FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

MEDITAÇÕES DE UM PENSANTE IMPERADOR

Admiro muitíssimo quem sabe pensar, pautando-me frequentemente por reflexões de sábios de um antigamente que ainda hoje jorra luzes sementeiras sobre uma pós-modernidade que está a necessitar de amplos conhecimentos humanísticos que fortaleçam o binômio tecnologia x humanismo, impossibilitando uma robotização do ser humano, hoje hipnotizado e meio por redes eletrônicas muitas vezes não relacionadas com uma dignidade comportamental compatível com a caminhada de muitos milhões de milhões.

Respeito intensamente todas as crenças religiosas, tenho amigos queridos que são agnósticos em graus diversos. Possuo parentes de diferentes gêneros sexuais que são profissionais aplaudidos e de famílias respeitadas, parabenizando intensamente os que sabem pensar com racionalidades convincentes, sempre distanciados dos que apenas ruminam verbostagias que apenas iludem os aloprados mentais de nulificantes níveis culturais, apenas de olhos voltados para joias trazidas do exterior, pouco se importando com os pagamentos devidos das taxas alfandegárias.

Outro dia, numa reunião familiar, um primo muito querido, o Edinho, me perguntou se eu já tinha lido algumas reflexões do imperador Marco Aurélio Antônio (121-180 d.C.), o romano imperador filósofo responsável pelo apogeu histórico do Império, que tinha recebido, infância e adolescência, uma excelente educação, tendo estudado retórica e poesia com Herodes Ático e Cornélio Frontão, sendo convertido ao estoicismo por Diogneto, dedicando então sua caminhada ao estudo da filosofia e do direito.

Suas Meditações, escritas em grego por causa do necessário vocabular ainda não traduzido pelo latim de então, até hoje servem de esteio para debates pensantes de níveis compatíveis com as exigências da pós-modernidade evolucionária. Enviei para o Edinho algumas das reflexões do Marco Aurélio que tinha anotado num caderno de poucas folhas, encarecendo ao primo querido a distribuição delas em seu ambiente técnico de trabalho, voltado regimentalmente para o desenvolvimento urbano da amada capital pernambucana, Recife. Eis cinco das meditações enviadas:

a. “Por que te deixas levar pelas circunstâncias exteriores? Reserva para ti um momento de sossego para apreender a natureza do Bem e refreia tua agitação.”

b. “Considera sempre que o Universo é um organismo vivo, que possui uma única substância e uma única alma; e que todas as coisas estão submetidas a uma só percepção deste todo; que tudo é movido por um único impulso e tudo toma parte em tudo o que acontece. E repara quão intrincada e completa é essa trama.”

c. “Se alguém me mostrar e me provar que estou errado em pensamento ou conduta, de bom grado mudarei. Pois eu busco a verdade, que nunca prejudicou a ninguém. O que prejudica é persistir no erro e na ignorância.”

d. “Que o futuro não te perturbe. Tu chegarás lá, se for preciso, levando consigo a mesma razão da qual te serves agora para as tarefas presentes.”

e. “Não se limite mais a respirar o ar que te circunda, mas participa a partir de agora da sabedoria da Inteligência que governa todas as coisas, pois a faculdade inteligente não está espalhada por toda parte e não se insinua a não ser nos seres em que é capaz de penetrar, assim como o ar com os que respiram.”

Construamos horizontes mais abertos para todos aqueles que buscam sair de uma vida sem pensação para uma vida repleta de múltiplas esperanças.

Saibamos declinar, sem ruminações e com múltiplas enxergâncias racionais, o verbo ESPERANÇAR!!

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

CRITICIDADE E PARANÓIA

Nos meios universitários, os posicionamentos e análises docentes e discentes devem ser expostos das formas as mais diferenciadas, desde que possibilitem a ampliação da consciência crítico-construtiva dos envolvidos. Os alunos, na grande maioria ainda quase adolescente, portadores de ousadias múltiplas, sonhos desmedidos, egolatrias narcísicas e um só-eu-salvarei-o-mundo quase sempre refletido em barzinhos de musiquinha para brothers, muito ampliado após duas boas lapadas de uma caipirinha porretamente acompanhada de um tira-gosto frito em óleo às vezes já saturado.

Entretanto, diante de uma crise universitária que persiste há mais de uma década, onde professores insatisfeitos, em inúmeras instituições públicas, já superam mais da metade do quadro docente, já é de percepção fácil a substituição daquela postura acadêmica lucidamente crítica por raivosidades esquerdeiras ou por justificativas liberais petrificadas, ficando os distanciados dos patológicos extremos numa situação incômoda, como se estivessem em cima do muro, buscando agradar simultaneamente Deus e o diabo.

O binômio causador dos posicionamentos extremistas – individualismo de intelectual todo liberal x submissão a uma partidocracia hierarquizada por palavras de ordem e colocações estapafúrdias – indica claramente uma fase de transição nacional, um período que deverá ser longo, certamente caótico e ultra-incerto. Tudo provocado pela ausência de dois indispensáveis insumos: bom senso analítico e cultura humanística bem consolidada.

Outro dia li um ensaio de James Petras, autor de nomeada, com alguns livros já traduzidos no Brasil: Brasil de Cardoso: a Desapropriação do País (Vozes) e Armadilha Neoliberal e Alternativas para a América Latina (Xamã) são dois deles. Encartado no volume Combates e Utopias, Record 2004, organizado por Dênis de Moraes, o título de um texto é por demais oportuno: Os Intelectuais de Esquerda e sua Desesperada Busca por Respeitabilidade. E ele não titubeia quando identifica quatro estratégias de carreira das proclamadas mentes progressistas: 1. abordagem de conservação a frio, mantida a discrição por muitos anos para adquirirem prestígio e estabilidade, quando se tornam radicais; 2. aquisição de uma aura de prestígio através da combinação pesquisa convencional e magistério com horas de papo radical após expediente; 3. utilização de esforços desproporcionais entre trabalho acadêmico convencional e escassa dedicação intelectual aos movimentos populares; 4. postura de desempenho acadêmico desinteressado, divorciado de lutas, movimentos e compromissos políticos. E o Petras vai mais fundo: é impressionante, nos chamados intelectuais esquerdeiros, “a suspensão de críticas aos patrocinadores, fundações e personalidades burguesas que financiam amplas agendas de pesquisa para perpetuar e estender o poder imperial”.

Bom demais para todos seria a leitura do livro de Paulo Freire Pedagogia da Autonomia, onde ele proclama que ensinar possui uma série de exigências: a da rigorosidade metódica, a da pesquisa, a do respeito aos saberes do educando, a da criticidade, a da estética e ética, a da corporificação das palavras.

Ensinar, segundo Paulo Freire, exige risco, aceitação do novo, rejeição às discriminações, reflexão crítica sobre a prática, bom senso, curiosidade, apreensão da realidade, alegria e esperança, além da convicção de que a mudança é possível. Além de saber escutar, disponibilidade para o diálogo e um imenso querer bem para com os educandos, sem populismos nem dogmatismos cavilosos nada convincentes para os que sabem pensar..

Perceber-se sempre inconcluso já é um grande passo. Reconhecer-se uma metamorfose ambulante é compreender-se ainda mais docente. Endurecendo às vezes, sem perder a ternura jamais.

PS. Para a educadora Edla Soares, admiração minha de longa data, competência, compromisso e alegria, o abraço fraternal, sempre recheado de muita estima fraternal.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

CONCEPÇÕES NOVAS PARA AMANHÃS PLANETÁRIOS

O Clube de Roma é um grupo de cientistas ilustres que se reúnem periodicamente para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, à economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Foi fundado em 1968 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e também pelo escocês Alexandre King.

A entidade tornou-se muito conhecida a partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado Os Limites do Crescimento, elaborado por uma equipe do MIT, contratada pelo Clube de Roma e chefiada por Dana Meadows.

O relatório, que ficaria conhecido como Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows, tratava de problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade, como energia, poluição, saneamento, meio ambiente, tecnologia e crescimento populacional. Foi publicado e vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história.

Utilizando modelos matemáticos, o MIT chegou à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo levando em conta o avanço tecnológico.

Recomendo aos sempre pensantes, para uma boa reflexão quaresmal, a leitura de excelentes páginas binoculizadoras, que muito poderão favorecer estratégia de sobrevivência para todos os quatro cantos do mundo: RESGATAR A FUNÇÃO SOCIAL DA ECONOMIA: UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE HUMANA, Ladislau Dowbor, São Paulo, Elefante, 2022, 176 p. O autor é professor de Economia da PUC de São Paulo, consultor de agências da ONU e gestor do site http://dowbor.org, pequena biblioteca científica com textos disponíveis gratuitamente. Vale a pena dar uma espiadinha analítica no que está lá à disposição de todos.

Sem preocupações analíticas teologais, muito apreciaria também ver analisados alguns ditos contidos em Provérbios, um dos livros do Primeiro Testamento, considerado o de maior sabedoria em todos os tempos. Textos provavelmente escritos pelo rei Salomão, que teve 800 dos seus 3.000 provérbios incluídos naquela parte das Sagradas Escrituras.

Numa conjuntura pós-moderna que está destruindo inúmeros valores, minimizando morais, ridicularizando o eterno, debochando do honesto, desvalorizando o sagrado e menosprezando o talento, o bom senso e o bom gosto, além de desconstruir sinceridades e compromissos sociais, uma leitura atenta de Provérbios reedificará caminhadas, sedimentará novas convicções e realimentará redirecionamentos pessoais compatíveis com os balizamentos éticos contidos em todas as crenças religiosas.

É oportuno lembrar que o livro Provérbios possui ditos espirituosos, poemas, chistes engraçados, dele se originando inúmeros adágios populares. Cito alguns exemplos dos seus 31 capítulos:

Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato (Pv 10,19)

Como o vinagre para os dentes e a fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o enviam (Pv 10,26)

Melhor viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada (Pv 21,19).

Se eu fosse escolher provérbios sempre alertadores, faria as seguintes escolhas:

– Os homens maus e sem valor vivem dizendo mentiras. Piscam e fazem gestos para enganar os outros. As suas mentes perversas estão sempre planejando o mal, e eles espalham confusão por toda parte. Por isso a desgraça cairá de repente sobre eles, e não poderão escapar (Pv 6,12-15).

– Quando um governador dá atenção a mentiras, todos os seus auxiliares acabam se tornando maus (Pv 29,12).

– Quem anda com os sábios será sábio, mas quem anda com os tolos acabará mal (Pv 13,20).

– O que se arrebenta todo por falta de conselhos, desconhece que os bem-sucedidos possuem muitos conselheiros dotados de senso crítico (Pv 15,22).

– O amigo quer o nosso bem, mesmo quando nos fere; mas, quando um inimigo abraçar você, tome cuidado! (Pv 27,6).

Juntemos as nossas migalhas de esperança. Saibamos esperançar! Todos, sem distinção, desarmados, sem odiosidades e complexos de superioridade. Sempre brasileiros, sem ódios nem preconceitos nem aloprados alucinados.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

CONCEPÇÕES NOVAS PARA AMANHÃS PLANETÁRIOS

O Clube de Roma é um grupo de cientistas ilustres que se reúnem periodicamente para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, à economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Foi fundado em 1968 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e também pelo escocês Alexandre King.

A entidade tornou-se muito conhecida a partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado Os Limites do Crescimento, elaborado por uma equipe do MIT, contratada pelo Clube de Roma e chefiada por Dana Meadows.

O relatório, que ficaria conhecido como Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows, tratava de problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade, como energia, poluição, saneamento, meio ambiente, tecnologia e crescimento populacional. Foi publicado e vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história, depois da Bíblia.

Utilizando modelos matemáticos, o MIT chegou à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo levando em conta o avanço tecnológico.

Recomendo aos sempre pensantes, para uma boa reflexão quaresmal, a leitura de excelentes páginas binoculizadoras, que muito poderão auxiliar nas estratégia de sobrevivência para todos os quatro cantos do mundo: RESGATAR A FUNÇÃO SOCIAL DA ECONOMIA: UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE HUMANA, Ladislau Dowbor, São Paulo, Elefante, 2022, 176 p. O autor é professor de Economia da PUC de São Paulo, consultor de agências da ONU e gestor do site http://dowbor.org, pequena biblioteca científica com textos disponíveis gratuitamente. Vale a pena dar uma espiadinha analítica no que está lá à disposição de todos, sem ônus.

Sem preocupações analíticas teologais, muito apreciaria ver analisados alguns ditos contidos em Provérbios, um dos livros do Primeiro Testamento, considerado o de maior sabedoria em todos os tempos. Textos provavelmente escritos pelo rei Salomão, que teve 800 dos seus 3.000 provérbios incluídos naquela parte das Sagradas Escrituras.

Numa conjuntura pós-moderna que está destruindo inúmeros valores, minimizando morais, ridicularizando o eterno, debochando do honesto, desvalorizando o sagrado e menosprezando o talento, o bom senso e o bom gosto, além de desconstruir sinceridades e compromissos sociais, uma leitura atenta de Provérbios reedificará caminhadas, sedimentará novas convicções e realimentará redirecionamentos mais compatíveis com os balizamentos éticos contidos em todas as crenças religiosas.

É oportuno lembrar que o livro Provérbios possui ditos espirituosos, poemas, chistes engraçados, dele se originando inúmeros adágios populares. Cito como exemplos dos seus 31 capítulos:

Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato (Pv 10,19)

Como o vinagre para os dentes e a fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o enviam (Pv 10,26)

Melhor viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada (Pv 21,19).

Se eu fosse escolher provérbios alertadores, faria as seguintes escolhas:

– O que diz que o perverso é mau caráter, sempre dizendo coisas maldosas, no coração carregando o propósito de enganar, para tanto semeando compulsivamente a discórdia, não percebendo que a paulada nele será inevitável e definitiva (Pv 6,12-15).

– O que revela que todo dirigente que se influencia pelos fuxicos, imagina ímpios todos aqueles que dele discordam (Pv 29,12).

– O que chama a atenção do habilidoso que trabalha para gente obscura (Pv 22, 29).

– O que alerta o imprudente que prefere a companhia e os ditos de medíocres ambiciosos (Pv 13,20).

– O que se arrebenta todo por falta de conselhos, desconhecendo que os bem-sucedidos possuem muitos conselheiros dotados de senso crítico (Pv 15,22).

– O que se perde por preferir os beijos dos sabotadores às estocadas leais que ferem por amor (Pv 27,6).

Juntemos as nossas migalhas de esperança. Todos, sem distinção, desarmados, sem odiosidades e complexos de superioridade. Sempre brasileiros acima de todos os lucros.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

CONCEPÇÕES NOVAS PARA AMANHÃS PLANETÁRIOS

O Clube de Roma é um grupo de cientistas ilustres que se reúne periodicamente para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, à economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Foi fundado em 1968 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e também pelo escocês Alexandre King.

Tornou-se muito conhecido a partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado Os Limites do Crescimento,[1] elaborado por uma equipe do MIT, contratada pelo Clube de Roma e chefiada por Dana Meadows.

O relatório, que ficaria conhecido como Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows, tratava de problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade, como energia, poluição, saneamento, meio ambiente, tecnologia e crescimento populacional. Fo publicado e vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre ambiente mais vendido da história, depois da Bíblia.

Utilizando modelos matemáticos, o MIT chegou à conclusão de que o Planeta Terra não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico.

Recomendo aos não brincantes, para uma boa reflexão nos feriados momescos que se aproximam, umas excelentes páginas balizadoras, que muito poderão auxiliar numa estratégia de sobrevivência para todos os quatro cantos do mundo: RESGATAR A FUNÇÃO SOCIAL DA ECONOMIA: UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE HUMANA, Ladislau Dowbor, São Paulo, Elefante, 2022, 176 p. O autor é professor de Economia da PUC de São Paulo, consultor de agências da ONU e gestor do site http://dowbor.org, pequena biblioteca científica com textos disponíveis gratuitamente. Vale a pena dar uma espiadinha analítica no que está lá à disposição de todos, sem ônus.

Sem preocupações analíticas teologais, muito apreciaria analisar alguns ditos contidos em Provérbios, um dos livros do Primeiro Testamento, considerado o de maior sabedoria em todos os tempos, textos escritos pelo rei Salomão, que teve 800 dos seus 3.000 provérbios incluídos naquela parte das Sagradas Escrituras.

Numa conjuntura pós-moderna que está destruindo inúmeros valores, minimizando as morais, ridicularizando o eterno, debochando do honesto, desvalorizando o sagrado e menosprezando o talento, o bom senso e o bom gosto, além de desconstruir sinceridades e compromissos sociais, uma leitura atenta de Provérbios pode refazer caminhadas, sedimentar novas convicções e alimentar redirecionamentos mais compatíveis com os balizamentos éticos contidos em todas as denominações religiosas.

É oportuno lembrar que Provérbios possui ditos espirituosos, chistes engraçados, dele se originando inúmeros adágios populares. Cito como exemplos dos seus 31 capítulos: Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato (Pv 10,19); Como o vinagre para os dentes e a fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o enviam (Pv 10,26); Melhor viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada (Pv 21,19).

Se eu fosse escolher seis provérbios alertadores, faria a seguinte eleição: o que diz que o perverso é mau caráter, sempre dizendo coisas maldosas, no coração carregando o propósito de enganar, para tanto semeando compulsivamente a discórdia, não percebendo que a paulada nele será inevitável e definitiva (Pv 6,12-15); o do dirigente que se influencia pelos fuxicos, imaginando ímpios todos aqueles que dele discordam (Pv 29,12); o que chama a atenção do habilidoso que trabalha para gente obscura (Pv 22, 29); o imprudente que prefere a companhia e os ditos de medíocres ambiciosos (Pv 13,20); o que se arrebenta todo por falta de conselhos, desconhecendo que os bem-sucedidos possuem muitos conselheiros dotados de senso crítico (Pv 15,22); e o que se perde por preferir os beijos dos sabotadores às estocadas leais que ferem por amor (Pv 27,6).

Juntemos as nossas migalhas de esperança. Todos, sem distinção, desarmadamente.

PS. Voltaremos ao JBF no próximo dia 26 de fevereiro, depois de um merecido descanso com a família. Feliz Carnaval para todos os foliões de Momo! Carnaval com serenidade e sem violência. Com todo asseio para com os olhos. Os três.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

VIRUS PROVÍNCIA

Nunca escondi a minha admiração pelo escritor português Fernando Pessoa, um legítimo poeta-aguilhão, que jamais se deixou mumificar nas torres de marfim de um intelectualismo sensaborão, contemplador do próprio umbigo, saudosista por excelência, desvinculado das dores dos seus derredores e do mundo. Suas intervenções na realidade cultural, social, econômica e política do seu tempo, cáusticas algumas, recheadas de humor triturante outras tantas, são minuciosamente analisadas, hoje, por cientistas sociais das mais variadas especialidades e graus acadêmicos. O que bem vem a demonstrar a contemporaneidade dos seus escritos em prosa e verso, ardorosos defensores de amanhãs menos miméticos da humanidade. No Recife, um talento pessoano merece amplos aplausos: José Paulo Cavalcanti Filho, integrante da Academia Brasileira de Letras.

Em setembro de 1928, num artigo publicado no Notícias Populares, Pessoa busca alertar seus patrícios acerca do provincianismo lusitano, considerado por ele “o mal superior português”. Um mal que também aflige outros países, “que se consideram civilizantes com orgulho e erro”. E alguns estados de alguns países latino-americanos de língua portuguesa, que se imaginam eternos líderes regionais, desapercebidos ingenuamente da chegada veloz de novos tempos e outros horizontes. Inclusive de tentativas fascistóides golpistas patrocinadas por manés aloprados, financiados por portadores de bons trocados.

Segundo o poeta luso, a síndrome provinciana se caracteriza por três sintomas: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e a incapacidade de ironia, na esfera superior.

O poeta explicando o primeiro dos sintomas, afirma que um parisiense não admira Paris, ele gosta de Paris. Não se pode admirar aquilo do qual se faz parte. “Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranoico com o delírio das grandezas”. Em São Paulo, segundo lá se fala, aos cardosenses – moradores do município de Cardoso – são atribuídos o uso e abuso de inúmeras práticas auto-ufanosas, algumas até grotescas, ainda que aplaudidíssimas pelos da corte de lá, os bajuladores de sempre.

Para o segundo sintoma, Fernando Pessoa é taxativo: “Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção”. Traduzindo: quem já é civilizado, não necessita arrotar grandezas ridiculosas, vangloriando-se disso e daquilo, tal e qual um pavão de rabo muito lindo e pés nada charmosos. E por ser civilizado, comporta-se como os demais das outras áreas, sempre prescrevendo futuros, jamais desejando vê-los reproduzir coisas pretéritas, ultrapassadas e sem mais utilidade comunitária.

No sintoma terceiro, a incapacidade de ironia, Fernando Pessoa diz que aí reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Na definição do notável lusitano, por ironia “entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redações, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário”. Não muito recentemente, para se dar um exemplo, um presidente brasileiro disse que ia dar um banho no sertão do Nordeste. E um outro exemplo notável foi dado por Swift, considerado o maior de todos os ironistas. Durante uma fome cruel na Irlanda, ele propôs como solução, uma sátira brutal à Inglaterra: alimentar todos pela utilização de crianças de menos de sete anos. Com a maior seriedade possível, sem possibilitar ver, nas entrelinhas, a ironia mortal. Espera-se, com esta explicação, que ninguém pense, por aqui, que a proposta é verdadeira. Nem esculhambe a mãe de ninguém, por nada saber sobre o assunto.

Um exercício de primeira necessidade, eu recomendaria aos nordestinos mais civilizados, mormente os pernambucanos pensantes que estão numa luta feroz pelo soerguimento da imagem empreendedora do Leão do Norte, atualmente ameaçado de ficar castrado, banguela e sem rabo: leituras reflexivas sobre provincianismo. E mais: sobre a artificialidade do apenas progresso e sobre os arrotos grandiloquentes de um já-fui-bom-nisso que apenas inspiram lamúrias choramingueiras, sem nada de proveitoso.

No mais é continuar caminhando, buscando reerguer-se a cada amanhecer com a disposição de apanhar cada vez menos de manés e sacripantas, jamais abandonando a convicção do compositor Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

UM TIPO INESQUECÍVEL

Desde o meu primeiro ano de Universidade Católica de Pernambuco, Curso de Economia, uma figura de jesuíta me impressionava, pelas discussões que proporcionava nos encontros temáticos que se efetivavam em nossa vida acadêmica daquela época, 1963, recheada de muitos eflúvios intelectuais advindos do governo de então, Sudene, ISEB, Padre Melo e Francisco Julião, Celso Furtado, Sudene, Vaticano II, JEC e JUC, Paulo Freire, conspirações golpistas e Universidade de Brasília: Teilhard de Chardin, de nome completo Pierre Marie Joseph Teilhard de Chardin, falecido em 1955. Um teólogo considerado um dos maiores gênios do século XX, cuja obra, depois de sua morte, deixou a semiclandestinidade dos textos policopiados, e passou a ser editada pelas Éditions du Seuil. No Brasil, sendo publicado os primeiros textos dez anos depois.

Ouvi algumas discussões e, estudante primeiranista de Economia sem muita coisa de ciências humanas na cachola, confesso que quase nada, ou nada mesmo, entendia do transmitido pelos especialistas, muito embora o entusiasmo pró Chardin de alguns participantes tenha penetrado em meu interior de ainda quase adolescente semi-alienado. Menos pelos apartes contundentes emitidos por pessoas vinculadas a ontens que não mais retornariam, mais pela personalidade daquele jesuíta, que muito marcou meu interior de cristão à época muito negativamente acordeirado.

Li O Fenômeno Humano, 1966, editado pela Cultrix, ficando quase na mesma, muito embora já percebendo que os de mente mais abertas aplaudiam o pensar daquele que tivera seus livros retirados das bibliotecas e instituições religiosas, também proibidos de exposição nas livrarias católicas, por decreto do Santo Ofício, em dezembro de 1957, felizmente quase nunca obedecido. Uma desobediência inspirada, certamente, que muito favoreceu, quando do centenário de nascimento de Chardin, em 1981.

Para quem, além da leitura do livro, desejar se aprofundar em outros escritos chardinianos, duas boas direções: o Centro de Documentação Teilhard – Caixa Posta 9112, CEP 01051, São Paulo, SP – e a Biblioteca Teilhard de Chardin da Associação Palas Athena – Rua Leôncio de Carvalho, 99, CEP 04003, São Paulo, SP.

Uma reflexão de estudioso para um princípio de leitura: “Que tal começarmos por uma boa revisão de nós mesmos, sem pré-conceitos e no estilo positivo de quem, objetiva e diretamente, olha e procura ver com base nos fatos e na experiência? Que tal nos encararmos a nós mesmos, ao ser humano que somos, como um fenômeno?”

Embora muitos dos escritos de Teilhard tenham sido censurados pela então bem mais conservadora Igreja Católica durante seu tempo de vida, por causa de seus pontos de vista sobre o pecado original, o trabalho de Teilhard foi reconhecido postumamente por esta. Teólogos proeminentes e líderes da Igreja, incluindo os papas João Paulo II e Bento XVI, escreveram positivamente a respeito das ideias de Chardin e seus ensinamentos teológicos foram citados pelo Papa Francisco na encíclica de 2015, “Laudato si”.

Lendo O Meio Divino de Chardin, percebe-se sua notável intuição. Quanto maior for o ser humano, mais a humanidade será unida, consciente e mestra de sua força; igualmente, quanto mais a criação for bela, mais perfeita será a adoração, mais o Cristo encontrará, para as extensões místicas, um corpo digno de eterna iluminação.

Teilhard de Chardin faleceu em 10 de abril de 1955, num domingo de Páscoa, em Nova York, aos 73 anos. No campo científico deixou uma obra vasta: cerca de quatrocentos trabalhos em vinte revistas científicas.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

PARA O BEM DO BRASIL

De um amigo muito fraterno, uma admiração profunda, o GH, analista de sistema, recebi um comentário da Rosa Freire de Aguiar, viúva do saudoso economista Celso Furtado, ex-superintendente da SUDENE. Um texto que merece ser lido e muito bem meditado por todos aqueles pensantes, não ruminantes nem aloprados, que desejam um Brasil muito arretado de ótimo para TODOS que aqui vivem e labutam com dignidade, sempre para o bem coletivo edificando.

Encareço licença do escritor Luiz Berto, amizade que muito prezo, notável coordenador deste independente jornal fubânico, para reproduzir, abaixo, o texto da Rosa Freire de Aguiar:

MILITARES, PODER E DITADURAS: LONGE DA TENTAÇÃO

“Nos anos em que cobri a redemocratização da Espanha, desde a morte de Franco em 1975 até a eleição do socialista Felipe González, em 1982, a questão militar era um tema onipresente. A ditadura de Franco durou 40 anos, as Forças Armadas – especialmente o Exército – estavam coalhadas de oficiais de alta patente medularmente franquistas e de ultradireita. Os dois primeiros governos pós-Franco fizeram grandes reformas, votaram a nova Constituição, mas não conseguiram avançar no front militar. Resultado: em fevereiro de 1981 um alucinado tenente-coronel da Guarda Civil invadiu o Parlamento, de arma em punho, tendo a seu lado 150 soldados, e pôs todos os parlamentares no chão, literalmente, exigindo, para soltar os reféns, que o Exército tomasse o poder.

Cheguei a Madri na manhã seguinte ao golpe e tremi ao conversar com um grupo de velhos exilados que, já de passaporte no bolso, e diante do Parlamento, temiam que os militares voltassem ao poder, obrigando-os a mais um exílio. O receio não era infundado: desde a morte de Franco tinha havido uma dúzia de estados de alerta e sedições potenciais nos quartéis, finalmente abafados.

Tudo isso mudou a partir de 1982, quando Felipe González foi eleito. Seu ministro da Defesa, o economista Narcis Serra, promoveu uma profunda reforma militar que, em poucos anos, afastou de vez a tentação golpista dos militares.

A ideia de González era formar um Exército mais moderno, mais reduzido e mais operacional. A reciclagem deu certo.

A reforma teve três eixos principais:

1. Enterrar de vez a noção de “inimigo interno”, que identificava as correntes de esquerda em todos os seus matizes. Dentro da pátria não há inimigos; inimigos são os que estão más allá de la frontera, e podem ameaçar a pátria; sai o conceito de “inimigo interno”, entra o de “defesa nacional”. Eram essas as diretrizes.

2. Rever de alto a baixo o ensino militar. Multiplicaram-se os contatos entre alunos e professores militares e civis. Lançaram-se programas para levar professores universitários às academias e, inversamente, jovens cadetes às aulas de história e ciências sociais nas universidades. O currículo das academias, que era elaborado apenas por chefes do Estado-maior, passou a ser definido em acordo com o Ministério da Defesa. Simbolicamente, aboliu-se a disciplina “Guerra civil: cruzada contra o comunismo”.

3. Remover das chefias os militares franquistas. Este foi sem dúvida o eixo mais difícil e o mais caro da reforma, pois o governo teve de bancar, com polpudas indenizações, o afastamento de centenas de oficiais superiores. Sob Franco, não havia reforma compulsória, e a Espanha tinha 1300 generais, número maior do que o de todos os exércitos da Europa ocidental. A reforma reduziu pela metade o total de generais, e diminuiu de 250 mil para 90 mil os efetivos do Exército. As promoções passaram a obedecer a critérios profissionais e não apenas de antiguidade.

A reforma ainda incluiu mudanças profundas na Justiça Militar, na disciplina dos quarteis etc.

A reciclagem deu certo. Muito hábil e prudente, Felipe González neutralizou o antagonismo de um Exército que ainda era dado a espasmos golpistas.

Gonzalez era desses que afirmavam, com razão, que com militares ou se manda ou se obedece.

E lembro de um grande intelectual espanhol que repetia à exaustão:

CIVILIZAÇÃO VEM DE CIVIL!”

PS. Saibamos, os brasileiros de todas as têmporas pacifistas democráticas libertadoras, trilhar os melhores caminhos para um amplo desenvolvimento socioeconômico nacional, sempre a favorecer o que nos ensinou o apóstolo mais jovem do Senhor (Jo 10,10).

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

PARA OS “PUROS”, INCULTOS, MANÉS E ALOPRADOS

Li e muito aplaudi o artigo do sociólogo Demétrio Magnoli, intitulado Mourão e os manés, publicado na página A7 da Folha de São Paulo, sábado 7 de janeiro, parecendo adivinhar os barbarismos cometidos, no dia seguinte, na Capital Federal, financiados por alguns manés fascistas portadores de alguns bons reais, auferidos sabe Deus como.

Em dezembro passado, reli Vinicius de Moraes e me extasiei com um dos seus poemas, aquele que dá um oportuno puxão de orelha nos autoconsiderados “puros”. E não sei por qual razão me lembrei daqueles que se imaginavam delegados do Povo Brasileiro para promoverem, através de uma ações financiadas, destruição física de instituições federais brasilienses, mesmo que para isso se jogasse na cesta de lixo uma soberania nacional ainda muito fragilizada pelos inúmeros sucateamentos provocados, no último mandato, por um dirigente inculto, ambicioso, truculento, covarde e fujão.

Creio que a ilação feita se deveu por causa de uma leitura não recente de dois trabalhos, um do professor José Walter Bautista Vidal, PhD em Física, e um outro do também PhD, embora em Economia, Adriano Benayon do Amaral. Publicados numa coletânea recebida pelos correios e denominada Movimento Nativista – Brasil Acima De Tudo, cujos documentos divulgados são chancelados pelo Núcleo de Estudos Estratégicos Matias de Albuquerque, à época sob a coordenação do coronel paraquedista Francimá de Luna Máximo, da Reserva do Exército Brasileiro.

Nas considerações do professor Bautista Vidal, denominadas “O Gatt e o Brasil – A Lei das Patentes”, ele se declara testemunha da perplexidade de um alto funcionário da OCDE, a organização dos países ricos, “diante da maneira como altos funcionários brasileiros capitulam, de modo desnecessário e estranho, ante interesses de corporações transnacionais e de países hegemônicos”. E é o próprio Vidal quem complementa: “de tanto capitularem terminam se transformando em ofertadores de benesses para os ricos, às custas da miséria do povo brasileiro”.

Nas análises do professor Benayon há um trecho dele que merece ser aqui citado, por muito oportuno: “Muitos podem pensar que não temos boa vontade em relação à nova moeda e ao ‘plano’ econômico em marcha. Não se trata disso. Nós desejamos o bem do País e estamos justamente contrariados com o seu desgaste, causado pela maneira superficial e enganosa de fazer política econômica”. E o PhD em Economia ainda afiança: “O que estão chamando de nova ordem internacional pode ser tudo, menos ordem. A concentração contínua contradiz o próprio centro, que, ao se hiperinflar, termina por atrofiar as semiperiferias e extinguir toda a seiva das periferias. Esgotadas estas, não haverá mais centro”.

E os versos do poeta? Transcrevo duas estrofes suas, encarecendo ao leitor amigo, aqueles pensantes que não xingam as dignas mães de ninguém, dispensar mais uns minutos de reflexão, para o bem de um Brasil para todos os brasileiros racionais. A primeira: “Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres/ Que só articulais para emitir conceitos/ E pensais que o credor tem todos os direitos/ E o pobre devedor todos os deveres”. A segunda: “Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra/ Falsos chimangos, calabares, sinecuros/ Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…/ E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros”.

Sejamos cada vez mais reflexivos. Menos puritanos, mais capacitados, consistentes e fraternos. Menos preocupados em enviar esculhambações para articulistas ou cartas às redações, horrorizando-se com expressões aparentemente chulas ou interpretando o que nunca foi escrito.

Sejamos mais solidários com todos aqueles que ainda ousam sonhar um Brasil para brasileiros, inserido num Concerto das Nações, onde prevalecerão portentosos comentários criativos e muita coragem propositiva para salvaguardar interesses nativos.

Recomendaria leituras construtivistas que sedimentem iniciativas convincentes, sem ódio e sem medo, tampouco intenções fascistoides. Uma delas: A RECONSTRUÇÃO DE UM ESTADO PARA O SÉCULO XXI, Francisco Gaeta e Miguel Lago, Rio de Janeiro, Editora Cobogó, 2022, 256 p. Páginas que orientam como profissionalizar as transições de governo, favorecendo o exercício de uma sadia convivialidade entre os de pensares diferentes. Sem agressões nem fugas acovardadas. Nem xingamentos impróprios.

Saibamos jogar, nas latas de lixo da História, aqueles comentários que apenas apedrejam ou insultam as dignas mães brasileiras, talvez porque os detratores nunca tenham sido abençoados por uma.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

NUMA CARPINTARIA

Em dezembro de 2022, últimos dias, o João Silvino da Conceição parecia um outro ser humano. As festividades natalinas o tinham deixado um tanto esquivo, deprimido até, sem muita vontade de ficar enturmado. Como se tivesse vergonha de manifestar contentamentos numa época repleta de muitos fingimentos, com centenas de milhões passando um aperto da gota serena, outros tantos sem conseguir debelar uma insuportável fome crônica. Como se a fome rondasse mais os lares dos irmãos brasileiros, às vésperas da saída de um mandatário que arquitetava abandonar suas responsabilidades finais de comando.

Apesar de macambúzio, o João não perdeu a mania de contar histórias, de revelar sua enorme paixão pelos menos afortunados, de torcer por uma humanidade socialmente equilibrada, diminuídas as distâncias financeiras entre os da cobertura e os do lixão. A última dele, retrabalhada a partir de um texto internético enviado por uma amiga sua que dispensa silicone, tem tudo a ver com os dias de agora. Vale a pena divulgar o fato nesta área fubânica, alimentando a esperança de ver a semente cair em terreno de boa parição. Eis o que o Silvino rabiscou, erradicados devidamente os atentados gramaticais:

“Contam que, em uma renomada carpintaria, aconteceu uma muito estranha assembleia: uma reunião de todas as ferramentas para acertar suas diferenças, diante da fuga do gerentão metido a motoqueiro, inculto e amalucado, que havia abandonado ao léu seus companheiros de trabalho. Tendo o martelo assumido a presidência, logo alguns participantes lhe notificaram que teria de renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho o dia todo, golpeando tudo a torto e a direito, sem dó nem piedade.

O martelo aceitou a carapuça, mas requereu também a exclusão do parafuso, posto que vivia dando um sem-número de voltas para conseguir alcançar seus objetivos. O parafuso, por sua vez, encaminhou requerimento de exclusão da lixa, segundo ele uma portadora de muita aspereza nos seus relacionamentos, sempre em inesperados atritos.

A lixa, meia chorosa, acatou de pronto a sua saída, com a condição de também ver fora da direção geral o metro, um enxerido que sempre media os outros segundo seus critérios técnicos, como se eles fossem os únicos perfeitos.

O quiproquó estava formado, quando entrou o novo carpinteiro. Com apenas nove dedos, juntou o material e começou o seu trabalho. Utilizou o martelo, o parafuso, a lixa e a fita métrica, finalmente convertendo a madeira rústica num móvel de fino acabamento e muita admiração.

Retirando-se para sua casa, já noite alta, novamente a assembleia se instalou, o microfone da vez cabendo a um serrote muito usado, de dentes não mais afiados e já meio esmorecido de tanto bifurcar pedaço de pau dos outros:

– Companheiras e companheiros! Nesta assembleia ficou demonstrado que todos têm defeitos. Mas o novo carpinteiro que acaba de encerrar seu expediente trabalhou com as nossas qualidades. Assim sendo, encareço não pensarmos apenas nos nossos pontos fracos. Concentremo-nos nos nossos pontos positivos, os mais valiosos para o sucesso das nossas iniciativas, sempre voltadas para o engrandecimento da Carpintaria que tanto amamos.

Foi então que todos principiaram a perceber que o martelo é forte, o parafuso unia, a lixa atenuava asperezas e a fita métrica era indispensável para procedimentos mais precisos. E assimilaram uma lição importante: agindo como uma equipe, cada um perseverando na redução das suas deficiências, seriam capazes, como um todo, de produzir móveis de qualidade. Cada um sabendo ser efetiva parte de um todo, a individualidade nunca sendo substituída pelos egocentrismos que castram e somente desarticulam”.

Diante do congraçamento geral, lamentando-se apenas a eternização do Pelé, o sempre Rei do Futebol, foi do João Silvino, meu irmão de fé sempre camarada, o arremate pensante deixado num final de página: “Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e negativa. É fácil encontrar defeitos. Encontrar qualidades, entretanto, é tarefa apenas para talentosos!”.

E a Carpintaria voltou a ser a esperança de TODOS e a felicidade geral das partes nela integrados.