J.R. GUZZO

DAMA DO TRÁFICO NO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: GOVERNO ESTÁ CONSTRUINDO PAÍS PRÓ-CRIME

Lula e Flávio Dino

O presidente Lula e o ministro da Justiça Flávio Dino

Levado mais uma vez por seu piloto automático, que entra em ação sempre que os gatos gordos de Brasília se veem diante de alguma dificuldade, o governo Lula acaba de passar um novo recibo. O Ministério da Justiça, logo ele, enrolou-se num caso de convívio amistoso com o crime organizado. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, recém-publicada, revelou que a mulher do chefe do Comando Vermelho no Amazonas foi recebida duas vezes no edifício sede do ministério, este ano, por dois secretários e dois assessores do ministro Flávio Dino.

É coisa que não tem desculpa. Como uma dirigente de organização criminosa (a polícia aponta a visitante, que, aliás, está condenada a 10 anos de cadeia, como a gerente financeira do grupo) poderia circular livremente pelos gabinetes do Ministério da Justiça? Ao invés de pedir desculpas, porém, e de tomar alguma providência contra os responsáveis, o governo Lula declarou guerra aos fatos. Apresentou-se como vítima dos “fascistas” e de fake news – uma mentira flagrante que só serve para sugerir que existem, mesmo, problemas sérios nas relações entre governo federal e crime organizado. Se não existissem, por que tanto esforço para ocultar a realidade?

Lula, após dois dias de dúvida sobre o que fazer, fez a coisa errada – soltou um irado manifesto de apoio ao ministro Dino, que segundo ele sofreu “acusações absurdas” e “ataques artificialmente plantados”. É falso. A reportagem não diz, em nenhum momento, que o ministro recebeu a “Dama do Tráfico”; informa, apenas, que quatro de seus funcionários receberam, um fato acima de qualquer dúvida. Não se acusou ninguém e não se “plantou” nada; absurda, na verdade, é a declaração do presidente.

O ministro dos Direitos Humanos, que também foi flagrado no caso pagando diárias para a gerente do CV ir à Brasília, afirmou que os responsáveis pela divulgação dos fatos são “próceres do fascismo à brasileira”. Quem é “prócer do fascismo”? O jornal? Os jornalistas que fizeram a reportagem? O ministro não diz. O próprio Dino, enfim, achou conveniente comparar Israel ao Rei Herodes da Bíblia, e os palestinos à Sagrada Família em fuga para o Egito; imaginou que assim estaria desviando o assunto.

O que fica de indiscutível, nessa história toda, é o miserável fracasso do Ministério da Justiça no combate ao crime organizado – uma de suas funções essenciais. Após quase um ano inteiro de governo, tudo o que o governo Lula tem de concreto para apresentar no assunto são as visitas da “Dama do Tráfico”. O resto é pura fumaça. O ministro anuncia milhões e bilhões para a polícia. Acha que falando de verbas, a respeito das quais não se sabe nada, mostra para o público que o problema está resolvido – mas resultado, mesmo, não houve nenhum até agora.

No último dos seus surtos, colocou o Exército a controlar malas em aeroportos. É, além de jogar dinheiro público pela janela, pura simulação de atividade: as pessoas ficam vendo os soldados, mas a possibilidade de que eles façam alguma coisa útil olhando as esteiras de bagagem está entre o zero e o duplo zero.

A atuação do Ministério da Justiça na área da segurança pública é uma ficção. O ministro, pouco depois de assumir seu cargo, fez uma visita a uma favela do Rio de Janeiro que sabidamente é governada pelo crime. Está perpetuamente atrás dos clubes de tiro ao alvo – que segundo ele são um fator essencial da criminalidade no Brasil. Faz solenidades em série para anunciar planos e campanhas. Fica contra a polícia nos estados em que a oposição governa. Propõe “políticas de desencarceramento”. Não foi capaz de apresentar um único projeto de lei para auxiliar o combate ao crime e aos criminosos. Por fim, vê assessores do Ministério da Justiça enrolados com a “Dama do Tráfico – e a sua única reação é denunciar “a direita”. É mais um passo na construção de um país pró-crime.

COMENTÁRIO DO LEITOR

MUNIÇÃO DA PESADA

Novo comentário em EXALTANDO ATOS TERRORISTAS

Magnovaldo Santos:

Grande Berto:

permita-me discordar de sua elevada sapiência, mas o exército brasileiro tem sim munição para destruir qualquer ônibus, tanque ou locomotiva:

Jandira Fegali, Benedita da Silva, Marina Silva, Maria das Candongas, Dama do Tráfico, e por aí vai…

Grande abraço,

* * *

RLIPPI CARTOONS

DEU NO JORNAL

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

ARRUFOS – Artur de Azevedo

Não há no mundo quem amantes visse
que se quisessem, como nos queremos.
Um dia, uma questiúncula tivemos,
por um simples capricho, uma tolice.

– “Acabemos com isto!” – ela me disse,
e eu respondi-lhe assim: – “Pois acabemos!”
E fiz o que se faz em tais extremos:
tomei do meu chapéu com fanfarrice;

e, tendo um gesto de desdém profundo,
saí, cantarolando… (Está bem visto
que a forma, aí, contrafazia o fundo).

Escreveu-me… Voltei. Nem Deus, nem Cristo,
nem minha mãe, volvendo agora ao mundo,
eram capazes de “acabar com isto”!

Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, São Luís-MA (1855-1908)

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

RAPADURA, OURO NORDESTINO

Tinha de estudar muito, só passava quem soubesse. Não havia cola (o professor entregava a prova, saía da sala, só retornava para recolher na hora determinada, ninguém colava, era parte do nosso Código de Honra, não escrito). O dia do cadete estudante iniciava às seis horas da manhã com o toque da alvorada, imediatamente todos faziam a higiene pessoal, arrumavam as camas, limpavam banheiros e privadas. Vestiam a farda, ficavam prontos para mais um dia de estudo e instruções que só terminava com o toque de silêncio pelo corneteiro às 22 horas.

Havia momentos de lazer, principalmente nos fins de semana. Sem pai, nem mãe, nem irmãos, os colegas tornaram-se nossa nova família. Uma amizade fortalecida entre os irmãos de armas que conviveram juntos por seis anos, incluindo a Academia Militar das Agulhas Negras, conseguimos o objetivo maior: ser oficial do Exército Brasileiro. Essa irmandade entre cadetes da mesma turma é indissolúvel e respeitosa. Alguns colegas deixaram a carreira pelo meio, fui um deles, deixei a carreira militar como capitão. Porém, a maioria continuou com muito esforço e estudo cursando a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Estado Maior, Escola Superior de Guerra, entre inúmeros cursos. Difícil é chegar a general, dos 77 colegas de 1956 apenas dois galgaram ao posto de general.

Quando termina o curso da Academia Militar das Agulhas Negras os novos oficiais são distribuídos para servir nos mais diversos e longínquo locais do Brasil: Cucuí na Amazônia , Cruz Alta, Cuiabá, e outras cidades melhores e piores, dependendo da classificação. Eu fui servir no 19º BC em Salvador.

O tempo passou, os colegas dispersaram, até que em 1994 o General Rômulo Bini, comandante da guarnição de Natal resolveu organizar um encontro de nossa turma. A partir daquele ano, essas reuniões tornaram-se constantes trazendo alegria e muitas recordações, brincadeiras, passamos a ser cadetes novamente. Este ano haveria uma reunião em Maceió dos OITENTÕES, a maioria daqueles meninos de 1956 completa 80 anos em 2020, mas a pandemia não deixou, ficou adiada para 2021.

Foi numa dessas reuniões que Rocha, aluno 108, laureado primeiro de turma, Porta-Bandeira da Escola Preparatória, contou-me a história da bomba. Confirmada pelo coronel Wanderley, o maior goleiro que passou pela Academia Militar.

Wanderley, paulista de Lorena, foi um dos colegas da Escola de Fortaleza. No tempo de Ceará ele apaixonou-se pela comida nordestina: carne de sol, peixe frito, frutas regionais, mangaba, pinha, e principalmente a rapadura.

No final dos anos 60, eram capitães. Rocha de Engenharia servia na Fabrica de Material Bélico em Piquete e Wanderley de Infantaria, servia no 5º RI de Lorena, cidades próximas. O fato se deu na época de repressão e terrorismo em alta escala, principalmente em São Paulo, onde aconteceram vários ataques terroristas a quartéis do Exército e o caso da fuga do Capitão Lamarca, nosso contemporâneo na AMAN.

Rocha depois de uma viagem de férias ao Jati no Ceará, onde mora, trouxe, como sempre, deliciosas rapaduras para o amigo Wanderley.

Era um dia de quarta-feira à tarde, não havia expediente no 5º RI. Rocha, apressado, parou o carro em frente ao quartel, chamou um soldado e entregou-lhe o pacote de rapaduras embrulhadas em palha de milho, envolta em papel de jornal, pediu para entregar ao Capitão Wanderley. Deu partida no carro rumo a Piquete.

Nesse momento o tenente, oficial de dia observava o movimento pela janela, percebeu quando o soldado recebeu o pacote. O tenente saiu da sala correndo, ordenou ao soldado colocar o embrulho no chão do pátio, mandou tocar alarme geral e gritava: Cuidado é uma bomba !

Soldados que estavam dentro do quartel, tomaram posições estratégicas, atrás de colunas e paredes, vigiando, ao longe, a ”bomba”, imóvel, soberba no meio do pátio.

O quarteirão foi interditado, o transito desviado, ninguém podia se aproximar do quartel. Logo a mídia tomou conhecimento, encheu os prédios vizinhos de câmara de televisão de onde filmavam a bomba no meio do pátio, esperando especialista de São Paulo para desativá-la.

Naquela tarde, o Capitão Wanderley vinha de uma pescaria e notou um movimento estranho, se dirigiu ao quartel. Os soldados contaram o que estava ocorrendo ao capitão. Wanderley entrou no quartel, ao olhar o pacote da bomba, reconheceu os abençoados pacotes que o Capitão Rocha lhe trazia. Contou sua versão sobre a rapadura ao tenente, que nessa altura não admitia outra hipótese, era uma bomba.

Os soldados abrigados por trás das colunas ficaram apavorados com a aproximação do capitão em direção ao pacote. Wanderley nem ligou os gritos de atenção, só pensava na deliciosa rapadura. A expectativa e o silêncio tomaram conta dentro e fora do quartel nos edifícios. Wanderley chegou junto, acocorou-se segurando o pacote, foi abrindo pelos lados, tirou as palhas de bananeiras até aparecer algumas barras douradas de rapadura, o ouro nordestino. Com os dedos quebrou um pedaço, levou-o a boca, saiu mastigando, andando devagar, com o pacote no sovaco, deixando a plateia pasmada e a imprensa frustrada.

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

DEU NO X

JESSIER QUIRINO - DE CUMPADE PRA CUMPADE