CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

ABELARDO DA HORA

Este colunista, Abelardo da Hora e Claudionor Germano

Revendo velhos temas sobre o Recife me vem à mente um fato expressivo: a cultura pernambucana ainda se ressente de maiores cuidados e a obra de Abelardo da Hora, por exemplo, que deveria estar num museu de nossa cidade, encontra-se na Paraíba. Necessita-se de maiores cuidados e divulgação nacional de certos artistas, sobremodo os pintores e escultores.

Minhas observações partem dos anos de 1960, quando tive oportunidade de entrevistar Inalda Xavier, Zuleno Pessoa, Wilton de Souza, Corbiniano Lins e Abelardo da Hora.

Este último merece aqui algumas notas, como homenagem post morten, pois com ele estive frevando poucos anos antes de se encantar, no Salão Capiba, da AABB, quando comemoramos o aniversário dos 80 anos de seu irmão, o cantor Claudionor Germano da Hora.

Poucos sabem que Abelardo teve o privilégio de iniciar Francisco Brennand como escultor. Embora sendo dedicado às artes de desenhista, gravurista, pintor e ceramista, se tornou mais conhecido como escultor.

Outra particularidade da trajetória desse artista é que ele estudou Ciências Jurídicas e Sociais, diplomando-se pela Faculdade de Direito de Olinda, mas sua tendência não era advogar. Sempre esteve ligado às belas artes e assim fez fama e manteve sua família.

Para se aperfeiçoar entrou no Curso Livre de Escultura da Escola de Belas Artes do Recife. A partir da década de 1940, realizou vários trabalhos em cerâmica para Ricardo Brennand, com temas relacionados a frutas e motivos regionais.

Abelardo tem esculturas em várias praças do Recife, do Brasil e do exterior além de empreendimentos comerciais de grande porte, em importantes pinacotecas, públicas e privadas. Uma curiosidade interessante me cabe aqui assinalar.

Para muitos entendidos na arte da escultura o nome de Abelardo da Hora é inigualável e o Recife é a cidade-sede de sua ampla obra.

Aqui se inspirou e produziu maravilhas que contam com uma exposição permanente e a céu aberto. Mas é na Paraíba que repousa sua coleção.

Manteve, na Rua do Sossego, 792, um casarão da Boa Vista, uma exposição permanente de suas obras. Foi lá que nos anos 80 me concedeu uma entrevista, para o Diário de Pernambuco.

Soubemos que foi um dos fundadores da Sociedade de Arte Moderna do Recife, nasceu no interior de Pernambuco, na cidade de São Lourenço da Mata e deixou para a eternidade de nossa capital as peças: “Monumento ao Maracatu”, próximo ao Forte das Cinco Pontas; “Monumento ao Frevo”, na Rua da Aurora; “Mulher Deitada”, no Shopping Recife e “Mulher Sereia”, no Mar Hotel “. Poucos artistas deixaram igual legado.

Ao todo de sua coleção se somam 179 peças, vários desenhos, além de uma coleção com algumas maquetes. Sempre foi muito claro para o governo de Pernambuco que nossa cidade seria o melhor lugar para ser mantido o acervo artístico e documental do escultor.

Razões para isso são inúmeras, bastando citar ter sido toda a sua obra criada nesta cidade e inspirada pela cultura pernambucana; trabalho de um homem apaixonado e comprometido com temas regionais.

Diante desse quadro de realizações, infelizmente temos hoje a obra de Abelardo transferida para a Paraíba. Nosso governo, conforme reportagem publicada no Diário de Pernambuco, teria escolhido um local próprio para sua guarda, promoção e conservação.

A exposição das obras de arte e demais documentos, depois de muitas negociações acabou indo parar em João Pessoa. Foi uma operação de guerra, quando se utilizou sete caminhões baús, caminhões-guindastes, paleteiras manuais e içadores.

Bem que Pernambuco poderia ter mantido aqui tal acervo pois já se havia separado uma nova ala no Museu Cais do Sertão, localizado no Bairro do Recife.

Mas o Governo de Pernambuco, segundo se diz, foi surpreendido quando soube que seus herdeiros decidiram transferir o acervo para o estado vizinho E assim nos contentamos com lembranças intocadas em vários pontos da capital de Pernambuco.

Um passeio pelo Recife é um meio de apreciar as obras do artista, espalhadas por praças importantes da cidade.

“Mulher deitada”, peça de escultura que se encontra na Paraíba

Meu último encontro com Abelardo foi durante homenagem prestada a Claudionor Germano, quando comemoramos seus 80 anos de idade.

No auge da festa, quando uma fração do Bloco da Saudade entrou no salão para cantar e dançar, a orquestra entoou um frevo de bloco ele não resistiu. Nem deu bolas para os seus 90 anos. Levantou-se e entrou no salão rodopiando.

Pegou-me pela mão e saímos dançando pelo salão, formando-se em torno dos frevistas improvisados, uma emocionante roda de canto e dança, sendo os ritmos desse embalo algumas músicas do memorável Capiba.

Abelardo nos deixou no dia 23 de dezembro de 2014, no Recife. Dele guardo a vibrante lembrança de haver sido seu parceiro num frevo rasgado.

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

NOMES RARÍSSIMOS

Valeriana Carmencita, um dos nomes raros

Todas as vezes que faço uma pesquisa lembro-me de nomes de etnólogos de Pernambuco, sobremodo aqueles que deixaram sua contribuição ao setor. Mário Souto Maior, que figura entre os proeminentes.

Sentado em sua rede, no terraço da casa de Olinda, com um catálogo telefônico à mão, ele produziu seu primeiro livro: “Dicionário do Palavrão e termos afins”. Conversamos durante horas sobre suas pesquisas, num adorável domingo.

Como hoje ele não está mais entre nós, andei me aventurando a relacionar alguns nomes raros, não constantes de sua publicação e que certamente seriam por ele aceitos a fim de completar sua obra, se vivo ainda estivesse.

Nessa procura de nomes exóticos, raros e pouco conhecidos recebi a colaboração de muitos leitores que contribuíram para a publicação destas notas. Há poucos dias dei continuidade à busca, iniciando com uma relação da Folha de Pagamentos, onde constavam nomes de funcionários do Banco do Brasil, no decênio de 1960.

Dos personagens que conheci aproveitei para publicar seus apelidos, a fim de dar graça à relação. Nesta oportunidade aproveitei correspondências e telefonemas que me chegaram, a fim de engrandecer a “coleção” que ora venho publicando. Vejamos:

Abdalino Serro Lopes (Lino)
Abdenísio Costa
Abdoral Marcondes Filho
Agripa Ulysses de Vasconcelos
Agustiniana da Silva Mendes
Alaíde Bruna de França
Albenaldo Fonseca
Alcidélia Marcondes Ferro
Almanaíra Logan (Mana)
Ana Flor Marcondes
Arão Mendes
Argentina Castello Branco
Austriclínio Roberto Santos
Bailton Neves (Babá)
Benevaldo Nobre de Melo (Bené)
Clidenor Ferreira da Silva
Dailane Correia
Demevaldo Melo Reis
Denerilson Arruda
Deobertina Caruso
Desandra Elisio Teles
Desandra Santos
Djailton Ferreira da Costa (Dadá)
Docivaldo Melo Cruz (Dôci)
Dulcinaura Dias
Ebtuso Maia Carrilho
Edilsenir Melo Gomes.
Eleunere de Matos
Elibertona Soares
Elinevanda Lopes Silva
Elsonildes de Arruda Silva
Elvandilma Correia (Elva)
Erivaldene Lopes Cardoso
Estrelina Mendes Félix
Florisbundo Menezes da Rocha
Gedalva Maria de Sena
Hermógenes de Araújo Viana
Jenoveva Cândida Mendes (Véva)
Joacir de Medeiros
José Florisbelo Costa (Floris)
Marinalva Teles Mendes
Menivalda Loureiro
Onix Lorenzzoni
Sizolmar Cavalcanti
Tertuliano Veríssimo Silva (Teté)
Valeriana Carmencita
Valeriana Carmencita.

Outro dia, ouvi num restaurante, ouvi um cidadão contar uma história incomum. Uma senhora, mãe solteira, que estava grávida, disse que teria que batizar seu filho com um nome inventado por ela, a fim de tornar o rebento um cidadão de nome raro. E mandou ver.

Registrou o pobre como Florisbundo Menezes da Rocha.

Ainda bem que não foi u’a menina. Pois assim seria um nome raríssimo e o apelido, quase impronunciável: Florisbunda.

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

MEU RECIFE DE ONTEM

Rua do Bom Jesus, pavimento com pedras holandesas

Do Recife altivo de ontem sempre haverá de partir um grito de guerra ou de rebeldia. Afinal somos o “Leão do Norte”. A revolta parece que está na alma das pessoas. Mas, creio que no espírito do recifense está a mania de recordar e louvar pessoas, fatos e os cantos da cidade.

Pelo menos, há sempre alguém com a força da palavra escrita, para mostrar que permanecem na memória dos livros e dos jornais independentes, não só os personagens notáveis, mas os modos e feitos de seus heróis sociais. Não me refiro aqui, desta feita, às nossas guerras de defesa, mas ao modelo de vida da distante época de 1930, a exemplo.

Na barra de rolagem de minha privilegiada memória vão surgindo lembranças de vários tempos. Mesmo antes do meu nascimento ocorreram coisas interessantes, bem diferentes do hoje.

Ouvi falar num Recife onde se chamava “Arrecife dos Navios”; da Casa de Banhos, da cidade cheia de palmeiras imperiais, da bucolicidade, de ruas estreitas e sem pavimento, dos sítios que se tornaram arrabaldes e hoje são bairros elegantes, aproximados pelos rápidos meios de transporte.

Percorrendo os tempos de ontem, lembro-me que havia hábitos interessantes. Nos restaurantes populares as pessoas saiam pela rua com um palito na ponta do beiço, após as refeições.

Os carros de aluguel, encontrados em várias praças da cidade, acertava-se o preço da corrida antecipadamente. Os paletós masculinos possuíam ombreiras. Havia camas-de-lona, dobráveis, também chamadas “camas de vento”.

Os dentes de ouro eram instalados com o nome de “coroas-de-jaqueta”. Os alfaiates modelavam as roupas no corpo das pessoas. Tudo sob medida. Havia lojas chamadas camisarias.

Lembro-me das pedras de pavimento vindas de Portugal e da Holanda, aqui chegadas como lastro dos navios, fixadas nas ruas do Riachuelo, Bom Jesus e várias outras. Retiraram os bondes mas deixaram alguns trilhos nas ruas para ativar nossas saudades.

Nos subúrbios distantes as “vendas” substituíam as lojas, apresentando vários produtos de uso doméstico, inclusive aviamentos, porque as costuras de roupas simples eram feitas em casa.

As lojas só eram encontradas no Centro da cidade e vale recordar seus nomes: “Regulador da Marinha”, especializada em joias e relógios; Joalharia Krause, Loja Sloper, Camisaria Aliança, Casas Ferreira, Casa Clark Calçados, Mesbla, Casas José Araújo, Casa Costa Campos, As Nações Unidas Tecidos e Casa Viana Leal.

Aos domingos era costume as famílias fazerem passeios pelas ruas Nova e Imperatriz, por ser um divertimento agradável ver as majestosas vitrinas das lojas mais “chics”. Na PRA-8, Rádio Clube de Pernambuco era bacana ouvir todas as tardes o programa “A “Hora Azul das Senhorinhas”, momento cultural dirigido pelo maestro Nelson Ferreira.

Os carros tinham pneus faixa-branca. As crônicas mais famosas dos jornais era assinadas por de Altamiro Cunha, Guerra de Holanda, Jorge Abrantes, Esmaragdo Marroquim, Valdemar de Oliveira, Dias da Silva, Isnard Moura, Dinah Silveira de Queiroz. Mário Melo e Paulo Malta.

A cada amanhecer escutava-se a “Ginástica no Lar”, pela PRA-8, aos toques do Piano de Antônio Paurílio. Quando as tardes iam embora as famílias católicas se concentravam para ouvir pelo rádio a: “Hora do Ângelus”, na voz de Abílio de Castro.

A cola de grude e goma-arábica eram os produtos para colar papéis, inclusive as máscaras para o carnaval, as quais se confeccionavam em casa. Os sapatos de duas cores, eram os preferidos pelos homens elegantes. Haviam pérolas nas gravatas e lenços perfumados nos bolsos dos paletós.

As Livrarias mais completas eram a Ramiro Costa e a Livraria Moderna. As propagandas – que chamávamos reclame – apareciam nos bondes. Algumas se tornaram inesquecíveis: “Vanadiol, o pleno vigor para seu corpo”; “Pílulas de Vida do Dr. Ross”, pequeninas, mas, resolvem”. .

O Vereador Alcides Teixeira, conhecido pelo seu programa de Rádio dirigido às vovozinhas, conseguiu licença provisória da Prefeitura e construiu o “Teatro de Emergência Almare”, que era todo de madeira e foi edificado na atual Av. Dantas Barreto.

Havia movimentadas disputas náuticas, aos domingos, na bacia do Capibaribe. Os relógios mais populares eram de algibeira e funcionavam sob corda. Os homens costumavam usar suspensórios nas calças. Os padres se apresentavam sempre de batinas pretas. Alguns homens elegantes usavam chapéus e bengalas.

As bocas-de-calça dos homens eram dobradas. Dos ternos brancos que faziam mais sucesso eram confeccionados com tecidos de linho irlandeses, marca “York Street”. Os ordenados dos funcionários das grandes empresas eram contabilizados pelo sistema “Holerite”. As cuecas eram costuradas em casa e se chamavam “samba-canção”. Os sutiãs eram conhecidos como “porta seios”.

Os vendedores de rua ofereciam pirulitos, confeitos de malva-rosa, doce-japonês e Bolinhas de Cambará.

Que Recife! Tranquilo, bucólico, cheio de sítios e arrabaldes, onde se chegava em bondes dolentes, que cantavam as rodas nos trilhos da Tramways. A maioria das pessoas se conheciam. Todos eram gentis. Polícia só funcionava como Delegacia, para registrar pequenos roubos. Não havia carros de Radiopatrulha nem crimes violentos.

O meu Recife se foi deixando apenas lembranças!

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

“VACINA DE CUSPE”

Ramalho Leite: escritor, político, advogado e jornalista

Costumo esquadrinhar jornais antigos e livros de história contemporânea do Brasil não apenas para conhecer fatos pouco comentados; mas, sobretudo, pelo espírito de descobridor de minúcias que procuro retransmitir aos meus pares.

Às vezes, procuro adequar o estilo desta coluna e preencher meus escritos sob o tom anedótico que costumo dar a estas crônicas, ditas como cheia de graça. Mas, nem sempre…

Severino Ramalho Leite, escritor, político, advogado e jornalista paraibano, escreveu vários livros escavacando fatos históricos relevantes quase esquecidos e plenamente desconhecidos pelas gerações atuais.

Quem, por exemplo, já ouviu falar em “Vacina de Cuspe”, medicação inventada pelo farmacêutico José Fábio da Costa Lira, nascido em Umbuzeiro, na Paraíba, onde foi Prefeito?

Diz-nos Ramalho Leite: “O jornal A Noite, do Rio de Janeiro, em edição de 11 de agosto do ano de 1936, na primeira página, revela a existência, no interior da Parahyba, do autor de um processo a que se atribuem curas assombrosas”.

Doentes com tuberculose, Câncer, lepra e diabetes eram objeto de tentativas de curas pelo método que denominou “Lymphotherapia” e que consistia na transmutação do princípio vital que aflora certas glândulas de crianças e menores, desde que estejam sãs, para pessoas doentes, isto é, para aquelas cuja energia orgânica esteja perturbada, diminuída ou esgotada”, explica José Fábio, para finalmente comparar: se posso dizer, é a voronofthapia simplificada.

Ao usar o neologismo o criador da famosa “Vacina de Cuspe”, como ficou conhecida a injeção que aplicava nos enfermos, refere-se ao cirurgião russo radicado em País, Serge Voronoff (1866-1951).

A reportagem de A Noite sobre o modesto farmacêutico do interior, também aludia a possibilidade de seu sistema provocar o rejuvenescimento e garantir uma velhice mais sadia e alegre.

Tal atividade, porém, foi considerada irregular, pela Sociedade de Medicina da Paraíba, e ele mesmo reconhece: 

Sei que venho agindo fora da minha profissão, pois não sou médico, mas compreendo também que a ciência não pode ser patrimônio de uma classe.

Revela que suas experiências não fazem vitimas, e conformado, conclui:

– Já me compensam as emoções de ter com meu método aliviado algumas dores humanas.

Comenta Ramalho Leite:

“Depois do pronunciamento negativo da entidade médica paraibana, o farmacêutico começou a ser perseguido pelo vigário de Bananeiras, José Pereira Diniz.

Ao tomar conhecimento e que o boticário havia dito que seu método provinha de missão divina recebida de um espírito superior que não era o Deus da religião de vocês.

Seu método de cura é resultado de estudos científicos publicados em dois livros e um memorial inédito lido perante o corpo médico do Hospital Pedro I, de Campina Grande.”

Proibido de exercer suas experiências na Parahyba, José Fábio mudou-se para o Rio Grande do Norte. A vacina era inclusive recomendada por sua mãe que a identificava como injeção milagrosa, nada mais do que saliva transformada num líquido injetável que se aplicava para qualquer tipo de doença.

Em 2016 a universitária Rosana do Nascimento Gomes de Melo apresentou à Universidade Estadual da Paraíba sua tese de História sob o título: “A seiva da vida” referente às assombrosas curas da Lymfoterapia, de José Fábio de Lyra com suas vacinas.

O trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em cumprimento à exigência para obtenção do grau de Licenciada em História. Orientador: Prof. Dr. Azemar dos Santos Soares Júnior, que obteve Menção Honrosa.

O trabalho experimental de José Fábio da Costa Lira está detalhado no livro: “Da Lymphothrapia ao Physio-Pschismo”, publicado em 1924, sob o patrocínio de Solon de Lucena, então Presidente do Estado da Parahyba. (Naqueles anos os governadores eram considerados Presidentes de Província.)

Mas foram vãs as tentativas em legalizar seu método científico de curar. José Fábio não acumulou fortuna. Sobraram-lhe apenas sofrimentos e frustrações, fruto das perseguições sofridas ao longo de sua existência profissional.

O inventor, entretanto, se conformava com o apoio moral que recebia dos que alcançavam a saúde plena pelo uso da popular “Vacina do Cuspe”.

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

SAUDADES DO CHEIRO DE CHUMBO

Máquina linotipo

Em 1956 eu me encontrava no auge do fascínio por tudo quanto se referia à Comunicação, sobretudo a confecção de um jornal. Foi o tempo em que me iniciei no Diário de Pernambuco, como aprendiz.

Não sendo funcionário do jornal, mas bancário, recebia os encargos de reportagem do Editor Antônio Camelo e no dia seguinte apresentava, em folhas datilografadas, meu trabalho.

Como havia sido levado por Fernando Barreto, fui sendo apresentado aos funcionários das “oficinas”, captando amizades com a turma dos setores que trabalhavam no que hoje chamamos: diagramação eletrônica.

Naqueles anos tudo era em fero e chumbo. Depois das letras saídas do papel e as fotos, tudo era muito sujo de óleo.

Havia mesas enormes, em plano inclinado, onde os técnicos iam arrumando as matérias semiacabadas. As mais longas chegavam às mesas, preparadas pela linotipo, em chumbo. Os títulos eram preparados letra por letra.

As frases a serem organizadas para as partes superiores eram elaboradas através da colocação de letras metálicas, geralmente maiúsculas, que formavam as manchetes e subtítulos.

A habilidade dos funcionários daquele setor – conhecidos como “compositores” – me encantavam. Existiam grandes gavetas com divisões de madeira onde estavam separadas letras metálicas, que iam sendo retiradas uma por uma até formar as frases.

As partes fotográficas apareciam em chapas de metal fixadas em madeira, que se chamavam: clichés.

Ocupando o jornal todo o edifício da Praça da Independência, a partir do momento em que se entrava no minúsculo elevador já se sentia o cheiro do chumbo derretendo, enquanto o mestre Amaro operava aquela geringonça altamente complexa, a linotipo, cheia de manivelas, que durante mais de um século contribuiu para a difusão das letras impressas no mundo.

Passados os tempos segui rumo próprio como editor de jornais, revistas e livros, passando a contratar serviços com várias “oficinas”. Mas o cheiro de chumbo derretendo na linotipo do Diário jamais foi esquecido.

Muitos anos depois, ao passar por aquela calçada, diante do prédio, eu me demorava por instantes, na porta do velho jornal, a fim de sentir o cheiro do chumbo; como se convocasse minhas mais emocionantes lembranças dos primeiros anos de jornalismo.

Outro dia, ao visitar a Companhia Editora de Pernambuco, me deparei com a exposição de uma linotipo, que me pareceu novinha em folha, mas faltou uma coisa para ativar minhas lembranças: o cheiro inesquecível de chumbo derretendo.

Edifício onde funcionou o Diário de Pernambuco

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

CHAUFFEUR PELA PRIMEIRA VEZ

A foto sempre me traz uma inolvidável recordação: a primeira vez que peguei no volante de um veículo e acelerei pisando no único pedal. Nesse tempo já era um carro-elétrico.

Estávamos em 1944, eu contava oito anos e fui levado por meu tio Sebastião para a Festa da Santa Cruz, onde entre o carrossel, a montanha-russa e outros brinquedos, havia o auto-pista.

Eram carros sem capota, fabricados para a brincadeira do chamado “bate-bate”. Quando a sessão começava, o operador ligava a eletricidade das “bananas” – que eram os condutores de energia – e a “danação” começava.

Meu tio sentou-se em posição de alcançar o pedal do acelerador e eu fiquei espremido ao lado, só para pegar no volante. Era cada sopapo infernal. E eu lá meio espremido.

Na segunda rodada, solicitei que ele me deixasse sozinho para sentir a emoção de dirigir de fato. Para chegar com o pé até o pedal eu quase entrei debaixo do painel e fiquei em incômoda situação. Mas suportei até o fim da rodada, naquela posição bastante desconfortável.

Ao sair fui indagado se avia gostado e respondi que se dirigir automóvel fosse assim eu iria demorar muitos anos para pegar num volante novamente. Mas, é lógico que num carro “de verdade” eu já teria atingido meus 18 anos e assim, com um porte de homem, poderia pisar com facilidade nos três pedais.

Na segunda vez que experimentei o volante foi num carro de verdade, um De Soto que pertencia ao Vereador Antônio Batista de Souza e o motorista dele era amigo de meu pai.

Na Rua Nicolau Pereira, perto do Largo da Paz, onde não havia chegado a pavimentação, ele me entregou a direção, mas ficou operando os pedais. Senti o carro macio, bem diferente das rodas do autopista que eram de ferro. Rodei somente uns dois km.

Quando meu tio Moacir comprou um Opel, completou meu ensinamento e me deixou guiá-lo algumas vezes, sempre com ele ao lado.

Depois disso, só peguei no carro que arranjei para fazer o teste do DETRAN, que nesse novo tempo funcionava na área que hoje separa as duas pontes do Pina, na Cabanga, onde fui aprovado como motorista amador, em 1962, tempo em que comecei a pensar em comprar um carro, sendo o primeiro, um “Renault 4-CV”, conhecido como “Rabo-quente”, por ter o motor na parte traseira.

A partir daí fui adquirindo carros sempre mais novos e aperfeiçoando minha forma de dirigir, sem jamais me esquecer do “auto-pista” que provei no Parque de Diversões da Praça da Santa Cruz.

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

NOMES CHEIOS DE GRAÇA

Sempre que reuni nomes que parecem brincadeiras de mau-gosto, recordo que alguns realmente foram “cochilos” de funcionários, do próprio titular do cartório ou de alguma igreja do interior, onde os serviços, cartoriais em anos remotos, ainda não haviam ali se instalado.

Já entrevistei pessoas que estavam para se casar e só possuíam a chamada Certidão de Batistério, que era a denominação dada pela Igreja Católica, que representando o Estado tinha tais poderes.

Como exemplo, faço referência ao meu próprio enlace matrimonial, que foi do modelo: Religioso com Efeito Civil. De posse da Certidão do Casamento Religioso, tive que ir ao notário para registrar o Efeito Civil.

A respeito devo lembrar que: “Notário, ou Tabelião, é um oficial de registro, ou registrador. São profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.

O que é que um notário faz?

Nomeado pelo Estado, em escritório instalado, confere a autenticidade aos atos e negócios jurídicos contidos nos documentos que confere ou redige, assim como para aconselhar e assessorar os requisitantes de seus serviços.”

Mas, aconselhar é uma iniciativa difícil, porque nem sempre a pessoa que faz, no balcão de um cartório, o primeiro registro de nascimento de uma pessoa, está em condições de se arriscar sugerindo um nome mais sonante para um recém nascido.

Há casos incríveis, que parecem anedotas. Numa cidade de Pernambuco, um casal de japoneses foi registrar o filho e logo na igreja o padre aconselhou uma troca, quando ouviu o nome desejado pelo pai: “Katukai”.

O padre pediu outras sugestões porque aquele nome, ao ser pronunciado por brasileiros, parecia ser “Catuca aí”. E surgiu outro: “Xicago”.

E o padre, novamente sugeriu um nome que pronunciado no Brasil não desse uma cacofonia desastrada, se bem que sabia ser Chicago uma cidade Americana de Illinois. E o japonês já irritado, veio com este: Ryu.

O padre aceitou mesmo sabendo que também não seria o ideal. Mas não seria lógico alterar o estilo de cultura deles. Reconsiderou que a imigração japonesa, que aconteceu no Brasil a partir do século XX, transformou nosso país em um dos que mais abrigam a população desta origem, fora do Japão.

E por causa de entender que vários desses nomes aqui relacionado são de origem estrangeira, apenas estão referenciados como fato histórico. Devo admitir que alguns são invenções sob vários pretextos de seus genitores.

Se causar risadagem será por conta dos leitores:

Albino Pinheiro Carvalho Pinho
Aimael Lopes de Sena
Anunciato Meireles do Monte
Ayton Jurema da Richa
Belegardi Rocha
Betuel Mendes Lima
Brochaco da Costa
Deltan Dalainol
Delecarlindo Rios
Domingo Pinto Flores
Dorani Tempesta
Dorgival Terceiro Neto
Ferdinando Arthur Novais
Francislino da Rocha Reis
Generino Severino Silva
Gracielle Maria Feernandes
Gunteborg de Arrujda Seixas
Ilizama Machado
Jaguapaçu Crivo Lima
Joaquim Bolotas Ramos
José Lavanaire Celso
José Maria de França Gomes
Luiz Numeriano Costa Walber Lins
Marciliano Neves Roto
Maria do Céu Soares
Maria Imaculada da Silva Brandes
Mariado Perpétuo Socorro
Mariala Menezes Ferro
Marieve Mendes
Marigilda Fernandes Gomes
Mário Primo Neto
Marisbela Souza de Melo
Marivaldério Chagas de Oliveira
Maves Gama
Melânio de Barros Correia
Milcíades Cidadão Souza
Milvernes Cruz de Souza
Paulo Furtado de Souza Lima
Paulo Pinto de Menezes
Pedro Lima Castanheira de Abreu
Quinderê Maurício Mendes
Rita Rocha Ramos
Sandoval Caju
Sivaldo Albino da Rocha
Tamire Pelinca da Costa
Univaldo Dolarino Loureiro
Verdejante Maria de Arcoverde
Yuri Beneplácito Nogueira

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

A VIDA EM FLOR DE DONA BEJA

O ofício de repórter sempre me mostrou a tendência para pesquisar e historiar. Na década de 1960, quando Brasília se afirmou como capital do País, funcionários de instituições públicas e autarquias se preocuparam em arranjar um jeito de permanecer residindo no Rio de Janeiro. Fossem quais fossem os artifícios, inclusive a aposentadoria.

Eleutério Proença de Gouvêa, Gerente do Banco do Brasil, com quem convivi bom tempo, foi um dos que optou por ser transferido para o Recife, a fim de preencher o tempo para sua aposentadoria, contanto que não deixasse de residir no Rio.

Não foi o único. Agripa Ulysses de Vasconcelos, médico do quadro do Banco, poeta e consagrado escritor, também veio passar um ano no Recife, a partir de 1962, a fim de completar o tempo para a aposentadoria e voltar para a Cidade Maravilhosa.

Por um acaso, meu amigo Pedro Clímaco me apresentou ao colega recém-chegado e logo lhe solicitei uma entrevista, que ocorreu em sua residência provisória, o Hotel Recife, onde estava com sua esposa.

Acompanhado do fotógrafo Diógenes Montenegro, fomos para o vetusto prédio da Rua Marquês do Recife, pegamos um velho elevador Otis ainda de portas pantográficas e iniciamos as fotos, com aquele personagem gordo.

Prosa fácil, focada mais na sua intelectualidade do que na medicina ou na atividade bancária. Momentos empolgantes viveu este repórter.

Liberei Diógenes para outras missões e ficamos bem à vontade. Ao iniciar, indaguei sobre qual assunto se referia o tema do seu mais importante livro, “A vida em flor de Dona Beja”, e ele me respondeu:

– Quem escreveu a história do romance foi a própria vida de Dona Beja, que na verdade se chamava Ana Jacinta de São José. U’a menina do sertão mineiro que ainda está viva na terra montanhesa, como nos dias de sua mocidade radiosa. Montou um palácio no Araxá e viveu no esplendor da carne quando ainda cheia de encantos renunciou prematuramente ao mundo, que dela fez a Rainha do Sertão, pela graça quase divina de sua beleza. Foi a mais importante prostituta de Minas Gerais.

Agripa Vasconcelos e seu livro sobre Dona Beja

No final, Dr. Agripa presenteou-me com uma poesia composta no Recife, “O moço que sonhou com o tempo de Nassau”, peça em que aproveitou o fato histórico do período holandês que nosso Pernambuco viveu, e me disse que tal peça era uma homenagem singela à nossa gente.

De pronto providenciei sua publicação, solicitando a Mauro Mota, diretor do Suplemento Cultural do Diário de Pernambuco.

Dr. Agrípa foi um ás dos romances históricos. No momento da entrevista já possuía o crédito de sete obras sobre esse estilo, narrando fatos ligados aos tempos antigos de Minas Gerais. Falamos sobre sua trajetória por bom tempo.

Mal sabia o jovem repórter que seis anos depois teríamos diante dos nossos olhos a sua mais badalada obra. A TV Manchete lançava Maitê Proença como personagem maior da teledramaturgia brasileira na adaptação de Wilson Aguiar Filho, dirigida por Herval Rossano.

Dona Beja – produzida a partir do romance A vida em flor de Dona Beja – foi a novela que superou todos os índices de audiência no Brasil e exterior.

Em nosso país foi apresentada durante o período de 31 de março a 11 de julho de 1986.

Um sucesso retumbante.

Maitê Proença, personagem central de “Dona Beja”

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

O CIRCUNFLEXO DA FREIRINHA

A fila era tipo quilométrica. Um Caixa-executivo que recentemente havia chegado do Piauí, um tal de “Cid Bala”, estava demorando com a solução do pagamento de uma transferência à ordem de uma Irmã de Caridade que se chamava Antonia (sem acento) Bernarda da Silva.

A freirinha havia assinado sem acento e “Cid Bala” solicitou que na assinatura ela colocasse o “chapeuzinho”. Já estava até com o dinheiro contado para pagar e a Ordem de Pagamento continha o acento circunflexo.

Ela argumentou muito delicadamente que o nome dela não tinha o “chapeuzinho” e que há mais de 32 anos ela assinava tudo quanto era documento sem tal “enfeite”, digamos; inclusive a Identidade fornecida pela Secretaria de Segurança Pública de Paraíba, que estava com o referido Caixa-executivo.

Ocorre que a Ordem de Pagamento determinava: Pague-se a Antônia Bernarda da Silva ou à sua ordem, a quantia de Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) e o assentozinho estava lá…

Pra não discutir com a religiosa, o Caixa, pediu licença e foi ao Chefe do setor, Alberto de Sá Mota, que havia ido ao sanitário, porque estava “chumbado” por uma diarreia infame, que o fustigara desde a madrugada, daquela espécie tipo “chicotinho”.

Funcionário zeloso, Cíd Ferreira da Silva, carinhosamente conhecido por “Cid Bala”, grafotécnico recém-diplomado, desejava obter o reforço do chefe em sua decisão, a fim de solucionar a questão, solidificando sua atitude, claro.

A freirinha, decidida, não arredava o pé. Nem poderia!

A demora do chefe na privada, ocasionou problemas na fila e “Cid Bala” resolveu despachar outros clientes enquanto o chefe aliviava os intestinos.

A fila andando e a freirinha já se arretando. Afinal por causa de uma simples “decoração” numa palavrinha ela estava presa diante de um guichê de pagamentos do Banco onde havia chegado cedo e estava no primeiro lugar.

“Cid Bala” – muito “caxias” – pediu desculpas pela demora, mas disse que não tinha poderes para lhe pagar sem o “chapeuzinho”. Por isso apelara para o chefe que estava fazendo um “procedimento inadiável” fora da de sua mesa. Teria que esperar um pouquinho mais.

Para aliviar a tensão a freirinha começou a rezar utilizando um terço. O instrumento de reza, como sabemos, representa a terça parte do Rosário – conjunto de orações proposto pelo frade Alan de Rupe, em 1470.

Sua origem remete à recitação dos 150 Salmos bíblicos. Pela dificuldade dos fiéis em decorar os Salmos, estes foram substituídos por 150 “Pais-Nossos”, que eram rezados (e contados) com 150 pedrinhas numa bolsa de couro e, mais tarde, com 150 nós em um cordão.

Segurando um terço, chega o momento em que a freirinha o guardou e “soltou os cachorros”, porque há quase 30 minutos estava à espera de decisão:

– Olhe, meu senhor, esse dinheiro não é pra mim não. É pro Convento de Camaragibe e quem remeteu foi meu irmão, que mora em Curitiba e arrecadou com o pessoal de lá. Deve ter sido o funcionário do Banco que colocou o “chapeuzinho”, porque o mano sabe que meu nome não tem essa besteira.

“Cid Bala”, já aflito, pois era Caixa novo na função, retornou ao setor onde situavam-se vários wc, e na ânsia de apressar a solução, caiu na besteira de bater na porta, bem de leve, e narrou para o “cagante” o motivo de sua angústia.

Após a narrativa, ouviu um palavreado pouco ortodoxo do chefe Stênio de Sá Mota, que era meio desbocado:

– Homem, pelo amor de Deus, não sabe que eu estou com essa caganeira miserável?! Pague a esse diabo dessa freira e deixe o galho comigo! Mas me permita que eu continue a cagar em paz lendo meu jornal!

Ô circunflexo infame!…

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

NOVOS NOMES QUASE IMPRÓPRIOS

Mais de 40 leitores se manifestaram sobre nossa última crônica, por isso, volto a me referir a nomes incomuns, pouco usados, estrambólicos, quase impróprios, os quais saltam à vista e despertam certa comicidade.

Do jurista Antônio Porfírio da Silva recebi: “Caro Carlos Eduardo, crônica muito interessante. Reproduzo parte do texto da Lei nº 6.015/1973. Ela trata dos registros públicos. E, com ressaltado pelo amigo, ela proíbe registrar prenome (nome próprio da pessoa – João, Maria ou Carlos Eduardo) que possa expor o seu titular ao ridículo.

Eis o que ora se oferece: “Art. 55. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome, observado que ao prenome serão acrescidos os sobrenomes dos genitores ou de seus ascendentes, em qualquer ordem e, na hipótese de acréscimo de sobrenome de ascendente que não conste das certidões apresentadas, deverão ser apresentadas as certidões necessárias para comprovar a linha ascendente. (Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 1º O oficial de registro civil não registrará prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores, observado que, quando os genitores não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso à decisão do juiz competente, independentemente da cobrança de quaisquer emolumentos”. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022).

Tivemos, recentemente, uma polêmica e a respeito. reproduzo o texto de uma das notícias lidas:

“Após ter tido o registro do nome de seu filho recusado, o cantor Seu Jorge conseguiu o direito de batizá-lo como: Samba. A notícia foi confirmada pela assessoria do artista junto à Associação de Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen/SP), que aceitou o nome escolhido” (via Folha de S. Paulo). Que coisa!!!”

Do escritor Hélio Araújo Fontes: “Acabei de ler seu artigo desta semana sobre nomes incomuns, alguns hilários e outros até constrangedores.

Lembrei-me que certo dia, conversando com um amigo sobre essa compulsão que alguns pais sentem de batizar seus filhos com nomes esquisitos, ele me falou de um certo militar do exército que foi “premiado” com o nome esquisitíssimo: Um Dois Três de Oliveira Quatro de Melo.

Outra: Um casal cujo marido era metido a literato queria ter, apenas, dois filhos. Quando nasceu o primeiro deu-lhe o nome de “Prólogo de Souza” e ao segundo “Epílogo de Souza”. Mas o destino é zombeteiro e, algum tempo depois nasceu, certamente por descuido, uma filha a que ele prontamente registrou lhe com o nome de: Errata de Souza”.

Tive um professor de português que defendia o dicionário de nomes. Na escola havia um garoto que se chamava Urânio e o irmão dele Plutônio. É muita sacanagem dos pais… Não posso garantir que sejam verdadeiros esses fatos, apenas que são, de certa forma, engraçados.

Da leitora Carmen Carvalho Menezes de Oliveira, recebi esta interessante nota:

“O nome do meu marido é Rudex Regis de Oliveira. Já conhecia esse nome? Até hoje soubemos que há um Rudex, em Sumé – PB. E foi por lá que meu sogro viu e pôs o nome dele. Na sua infância e adolescência deu problemas ele depois se acostumou. ”

Do desembargador aposentado, Dr. Boaventura Bonfim, de Fortaleza-CE:Caríssimo amigo Carlos Eduardo. Sinto-me um privilegiado por ter acesso à sua crônica hebdomadária antes da publicação no JBF.

Hoje o privilégio duplicou-se porque, além do acesso antecipado, ainda deparo com meu nome na sua lista de nomes heteróclitos. Diz um velho amigo meu, referindo-se à minha graça: quem tem um nome desses, que se inicia com Boaventura e termina com Bonfim, não precisa de mais nada.

Parabéns pela garimpagem de nomes estrambóticos. A crônica está um primor. Um forte abraço do colega e amigo do vetusto Banco do Brasil. – Boaventura Bonfim.

Sérgio Marchio disse: Bom dia. Dois casos conhecidos meus. Um cidadão daqui de minha cidade estava no hospital por ocasião do nascimento de sua filha. Ainda em dúvida sobre qual nome escolher viu na parede um anúncio do laboratório Carlo Erba, não sei se ainda existe, e pespegou o nome na filha: Carloerba.

Tem um dentista conhecido em Jataí, GO, que ficou famoso, mais pelo nome creio eu, que se chama Supercílio e ele mesmo brinca comentando para os chegados que é simplesmente: Super.”

Vamos à nova pesquisa, sabendo-se que completei alguns nomes que ouvi falar com nome de família.

Aciatá Clímata de Melo
Adams de Melo Brandão
Adelgísio de Barros Correia
Ademilde Fonseca de Sena
Albanita Cruz Maranhão
Alex Garcia Gêmeo
Antônio Coalhado
Antônio Paurílio de Souza Santos
Arieta Coronário Campos
Astrolândio Marques Coreia
Benedito Rui Barbosa de Souza
Berlando Raposo Torres
Brancelino Virgílio Pontes
Brandina Martins Moraes
Carloerba Francisco Gomes
Damaris Nobre Cantoleni
Diogolino Goiano
Duralex de Alcântara Rego Silva
Edelzuita Rocha Mendes
Elizar Van Shosten
Epílogo de Souza Mendes
Errata de Souza Filha
Esperantino Rocha
Evangelino Pedro Ramos
Felisberto Martins Garrido
Félix Gaioso
Fernando Castelão Pereira
Gal Ferreira da Costa
Glaubemiro Martiniano Fernandes
Gontijo Theodoro Roesler
Hemistério Pazuello Souza
Hermeto Paschoal Anastácio Souza
Herven Maria de Souza
Hildhalius José de Arruda Cantanhede
Janguiê de Matos
Jesus Mariano
João Bravo de Medeiros
Joferlino de Miranda Pontes
John Ford de Almeida Barros
Leocádia Prestes
Luiza Belém da Rocha Machado
Luizardo Peregrino de Lima
Lupercínio França Gomes
Lupiscínio Rodrigues Sena Alves
Luzilah Nova Fernandes
Magnovaldo Mendes Cruz
Marcelino Fedegoso Chaves Filho
Márcio Errante de Souza Prates
Marcolina Chaves Arruda
Maria Anunciada da Paixão
Maria da Conceição dos Santos Filha
Maria das Dores Anunciada Brandão
Mário Celestino Almeida
Nelson Massaranduba Oligarco
Metacírio Distinto de Souza
Minervina de Tal Fontes
Moab Lins de Souza
Nominando Ramos
Pedro Clímaco Liausi Cavalcanti
Potiguar Matos
Plutônio Ferreira
Prólogo de Souza
Puranguê Etelvino Mendes de Melo
Ramani da Rocha Leão
Rubenilson Pires de Alcântara
Rudex Regis
Rudyard Rocha
Rui Ponce de León
Sanelvo Marcondes Silva
Secrinácio Santos
Setembrino Reis
Sóstenes Magalhães Ramos
Sulpino Colaço Dias
Supercílio da Rocha Camirão
Tais Avoluma
Ulisses Pernambucano de Melo
Um Dois Três de Oliveira Quatro
Urânio Ferreira
Vanhoeven Ferreira Velozo
Vilani Maria de Souza
Vitalício Amorim de Barros
Vitalino Manuel de Brito
Wanderlinden Rígido Maia
Zanoni Mesquita Pimentel
Zilah Barbosa Torres
Zózimo Barroso do Amaral
Zoroastro Mesquita Pimentel.