Feito Cora Coralina
Faço doce e poesia
Não vivo chorando a sorte
Gosto de adoçar meu dia
Com doces e com palavras
Vou produzindo magia.

13 de junho, Dia de Santo Antônio (Foto desta colunista)
Ô meu Santo Antônio
Me ajude a casar
Eu quero um marido
Quero me arranjar
Se você não der
Lhe jogo no mar.
O tempo se passa,
Você nada faz
Eu só esperando
Meu belo rapaz
Pois ficar solteira
A mim não apraz.
Meu santo querido
Meu santo adorado
Se eu morrer sozinha
Você é culpado!
Me arrume santinho…
Um bom namorado!
Para falar de Ciranda
O meu coração balança
Eu faço a roda girar
Quando a musa entra na dança
Avivando a inspiração
Assim flui minha oração
Diante dessa aliança.
Peguei na mão da ciranda
Buscando sempre agregar
Juntei ciranda e cordel
Para melhor propagar
Com canto e literatura
Nossa popular cultura
Com dança para animar.
No meu cordel cirandeiro
Trago o canto de alegria
Trago meu Cordel de Saia
Trago o cordel de Maria
Pra mostrar meu universo
De rima de canto e verso
De peleja e cantoria.
Pra melhor salvaguardar
O cordel literatura
Eu criei As Cirandeiras
E gostei dessa mistura
Quem sabe canta o refrão
E faz a declamação
Nos moldes dessa estrutura.
Cirandeiras do Cordel
É projeto que caminha
Já tem um núcleo no Crato
Com cordelistas de linha
Outros núcleos surgirão
Conforme a ocasião
Assim cogita Dalinha.
Vou abrir a minha roda
Quem quiser pode chegar
Mais de mil versos bonitos
Fiz pra quem quiser cantar
Enfie a mão na sacola
E pode pegar a cola
Quem quiser participar.
Um beijo dado na testa
É fácil de ir ao chão
Porém o beijo na boca,
Vai direto ao coração.
Quadrinha colhida nas conversas de calçada
Já beijei tanto na vida
Sem me cansar de beijar
Pensei em fazer as contas
Mas não deu para contar.
Dalinha Catunda
O beijo é muito bom
Em todos eles me encaixo
Mas o que dá mais tesão
É mesmo o que esquenta em baixo.
Bastinha Job
Beijei Bete e margarida,
A Janete e Irismar
Mais quem mais amei na vida
Eu não consegui beijar
Jairo Vasconcelos
Araquém Vasconcelos
Soltei um beijo no ar
Pra chegar no meu amor
Foi cair em outro alvo
No bico de um beija flor
Araquem Vasconcelos
Beijo é bom quando arrepia
E acende o fogo da gente
A língua escreve poesia
Que os lábios embaixo sente.
Lindicassia Nascimento
Capa desta colunista
A mulher no seu trajeto
Marcou bem sua conduta
Abraçando profissões
Nunca fugiu da labuta
Porém muito consciente
Ela sempre é presente
Na base de cada luta.
Onde o progresso era lerdo
Laborava sua mão
Exercendo cada ofício
Usando a intuição
Mesmo sem ter faculdade
Serviu a sociedade
Sendo informal em ação.
Todo seu conhecimento
É dote matriarcal
Aprendeu fazer canteiro
Com erva medicinal
E lá nos tempos de então
Servia a população
Com plantas do seu quintal
Onde não havia médico
Raizeira sempre tinha
Mostrando conhecimento
E os saberes que detinha
Pra quem não tinha dinheiro
O remédio era caseiro
E não faltava mezinha.
Folhas para chás e emplastro
Era comum ter na feira
Como hortelã e mastruz
Arruda, malva e cidreira
Também raízes sortidas
Que eram sempre vendidas
Através da raizeira.
Nos lugares mais remotos
Nas mais distantes ribeiras
Pessoas eram curadas
Pelas mãos das benzedeiras
Que faziam a benzedura
Seguindo a velha cultura
Das mulheres curandeiras
Xilogravura de Erivaldo Ferreira
Mote desta colunista:
Só não me lasquei todinha
Porque já nasci lascada.
* * *
Uma carreira levei
E foi de vaca parida!
Da malfadada corrida,
Eu nem sei como escapei!
A correr eu me danei,
Numa vereda apertada,
Dali não saí cagada,
Pois merda pronta não tinha:
Só não me lasquei todinha
Porque já nasci lascada.
Dalinha Catunda
Na noite de quinta feira
Fui caçar com uns amigos
Não sabia dos perigos
Que rondava na ribeira
Quando descemos a ladeira
Pintou o saci na jogada
Deu tremedeira danada,
Que afrouxou, a porta cozinha
Só não me lasquei todinha
Porque já nasci lascada.
Jairo Vasconcelos
Já nasci com meu destino
Minha sina Deus me deu
Mas tem tanto fariseu
Tão falso e tão cretino
Sem vergonha e sem tino
Se metendo em minha estrada
Não pode mudar mais nada
Nem feitiço me definha:
Só não me lasquei todinha
Porque já nasci lascada
Bastinha Job
Com o pau você bateu
O bicho também furou
Ele sabe o que levou
Não sei quantas você deu
Quando o cacete comeu
Não contei cada porrada
Ela me disse cansada
E a voz já bem baixinha
Só não me lasquei todinha
Porque já nasci lascada.
F. de Assis Sousa
Foi Maurício Assuero
Que inventou um Cabaré
Ele é muito frequentado
Nesse espaço eu boto fé
É o Cabaré do Berto
Que as sextas, é aberto
E eu fui lá ver como é.
Sei que o Cabaré do Berto,
É cabaré de respeito
Mas mulher p’ra frequentar
Tem que ter é muito peito
Ou cai na língua afiada
De quem fica recalcada
Se roendo com despeito.
Tem papo e tem poesia,
Tem muita descontração,
Histórias inusitadas
De farra e de traição
Na hora da oratória
Não falta corno na história
Muito riso e animação.
O cabaré democrático
Todos podem frequentar
Não tem limite de idade
Quem quiser pode chegar
Tem um clima diferente
E que agrada a muita gente
Quem quiser pode chegar.
Esta colunista e um mói de poetas trabalhando o meu mote:
Glosando sou saliente
Meto o sarrafo no mote.
* * *
Quando me ponho a glosar
Gloso com inspiração.
Com bom parceiro em ação,
Eu começo a incitar,
E vejo a glosa jorrar,
Com pares no mesmo bote.
Porém, sei dar meu pinote,
De maneira irreverente:
Glosando sou saliente
Meto o sarrafo no mote.
Dalinha Catunda
Busco o tema lá na lua
Ou colho no meu sertão
Que me dá inspiração
Com verdade nua e crua
Mas se alguém se insinua
Eu já digo que se bote
Vai pular feito caçote
Porque minha glosa é quente
Glosando sou saliente
Meto o sarrafo no mote
Rivamoura Teixeira
Gloso com muito querer
Quando o mote me desperta
Parece que a rima flerta
Faz meu ego florescer
A explosão do prazer
Arrepia o meu cangote
Fico feliz, dou pinote
Satisfeita e sorridente:
Glosando sou saliente
Meto o sarrafo no mote.
Lindicássia Nascimento
Efervescendo as entranhas,
Mexendo minha libido;
Jamais fico desprovido,
Te laço nas minhas manhas;
Pois tu sempre me assanhas,
Com charmes de fazer lote ;
Eu também tenho esse dote ;
Tô me sentindo caliente,
“Glosando sou saliente ;
Meto sarrafo no mote.”
Wellington Santiago
Nosso cordel é de fato
cultura e entretenimento,
pois, junta amor com talento
e tudo – num tempo exato –
vê-se harmonia e recato,
bom humor e raro dote,
d’um jeito qu’o leitor note
seu contexto inteligente…
“Glosando sou saliente,
Meto o sarrafo no mote.”
David Ferreira
Desde pequeno que eu gloso
Minha vida foi glosar
Quando saio a poetar
Eu encaro qualquer troço
Faço a rima que eu posso
Quando me pedem que bote
Me arrepia o cangote
Fico rindo, alegremente
Quando gloso sou saliente
Meto o pau em qualquer mote
Xico Bizerra
Antigamente eu gemia
Ele gemia também
Ele me chamava amor
E eu chamava de meu bem
Hoje quando estou gemendo
Ele vai logo dizendo:
Que diabo é que você tem?
Dalinha Catunda
O verdadeiro gemido
Que muita gente conhece
Começa ao anoitecer
Termina quando amanhece
Mas o gemido de dor
Espanta qualquer amor
Quando a gente envelhece.
Creusa Meira
Meu gemido é diferente
E é capaz de assustar
Porém nunca perguntei
Na hora de namorar
A gemedeira é no grito
E a dele no mesmo rito
Que até chega a desmaiar.
Lindicássia Nascimento
Na nossa lua de mel
Em cima do meu colchão
Eu gemia ela gemia
Parecia assombração
Hoje se der um gemido
Ela vem com um comprimido
E um copo d’água na mão
Alberto Francisco
Aqui também é assim
Uma grande gemedeira
Ela geme e eu gemo
É a maior quebradeira
Agora, gemido de amor
Gemido sem sentir dor
Num tem de jeito e maneira
Xico Bizerra
No começo a gemedeira
Assombrava até a gente
Nosso gemido era imenso
Que a cama ficava quente
Hoje em dia, no gemido.
Ela já diz: – Meu marido
Já está com dor de dente!
Marcos Silva
Como tenho sete dores
Correndo por todo o corpo
Já não dá mais pra gemer
Até ando meio torto
Sem ninguém pra me acudir
A mulher só a dormir
Contudo, não estou morto.
José Walter Pires
Indo puxo gemedeira
De peleja e cantoria
Também gemo em minhas dores
Mas lamento hoje em dia
Minha cobra não dá bote
Sem puder pegar caçote
Eu só gemo de agonia
Giovanni Arruda
Meu carro de boi gemia
Nas suas longas andanças
De noite do quarto ouvia
Eu e outras crianças
Gemidos vindo da porta
Que o vento hoje corta
Gemidos dessas lembranças.
Vânia Freitas