ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

RES PÚBLICA

Certa vez, escrevi aqui no JBF – Jornal da Besta Fubana – que não faço exercício de futurologia. Sobre o passado sei contar muitas histórias, muitos “causos”, muita lorota, mas sempre com certa dose de preguiça e enfado. Disse e repito: sou caeté. Qualquer assunto que não seja o Sardinha me deixa enfarado, com uma lombeira e uma preguiça de pensar. Mas, mostre-me o contrafilé do honorável Bispo chiando sobre o braseiro que logo fico igual a cachorro novo quando vê cadela no cio.

No entanto, tenho ouvido e lido muita discurseira de todo tipo de gente que, por ser popular, ou ter seguidores no facebugre, ou outra rede social, que logo se alça à categoria de intelectual. Intelectual é Maurício Assuero, Neto Feitosa, Luiz Berto Filho, Maurino Junior, Tereza Noronha, Violante Pimentel, e também o saudoso Roberto Campos. O resto pode embrulhar e dar descarga. Não valem nem a água utilizada para tal fim. Mas, como dizia, há uma raça de ditos intelectuais, políticos, influenciadores, artistas, jornalistas, advogados, professores – que Deus me perdoe -, que se consideram no mesmo nível de um Spinoza, de um Wittgenstein, de um Hegel, ou Kant. Se bem que um Hegel, um Kant, um Spinoza daria um saboroso jantar. Esses outros, até pensar em assá-los, já repugna meu espírito caeté.

E, todo esse magote de gente adotou o mesmo discurso que certo ajuntamento de larápios, perigosíssimos chama de salvar a Democracia no Brasil. Livrar a democracia do fascismo, do autoritarismo, da ditadura personalista que foi incorporado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e todos aqueles que utilizam o cérebro, e não a porção final do intestino grosso para pensar. Hoje, qualquer discurso que não se amolda a esse tipo de “pensamento”, logo é chamado de “ódio”, de extremismo, de genocida, e por aí vai.

Mas o que, de fato precisa ser salvo no Brasil? Na verdade, o Brasil precisa ser salvo. Salvo de uma aberração que se travestiu de Democracia lá em 1988 quando passou a vigorar esse monstrengo que Ullysses Guimarães chamou de Constituição Cidadã. Ela é tão cidadã que o cidadão até hoje nunca se aproximou dela, e nunca teve a sua validade em pleno vigor. Quem acredita que a constituição de 1988 ainda existe, ou é besta, ou é safado. Já foram tantos remendos – os políticos chamam de emenda -, tantos pedaços extirpados e enxertados que o texto original não existe mais. Já acabou. Já é extinto. O que existe é um manual utilitário que servem aos capatazes de plantão usar a seu intento para fazer o que quer, dando uma banana para o cidadão.

A tal “República Nova” inaugurada com a constituição de 1988 não passa de um arranjo político para que alguns espertalhões façam negócios, enriqueçam, e, quando dão com os burros n’água, jogam a conta para o povão pagar. Vejam o caso do STF. Lembro-me quando a ministra Rosa Weber deu um exemplar da constituição de 1988 para Jair Bolsonaro quando foi empossado. Havia ali uma provocação explícita da ministra sobre o presidente. Porém, para mim ficou a impressão que ela deu o único exemplar dessa estrovenga. Depois disso, o STF passou a agir como se cada ministro tivesse na cabeça a sua própria constituição. O atropelo à legalidade, à cidadania, ao estado de DIREITO, à independência dos poderes, a esculhambação legal passou a ser norma e não algo a ser repudiado nos locais que, em tese, deveria ser a guardiã da Justiça, da legalidade e da proteção ao cidadão.

O legislativo, não importa qual a sua esfera, tornou-se valhacouto de escroques, esconderijo de bandido que, sob a capa de “inviolabilidade”, encontrou nesse poder um porto seguro para dar continuidade às suas velhacarias. Os mandatários, isto é, aqueles a quem são delegados um poder temporário e que deve ser exercido em nome do mandante – o povo -, só aceita ser tratado por “excelência”. Adjetivo bom demais para pessoas que deveriam estar dentro de uma caçapa de camburão e não em um gabinete legislativo.

Comercializam voto a céu aberto. Fazem um troca-troca pusilânime, venal e ilegal sempre com a justificativa de trabalhar pelos interesses de seus eleitores e seu reduto eleitoral. Quando oiço algum político bostejando isso, logo penso: meu ovo! Vá contar essa lorota para outro. A venalidade do legislativo criou o que todos chamam de presidencialismo de coalizão. Um eufemismo para ladroagem cruzada e defesa dos próprios interesses, em detrimento do futuro da nação.

O poder executivo não fica atrás. Tivemos a coragem de eleger um corrupto triplamente condenado para o posto mais alto do executivo, assim como muitos estados elegeram não biografias, ou currículos, mas sim prontuários policiais ambulantes e sem vergonha. O que me revolta é que todas as vezes que cometemos esse tipo de loucura, estamos condenando nossos filhos e netos a continuar a viver em latrinas e fossas, sem esperanças de progresso, de melhoria da qualidade de vida, sem chances de futuro. Somos especialistas em sabotar o futuro de nossos filhos e netos, e o fazemos com promessa de picanha e cerveja.

Essa última eleição provou para o mundo que temos o comportamento de porcos. Enquanto estivermos na pocilga sendo alimentados com lavagem, espojando na lama, uma sombra para descansar de um trabalho que não fizemos, está tudo bem. Até chegar a véspera do Natal e sermos levados para o cepo. E o nosso cepo está mais perto do que muitos imaginam.

Leis, normas, civilidade, honra, vergonha na cara, para que isso? Uns caraminguás de quatrocentos reais compra tudo isso e muito mais. Viver como mendicantes estatais, escravos de uma república que de “coisa pública, ou do povo” não tem nada, apenas o nome, é indigno, é repugnante, é desonroso. Somos uma nação pobre em que 100 milhões de brasileiros vivem, literalmente na merda. Sem água tratada, sem esgoto tratado, sem socorro, sem saúde, sem educação, sem segurança pública e que ainda teima em votar nos mesmos sujeitos que negam essas coisas básicas.

Hoje estive no hospital por causa de uma queda no serviço. Tive que fazer uma tomografia e raio – X. Minha salvação foi o plano de saúde, caro, custando os olhos da cara e os zovos também, mas senti uma dor terrível ao ver mais de 30 pessoas esperando o mesmo exame, mas pelo SUS, essa monstruosidade que só suga dinheiro e não dá a mínima para o cidadão que espera por serviços de saúde.

Esta nação está errada em sua essência. Nos acostumamos a ver toda essa situação com naturalidade, como se barracos construídos à beira de valas negras sejam igual a mata ciliar, como se o cidadão extropiado gemendo de dor, aguardando um exame pelo qual ele já pagou, fosse semelhante a um calangro de parede. Faz parte da paisagem. Povo desdentado, com a barriga grande de esquistossomose, bebendo merda líquida, em vez de água, morrendo soterrada em deslizamento de barranco fosse a coisa mais natural.

A constituinte de 1988 tem parte na responsabilidade do nosso “Estado de Arte”, mas a dita república inaugurada com ela tem a sua maior parcela de culpa. Se o Brasil quiser salvar a democracia que, de uma forma, ou de outra, só existe, só há uma saída: acabar com a república de 1988 e inaugurar outra, mas com pilares baseados na civilidade e na legalidade. Só assim salvaremos a democracia no Brasil.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

SOBRE GUERRA, BASE E CAPIVARAS

Estive este último mês entocado na minha oca, como um bom caeté, terminando de escrever e formatar minha Tese. Graças a Tupã a defesa será no dia 21/06/2023 às 13 e 30, horário do glorioso Mato Grosso do Sul. Assim que tiver as informações, vou ponhá para os demais caetés. Nhambiquaras, potiguiaras, nhandevas, tupi e guaranis de Pindorama o convite, e aqueles que puderem e quiserem assistir, fico agradecido.

Mas, não é sobre isso que quero falar. Apesar de ficar em silêncio, não deixei de acompanhar as fofocas e intrigas de Pindorama e as putanhices da grande taba central, aquele crime a céu aberto, aquele monumento à inutilidade e à corrupção chamada BrasILHA. E apenas sobre três assuntos banais que está queimando a mufa de muita gente aparentemente centrada.

Sobre a guerra da Ucrânia com a Rússia é até divertido, apesar de ser desastrosa, a campanha do condenado corrupto, alçado à condição de presidente da república – assim mesmo em minúsculo, para homenagear a atual conjuntura -, e seu turismo pelo mundo, com nosso dinheiro, acompanhado da primeira gastadeira de cartão corporativo, em se fazer protagonista da atuação mundial. Nessas horas lembro-me da sentença de Henry Kissinger, ex-secretário de Estado de Richard Nixon, sobre a América do Sul: é uma adaga enterrada no centro da Antárctica. Não significa nada!.

Com certeza, memórias como o Barão do Rio Branco, Azeredo da Silveira, Paulo Sérgio Rouanet – esse mesmo da famigerada lei que dá nosso dinheiro para artistas ricos e que produzem espetáculos grotescos e de cultura suspeita -, devem estar doloridas, por ver o desastre e a falta de objetividade da diplomacia nacional, que tem no descondenado seu mentor. Soa uma piada de mau gosto ver o presidente do Brasil ir a fóruns mundiais falar em democracia, ao mesmo tempo em que defende regimes criminosos como o da Nicarágua, da Venezuela e Cuba. É acintoso escutar o presidente falar nesses fóruns, em entrevistas e ver que ele está, literalmente, bêbado. E não é metáfora. Basta ouvir. A voz está pastosa, claudicante, quase incompreensível, os olhos injetados, os gestos lentos. Qualquer cidadão minimamente capaz de somar um mais um, de cara, vai perceber que o presidente está em estado etílico permanente. O resultado é a indisposição com países democráticos e poderosos e que pode nos render, no médio prazo, um embargo internacional. Aí só nos restará voltar para a mata e plantar aipim e colher jenipapo.

Outro tema que aquece os debates em Pindorama é a dita “falta de base parlamentar do governo” para apoiar seus projetos. Isso é brincadeira, ou deboche com a população que tem consciência histórica? Lula e o PT nunca, em todos os seus mandatos tiveram uma base parlamentar. E não tentem culpar o tal de “Centrão”. Esses parlamentares são tão legítimos quanto os demais, independente do espectro político que ocupem.

Alguém que está lendo este amontoado de bobagem se lembra do Mensalão? Do Petrolão? Vamos por parte. O mensalão, além de ter sido uma tentativa de golpe à democracia brasileira, foi a forma que Lula e o PT encontraram para “montar” a sua base parlamentar. Foi na compra de votos e consciências que isso aconteceu, até que o escândalo foi implodido por Roberto Jefferson. O mensalão foi uma espécie de avant-premiere para se aperfeiçoar a “montagem” de uma base parlamentar forte e que estivesse alinhada com os interesses do PT e de Lula. A figura sinistra de José Dirceu foi o maestro dessa sinfonia bizarra e golpista que deu com os burros n’água.

Com o fracasso do mensalão, Lula e o PT negociaram ministérios e cargos públicos, “de porteira fechada” para que os partidos pudessem entregar votos ao governo. O resultado foi o maior escândalo de corrupção da história da humanidade, não somente do Brasil: o Petrolão. As cenas eram grotescas. Ex-ministros devolvendo dinheiro e entregando os seus comparsas, donos de empreiteiras entregando o “capo di tutti i capi”, devolvendo dinheiro do cidadão que foi roubado – eu não aceito o termo desviado, aquilo foi roubo mesmo -, e distribuído entre comparsas e chefes políticos.

O petrolão foi outra tentativa, ainda mais mambembe de se formar a tal “base parlamentar”, mas há um problema de origem que está no âmago do PT e de Lula. Em todas as tentativas que Lula e o PT fizeram para anular a democracia, não queriam cúmplices, apenas súditos que dissessem “amém” para todos os descalabros dele. E, isso está se repetindo neste exato momento. O PT e Lula não aprenderam com os próprios erros. Hoje eles estão tentando comprar, de novo, uma “base parlamentar” para passar seus projetos autoritários, via as chamadas emendas R-2. É! Aquela mesma rubrica que eles chamavam de orçamento secreto do governo Bolsonaro. Só que agora, inconstitucional, segundo o Supremo Traidor Federal.

Há, porém um “senão” nessa dança macabra. Com a popularização das redes sociais, da internet e de seus fóruns de discussão a coisa ficou mais difícil de ser feita porque o escrutínio é em tempo real. Agora dá para entender o discurso do ministro balofo da justiça em dizer que a liberdade de expressão absoluta acabou. A tentativa de calar a sociedade, censurar as redes sociais e perseguir o cidadão, utilizando como corneta o mais autoritário dos ministros do stf, atropelando a constituição que juraram defender, jogando no lixo o estado de DIREITO, é apenas um movimento, enquanto lançam polêmicas para tirar o foco do essencial.

Por outro lado, vemos no parlamento brasileiro diversos discursos, seja apoiando, ou rejeitando projetos autoritários do executivo. Isso não me preocupa. O que me assusta, de fato, é quando vejo deputado e senador ir, sem pudor algum, às redes sociais e aos veículos de imprensa dizer que “ainda não está convencido desse projeto, ou ação”. Isso é mal sinal. Toda vez que um político, alfabetizado, com “trocentos” assessores, desde jurídicos, até aquele puxa-saco que leva o cafezinho na mesa dele, diz isso, traduza da seguinte forma: O governo ainda não chegou no valor ($$$) que eu quero para apoiar essa estrovenga. Não é convencimento. É compra e venda de voto mesmo. Então, se o seu representante chegar com essa lorota, saiba, ele está querendo mais dinheiro para poder vender o seu voto.

E, essa ação se dá em várias frentes e com diversos cafetões do voto parlamentar que assediam as “vestais” do legislativo. É promessa de liberação de emenda, oferecimento de cargo público, ou indicação de mais um incompetente para a diretoria de um banco, de uma estatal. Uma dança que tinha tudo para dar certo, mas a sociedade, através das redes sociais está mais atenta, quase que responde de imediato a essas tentativas. Aí está a justificativa de se montar o ministério da verdade, a comissão da mentira e da fofoca – recuso-me a chamar de fake news, pois se é mentira, não é notícia, é só fofoca -, se não para censurar, para levar à autocensura e Lula e o PT poder implantar seu projeto acalentado desde quando a quadrilha foi legitimada, lá em 1980.

Quanto às capivaras…, elas estão muito bem, obrigado. Pelo menos aqui na gloriosa Campo Grande, são a grande atração dos parques e córregos da cidade!

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

ESPERÁVAMOS O QUÊ?

Esta segunda-feira passada participei de uma Audiência Pública na Câmara de Vereadores aqui da gloriosa Campo Grande/MS. Com um título bem apropriado buscava debater a insegurança nas escolas, a violência contra professores e alunos e meios de se propor ações de curto, médio e longo prazo para tentar minimizar essa violência. Ouvi trinta e cinco “otoridades” e especialistas na área, cada um falando mais platitudes do que outra. Era como se eu tivesse “ocupado” uma horta, de tanta abobrinha que ouvi.

Findo o ciclo das ditas autoridades, abriu-se para a platéia, só perguntas por escrito. Mas, acho que houve alguma iluminação para o presidente da sessão e ele abriu espaço para cinco perguntas orais. Acredito que foi a deixa que eu precisava, e também vejo, neste espaço, um fórum correto para fazer a mesma questão: Esperávamos o que? Sim! Esperávamos o que como corolário de tudo o que vem ocorrendo nos últimos vinte anos deste século? Eu explico, meus caros caetés.

Desde a última metade de 1990, mas, mais especificamente de 2000 para cá a sociedade brasileira, para adequar-se a uma pseudoinclusão começou a negociar com seus princípios. A cada pedaço que ela entregava a fim de não excluir, não machucar, não discriminar aqueles que se achavam vítimas, alvos de uma sociedade machista, patriarcal, heteronormativa – sei lá o que essa estrovenga significa -, avançava uma pauta de desconstrução dessa mesma sociedade. Negociava-se com valores inegociáveis, cedia-se as bases da arquitetura social em nome de uma suposta inclusão que, na verdade, não inclui ninguém, apenas separa e enfraquece essa mesma sociedade.

E, a cada passo atrás o abismo ficava mais próximo de nossos pés. E, então, partiu-se para o projeto de banimento, principalmente nas escolas, o principal alvo dessa política de destruição da sociedade. Primeiro baniu-se as atividades cívicas. Utilizou-se como argumento de que essa atividade era resquício da ditadura, que impedia o livre pensamento de professores e alunos. O resultado é que o conceito de pátria, de nação, de sociedade coesa em torno daquilo que nos simboliza se perdeu. Daí dá para entender porque vemos pessoas fazendo da bandeira pano de chão, ou mesmo papel higiênico, ou ainda queimando a bandeira como se fosse apenas um pedaço de pano qualquer. Peguem qualquer pessoa com até 20 anos e peça a ela para cantar o Hino Nacional inteiro. Não sabem. Peçam para que citem ao menos duas datas nacionais importantes. Total silêncio.

Em seguida partiu-se para o banimento de Deus, nas escolas. Não se podem mais nem fazer a oração universal porque isso viola o dito estado “laico”. Aliás, os combatentes dessa ideologia falam sobre a laicidade do estado, mas não sabem o que é isso, como se iniciou e porquê ele existe. Promotores públicos, doídos com a religiosidade do povo brasileiro inundaram tribunais para que estes determinassem a retirada de símbolos religiosos, menções religiosas e cultos de dentro da escola, pois isso feria o dito estado laico. Não questionaram a sociedade se isso estava de acordo com sua vontade.

O terceiro passo foi o banimento da família. Esse pilar essencial de qualquer sociedade, de qualquer ajuntamento humano foi banido das escolas. Não se pode mais comemorar o dia dos pais, o dia das mães. Hoje só se pode falar no dia do “cuidador”. A desculpa, sem pé e nem cabeça é que existem muitos casais que não são heteronormativos – olha a palavra de novo – que não se sentem “representados” na comemoração desses dias. Ora, meu senhor, quem precisa de cuidado é planta. Criança precisa de pai e mãe. E isso não importa se o casal é hétero, gay, bi, trans, ou mesmo um casal de tatu bola, ou jaguatirica. A criança e o adolescente precisa do referencial família, até mesmo para poder cristalizar e compreender esse conceito em um plano histórico e sociológico mais amplo. Criança e adolescente precisam compreender que, assim como existem uma estruturação de sociedade, essa se inicia na família.

Logo em seguida baniu-se o conceito de autoridade de segurança. Nessa ideologia implantada goela abaixo e aceita como natural, o policial é sempre um criminoso e o bandido é sempre uma vítima da sociedade. Só respondo a esse tipo de gente. Meu ovo! Esse discurso quer nos fazer crer que a força policial, por si só gera violência, mas marotamente esquecem que a figura da autoridade de segurança é um elemento de dissuasão. Vá um criminoso para a porta de uma escola a fim de praticar um ato. O simples fato de ver um policial, ou mesmo um guarda civil armado faz ele pensar duas vezes se vale a pena o risco do seu ato. Entretanto, os apoiadores dessa ideologia funesta querem nos fazer crer que violência se combate com rosas, abraços e coral cantando “Imagine” para que tudo fique em paz.

A última tentativa de banimento está ocorrendo neste instante em todo o país. Querem banir a Língua Portuguesa das escolas e substituí-la por uma aberração lingüística chamada “linguagem neutra”, com a mesma desculpa asinina de inclusão. É um movimento continuado e forte e que nós estamos naturalizando. Sou professor de Língua Portuguesa há 32 anos e todas as vezes que vou a qualquer evento em que se usa essa aberração eu me sinto insultado. Para mim, professor de Língua Portuguesa, é um insulto e um desserviço à sociedade, pois zomba de meus anos de estudos e de meus anos de trabalho com gerações para que ela domine a forma Culta da Língua. Porque o trabalho do professor de Língua não é só repetir o que Gramática Normativa traz, mas estudar e aperfeiçoar o processo de comunicação e de expressão através da Língua,seja ela falada, ou escrita, ou qualquer outra forma de comunicação.

O mais interessante é que, quem defende esse tipo de aberração quer que ela seja implantada em escolas para pobre, sempre para os outros. Para elas, não Se filhos essas pessoas têm, buscam as melhores escolas, onde eles vão aprender e dominar a forma culta da Língua. É uma estratégia de domínio. Manter o pobre sempre pobre, e se a língua dele for a menos formal possível e com menos capacidade de interpretação e compreensão da mensagem, melhor ainda.

Mas, o que me assusta é ver um silêncio ensurdecedor da Academia Brasileira de Letras, das Faculdades de Letras de todo o país e mesmo das universidades, que por serem, ainda acredito, centros de excelências, deveriam ser as primeiras linhas de defesa da “Inculta e Bela”. Mas o que se observa é um mutismo quase cúmplice na dilapidação de um patrimônio da qual somos herdeiros, mas não proprietários. Tentar explicar como funciona a língua para os defensores dessa aberração é perda de tempo e de paciência, pois o objetivo é esse mesmo: destruir a Língua como uma identidade que transcende barreiras e fronteiras físicas.

E, de destruição e banimentos, a sociedade está aceitando negociar, e está negociando seus princípios, anulando as suas bases civilizatórias e caminhando certo para a sua autodestruição. Casos como a da professora assassinada em SP e agora a monstruosidade que ocorreu em Blumenau são apenas consequências desse processo de banimento e negociação de princípios. Acaso a sociedade achava que poderia negociar valores que são inegociáveis e sair impune, sem arcar com as consequências de seus atos? Esperávamos o que? Ao negociar com os fundamentos que no tornaram civilizados abrimos as portas para atos brutais como vimos esta semana. Abrimos a porta do tártaro para que monstros agissem livremente.

Naquela Audiência citei Ivan Karamazov como fecho final de minha fala e também quero deixar esse mesmo exemplo aqui. Ao contrário do que muitos dizem, Ivan não afirmou o que disse como uma licença para agir sem limites, mas tangencialmente fez uma severa crítica à sociedade de seu tempo: Deus morreu! É tudo permitido?

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

CABARÉS

Capitão Magnovaldo Santos, mandonista e chefe político de Pedreiras de Mato Dentro, criado e amamentado conhecendo toda a vasta tecnologia puteirista ficara muito zangado, soltando fumaça pelas ventas quando compararam o cabaré de Nhá Nacinha, casa semvergonhista de moça militante, mais afamada da região, com a Praça dos Três Poderes.

Obtemperava, a partir de soco na mesa, e fumarola de charuto que iria quebrar o chifre do safardana que garatujou aquelas invencionces.

– Filho de égua, safado! Então qualquer borra botas faria aquilo, trazendo enorme desfavor para Nhá Nacinha e suas moças de ofício, por causa de safadagem de outros? Era o que faltava. Então, um cristão batizado, crismado e confirmado não poderia mais gozar perna de moça, dedilhar seus fofinhos e besuntar o cangote de uma donzela de má fama que logo qualquer filho de égua de beira de estrada iria confundi-lo com um, deputado, um senador, ou um ministro e suas sujeiras nos desvão da capital federal.

Capitão Magnovaldo ia à loucura todas as vezes que lia em qualquer pasquim esse tipo de associação. Devocioneiro de São Lifôncio, jurou que iria arrebentar o chifre do safardana que pinchara tinta em papel marrom para denegrir a imagem de Pederneiras de Mato Dentro. Nunca, mas nunquinha mesmo iria permitiria aquele tipo de desrespeito.

Capitão Magnovaldo, desde pequeno tinha gênio estuovado. Crescera na fazenda de seu avô, no debaixo do capotão do velho e misturando seu grito de goela nova, com os mandos de dono de pasto e gado do coronel Segismundo Ferreira de Silveira Santos. Desde criança já mostrava pendores para o mundo da política e para a liderança de sua cidade. Certa vez, o coronel Segismundo, pegou o neto em delito semvergonhista no detrás das atafonas da fazenda. Recebeu reprimenda grossa, solavanco de orelha e dois dias em galé de quarto escuro. Depois disso sentenciou: vai para a cidade, aprender letra de padre e, quem sabe, ser doutor de lei, ou doutor de poções e sinapismos.

Desbocado desde cedo, altão de quase avariar as teias de aranhas da fazenda do seu avô, maluco por perna de moça, já rapazote adquiriu o hábito de frequentar casa de moça militante e fumar charuto de fina marca, desses de aromar dois quarteirões quando aceso. De letra de padre, Magnovaldo não queria nem sentir cheiro. Mas, gozava de alegria quando era chamado por Nhá Nacinha, com o argumento de que suas meninas estavam de fogareiro aceso, clamando sua presença.

Deseducado de boca, invencioneiro e linguarudo, padre Pereira, num dia desses de aula sentenciou: esse menino tem todo o sintoma do povo da política, Daria um bom sermonista, ou um deputado. Apesar de todos esses vaticínios, o que menos o capitão queria era saber de estudos. Para aprimorar sua pessoa resolveu montar barba. Vinha a calhar bem com a piaçava de fogo que cultivava na cabeça. Em viagem especial foi até o avô solicitar permissão para tal.

– Pois saiba o capitão – nessa época já era capitão da Guarda Nacional – que duas coisas de principal um homem deve ter: barba cerrada e voz grossa. Nada muito difícil, já que essas duas qualidades tinha de sobra.

Mas, a vida boa encerrou-se de maneira abrupta. Deus Nosso Senhor curou seu avô de uma vez por toda e levou o Coronel Segismundo para o céu dos anjos. E, então, Capitão Magnovaldo se tronou o mais ricoso, o mais desimpedido e o chefe político do burgo. E, com nova vida passou também a ser ouvido e solicitado emn pronta justiça em todos os acasos da cidade, seja em caso de briga na Câmara de vereadores, em casos de desdonzelismo de moça, ou em caso de roubo de moça, por alguém. Sempre que chegava esses tipos de caso, gambava o ladroísmo do acuasado, ria bastante e promovia o casamento. Era padrinho de muitas crianças da cidade. Padre Pereira, todo fechamento de ano era chamado para passar na água e no sal do batismo um magote de guris nascidos. Capitão Magnovaldo sempre era o padrinho e o protetor dos agregados de seus pastos, e nas adjacências.

Sua pessoa era a mais procurada e amais respeitada da cidade. De doutor de beberagens a desembargador de justiça vinham machucar soalho de sua casa para uma conversa de pé de ouvido. Apesar de respeitoso por fora, por dentro, o capitão era um samburá de safadagens e pilhéria. Tinha como amigo o dono da farmácia, que podia ser chamado mais de covil, do que farmácia. Teúda e manteúda nunca teve, mas todas as vezes que visitava a casa de Nhá Nacinha, saía feliz da vida, pimpão e mais alegre que pinto no lixo.

Quando a notícia garatujada em jornal comparou a capital federal com um cabaré foi a gota d’água. Sua pessoa apareceu na rua como um trem maluco. O charuto debruçado na varanda do beiço, tirava rolos e rolos de fumaça. Sua cabeleira vermelha, seu tipo altão que mais parecia uma palmeira deixava sua figura mais temerosa.

Entrou na prefeitura com a cara enfarruscada e foi tirar satisfação do prefeito. Figura miúda, quase cai da cadeira ao ver a pessoa do capitão. Disse uma coisa, disse outra, pediu desculpa, citou constituição, liberdade de expressão para fechar a rosca do discurso dizendo que nada podia fazer.

Capitão Magnovaldo saiu mais raivento ainda e se dirigiu ao j0ornal da cidade, abrindo a poder de sola de botina as portas de vai e vem da loja, perguntando onde estava o filhote de lobisomem que garatujara aquela invencionice em papel marrom. Escangalhou máquinas, desceu a gurungumba em mesas e mesinhas. Os funcionários do jornal, mais assustados que ratos buscaram asilar suas pessoas no debaixo da batina de padre Pereira, que era o confessor do capitão.

Findo esse justiçamento ancorou a sua pessoa na farmácia de seu amigo, bebendo uma cerveja e comendo um frango de especial preparo para ele. Já com as surucucus de seu cavername do peito menos zangadas passou a obtemperar seu justiçamento para o amigo.

– Eu sempre digo seu compadre. Casa de menina militante é coisa séria, é coisa de respeito. É igual coisa de religião e seu povo de batina. É preciso levar na maior seriedade na maior consideração os serviços prestados. Não se pode comparar algo tão importante com as safadagens e semvergonhismo que se pratica na capital federal. Onde já se viu, comparar um puteiro do mais alto respeito e da maior qualidade com a capital federal? Isso é uma falta de respeito com qualquer puteiro da nação.

E, depois, montou em seu tordilho, ciente de ter limpado a honra do puteiro de Nhá Nacinha a força de seu braço, voltou para a sua vida de dono de pastos e gados, já pensando nos fofinhos das meninas militantes do cabaré da cidade.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

O QUE QUEREM?

Fevereiro, mês de pão e circo em Pindorama, começou bem, com os terroristas do MST e agora da tal FNL, ou Frente Nacional de Libertação, igualzinho à sigla que dá sustentação ao ditador tarado da Nicarágua, que não respeita nem a enteada, começaram as invasões de terra, com a justificativa mais falsa que nota de sete reais, de reforma agrária. Para a maioria das pessoas que, malandramente apóiam essa estrovenga, há um misto de vingança e inveja, sob o manto da tal justiça social.

Entretanto, em uma análise mais cuidadosa, com menos preguiça intelectual e mais honestidade, do cordão umbilical que liga a quadrilha chamada PT, com MST, MTST e a atual FNL possui uma intenção mais obscura e profunda que os ricos e milionários que vestem a camiseta do Che Guevara e se sentem culpados, ainda que fingidamente, de serem ricos, acreditam, e que aiatolinhos das universidades brasileiras, querem acreditar.

Já disse várias vezes, em diversas análises, que a esquerda possui método na tomada do poder. A intenção dela é semelhante a uma cebola. É preciso ir descascando por camadas, até se chegar ao núcleo dela, quando, então poderá ser exposta a verdade escondida pelo mar de palavras bonitas.

Lembrem-se: todas as vezes que um esquerdista fala em justiça social, democracia, comida na mesa, paz, igualdade de tratamento, moradia, e outras bobagens, leiam o seu exato oposto e vocês terão um vislumbre da real intenção da esquerda. Não adianta, o discurso da esquerda é sempre traída pelos atos, é sempre traída pelas ações.

Todas as vezes que um partido de esquerda alcança o poder, a sua intenção é a perpetuação, preferencialmente eliminando seus adversários, que eles consideram inimigos, centralizando o poder, colocando cabresto, ou cooptando os demais poderes à sua vontade. Mas, o caminho para se chegar a esse “estado de coisas” não é direto, não é plano. É preciso desestabilizar a nação, criar um clima de insegurança para que a população aceite o garroteamento passivamente.

A história tem demonstrado. Em todos os quadrantes deste planeta em que a esquerda chegou ao poder, a fórmula foi a mesma, e o resultado foi extremamente positivo para ela e desastroso para a nação. Quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia Czarista, a primeira ação tomada por Lênin foi destruir a agricultura daquele país. Assim ocorreu na China, em Cuba, na Coreia do Norte, na Venezuela, está acontecendo na Argentina e vai, também, ocorrer no Brasil.

Quando grupelhos terroristas como MST e a tal FNL começam a invadir terras, sob a justificativa malandra de que a terra precisa cumprir a sua “função social”, seja lá o que isso signifique, de fato estão seguindo o comando dos partidos esquerdistas de desestabilizar o sistema agrário, inviabilizar a produção de comida e gerar instabilidade na sociedade.

Recentemente, orientei um artigo de um jovem formando em Agronomia sobre a produção e consumo de carne de gado vaccum, analisando o perfil dos consumidores desse produto. O levantamento estatístico realizado pelo jovem foi excelente. Ali ele demonstra que 83% da carne produzida no Brasil é consumida no mercado interno (olha ele aí, novamente, Maurício). Como sou movido pela curiosidade, fui ver dados sobre a produção de leite, de frango, de suíno, de trigo, de arroz, de feijão, e outras coisas.

Os dados a que tive acesso demonstram, de maneira cristalina que o discurso desses grupelhos é apenas vento. Os números do MAPA – Ministério da Agricultura, Planejamento e Agropecuária -, antes de ser fatiado em três inutilidades, são dados que trituram e transformam em nitrito todo o discurso balofo desse povo. O Brasil produz muito, e a maior parte do que produz é consumido aqui mesmo. Em relação à carne, apenas 17% é destinada ao mercado externo. Em relação ao trigo, 100% do que o Brasil produz é comercializado aqui. E é tanto, que o país precisa importar o produto para dar conta da demanda.

E, se levarmos em conta os demais produtos do agronegócio, passa-se a compreender os motivos do Brasil ter a comida mais barata do mundo. Mas para aqueles que acreditam que leite cresce em gôndola refrigerada, que a carne brota nos açougues e embalagens de supermercados, possivelmente esses números não tem a menor importância.

Isso porque eles não estão interessados em ter um pedaço de terra para produzir comida. Mesmo porque, para cada assentado é destinado apenas 8 hectares de terra. Esse espaço é impossível para uma produção sustentável no curto prazo. Nem para uma agricultura de subsistência para uma família de 4 pessoas essa quantidade de terra é possível.

Aqui, no glorioso Mato Grosso do Sul, um dos maiores orgulhos chamava-se Fazenda Itamaraty, que entrou para o livro dos Recordes, no final da década de 1980, como a maior produtora de soja do mundo. Hoje, em 2023, ao se andar pela fazenda, depois da dita reforma agrária, virou uma favela espaçada, com pobreza, fome e miséria, com as famílias assentadas em seus oito hectares, dependendo da cidade de Ponta Porã para sobreviver e a dita Bolsa Família para poder comer.

A real intenção desses movimentos que dizem lutar por reforma agrária, na verdade o que buscam é minar a produção de alimentos no país, desestabilizar a produção de comida, levando à escassez, ao distúrbio urbano por falta de comida, facilitando o garroteamento da nação a um poder tirânico.

Cuba é um exemplo clássico dessa estratégia. A população faminta da ilha prisão não se rebela, salvo um movimento, ou outro que é reprimido com força, a população só tem um pensamento fixo: onde arranjar outro prato de comida para matar a fome. Vendo o depoimento de uma refugiada cubana no Brasil, dizia aquela que o governo fornece uma cesta de alimentos para uma família de 4 pessoas que dura, em média 14 dias. Os demais 16 dias que o cubano se vire. Uma população mantida em estado de inanição perene torna-se apática, sem forças para lutar pela liberdade. Sua única preocupação é quando poderei botar um prato de comida na mesa e matar a fome.

O mesmo está ocorrendo na Venezuela e já está ocorrendo no Nordeste do Brasil. Cortar as águas do São Francisco, voltar os carros pipas vai desestabilizar a região, assim como as demais regiões do Brasil, provocar distúrbios nas cidades e conflagrar a sociedade, abrindo as portas para o domínio total.

Então, muito cuidado e muita atenção, principalmente do produtor rural, esse bravo que não tem dia santo, nem fim de semana. Grupelhos como MST, FNL. MTST não querem reforma agrária, ou distribuição de lotes de terras para quem não tem. Seu intento é destruir a produção alimentar do país, lançar a nação no caos e facilitar que a quadrilha chamada PT implante uma ditadura igual ao de Daniel Ortega, no Brasil.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

MAS QUEM NÃO E?

Para Jesus de Ritinha de Miúdo, colunista do JBF

Etevaldo Guaiamum, cachacista sem remissão, amigo dos mais fiéis do suco de cana, sócio benfeitor do sindicato da gozação, era discípulo fiel da filosofia do Tavares quando o negócio era mulher. Mas, nos últimos tempos vivia um dilema familiar que o deixava tristento e todo cacarejoso quando encontrava os amigos de copo no covil, digo, no bar do Portuga.

Casara bem jovem com a Jupira. As más línguas diziam que o casamento foi a contragosto, já que a dita senhora, desde cedo era uma cruza do Mike Tyson com o Vampeta, e, para completar o pacote tinha um espírito de sargento de cavalaria reformado. Gritona, mandonista, com uma piassava no cocruto que a deixava mais rabugenta.

Filhos? Tivera dois. O Juninho, ou seja, Etevaldo Junior, rapaz delicado, mimoso, sensível e emocional, daquele tipo de rapaz que a galera, um pouco menos cínica chamava de “amaneirado”, e os pouquinhos mais desbocados, de viado mesmo. Cecília, a filha, era o justo contrário do Juninho. A moça puxava ferro, dirigia bitrem e, de vez em quando, coçava certa parte da anatomia existente na sua anatomia que era de faltante, naquele corpo super esculpido que emparelhava com o corpo de um estivador.

De cachaça em cachaça, o que mais alucinava Etevaldo Guaiamum era rabo de saia. Era só ver um pé de rabo, principalmente o de moça militante em casa semvergonhista que Etevaldo ficava todo ensabonetado, mexia nos cabelos, embonecrava sua pessoa para melhor figurinagem fazer.

Ocupação perigosa era essa vida dupla, já que a mulher, pratrasmente de uns cinco anos deu para arapongar o marido pelas vielas da cidade com um porrete de guatambu nas mãos. Por qualquer coisa, ou menasmente que isso o porrete cantava em seu costado. Mulher do cão era aquela.

Átila, com certeza seria mais compreensível e piedoso. Aquilo não era mulher. Aquilo era uma tapera abandonada e malassombrada na beira da estrada. Mas, ninguém podia dizer que Etevaldo não tinha culpa no cartório. E, também, não se corrigia. O domingo de Nosso Senhor, quando Etevaldo cruzava assunto de cachaça com mulher, a desgraça era certeira. A vantagem, porém, era que Etevaldo podia ser chamado de tudo, menos de corno. Aliás, para Etevaldo ser corno, o guampista profissional, ou amador teria que estar, ou isolado, por uns vinte anos em uma ilha deserta, ou com meia dúzia de porcas faltando no quengo.

Etevaldo, porém, era mestre na arte da guamparia. Dizia, estufando o peito que só não saía com sapo porque não conseguia identificar a fêmea. A mulher, bem que sabia das safadagens do marido, descia o braço nele, mas relevava. Uns diziam que era amor, outros que a coisa era ordem unida mesmo que mantinha a santa paz em seu lar. Mas, sempre há um porém, e a canalhice de Etevaldo sempre o colocava em rota de colisão com o cracajá de pente que ele chamava de esposa.

Deu-se que, naquele domingo calorento, Etevaldo na roda dos amigos cachacistas, com uma loirinha jeitosa, dessas que se pergunta se o valor era pela hora, ou pelo turno, sentada em seu colo e bebericando no copo do sujeito, foi flagrado pela mulher. Ah, Irineu, a dona dele nem esperou chegar em casa para o pau cantar. A roda de amantes de canavial se desfez na hora, a loirinha evaporou no ar. Quem passava no de longe, pensava que era briga de cachorro tanto os uivos que se ouvia.

– Velho bola murcha, cachorro, safado, canalha, patife. E o festival de palavrão era seguido por uma saraivada de cachações e bolachas.

– Fica se engraçando com qualquer puta, enchendo a cara e eu tenho que agüentar bodum de cachaça. E tome-se outro safanão.

– Hoje eu lhe arranco a pele e salgo seu couro, fi de rapariga. E, tome-lhe outro safanão.

A turma do deixa-disso, bem que tentou, mas do jeito que a Jupira rosnou para o bando, era melhor deixar quieto. Aquilo ali era o Sete Couros encarnado na mulher. E, com medo do tamanho da borduna que a mulher fazia assobiar nas mãos, mais raiventa que um ninho de caninanas em noite de lua cheia, baixaram o cangote e cada um foi para sua casa.

O portuga, que tudo assistia no detrás do balcão, só balangava a cabeça, já estimando o prejuízo em cachaça não contabilizada e nas trapizongas de sua bodega que a mulher do Etevaldo quebrara na força do porrete.

Terminado o show de bolachas, o portuga, vendo a mulher puxando o marido para casa, com a cara mais avariada que aqueles antigos carros da PM, ainda tentou questionar o Etevaldo os motivos daquela penitência sabendo do pitbull que tinha em casa.

– Ora, seu Manoel…. a vida é assim…. precisa ser aproveitada, além do mais eu sou…. mas quem não é?

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

AH! MERCADO

Nos últimos vinte e oito dias aqui em Pindorama, neste ano de 447 d. S. (depois de Sardinha) tenho assuntado as fofocas mais quentes que os arariboias de plantão e o bando de caciques falam sobre a Taba grande. É cada despautério que às vezes penso que bebi cauim demais, ou fumei casca de jequitibá, em vez de fumo de corda. O mais interessante nessas conversas sem futuro é que, quanto menos se entende de um assunto, mais opinião com profundidade se dá sobre ele. Profundidade que quase chega a molhar a sola do pé, mas com uma ênfase que chega a encher os olhos de lágrimas e de ufanismo o curiboca nacional.

O assunto mais em pauta, que eu acompanhei, pratrasmente de duas semanas foi o tal Mercado. Ah!, que o Mercado é mal, só pensa em arrancar dinheiro dos pobres, que é impatriota, que investe na miséria de quem veve de comer calangro e farinha de puba, que só tem interesse no lucro, sem se importar com os 120 milhões de famintos que existem em Pindorama.

Mas, afinal de contas, o que é esse Mercado draculesco? Para um desavisado pode parecer a reencarnação do senhor Hide, o mesmo o monstro do doutor Frankstein que se levantou das trevas, com seu olhar cúpido sobre os caraminguás que tupinambás ainda guardam em seus picuás e bocós amarrados na cintura. Maurício Assuero, grande Potiguara que é versado em numerários, contas, finanças e dinheiros, acredito eu, fica até com urticária quando um pseudo pajé vem falar sobre esse tal Mercado e não entende “niente” do que está falando.

Adam Smith, com uma paciência de Jó tentou explicar aos habitantes da grande taba chamada planeta Terra o que vem a ser esse tal de Mercado e como as nações se enriquecem, tentando apontar o seu dedo para as causas e as origens da riqueza das nações. Obviamente, depois de mais de duzentos anos, os conceitos evoluíram, mas o cerne continua o mesmo. Mas, ainda não nem cheguei a dizer que diabos é esse tal Mercado.

Primeiro ponto. Mercado é e não é aquele lugar onde a indiaiada vai fazer compras todos os dias, toda a semana e todos os meses. Digo que não é, porque seria reduzir muito o conceito a apenas algo palpável. Mas também é, já que é uma engrenagem de uma máquina com milhões de outras engrenagens que percisam se movimentar em conjunto para que a sociedade funcione.

O conceito da palavra Mercado, infelizmente está deturpada em Pindorama. Quando se ouve agentes do governo falarem em mercado, botam no chifre dessa palavra o adjetivo financeiro. Assim, para o leitor pouco coisa menos bidu, seria mercado apenas um grupo seleto de pessoas engravatadas, nos desvão de bancos, de empresas de investimentos, de corretoras, com garfos e facas nas mãos, e pagando latagões a serviço da bolacha, para afastar os demais caetés e eles ficarem com as melhores partes do Sardinha, e não querendo deixar nem os ossos e cartilagens para os demais.

Essa visão emburrecedora e safadista foi criada e amamentada nos desvãos de universidades e escolas de economia e martelada nas escolas de educação básica a fim de que o Bororo nacional tivesse ojeriza a essa palavra e a tudo o que ela significa, enquanto aqueles que sabem o seu real significado ficam ricos e bamburram operando nesse tal Mercado.

Pare e pense, meu caro curiboca nesse tal mercado, e se questione: você faz parte desse Mercado? Sem necessidade de titubear eu te respondo: Sim. Você faz parte dele. Pense assim comigo. Dona Januária, lá do interior da Paraíba, ou mesmo Nhá Velina, socada no interior do Pantanal, sem energia, sem água encanada, sem televisão, sem telefone celular, mas ambas têm um gosto em comum. Ambas gostam de naquear um pedaço de tabaco todos os dias, o popular mascar fumo. Todo mês elas vão até um armazém e compram um pedaço de meio metro de fumo de corda e vão para as suas casas. Pode parecer um gesto simples, quase desimportante. Mas, o fato é que não é.

Pense que aquele pedaço de fumo precisou ser plantado em algum lugar. Quem o plantou precisou arar a terra, adubar, semear o tabaco, cuidar do seu crescimento, aplicar os defensivos – o que os aiatolinhos do politicamente correto chamam de agrotóxicos -, colher, secar, enviar para a indústria de transformação, que por sua vez também faz movimentar outras engrenagens como a fornecedora de energia, da água, dos insumos aplicados no beneficiamento daquela folha de fumo. Depois a distribuição que movimenta outras engrenagens como transporte, combustíveis, a indústria alimentar, até chegar no buteco onde dona Januária, ou Nhá Velina compraram seu pedaço de fumo para mascar durante o mês.

Isso apenas em um pedaço de fumo de corda. Agora pense em uma criança que gosta de jujuba e os pais lhe dão um saquinho toda a semana. Como será que aquela guloseima chegou até às mãos daquela criança. Pensem onde ela se originou, quais as indústrias que participaram direta e indiretamente na confecção daquele doce. Eu sei, parece coisa de maluco, mas é assim que esse tal Mercado funciona.

Agora volte ao mercadinho do bairro e pense em cada produto que está exposto ali. Quantas outras indústrias, produtores, atravessadores, atacadistas, transporte, armazenamento, controle de qualidade e sanidade foram movimentados para que você, meu caro caeté pudesse chegar e pegar um pacote de biscoito na prateleira e saísse comendo despreocupadamente.

Mas esse exemplo é apenas uma faceta desse tal Mercado. Agora pense. Tudo o que você faz. O coletivo que você pega, o tanque de seu carro que você abastece, a roupa que você compra, o dinheiro vadio no seu bolso e que você resolve depositar em um banco, o seu FGTS, essa estrovenga malandra criada para tomar na mão grande o seu dinheiro, a sua poupança, o dinheiro que você pede emprestado em um banco, o empréstimo que você faz a um parente, ou a um amigo, a reforma de sua casa, o material escolar que todo ano você compra para seus filhos. Tudo isso faz parte do que se chama mercado, pois essas ações movimentam engrenagens que possibilitam que esses bens cheguem às suas mãos.

Mas e o Estado não seria parte desse Mercado? A resposta mais límpida possível é NÃO. Estado não produz, não gera riqueza. Ele apenas toma a riqueza de quem produz. E como Pindorama possui um Estado inchado, cada vez mais ele precisa tomar riqueza de quem produz. Veja que em Pindorama 97% do orçamento público vai para despesas como pagamento de aposentadorias, de bolsas, de salário de funcionários. Obviamente que, lá na ponta esses aposentados e assalariados do Estado também vão movimentar as engrenagens do Mercado, mas o dito momentum de maior força das engrenagens já se dissipou.

E o Estado toma o dinheiro de quem produz e faz a engrenagem do Mercado se movimentar de duas formas: através de impostos, contribuições e tributos, ou através da emissão de título de dívida pública. Como Pindorama é uma taba em que se gasta mais do que se arrecada, o Estado veve lançando títulos da dívida pública com juros cada vez maiores para que alguém tenha interesse em comprá-los. Só que esse dinheiro não vai para a produção. Ele não vira uma força motriz que movimenta essas engrenagens. Mas, como oferece gordos retornos, então o dinheiro é sugado dessa movimentação e vai para outros fins, não descontando o desvio, a safadagem, a roubalheira e outros etcéteras. Afinal ninguém é burro para deixar dinheiro vadio no fundo do gavetão, quando se pode ganhar outros tantos, sem fazer absolutamente nada. Apenas esperando o Estado devolver o que pegou de você mais os juros.

Quando eu ouço falar em mercado, sempre com o adjetivo “financeiro” atarrachado nos cornos dele eu tenho um pensamento pendular: ou essa gente é muito burra e fala daquilo que não sabe, ou e esperta demais e fala muito bem daquilo que sabe e está tentando enganar a patuleia. Como não sou de me deixar enganar por papel pintado, sempre vou na segunda opção. São pessoas que sabem muito bem o que estão falando, mas estão dando um passa moleque na taba toda para lucrar e muito.

Assim, meu caro caeté, quando você ouvir qualquer curiboca falando sobre mercado, faça igual a mim. Fico pubo por dentro, fofo igual a lá de carneiro. Deixo o indivíduo falar, afinal isso é de seu ofício e depois vou cuidar de minha vida, dando uma banana para o falastrão que veio tentar me engrupir.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

PENSAMENTO ESTRATÉGICO

Já disse várias vezes, nesta coluna, que sou um caeté inveterado. Os meus olhos só brilham quando vejo um pedaço do chã de dentro do Sardinha chiando em um braseiro, quase pronto para ser devorado com um pouco de farinha d’água e banana da terra cozida no borralho. Afora isso, sou um fingidor, igual a Fernando Pessoa. O que se passa fora da minha taba me dá uma preguiça. O que mais gosto de fazer, depois de um lauto almoço é ficar deitado em minha rede de imbira, coçando a carcundinha de meus doguinhos.

Confissões à parte, sapeando pelas notícias de Pindorama, e olhando pratrasmente em nossa “estória”, fico apalermando em ver como renunciamos a capacidade de pensar estrategicamente nosso país. Maurício Assuero, a quem considero um grande pensador pode dar fé ao que digo, ou pode, também, me mandar ir pentear macaco pelas bobagens aqui ditas. Como disse, sou caeté. Meu único interesse é o Sardinha…, de preferência assado ao ponto!

O bom de se olhar para trás é ver a quantidade de burradas feitas e planejar o futuro evitando-se essas armadilhas. Mas, com Pindorama ocorre seu justo contrário. Olhamos para as burradas e as aperfeiçoamos ao limite da arte para que buraco seja mais profundo e a saída dele seja mais dolorosa e onerosa. E assim caminhamos, sem rumo, sem objetivos, sem saber a que porto chegar. Somos semelhantes ao homem que está bravo dentro de um ônibus e o motorista pergunta a ele onde quer descer. Em qualquer lugar, retruca. Peguei o ônibus errado mesmo.

E, de ônibus errado a ônibus errado vamos avançando de forma irracional, anticivilizatória, anti-intelectual, com nossa moral se adaptando às conveniências de momento, nossas decisões se amoldando ao batuque da hora, nossas escolhas tomadas feitas usando a parte final do intestino grosso. E, jogando a conta disso tudo para o pobre curiboca do presente, e mais especificamente do futuro.

Eu tenho uma rezinga histórica com a previdência social de Pindorama. É um dos raros casos em que uma pirâmide financeira não é somente protegida pelo Estado pantagruélico, como também defendida pela maioria daqueles que são suas principais vítimas: o contribuinte. A previdência brasileira é um caso clássico de falta de pensamento estratégico em que o resultado final, não importa quantas vezes ela for reformada, sempre será o desastre. Não dá para pensar um sistema de previdência baseada na regra distributiva em que, quem trabalha sustenta quem está aposentado, para quando chegar a sua vez de se aposentar, outros terão que trabalhar para que eu possa ficar nos “aposentos”.

Essa regra até era simples quando Getulio Vargas criou esse monstro, tomando na mão grande os recursos dos IPASES e dos Montepios para formar um grande caixa, achando que o brasileiro ia ser igual a rato, parindo ninhadas gigantescas de cada vez e fornecendo mão de obra quase infinita para sustentar o esquema. Quando a Constituição de 1988 criou a nova Previdência depois absorvida pelo INSS a coisa piorou. Gente que nunca contribuiu com um centavo passou a ser segurado. Funcionários públicos que também nunca contribuíram passaram a ser segurados. E o rombo nas contas foi só crescendo. A reforma de 2019, com o objetivo de economizar um trilhão de reais em dez anos foi só uma piada. Se Warren Buffet decidisse arriscar o dinheiro de seus investidores considerando apenas uma década, baseado apenas em suposições, seria crucificado por esses mesmos investidores, em praça pública. Isso porque, não é preciso ser bidu para saber que aquela reforma foi uma tentativa burra de se curar uma fratura exposta com esparadrapo.

Agora, com a chegada do governo do Amor estamos caminhando céleres para a revitalização de outras burradas do passado com uma pitada de cheiro de picanha assada e bodum de cerveja que já foi bebida e mijada. São várias as decisões que estão levando Pindorama ao desastre, mas com requinte de arte de dar inveja a um Caravaggio.

A última de Pindorama é o desejo do presidente ex-presidiário em criar uma moeda comum com a Argentina. Secundado pelo nosso Jaiminho (é para evitar a fadiga), nomeado ministro da Fazenda, saíram com uma ideia que, se concretizada será o fim do país. Melhor será bradar o toque de retirada, entregar o território para os índios e cada um voltar ao seu país de origem.

Há duas possibilidades nessa sandice. Ou a falta de um pensamento estratégico geracional que vislumbre os benefícios para o futuro do país, ou uma malandragem das grossas, que irá transferir o dinheiro dos desdentados e descamisados daqui para sustentar um governo desastroso do lado de lá da fronteira. Particularmente eu acredito mais na segunda hipótese do que na primeira. Será a abertura do sétimo selo do Apocalipse, com o escancaramento das portas do inferno para que sanguessugas e parasitas de outras nações se aboletem no bolso do curiboca nacional e o transforme em escravo apenas para sustentar esses governos ineptos e corruptos. Mas, isso quero discutir em outro texto.

As nossas universidades, que deveriam ser a vanguarda no pensamento estratégico geracional se tornou um amontoado de inutilidades, salvo uma, ou outra ilha de excelência. Lembro-me quando estava fazendo os créditos teóricos do meu doutorado que fui convidado a participar de um grupo de estudos sobre o pensamento de Karl Marx na contemporaneidade. Como todo caeté, sou curioso e fui participar daquele programa de “índio”.

Falou-se sobre exploração capitalista, mais-valia, a superioridade do socialismo, a malvadeza do “mercado” – ainda quero discutir isso um pouco também -, a busca do bem, a preservação do meio ambiente. Pensava eu comigo: será que essa gente já leu algum livro de História? Ou mesmo leu aquele amontoado de bobagens chamado “O Capital?”. Não acredito. A obra máxima de Marx é alentada, longa e complexa. Além de conhecimentos vastos é necessário paciência para ler aquilo. É a mesma coisa que ler a obra de Paulo Freire. Um amontoado de sandices que se contradiz a cada parágrafo e a cada linha.

Em dado momento levantei a mão e questionei se alguém ali pagava boleto. Não obtendo resposta sai da reunião e fui fazer algo mais importante. Tomar um sorvete de baunilha que é a minha Dalila. Enquanto saboreava a iguaria pensava: afinal, universidade para que? Aquela que deveria ser a culminância da sociedade, a fim de pensar estrategicamente o futuro virou a Esposa de Ló. Olha para trás, nunca para frente. Esmerilha-se ideias e ações que a história já reprovou, mas se insiste nessa bobagem, lapidando o erro até chegar ao estado de Arte.

Se existe lado bom desse convescote, eu acredito que não exista, é que, como disse o Inesquecível Roberto Campos, socialismo na juventude é igual a gonorreia. Ao primeiro boleto e à primeira declaração de imposto de renda, o socialismo é curado, em alguns, mas o estrago dele é sentido pelas gerações futuras.

Pindorama renunciou ao pensamento estratégico, vive de passado, aperfeiçoando os seus erros e aplicando-os com uma sanha de hunos sobre a civilidade. Não devemos nos preocupar. Com essa renúncia, não há a menor chance do país dar certo no longo prazo. Desculpem-me, ao pensar sobre isso, quase deixo o chã de dentro do Sardinha queimar!

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”

Pindorama, 18 de janeiro de 477 d.S (depois de Sardinha), busco iniciar esta peroração (para você Violante) com esse mote tolo de Geraldo Vandré, mas não para falar do futuro, mas sim do passado e do presente, presente. Não sou historiador, mas curioso na História, e, como curioso tenho a capacidade de criar uma enciclopédia sobre o passado, mas não consigo enxergar o que está a um segundo à frente do meu nariz.

E, analisando pratrasmente a situação atual de Pindorama faz-se necessário construir alguns castelos de vento para entender a algaravia (essa vão ter que procurar no dicionário do botocundês castiço) do dia de hoje. O Rei morreu! Longa vida ao rei proclama-se nas monarquias, inclusive na britânica que perdeu uma rainha considerada quase imortal e se entronizou um velho minhoqueiro com um mau gosto que dói até em mendigo que papa moças desajustadas.

Dia sombrio esse nosso hoje, com pessoas dizendo que hoje está menos pior do que amanhã, e bem menos pior que a semana que vem. Vamos ver. Como disse, não consigo enxergar um palmo diante do meu nariz no futuro. Mas, eu vejo com bastante interesse o que aconteceu ontem. E, confesso, decepcionado!

Para aqueles que têm memória um pouco mais atilada que a minha, já dizia em uns textos atrás que desconfiava do governo Bolsonaro. Achava os seus discursos e suas falas apenas jogo de palavras, muita saliva e pouca ação. Não que ele não tenha sido um presidente honesto, focado nos interesses do país. Não é essa a minha animosidade. Ela está em outro lugar. Vinho de odre velho, já eu pensava comigo mesmo.

Depois de 30/10 o país virou uma “nau dos insensatos”. Sem comando, sem leme, sem um capitão que organizasse os sessenta dias restantes de governo. Malandramente, Jair Bolsonaro jabutizou-se. Saindo de sua carapaça para fazer declarações estapafúrdias, enquanto aqueles que acreditavam ainda em milagres faziam as interpretações mais esdrúxulas possíveis daquela fala. Eu sempre dizia, tanto no JBF quanto no grupo de Zap do Cabaré que nada iria acontecer. Nada iria frear essa nau chamada Pindorama que estava se debatendo entre ventos de diferentes direções.

Jair Bolsonaro, apesar de todo o seu discurso de “jogar dentro das quatro linhas da Constituição” traiu a sua própria convicção. Em um único ato perdeu a chance de se tornar estadista e se contentou em ser apenas mais um político que rasteja na insignificância. Saiu pela porta dos fundos da História. Ato vergonhoso, abandonou o país nos últimos dias de seu governo. Não fez parte de um processo de transição, ainda que a raiva petelha e o desejo de vingança sejam notórios. A gana de enjaular o ex-presidente era evidente. O discurso de que o combatente cai no campo de batalha é válido, para os outros. Não para ele.

Ainda que muitos de quem me lem possam discordar e até mesmo lançar anátemas contra mim, o que é factual é aquilo que todo mundo viu, sentiu e percebeu. Jair Bolsonaro tornou-se um anão político. Na verdade, deixou de governar na noite do dia 30 de outubro. Ainda que se pese toda a oposição do STF – Supremos Toletes Federais – e do TSE – Tribunal da Sacanagem Eleitoral -, até as 23 horas, 59 minutos e 59 segundos do dia 31 de dezembro, ele ainda era o Chefe Supremo da Nação. Mas, Jair Bolsonaro renunciou a isso também, o que o coloca na mesma categoria do fujão João Belchior Marques Goulart.

Porém, era interessante que toda a semana ele ia para as redes sociais, para aquelas conversinhas fiadas com jornalistas dizendo que podiam esperar, que ia haver reviravolta. A vantagem de ser cético é que estou sempre aberto a possibilidades, mas sem esperar nada. E, como sempre dizia, nada aconteceu. O país foi entregue a uma quadrilha de alta periculosidade, com gatunos “più grassos” e ligeiros na arte de transformar o público em privado, sempre em seus benefícios.

Jair Bolsonaro foi curtir seu “dolce far niente” sendo vizinho do meu grande amigo Magnovaldo, deixando para trás uma parte da nação que se sentiu órfã e traída em seus desejos e anseios. Evidentemente as Frouxas Armadas não iriam se aventurar em ações intervencionistas. Esse tipo de atitude não cabe mais na atualidade. A menos que elas quisessem jogar o país na anarquia e na guerra civil. Ainda havia o peso do isolamento absoluto do país por outras nações contaminadas com o câncer do esquerdismo, caso houvesse a dita intervenção. Mas, isso são apenas elucubrações sobre o passado. Nada sobre o futuro.

Mas, inaugurando 2023, eis que chega o “governo do amor”, da picanha, da cervejinha com churrasco com dois dedos de gordurinha em cima, trazendo de volta o Paraíso Perdido proustiano que foi arrancado do curiboca nacional. Lembro-me que o jornalista José Maria Trindade vaticinou que o governo do amor não viria para organizar o país, mas para se vingar, porque o chefe de toda a malta estava mergulhando em um poço de ódio e rancor contra todos aqueles que não foram dar bom dia lá em Curitiba, e não acreditavam em sua inocência.

Atirei no que vi e acertei no que não vi. Ainda no passado, já havia, em um texto aqui no JBF feito a “Anatomia de um Esquerdista”. Podem procurar na minha seção que acharão. A ligeireza em destruir, a cupidez em tomar o que é do alheio, os olhos gananciosos. A primeira ação, fechar os registros e desligar as bombas que levam as águas do São Francisco para o interior do semi-árido. Água encanada para que? Nordestino veve muito bem com carro pipa e água salobra! Viveu séculos assim. Para que esse luxo todo?

E a destruição ainda ocorreu na educação com o veto das aulas de tecnologia e robótica, derrubada da sacralidade da vida, abrindo as portas do inferno para uma matança generalizada de fetos. E tem Nhambiquara que acredita piamente que o “genocida” era o capitão boquirroto. Atulhou ministérios, autarquias, fundações com cargos inúteis, só para garantir uma boquinha a gente inepta, burra e sem o menor compromisso com a população, ganhando tubos de dinheiros, achando que este cresce igual a tiririca depois da chuva.

A sanha de quem entrou e a irresponsabilidade de quem saiu revela toda a nossa irracionalidade caeté, nossa anticivilização, nosso amor ao atraso, à mendicância estatal, à frouxidão moral e cívica. Dia desses invadiram a sede dos três poderes e fizeram um quebra-quebra. Aí se deu o milagre da pecha de golpistas, terroristas, taxistas, machistas, flamenguistas. Pois olhem, meus caros caetés. Achei foi pouco. Se eu tivesse um lança-chamas e fosse mais novo botaria fogo em tudo aquilo.

Explico-me: temos um legislativo que não legisla e não representa a sociedade. O mandatário não está conectado com o mandante. Um Executivo que desde 30/10/22 não executa porcaria nenhuma. Apenas boia malandramente em palavras desconexas e vingança. Um judiciário que não judica a justiça, mas faz aquilo que bem entende e manda calar a boca de qualquer um que ousar divergir. Então, para quê aquela monumentalidade? Aquela ode à ladroeira, à ligeireza e ao desperdício encravado como um despacho a Exu da Encruzilhada sugando os recursos da taba?

Mas são coisas do passado. O futuro? Não sei o que vai ocorrer daqui a um segundo. Como disse, posso falar muito sobre o passado, mas nada sobre o presente, ou mesmo o futuro. Ah…. racionem as partes do Sardinha. Amanhã será bem pior que hoje, eu acho!

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

XEXÉU

Para o Velho Capita, Carlito Lima, colunista deste JBF

Belarmino Xexéu era o típico louco de cidade pequena. Conhecido por todos. Querido, mas também zombado dada à sua figura. Mistura de profeta do Apocalipse cruzado com espírito de Bocage e Gil Vicente zanzava pelas ruas de Goiabeiras, cidadezinha do interior, poerenta e mimosa. Lugar em que morcego passava protetor solar mesmo à noite, dado ao seu calor e vento seco.

No barato, era uma espécie de faz tudo. Capinava, varria, fazia serviço de moleque de recados, guarda noturno dos puteiros e cabarés da cidade, servindo de leão de chácara e sparring para os amantes um pouco mais impetuosos da cachaça nossa de todos os dias. Conheci Belarmino pratrasmente de uns vinte anos quando ainda era ajuizado, morava protegido por telhado e tinha seu brim de fim de semana para as missas, pois era devocioneiro de São Lifôncio, santo sempre cuidadoso na proteção de picadas de inseto peçonhento.

Naqueles idos tempos, só tinha três paixões: Zizinha, moça de porta aberta que era a mais procurada de Goiabeiras, cachaça de fundo de barril e pescaria. Nos fins de semana, não contasse com ele. Vivia tabocado em pé de pau, mais pubo que mandioca na água, na ânsia de pescar um rubafo que desdenhava de sua pessoa e de toda a sua parentagem. Havia jurado de juramento firme que não morreria enquanto não passasse aquele rubafo semvergonhista e desrespeitoso no seu anzol. E assim, passava os sábados e domingos. Atocaiado, mais fiel que perdigueiro, buscando seu rubafo.

Belarmino José Montenegro da Cruz Souza e Sá, nome comprido, desses que dão uma boa sonoridade para firma de doutor de lei, ou mesmo médico que vive de poções e sinapismos para curar vermina de criança comedora de terra, mas por alguma sorte do destino mudou completamente de vida. Os mais piedosos diziam que foi algum sortilégio lançado sobre ele. Os mais maldosos diziam que foi a cachaça mesmo. Mas isso tudo era bocagem do povo. Ninguém sabia por que motivo Belarmino descarrilou da vida. O que se sabe é que um dia ele sumiu da cidade, voltando, passado um bom par de anos, modificado, tocado pelo destino a apregoar virtudes, desdenhando posses e vivendo para auxiliar os outros.

Ganhou o apelido de Xexéu porque se tornou inimigo da água e do sabão, alegando que era coisa do Tinhoso. Vivia de bentinhos, ladainhas e ensinamentos de Deus, Nosso Senhor e de todo o povo do céu. Trabalhava de miúdo, apenas para ganhar o pão desse dia que vivia.

Vim depois a saber que Belarmino perdeu o juízo quando em um fim de semana, indo para a sua penitência juramentada, viu que um moleque pegador de passarinho, adiantara-se a ele e pegara o rubafo juramentado que por muito tempo zombou de sua pessoa. Aquela visão do peixe no samburá do moleque o transtornou. Perdeu alguns parafusos do miolo. Largou caniço e anzol e saiu pelo mundo, sem dar notícia a ninguém. Sem escrever missiva, ou mesmo mandar lembranças. Agarrou-se à fé como uma tábua no meio do oceano e teve os vislumbres da santidade, perdendo o juízo para as coisas da terra.

O mundo virou um saco de maldade, onde magotes de hereges viviam em pecado mortal, lambuzados em zombarias contra o povo do céu. Sua volta foi um espanto. Mas, como dizem o tempo cura tudo. As pessoas passaram a gostar de sua companhia e o fizeram um faz tudo na cidade, que ele executava com rapidez e segurança.

Nas feiras de domingo Belarmino se via ocupado. E mesmo se tivesse dez baços e outras tantas pernas não era capaz de atender aos favores que lhe pediam, sempre a troco de algumas moedas que ele guardava em sua calça surrada e depois ia gastar comprando guloseimas que repartia com os filhos dos pobres da cidade e comia com alegria, com todos os dentes gozando da felicidade dos desajuizados, que são puros e inocentes.

Certa vez, carregando quatro sacolas de feira, ia dirigindo um caminhão caçamba na sua cabeça, fazendo o atchim dos rodofreios sempre que chegava em uma esquina. Nesse dia, para azar de todos, Dona Clementina, Dona Cotinha e Dona Josefa resolveram pegar a fresca da manhã sentadas em cadeira de vime na larga calçada que Belarmino fazia de sua pista de caminhão.

Meio adernado pelo peso das sacolas, vinha o caminhoneiro trocando marcha, freando e acelerando o seu caminhão imaginário. Ao ver as senhoras – as três maiores fofoqueiras da cidade – Belarmino puxou a cordinha do apito de seu caminhão. Mas, sem tempo de frear, atropelou as três velhas. Foi um verdadeiro acidente automobilístico. Um ajuntamento de coentro voou pelos ares, uma sociedade de tomates que estavam embrulhados em sacola de plástico virou patê no meio da calçada e duas cabeças de repolho rolaram para o meio da rua, enquanto as velhas tentavam se levantar.

– Louco filho de uma puta! Você não viu que a gente estava sentada aqui na calçada e veio correndo?

– Eu vi, dona Cotinha. Apitei com meu caminhão, as senhoras não saíram da rua e eu não consegui frear, aí tive que atropelar, porque ‘tava’ com bastante velocidade!

Até hoje não sei, se depois desse acidente tiveram que chamar a perícia de trânsito, ou os maridos das velhas. O que sei é que Belarmino Xexéu juntou sua carga e foi entregar a encomenda contratada no endereço do freguês, em troca de uns cobres para as guloseimas de domingo.