MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

UMA FÁBULA NO CHATGPT: ESTADO, OVELHAS E UM CÃO GULOSO

Testei o ChatGPT!

Vinha adiando esse momento há semanas, mas, no último sábado, não resisti: baixei o aplicativo no celular e comecei a usá-lo.

Ao ver que os textos da tela estavam em inglês, comecei com pergunta simples e óbvia:

– Posso fazer perguntas em português?

– Claro!

Passei então os parâmetros da minha demanda: uma fábula que falasse sobre a relação do Estado com a sociedade, tendo como personagens um cão pastor e um rebanho de ovelhas.

Menos de um segundo depois, a resposta:

– Claro, aqui está uma fábula que representa o poder do Estado sobre o povo:

“O Cão Pastor e o Rebanho de Ovelhas”

Era uma vez um cão pastor chamado Max, que cuidava de um grande rebanho de ovelhas em uma vasta planície. Max sempre agiu de forma protetora e sábia, mantendo as ovelhas seguras dos perigos que as cercavam. Ele as liderava com firmeza, garantindo que cada ovelha seguisse as regras e mantivesse a harmonia no rebanho.

No início, o rebanho de ovelhas estava contente sob o comando de Max, pois o Estado (representado por ele) fornecia segurança e organização. As ovelhas viviam pacificamente, sem medo dos lobos e outros predadores que rondavam.

No entanto, com o tempo, Max começou a exercer um controle cada vez mais rígido sobre o rebanho. Ele estabeleceu regras estritas e limitou a liberdade das ovelhas, alegando que era para o bem delas. As ovelhas começaram a se sentir oprimidas, e sua voz foi silenciada.

Max também começou a tomar mais recursos das ovelhas, acumulando riquezas em nome do Estado. As ovelhas, embora produtivas, não viam os benefícios de seu trabalho árduo.

Certo dia, uma ovelha chamada Lila decidiu questionar o poder de Max sobre o rebanho. Ela reuniu coragem e expressou suas preocupações, pedindo mais participação e justiça no Estado. Max, por outro lado, não estava disposto a abrir mão de seu controle.

A história de Max e do rebanho de ovelhas destaca como o poder do Estado, quando não é equilibrado e responsável, pode se tornar opressivo para o povo. É importante que o Estado proteja e sirva ao povo, em vez de dominá-lo, para que a harmonia e a justiça possam prevalecer em uma sociedade.

– Espero que esta fábula ilustre o que você estava procurando!

Gostei do trabalho da inteligência artificial. Usou todos os elementos que forneci, criou um texto leve e, ao mesmo tempo, conduziu o leitor a uma reflexão sobre a importância do Estado e os cuidados com os seus excessos, capazes de oprimir a sociedade, os indivíduos. Tudo isso escrevendo corretamente.

Um detalhe importante: cumpriu a tarefa em menos de um segundo!

E uma curiosidade: deu ao cão pastor o mesmo nome do nosso cãozinho Shitzu, o Max. Como não passei essa informação ao ChatGPT, acredito que tenha sido coincidência. Ou não. Dizem por aí que nossos celulares nos escutam, mesmo quando estão desligados.

Teorias conspiratórias à parte, reconheço que o trabalho da inteligência artificial me surpreendeu positivamente.

Mas, como nunca estamos 100% satisfeitos, senti falta de algo que chamo de “vida do texto”. Alguma coisa que incomode o leitor, que o faça lembrar que a vida real é bem diferente das nossas teorizações.

Então, acredito que, se eu mesmo a escrevesse, a fábula seria mais dramática.

Falaria do rebanho sendo atacado frequentemente por lobos, que devoravam três ou quatro ovelhas todos os dias, além das que se feriam no combate com os lobos e acabavam morrendo depois. O cão pastor – um enorme Kangal talvez – chamado para lhes dar segurança, teria um apetite voraz e sempre crescente. Sendo o próprio cão tão carnívoro quanto os lobos, comeria quase tantas ovelhas quanto as que eram devoradas antes da contratação de sua proteção. Daí decorreriam grandes conflitos internos no rebanho, pois seria necessário encontrar uma maneira de escolher as ovelhas que virariam comida de kangal. Quem sabe o cão chamasse outros dois de sua espécie para dividir com ele o poder, sob o argumento de que, cada vez que um deles extrapolasse do seu poder, seria contido pelos outros dois. Há muitas possibilidades a partir daí…

Admito, porém, que, com os elementos que entreguei ao ChatGPT, seria difícil ele se afastar da conclusão de que “o poder do Estado, quando não é equilibrado e responsável, pode se tornar opressivo para o povo”.

Em resumo: gostei da brincadeira; e, no que havia de essencial na fábula proposta, penso que a inteligência artificial saiu-se muito bem.

DEU NO X

ALEXANDRE GARCIA

PRESIDENTES DA CÂMARA E DO SENADO CONTRARIAM LULA E DEFENDEM DÉFICIT ZERO

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)

Surpreendentemente, no mesmo dia os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), discordaram do presidente Lula, que fez pouco da necessidade de déficit zero. Na última reunião com ministros, na semana passada, Lula disse: “Déficit zero para quê? Tem de gastar!” Chegou a dizer que dinheiro bom é dinheiro em obra. Sim, mas dinheiro em obra não é apenas dinheiro bom: é dinheiro sagrado, porque é dinheiro do contribuinte. E, proporcionalmente, quem mais é sacrificado é o que tem menos renda. Então, é sacrifício da maioria, da maciça maioria brasileira que tem renda baixa e paga imposto para sustentar governo.

Isso é importante: o dinheiro do imposto não vai para obra, não. O investimento é muito pouco; a grande maioria dos impostos vai para custeio, para bancar governo inchado, lento. Mas o presidente tem a mania do gasto. Gasto para ele é popularidade. E é fácil falar, porque falar é propaganda, e Lula está sempre fazendo propaganda. O presidente defende gasto mesmo sabendo que, do dinheiro para a obra, como dizia o ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, só um terço vai de fato para a obra. Um terço vai para a propina – como a Lava Jato mostrou – e outro terço vai para a má administração da obra. Quando não se fiscaliza, a obra pública sempre é mais cara e mais demorada que a obra particular. Quando se fiscaliza, a obra é bem-feita, como fazem empreiteiras brasileiras nos Estados Unidos.

Em dois eventos separados na segunda-feira, Lira e Pacheco disseram a mesma coisa: que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem razão. E o Legislativo votou o compromisso de buscar o déficit zero. Isso não foi brincadeira: os parlamentares se reuniram, derrubaram o teto de gastos e votaram o arcabouço para tornar viável a economia do país.

Mas o que estamos vendo com essas declarações do presidente? Lula andou até dizendo que a culpa é do mercado, porque o mercado é ganancioso, Como assim? Não foi o mercado que inventou o arcabouço, nem as votações. Mas Lula é estatizante, antimercado. É gastador e populista. Acha que o dinheiro público é da Mãe Joana. Mas não é: foi tirado do trabalhador, assim como os sindicatos agora querem também botar a mão no bolso do trabalhador.

* * *

Investimento estrangeiro no Brasil caiu 40%

Estamos vendo a consequência desse discurso. Os investimentos estrangeiros no Brasil caíram 40%: até setembro deste ano foram US$ 41,6 bilhões, contra US$ 68,8 bilhões no mesmo período do ano passado. A propaganda diz que o atual governo está “reconstruindo”, mas os números negam isso.

* * *

Onde é que Haddad está vendo espaço para mais queda de juros?

O ministro Haddad, que deve estar assistindo a esse bate-boca meio preocupado, disse na segunda-feira que há espaço para queda de juros, que há uma “gordura monetária”. Não entendi bem o que seja “gordura monetária”; ele deve ter encontrado este termo na prova do Enem. Mas não há espaço. Se o governo está gastando além do que arrecada, e está arrecadando menos, o déficit sobe. Como o governo vai cobrir o déficit e pagar as contas? Tirando dinheiro do mercado, botando papel no mercado. Como o governo tem de pagar juros da dívida, rolar a dívida e jogar papéis novos no mercado, ele tem de oferecer remuneração para isso. E a remuneração se chama juro. Onde é que está a gordura, então?

COMENTÁRIO DO LEITOR

DEU NO X

DEU NO JORNAL

O DÉFICIT PÚBLICO PUNE A TODOS

Editorial Gazeta do Povo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que defende a meta de déficit zero, e o presidente Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que defende a meta de déficit zero, e o presidente Lula

Na reunião encerrada em 1.º de novembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, trazendo-a para 12,25% ao ano. A Selic é a taxa de juros incidente sobre os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. Quando a Selic muda, ela passa a incidir sobre a parte da dívida pública representada por títulos com taxa de juros pós-fixada, ou seja, os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional que pagam juros anuais em porcentual igual à taxa Selic vigente; quando esta é alterada, altera-se a taxa de remuneração dos referidos títulos.

Embora a parte da dívida pública sobre a qual o governo paga a taxa Selic pós-fixada represente pouco mais de um terço da dívida pública total, a dívida pública interna e externa é grande o suficiente para influenciar as taxas de juros vigentes nas operações financeiras – principalmente aplicações financeiras e empréstimos bancários –, feitas entre as instituições financeiras, de um lado, e pessoas, empresas e governo, de outro lado. Quando varia a Selic, para mais ou para menos, a expectativa é que em prazo relativamente curto mudem as taxas de juros cobradas pelos bancos nos empréstimos concedidos ao setor privado para investimento, capital de giro das empresas e consumo das pessoas.

Quando a taxa Selic é aumentada em função do descontrole nas contas fiscais do governo e aumento do déficit público, aumenta a tomada de empréstimos pelo governo via venda de títulos públicos para cobrir suas necessidades. Como o volume de recursos financeiros existentes no sistema bancário é limitado ao tamanho da economia nacional, ao direcionar mais crédito para financiar o governo, diminuem os fundos disponíveis nos bancos para empréstimos ao setor privado; logo, a taxa de juros nas operações de empréstimos para pessoas e empresas aumenta, induzida por duas causas: a redução dos recursos disponíveis ao setor privado e a elevação da Selic.

Por óbvio, a estratégia dos bancos é direcionar seus empréstimos para as operações que pagam taxas de juros mais altas e apresentem menor risco. Assim, os déficits públicos e o crescimento da dívida pública para financiar tais déficits afetam de forma direta as pessoas físicas e todas as pessoas jurídicas que fazem operações de empréstimos. O prejuízo causado à sociedade privada inteira por conta de déficits do governo, do aumento da dívida e do aumento da taxa de juros vem de duas formas: uma, por reduzir os fundos de crédito disponíveis ao setor privado; outra, pelo aumento da taxa de juros nos empréstimos a esse mesmo setor privado.

Desde a campanha eleitoral, Lula repetia declarações contra qualquer teto de gastos públicos – tanto que o governo propôs e conseguiu a revogação da lei que limitava quanto o governo podia gastar. Agora, Lula volta à cena dizendo que o governo não vai nem se esforçar para cumprir a meta fiscal prevista para 2024, com o velho e errado argumento de que não faz sentido o governo reduzir gastos enquanto houver pobres no país, como também não faz sentido o governo reduzir investimento para cumprir a meta fiscal. O fato é que substancial parte da elevação dos gastos vem da quase duplicação do número de ministérios com suas estruturas de pessoal, infraestrutura física e gastos administrativos; do inchaço da máquina estatal; da criação e manutenção de programas que nem de longe favorecem a classe pobre; e da velha e conhecida nomeação de milhares de assessores e funcionários.

Segundo Lula, o mercado às vezes é “ganancioso” ao querer que o governo cumpra uma meta que ele (o mercado) sabe que não será cumprida. Primeiro, não há sentido em relacionar a expectativa do mercado sobre o cumprimento de uma meta que o próprio governo estabeleceu com a pecha de ganancioso que Lula atribuiu ao mercado. O que talvez Lula ignore é que o mercado – entendendo como tal as pessoas, as empresas, o mundo produtivo e os trabalhadores, todos com suas rendas, receitas, despesas, negócios e as atividades econômicas em geral – depende de fazer contas, calcular custos, elaborar orçamentos, fixar produção e preços, e administrar com austeridade e eficiência; sem isso, surgem os déficits e o fracasso. E, para fazer tudo isso, o mercado precisa conhecer custos, juros, inflação, salários, impostos e, principalmente, as oscilações da economia e das leis.

A segunda questão é que talvez Lula não tenha se informado a respeito das alterações no mercado e nas variáveis citadas: quando o governo faz déficits, aumenta sua dívida e cobra mais impostos. Basta mencionar os efeitos do aumento dos juros – que ocorre quando o governo não cumpre nem mesmo suas próprias metas – sobre os custos e resultados dos agentes de mercado, o que inclui trabalhadores, empresas e organizações em geral. A rigor não é necessária nenhuma elaboração complexa para entender que descontrole fiscal, aumento de déficit público e aumento de dívida terminam sempre em aumento dos juros, e que isso é suficiente para prejudicar a todos, inclusive aqueles que o governo diz que o déficit público ajuda a favorecer.

Por fim, não satisfeito em provocar elevação da taxa de juros em função de sua sanha deficitária, o governo adiciona outro ônus prejudicial à sociedade e ao “mercado”: as declarações constantes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seguidas de várias medidas praticadas no sentido de aumentar impostos. Em um país cuja carga tributária nominal supera os 43% do Produto Interno Bruto (PIB) e a carga efetivamente arrecadada gira em torno de 34% do PIB, falar em não cumprir metas fiscais e aumentar tributos é jogar a economia para baixo, provocar fuga de capitais e desestimular investimentos e negócios. E, quando isso acontecer, os causadores da retração econômica serão os mesmos que voltarão a culpar o mercado, as empresas e os homens de negócios.

DEU NO X

PENINHA - DICA MUSICAL