DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

BORDANDO VERSOS

Mote e foto desta colunista

Dalinha Catunda:

Como quem faz um bordado
Vou fiando meu cordel
Procurando ser fiel
Tramo com todo cuidado
Cada ponto do traçado
Faço com dedicação
Trago a metrificação
Pra cada verso compor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Bastinha Job:

Procuro tecer meu verso
Primando na isometria
Busco a isorritmia
Poesia é meu universo
Na mensagem me alicerço
Daí vem pura emoção,
Catarse, satisfação
Compromisso no lavor:
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Jesus de Ritinha:

Eu entro na brincadeira
Agricultando poesia
Plantando com alegria
A semente brotadeira
Levo também uma esteira
Que estendo com a mão
Para dessa plantação
Colher frutos de primor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

David Ferreira:

Não entendo de bordado,
mas eu vi mamãe tecer.
Não consegui aprender,
porquê homem do cerrado
não podia ser prendado,
fazer bordado de mão,
pisar arroz no pilão,
era visto com temor…
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Rosário Pinto:

Faço rima faço prosa.
Procuro ter alegria.
O meu cantar se irradia
Para alguns me chamo Rosa
Eu gosto de fazer glosa
Não conheço a solidão
Trago sempre uma canção
Canto com muito fervor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Vânia Freitas:

Dedico meu tempo à arte
Eu faço que nem Dalinha
Também não saio da linha
Vou fazendo minha parte
Assim como ela reparte
Com muita dedicação
Eu tiro do coração
Algum som do meu tambor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Gevanildo Almeida:

Tiro o verso da cachola
Faço ele flutuar
Sou poeta popular
Desses que não se enrola
Só não sei tocar viola
Mas na minha intuição
Metrifico a oração
Na verso que vou impor
Faço rimas com amor,
Faço cordel com paixão

Francisco Chagas:

Eu descrevo a natureza.
O sol, a lua e estrelas.
Eu tenho o prazer de vê-las.
Se eu tiver com tristeza.
Quando olho pra grandeza.
Do Deus Pai da Criação.
Sinto no meu coração.
Muita alegria e vigor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

Rivamoura Teixeira:

Eu sou mei intrometido
Doido levado da breca
Quero brincar de peteca
E este tema é tão querido
Eu também tenho mantido
Esta forma de expressão
Traço com dedicação
Metrifico com fervor
Faço rimas com amor
Faço cordéis com paixão

Creusa Meira:

Na infância fiz bordado
Que a minha mãe ensinava
Tricô e renda, eu tentava
E meu pai tinha guardado
Os versos do seu passado
Eu lia com atenção
Fui aprendendo a lição
E hoje posso dar valor
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

José Walter Pires:

Viver “pintando e bordando”
Foi expressão popular;
Mas não sei como explicar,
Às meninas, comparando,
Ou só ficar criticando
Os rumos da evolução,
Com tamanha tentação,
Desafiando o pudor.
Faço rima com amor.
Faço cordel com paixão.

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

CARREIRÃO DE MULHER

Sou poeta popular
Nos versos sou estradeira
Quando pego um carreirão
Meu verso não tem barreira
Sempre tive a língua solta
Pois gosto de brincadeira
Quando chego num alpendre
Puxo logo uma cadeira
E desenrolo meu verso
Sem esquentar a moleira
Ninguém derruba meu verso
Com pedra de baladeira.
Quem for fraco de poesia
Pode pegar na carreira
Meu angu aqui é quente
Não se come pela beira
Quando retoco o batom
Mostro meu lado brejeira.
Tem muita gente que aplaude
Meu verso de cantadeira
Porém tem gente que diz
Que apenas falo besteira
Não canto sem minha figa
Não passo sem benzedeira.
Aprendi meu carreirão
Ouvindo Pedro Bandeira
Escrevo meus absurdos
Por causa de Zé Limeira
Eu só não aprendo nada
É quando esbarro em toupeira.
Esse canto encarrilhado
É canto de catingueira
Que não erra na flechada
Porque sabe ser certeira
SE TEM CANTO DE SEGUNDA
O MEU CANTO É DE PRIMEIRA.

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

A REVOADA DAS POMBAS

Vi a pomba bater asas
Esvaziando o terreiro
Era só um passarinho
Buscando novo roteiro
Pomba-de-arribação
Bem comum lá no sertão
No ir e vir corriqueiro.

Quando pousou na vivenda
Já era tempo de estio
Entretanto fez seu ninho
Acabei com seu fastio
Cuidada com bom xerém
Ela sentia-se bem
Arrulhava a cada cio.

Vi a rola satisfeita
Sempre renovando o ninho
E dava graças a Deus
Por tê-la em meu caminho
Mas tudo acabou em nada
Pois a rola desalmada
Sumiu em um torvelinho.

E foi-se a pomba vadia
Foi-se a Burguesa também
Por rolas eu não lamento
Umas vão e outras vem
E foi-se a pomba terceira
Não será a derradeira
Que meu alçapão detém.

Outro dia eu avistei
A vadia em meu quintal.
A Burguesa toda prosa
Vi pousando em meu varal
Mas quem hoje me fascina
É uma pomba-divina
Conhecida por trocal.

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

BONECA DE PANO

Fotos da colunista

Dias felizes da infância
Inda guardo na memória
A dona simplicidade
Fez parte trajetória
A bonequinha de pano
Foi rainha nessa história.

Eram compradas nas feiras
Arrematas em leilão
Brinquedo mais precioso
Que tive no meu sertão
Os vestidos eu fazia
Sempre costurando a mão.

Guardei essa tradição
E hoje volto a brincar
De fazer as bonequinhas
Somente pra exercitar
Esse meu prazer antigo
Que me encanta recordar.

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

GLOSAS

Mote desta colunista:

Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Quando rego minhas flores,
Desperto a recordação,
Que mora em meu coração.
Entre suspiro e rumores,
Evoco antigos amores,
E choro a fugacidade,
Do que foi felicidade,
Porém hoje é fenecido…
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Recordo nós dois juntinhos
Debaixo do pé de ipê
Era só eu mais você
Numa sombra sem espinhos
Seguindo os mesmos caminhos
Vivendo a mesma verdade
E mesmo na tenra idade
O tempo não foi perdido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Quando chega a primavera
Eu puxo pela memoria
Cada flor é uma história
Pra quem viveu de quimera
Então digo: quem me dera
Com toda sinceridade
Viver com intensidade
Tudo de bom já vivido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Debaixo duma latada
Era o cravo era a rosa
Era um verso era uma prosa
Numa conversa animada
Era a mais bela jornada
Em meio a simplicidade
Era amor era amizade
Era a flecha do cupido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Recordar é reviver
Diz o dito popular
Por isso vivo a lembrar
Sem pensar em esquecer
O que senti florescer
Em tempos de liberdade
Na mente é prioridade
Não é sonho adormecido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

Das flores do meu jardim
Só de lembrar sinto o cheiro
São flores do meu canteiro
É cheiro que não tem fim
Só por isso eu canto assim
Com gosto e vivacidade
Seguindo a minha vontade
Nesse mote repetido:
Esse meu jardim florido,
É cacimba de saudade!

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

SUBI NA PIROGA E PEGUEI NO JACUMÃ

Foto desta colunista

Num passeio inusitado
Fui visitar uma oca
Um índio quase pelado
Levou-me a sua maloca
Nessa bonita manhã
Pegando em seu jacumã
Saí com ele da toca.

O passeio foi bonito
Em meio a natureza
Subi na sua piroga
E achei uma beleza
E no banho no riacho
Ele perdeu o penacho
Que caiu na correnteza.

Ao voltarmos do passeio
Eu estava esbaforida
Ele me trouxe cauim
Eu aprovei a bebida
Não saí daquela loca
Sem entrar na mandioca
Gostei muito da comida.

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

O TROTE

Um microconto

Certa noite, eu já deitada, perdida em meus pensamentos a embalar-me numa rede…

Eis que de repente, não mais do que de repente, toca insistentemente o telefone em sua base fixa, preguiçosamente levanto-me para atender.

Sonolenta pego o aparelho e me surpreendo:

– Alô, quem fala?

– Aqui, é a amante do seu marido!

Nessa hora tive vontade de rir e quase gargalhei, mas compenetrada respondi:

– Olha, querida, se fosse a esposa do meu amante eu até te daria um papo, mas…

Desliguei o telefone, voltei para meu ócio noturno, com o pensamento em novas e emocionantes tardes…

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

O TABACO DE MARIA

Xilogravura de Erivaldo Ferreira

1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

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DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

CORDEL – O TABACO DE MARIA

Xilogravura de Erivaldo Ferreira

1
Na estrada do Pai Mané
Na cidade de Ipueiras
Bem pertinho das Barreiras
De imburana tem um pé
Ele dá um bom rapé
Pra quem sabe preparar
Maria sabe torrar
E tem grande freguesia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

2
E naquela arrumação
Meu pai era viciado
No dedo era colocado
Do rapé uma porção
Com o tabaco na mão
Pra no nariz esfregar
E logo após aspirar
Ele fungava e dizia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

3
Valdenira me indicou
Disse mulher acredite
Ele é bom pra sinusite
Aqui mamãe sempre usou
Depois que ela receitou
Comecei a melhorar
Nunca parei mais de usar
Acabou minha agonia:
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

4
Garapa ficou sabendo
Dessa história do rapé
Foi direto ao Pai Mané
Também estava querendo
Com Maria se entendendo
Resolveu logo pagar
E não saiu sem provar
do cheiroso nesse dia
O tabaco de Maria.
Todo mundo quer cheirar.

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DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

UMA RODA DE GLOSAS

Xilogravura de Valdério Costa

Mote desta colunista:

Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

* * *

Nem bem o dia amanhece
Já está em meu quintal
O seu canto matinal
É canto que me enternece
Mas comida só merece
Quem tem rumo e direção
Não cedo alimentação
Pra quem sempre vai e vem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Dalinha Catunda

Também não darei moleza
À rola ou a periquito,
Mesmo sendo bem bonito,
Pode ter toda a certeza;
Beleza nunca põe mesa
E nesses tempos então
Só abro uma exceção
Com aval de Araquem:
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Bastinha Job

Já tive no meu terreiro
uma rola sem futuro,
me procurava no escuro
e me acertava o traseiro,
com seu jeito interesseiro,
não queria meu pirão,
mas só arroz com feijão,
na hora do vai-e-vem.
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Anilda Figueiredo

Eu adoro passarinho…
Mas sou fã do periquito
Esse do mote esquisito
Não põe ovo no meu ninho
Pra ficar tudo certinho
Eu digo com precisão
Essa rima é o cão
Esse verso não convém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Giovanni Arruda

Quando o pássaro é manso
Basta um dedo em riste
Botar painço e alpiste
Que vem fazer o descanso
Já criei patos e ganso
Sabiá corrupião
Acabava com a ração
Não me sobrava um vintém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Araquém Vasconcellos

Canta lá no cajueiro
Que fica no meu canal
Um rebanho de pombal
Me consola o dia inteiro
Mais não chega no terreiro
Nem na janela do oitão
Eu tenho essa opinião
Pode ser pardal, quem quem
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Jairo Vasconcelos

Eu escuto o passarinho
Mas grito com dedo em riste
Posso dar xerem, alpiste
Se ele sair do ninho
Se eu escutar bem cedinho
Um canto em tom de canção
Mas se ele só diz não
E não canta pra ninguém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Rivamoura Teixeira

Eu criava uma rolinha
Um dia fiquei zangada
Ela vivia escorada
Peguei a tal passarinha
Ficou mais mole a bichinha
Eu dei nela um arrochão
Sapequei ela no chão
E pelei o seu sedém
Pra rola só dou xerém
Se comer na minha mão.

Ritinha Oliveira