– Não case com Rebeca, você vai ser o maior corno do Estado.
Plínio ouviu esse conselho várias vezes depois que anunciou e convidou os amigos para casamento no ano novo.
Verdade seja dita, em seus 25 aninhos, Rebeca, morena dos lábios grossos, expirava sensualidade por todos os poros, tinha um requebro provocativo, os homens davam em cima da jovem, ela não rejeitou. Em resumo, Rebeca gosta de homem, nunca escondeu. Certa festa de batizado, ela foi apresentada ao pacato Plínio, 43 anos, celibatário por convicção. Ele achava o casamento muito complicado. Gostava de garota de programa. Dizia ele que pagava o sossego, o descompromisso.
Rebeca entusiasmou-se com aquele coroa calmo de uma beleza máscula, queixo quadrado, olhos sonhadores. Encantada, conversou alegre, divertida puxando risadas com Plínio, um convicto religioso. Marcaram encontro, ele interessado no traseiro maravilhoso, tiveram conversas agradáveis, inconsequentes. Quem podia com o feitiço e encantamento de Rebeca? Na primeira oportunidade estavam aos beijos nas esquinas, até que chegou a hora da onça beber água, uma noitada no motel. Plínio transformou-se. Não conhecia as variações e possiblidades em torno do tema, Rebeca ensinou tudo, sábia de nascença.
Plínio ficou acostumado, já não podia viver sem os carinhos da jovem, pediu Rebeca em casamento. Sem ligar as advertências, o casamento foi celebrado na Igreja de Santa Rita, no Farol. O casal viveu tranquilo, Plínio dedicou-se ao trabalho, professor universitário, cultura fecunda adquirida nos livros. O tempo passou normalmente, Plínio satisfeito com a esposa, um o vulcão na cama. Rebeca, ao contrário, não se acostumou com a vida de casada, tinha saudades de sua vida solta na boemia, fez força para ficar em casa sossegada, mas foi difícil se conter. Não havia completado dois anos de casados ela já dava umas fugidas, cada vez mais constantes, foi relaxando, quando Plínio descobriu, já era o maior corno do Estado. Decepcionado, expulsou Rebeca de casa. Chorona, ela pedia perdão. Em um mês vendeu a casa, teve que dividir a grana com Rebeca. Prometeu nunca mais casar. Porém, vez em quando vinham lembranças de Rebeca.
Passeando no Shopping encontrou sua prima, Eunice, quarentona, desquitada, enfermeira, independente, com uma filha jovem. Os dois se deram bem, começaram a sair. Um ano de encontros, marcaram compromisso. Plínio quebrou a jura, pela segunda vez casou-se na Igreja de Bebedouro.
Ao conhecer Joana, filha de Eunice, 20 anos, ele teve um sentimento estranho, os lábios da moça, sua pele morena, seu sorriso debochado lembrava Rebeca. Veio-lhe um sentimento de atração e lembranças dos feitos de Rebeca na cama. Evitava encarar, conversar com a enteada. Certa noite ela perguntou-lhe com malícia.
– Porquê você me evita? Não gosta de mim? Sou uma mulher adulta, não sou criança.
Plínio continuou equidistante de Joana, ao retornar à sua casa numa noite de calor em que Eunice estava de plantão, encontrou a enteada sentada à mesa, estudando, vestia apenas calcinha e uma blusa transparente. O sangue de Plínio ferveu nas veias, entrou rapidamente no seu quarto, logo a porta se abriu, era Joana com todo esplendor, sem blusa, olhou-o nos olhos, estendeu-lhe os braços.
O ex celibatário tornou-se bígamo de mãe e filha. Eunice, calada, melhorou sua vida, faz que não sabe. Plínio enche a enteada de presentes, já deu até um carro. Nas horas íntimas, muitas vezes chama a enteada de Rebeca.