JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Zilda Arns

Zilda Arns Neumann nasceu em Forquilhinha, SC., em 25/8/1934. Médica pediatra e sanitarista, filantropa, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, da CNBB-Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo. Foi indicada várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento ao seu trabalho de assistência social junto às famílias e crianças de todo o mundo, em 2006.

Filha de Gabriel Arns e Helene Steiner, uma família de descendentes alemãs, com 12 irmãos: 7 professores e 4 religiosos. Formou-se em medicina pela UFPR-Universidade Federal do Paraná e fez cursos de especialização em Pediatria Social, Educação Física e Medicina Sanitária. O que levou-a à pediatria foi o grande número de crianças internadas com doenças de fácil prevenção, como diarreia e desidratação. Logo passou a trabalhar no Hospital Pediátrico César Pernetta, em Curitiba. Casou-se em 1955 com Aloísio Bruno Neumann e teve 6 filhos. Em fins da década de 1970 assumiu muitos compromissos profissionais e passava toda a semana em São Paulo, visitando a família em Curitiba nos fins de semana. Em 18/2/1978, seu marido sofreu um infarto fulminante, aos 46 anos, após salvar uma das filhas de afogamento na praia de Betaras. Durante um bom tempo, ela se lastimou por não estar presente na ocasião e sentiu-se culpada pela tragédia.

Em seguida passou a se dedicar mais ao trabalho comunitário junto à periferia no planejamento e organização de postos de saúde, muitos deles funcionando em casas paroquiais e entidades religiosas. Em 1980, o cientista Albert Sabin esteve em Curitiba, e ficou impressionado com seu trabalho. Convidou-a para coordenar a campanha de vacinação antipoliomielite na cidade de União da Vitória, que enfrentava uma epidemia de paralisia infantil. Na ocasião, ela desenvolveu uma técnica de trabalho, depois adotada pelo Ministério da Saúde em todo o País. Pouco depois iniciou um trabalho em Florestópolis, que apresentava uma taxa de mortalidade infantil de 127 crianças por mil habitantes. Após um ano, o índice caiu para 28 crianças. Para isso dedicou-se à educação higiênica das famílias pobres e ensino na preparação do “soro caseiro”, uma fórmula simples e de baixo custo, que ajudou bastante no controle da diarreia infantil. Na época o “soro caseiro” foi considerado um avanço da Medicina, devido a simplicidade da fórmula.

Ainda em 1980 foi designada para dirigir o Departamento de Saúde Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Paraná, onde instituiu os programas de planejamento familiar, prevenção do câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento materno. Em princípios da década, James Grant, diretor da UNICEF, convenceu o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, de que a Igreja poderia ajudar a salvar milhares de crianças que morriam de desidratação e incentivou-o a iniciar uma campanha nacional contra a mortalidade infantil. Não faltaria recursos, garantiu, mas era preciso um líder. Sem tempo nem agenda para a empreitada, sugeriu o nome de sua irmã. Pouco depois, a CNBB convidou dona Zilda para criar a Pastoral da Criança, tendo em vista seu trabalho realizado em Florestópolis.

Ao longo de 25 anos, a Pastoral atendeu mais de 1 milhão e 400 mil famílias pobres mais de 1 milhão e 800 mil crianças menores de 6 anos em 4060 municípios do Brasil. Um trabalho realizado por mais de 260 mil voluntários, baseado num tripé: visita domiciliar às famílias, dia do peso (ou Dia de Celebração da Vida) e reunião mensal de avaliação e reflexão. Anos depois, recebeu mais um convite da CNBB: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa, em 2004. Em pouco mais de 10 anos, essa Pastoral contabilizava o atendimento a mais de 100 mil idosos, através de 12 mil voluntários de 570 municípios e 141 dioceses em 25 estados brasileiros.

Além de coordenar os trabalhos destas pastorais, foi representante titular da CNBB no Conselho Nacional de Saúde e membro do CDES-Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Sua atuação nas pastorais da criança e do idoso extrapolou as fronteiras do País e se expandiu por mais de 20 países da América Latina, Ásia e África. O reconhecimento internacional de seu trabalho se vê nos títulos e comendas recebidas: Menção especial pelo UNICEF-Brasil, como personalidade brasileira de destaque no trabalho em prol da saúde da criança (1988); Prêmio Internacional OPAS em Administração Sanitária (1994); Medalha Direitos Humanos da Entidade Judaica B’nai B’rith (1999); Prêmio USP de Direitos Humanos (2000); Comenda Ordem do Rio Branco, grau de Comendador (2001); Eleita “Heroína da Saúde Pública das Américas” pela OPAS (2002); Opus Prize (EUA) em 2005. Foi também cidadã honorária de 11 estados e 32 municípios brasileiros, além de doutora honoris causa de 5 universidades. Na imprensa internacional era conhecida como “a Madre Teresa brasileira”.

Em 2010 sua agenda contava com diversas viagens internacionais em missão humanitária com palestras e seminários. A viagem para o Haiti foi adiada 4 vezes diante de tantos convites, mas foi realizada em 12 de janeiro, quando proferiu palestra procurando motivar os lideres e voluntários da Pastoral da Criança, em Porto Príncipe. Ao término da palestra permaneceu na Igreja Sacre Coeur para atender às perguntas da plateia. Nesse instante ocorreu o terremoto, fazendo o prédio desabar atingindo-a junto com outros religiosos. Em sua palestra destacou o respeito e cuidados com as crianças, concluindo: “Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças… Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”. Estas foram suas últimas palavras.

Ao receber a notícia, seu irmão o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns ficou comovido por um instante, mas logo se recompôs e exclamou: “Que morte linda!”. Depois soltou uma nota: “Zilda morreu de uma maneira muito bonita, por defender uma causa em que sempre acreditou”. No mesmo ano sua irmã Otília Arns publicou um livro, uma biografia familiar – Zilda Arns: a trajetória da médica missionária -, contando a história dos antepassados e depoimentos de seus familiares. Em 2016 Frei Diogo Luís Fuitem fez uma justa homenagem, em nome da Igreja, e lançou Dra. Zilda Arns: uma vida de doação, publicado pela Edições Loyola. Pouco depois Ernesto Rodrigues lançou Zilda Arns: uma biografia (2018), publicado pela Editora Rocco, um “retrato nítido e sem retoques”, que não representa apenas um jargão editorial.

DEU NO X

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

TRICAS E TRAQUES

Não há ocasião mais constrangedora do que aquela vivenciada por um portador de alguns mil-réis de inteligência diante de um endividado cerebral, tagarela e proprietário de carro importado, celular acionado nos momentos mais inconvenientes e óculos de sol dependurado perto da bunda, como se o olho dela visse. Geralmente de muito bom senso crítico, o primeiro se deblatera organicamente com as primariedades jumentálicas do segundo.

Em tempos pandêmicos de mudanças aceleradas como os de agora, de transformações futuras de muita inventividade, humores e ironias não são facilmente admissíveis pelos estamentos ou-tudo-ou-nada, que desejam impor vanguardas nem sempre à altura do século XXI. E que não conseguem assimilar a grande lição deixada por Erasmo de Roterdam, no Elogio da Loucura, publicado numa época onde se admirava pitadas inteligentes, tal e qual como recentemente, com os recados do Lulu Santos – nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. E o humorismo do Paulo Gustavo, eternizado recentemente, para infelicidade geral da Nação pensante.

Já houve outros contextos como os de agora, com encorpados primatas travestidos de mandatários. Que se horrorizavam com as sátiras de então, que chocavam santarrões e filisteus que desconheciam a Batraquiomaquia de Homero, a loa feita por Virgílio ao mosquito e o diálogo do grilo com Ulisses, aquele que não presidente de partido.

Estou a imaginar o espanto de alguns toleirões do aqui-agora brasileiro ao tomarem conhecimento do que Apuleio falou acerca dos burros, Luciano sobre a mosca parasita e Sinésio sobre a careca. E cairiam para trás, esfolando os raciocínios, se lessem São Jerônimo citando o testamento do porco idealizado por um tal Grunnio Corocotta, também não entendendo patavina do dito por Erasmo no seu livro mais famoso: “Na verdade, haverá maior injustiça do que, sendo permitida uma brincadeira adequada a cada idade e condição, não poder pilheriar um literato, principalmente quando a pilhéria tem um fundo de seriedade, sendo as facécias manejadas apenas como disfarce, de forma que quem as lê, quando não seja um solene bobalhão, mas possua algum faro, encontre nelas algo ainda mais proveito do que em profundos e luminosos temas?”

Como eu gostaria de ver, por muitos medalhistas, lido, relido e entendido o balaio de vergastadas de Erasmo de Roterdam! E que eles pudessem compreender melhor o significado de alma pequena, do Fernando Pessoa, inteligência portuguesa dezoito quilates. Perceberiam, se assimilassem a mutabilidade dos tempos, as ansiedades dos novos, os padrões comportamentais e as exigências éticas de um mundo em evolução.

Os humanismos solidários não devem ser jamais baralhados com pieguismos paspalhões, que apenas conservam legiões na ignorância e na irreflexão, qualquer palmadinha nas costas se convertendo em apoteótico agora-a-coisa-vai, numa Reunião sobre o Clima, patrocinada por Joe Binden, presidente dos Estados Unidos. Um Binden diferente de muitos bundens, um deles o atual ministro da Saúde Queiroga, que deixou a CPI da COVID-19 cheirando mal, com medo gigante de levar um pontapé na bunda do chefete insano, sem mais eira nem beira. Decididamente, um ministro desovado.

PENINHA - DICA MUSICAL