.
Se me levantar depressa Me levanto com tonteira Se não correr pro banheiro A xana vira torneira Se eu começar a tossir Comadre, não é pra rir! Já começa a peidadeira.
Arrumei uma bengala É nela que me seguro Até que é jeitosinha E me protege no escuro Só assim eu passo a mão Com certa satisfação Num cajado de pau duro.
Minha vista estava curta Porém mandei operar O resultado foi bom Eu nem posso reclamar Eu que enxergava ruim Vejo até um micuim Bem antes dele coçar.
Os gemidos lá de casa Não são gemidos de amor Qualquer esforço que faço Começo a gemer de dor Não há tarefa sem ai Quando um palavrão não sai Grito por Nosso Senhor.
Saúde e prosperidade Eu desejo a cada amigo Que interagiu comigo Nesse ano com lealdade Manter a nossa amizade É preito de gratidão Desejo de coração Um ano com muito amor E que a luz do Salvador Seja a nossa direção.