CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

LUIZ PEIXOTO – FORTALEZA-CE

Prezado editor do JBF,

por favor divulgue este vídeo em seu destemido blog.

Grato pela atenção de sempre.

R. Meu caro, aqui eu só faço obedecer vocês.

Mandou, eu publico.

Os leitores é que dão as ordens nesta gazeta escrota.

E vamos ao vídeo que você nos enviou:

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

DEODATO, O SANTEIRO

Artista alagoano, nascido na Levada. Conquistou o mundo com suas hábeis mãos, transformando madeira crua em belas esculturas.

Desde menino, moleque, andava pelos bairros, perambulando pelas ruas da cidade, que um dia iria se tornar sua paixão. Ao completar 13 anos descobriu sua vocação ao transformar um monte de barro em uma casa de farinha e foi vendê-la na Feira de Passarinho quando conheceu o antropólogo Dr. Théo Brandão que se encantou com o trabalho daquele jovem.

Sua vida repleta de muitas histórias e alegrias tornou-o um homem feliz. Foi Cabo do Exército Brasileiro em plena Segunda Guerra Mundial. Passou algum tempo como militar. Ao dar baixa do Exército arranjou um emprego no aeroporto de Maceió, era “espantador de urubu”, seu trabalho era dar carreira e não deixar os urubus perto da pista de pouso.

Até que resolveu afinal arriscar seu futuro no Rio de Janeiro: embarcou na terceira classe de um velho navio ITA no porto de Jaraguá.

No Rio de Janeiro se fez conhecido pelas peças de madeiras esculpidas. Morou no Morro da Mangueira e tornou-se carnavalesco. Conviveu com Cartola e Zica, tornou-se amigo de sambista de tradição. Ajudou nas alegorias e enfeites da Escola, desfilou no carnaval.

De espírito inquieto mudou-se para São Paulo em busca de melhor reconhecimento. Desempregado, tentou de tudo, foi boxeador valendo-se dos ensinamentos do Tenente Madalena com quem aprendeu a lutar boxe no Exército. Sua vida foi uma luta. Competiu no campeonato paulista de boxe por mais de uma temporada. Sobrevivia para poder trabalhar na madeira. Até que um dia descobriu a paixão de sua vida: Deodato esqueceu a luta, namorou Maria Lúcia, uma jovem guerreira, tornou-se companheira.

Casado, nosso herói aquietou-se e dedicou-se apenas a sua arte. Com ajuda de amigos e muita briga com fiscais da Prefeitura fundou a feira de artesanato da Praça da República. Deodato tinha razão e uma visão futura. Hoje a Feira da Praça da República é grande atração turística da cidade de São Paulo.

O ilustre alagoano nunca esqueceu sua terra, mesmo quando começou a ser reconhecida sua maravilhosa arte. Ficou famoso em São Paulo, no Rio e adjacências. Teve convite e foi para o Programa do Jô Soares, Argentina e Uruguai.

O Fantástico fez uma inesquecível matéria ao vivo com Deodato, o santeiro, aliás, o milagreiro.

A Igreja do Butantã encomendou um Cristo em madeira. Deodato caprichou, comprou um enorme tronco. Com menos de um mês esculpiu um belo Cristo de 3,5 metros de altura. A madeira ainda não estava completamente seca, saía um pouco de resina das talhas. Os padres acharam tão bonito que resolveram levar o Cristo para o altar da Igreja antes da madeira curtir.

Foi um sucesso. Os fieis frequentavam a Igreja para olhar aquela linda escultura do Cristo enorme. De repente uma beata descobriu nos pés e nas mãos de Cristo um líquido vermelho escorrendo. A Filha de Maria não teve dúvida, nem raciocinou quando gritou no átrio: “Milagre! Milagre! Cristo está sangrando!”.

Deu-se um clima de espanto quando o povo admirava o correr do líquido vermelho. Logo chegou reportagem dos jornais e televisão. Ninguém explicava o fenômeno, só um milagre justificava.

Até que o Fantástico foi gravar o “milagre” e Deodato tentou explicar o fato real, esclareceu que aquele líquido vermelho era resina. Mas o povo não quis saber da explicação. A massa tem necessidade de “milagres”.

Certa vez, uma senhora estava com o pescoço torto e duro. Na rua reconheceu Deodato como o santo que esculpiu Cristo que sangrou. De repente atacou gritando e beijando os pés do “milagreiro”, abraçou-o pela canela. Deodato aborrecido gritou para a senhora: -“Me largue”.

Na emoção a senhora entendeu mal e gritou: “Milagre!”. No mesmo instante a dor no seu pescoço passou e voltou a ficar mole. Foi um reboliço. Muitos foram testemunhas do milagre. Os repórteres dos jornais registraram a história do Santo Deodato, o milagreiro, a fama ficou até hoje em São Paulo.

Deodato nunca esqueceu sua Maceió e a lagoa Mundaú. Quando viajava à terra visitava aos amigos. O Prefeito de Marechal pediu e ele esculpiu aquela maravilhosa estátua equestre do Marechal Deodoro na entrada da cidade.

Infelizmente, um dos mais notáveis artistas do Brasil, nascido no bairro da Levada em Maceió, foi chamado para esculpir um bando de santo que deve ter no céu. Estou imaginando o trabalho que meu querido amigo, que não sabia dizer não, esculpindo o batalhão de santos do céu. Aqui na terra restou um boneco de carnaval que todo ano, desfila no Bloco do Siri Mole do artista Ovídio Gurgel, seu pareia.

A PALAVRA DO EDITOR

CHEGOU A SEXTA-FEIRA

O dia amanheceu bonito nesta sexta-feira aqui no Recife.

Um sol arretado!

Chupicleide está com os dentes arreganhados, relinchando de alegria.

As doações feitas pelos leitores Edvaldo Portela, Paulo Marques, Paulo Ferreira e pelo colunista Magnovaldo Santos, deixaram a nossa secretária de redação com a boca cheia d’água.

Ela já está planejando encher o rabo de cachaça hoje de noite, no Bar dos Cornos, no bairro da Bomba do Hemetério.

Gratíssimo a todos vocês que ajudam a manter esta gazeta escrota nos ares, ajudando no pagamento da despesa mensal de hospedagem e assistência técnica da Empresa Bartolomeu Silva.

Além dos salários de Chupicleide e do faxineiro Bosticler.

Vai voltar tudo em dobro pra vocês na forma de alegria, paz, saúde, tesão, felicidade e disposição de viver!!!

Abraços e um excelente final de semana para toda a comunidade fubânica!

“Muito obrigada, meus amores. Um beijinho pra todos vocês!”

DEU NO X

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

A PROFESSORA E OS LEITORES

Sexta passada falei de uma professora de alunos especiais, Patrícia Cavalcanti Arruda, e de sua experiência inovadora com a educação de adultos. Os leitores se manifestaram. Seguem alguns comentários.

* * *

PEDRO ARRUDA, médico e marido. Luiz Henrique, filho de Zefinha, empregada que nem sabia ler, era então uma criança pequena. Hoje, é graduado em engenharia mecatrônica. Emociona imaginar que atos, palavras e exemplos de Pat, ao ensinar sua mãe, mudaram, através de outras Zefinhas, o destino de alguns Henriques.

ADMALDO MATOS, homem público. Cada um de nós carrega um cemitério dentro de si, onde se vão sepultando parentes, amigos, colegas, conhecidos, em túmulos de saudade. À medida que envelhecemos o cemitério cresce e, em momentos de pandemia, tem-se a sensação de que a morte nos rodeia e espreita, prestes a dar o golpe.

AÉCIO GOMES DE MATOS, pensador. Seu texto me fez pensar na vida passada de trabalho e lutas, numa perspectiva positiva do futuro. Amigos morreram, mas ficou a glória de suas contribuições para uma sociedade melhor. O sentimento que me imobiliza hoje é a falta de perspectiva de futuro. Neste contexto a morte, em mim, não me faz muita diferença.

ALEXANDRE LEMOS, advogado. As lembranças se eternizam no coração dos que foram enriquecidos com o gesto. Cada semente, se o solo é fértil, um dia vai germinar.

ANTÔNIO MAGALHÃES, jornalista. No artigo de ontem, a grandeza das coisas simples.

CARLOS EDUARDO VASCONCELOS, advogado. Tocante. E triste. Ela não mais será uma educadora desconhecida.

CARLOS MESQUITA, ator. Mulheres como Patrícia e Zefinha, guerreiras, são espíritos evoluídos na luz.

CARLOS PRAGANA, pintor. É com exemplos assim que se constrói um país melhor.

CRISTOVAM BUARQUE, ministro da Educação. Me entusiasmei e começamos em prédios e até em canteiros de obras. Esta foi a frustração que fiquei ao ser demitido. O programa, hoje, poderia se chamar Patrícia. Quando telefonou para me demitir, o Presidente Lula disse que queria um ministro para priorizar o ensino superior, que alfabetização e educação era uma tarefa dos municípios. Mas precisava mesmo era de um ministério para Tarso Genro.

EDILSON PEREIRA NOBRE, presidente do TRF5. Belo artigo. Mais belo ainda o exemplo.

EDNA MENDONÇA, médica. Seu artigo de hoje é, na verdade, uma homenagem a todos os professores através de Patrícia.

EDUARDO ARAÚJO, advogado. A finitude da vida é algo que nos inquieta, e, com certeza, a mais bonita lágrima é a da saudade. Ela nasce dos risos que já foram, dos sonhos que não acabam e das lembranças que jamais se apagam. Com delicadeza, fez-nos chorar… e também refletir no quanto somos efêmeros e frágeis diante da vida. Fica a sensação de que tudo termina quando mal começa.

ENNIO CANDOTTI, presidente da SBPC. Patrícia é uma esperança que não morre.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, professor. Um texto que deixará Patrícia extremamente feliz, onde ela está, bem perto da Criação.

GUSTAVO KRAUSE, governador. Emocionante! Viva Patrícia! Viva Zefinha!

IGNEZ BARROS, escritora. O propósito de Patrícia era muito mais que tirar pessoas do analfabetismo, sobretudo trazê-las a um convívio digno com a sociedade, tornando-as visíveis e interligadas. Ela partiu de um olhar particular, preocupando-se com Zefinha, com o filho da Zefinha, e, por extensão, com todas as Zefinhas e Luiz Henriques das proximidades. Um projeto inovador, simples e solidário. A visão dela foi extraordinária, ao criar um método prático que permitisse um conhecimento rápido, uma espécie de passaporte para os saberes elementares. Patrícia, é certo, deixou uma linda germinação.

JOSÉ PASTORE, economista. Ah! Como o Brasil precisa de mais dessas Patrícias! E de mais Cristovãos!

LINETE MEDEIROS, pintora. As lembranças se eternizam no coração dos que foram enriquecidos com o gesto. Se o solo é fértil, um dia vai germinar. Saudades, recheadas de orgulho, no coração daqueles onde a semente terminou.

LÚCIA PELUSO, advogada. Que tenhamos e possamos despertar momentos mágicos, sem deixar morrer a esperança, principalmente na escuridão que atravessamos.

LUZILÁ GONÇALVES, escritora. Esses dias todos, um nó na garganta, ainda não consegui chorar.

MÁRCIO RABELO, advogado. Por que a política, que deveria resolver os problemas do cidadão, termina por complicá-los? Feliz foi nossa querida Patrícia, colega de natação do Clube Português, enquanto cuidou das suas aspirações sem depender da politicalha brasileira! Que Deus a tenha.

MARGARIDA CANTARELLI, desembargadora federal. Seu artigo me comoveu muito. Imagine eu que não tenho mais irmãos de sangue! Os três já partiram. Mas sou feliz porque tenho irmãos do coração.

MISAEL WANDERLEY, médico. Solidarizo-me com a dor sua, de meu professor Pedro Arruda e do meu colega e cirurgião bem atuante com quem me encontro semanalmente no Esperança, Gustavo. Sintam-se abraçados.

OSWALDO MENDES, jornalista. Beleza de história. As tristes esperanças são como o escaravelho que se finge de morto enquanto é noite para renascer fortalecido ao amanhecer.

PAULO HENRIQUE MACIEL, advogado. Quando soube que ela se encantara, ocorreu-me pensar que a indesejada surpreendeu-me com Beto (65), Antônio Augusto (64) e Rock (71). Ela foi uma das pessoas mais doces que conheci. Se Deus existir, que a colha e a mim não condene.

RAFAEL DE MENEZES, juiz. Somos pó, a efemeridade da vida nos revela que aquilo que não passa, que não morre, são as boas ações praticadas em nosso favor e especialmente dos outros; viver é doar-se! A transitoriedade terrena nos convence de que só viveremos bem esta vida se a vivermos para os outros.

ROBERTO DaMATTA, escritor. Bom, belo, brasileiro e triste.

SILVIO MEIRA, gênio. Tristes esperanças, nos tristes tópicos. Tudo, hoje, está triste…

VERA ANDRADE, professora. Há pessoas que passam na nossa vida e deixam um pouco de si, ou levam um pouco de nós. Há outras que não passam.

WALTER MANZI, advogado. Doeu…

XICO BIZERRA, compositor. Como faz falta ao País a existência de algumas Patrícias, a suprir a deficiência estatal na educação, por um lado; e, por outro, não submetendo às humildes pessoas o constrangimento de se declararem analfabetas, frequentando salas de aula inadequadas e inexistentes para pessoas já adultas. Só me veio à mente a alegria que sentiria o Mestre Paulo Freire se dessa história tomasse conhecimento.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

LEVI ALBERNAZ – ANÁPOLIS-GO

Caros amigos:

Hoje completamos 2 anos, 6 meses e 11 dias sem corrupção, sem roubalheira, sem ladroagem e sem desperdício de dinheiro público no governo federal.

Um fato inédito na história deste país.

Alvíssaras!!!

MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

VENDO UM FUSCA MARROM

Sorvetes Kibon

O ano de 1984 foi marcado pelo segundo casamento de meu irmão Moacyr, que então morava no Rio de Janeiro.

Um verão de lascar o cano castigava os cariocas de tal sorte que duas coisas eram mais desejadas na praia do que um bilhete premiado: uma água de coco bem gelada e um sorvete Kibon.

Vida dura de quem estava reiniciando a vida de casado. Meu irmão não estava nem comprando ovo para não desperdiçar a casca.

A única propriedade do casal era um fusquinha marrom, velho e necessitado de uma boa manutenção. O estado do fusca poderia ser bem representado pelo acontecido no dia em que o casal, num gesto ousado, decidiu encarar uma churrascaria no bairro. Quando tentavam entrar no estacionamento o “flanelinha” da churrascaria avisou que não havia mais vaga, obrigando meu irmão a estacionar na rua, e assim foi feito. Na entrada da churrascaria notaram que o estacionamento estava quase vazio.

O principal problema era a aguda falta de dinheiro para mandar arrumar tão querido carrinho. As contas começavam a se acumular, o mês ficava cada vez com menos dias entre as contas e mais dias entre o recebimento dos salários.

No domingo seguinte um pequeno texto na seção “Vende-se” foi publicado em um grande jornal no Rio de Janeiro, anunciando que se vendia um fusquinha marrom necessitando pequenos reparos.

Um interessado ligou logo de manhã. Fez as perguntas de praxe. Meu irmão, extremamente honesto, fez saber ao potencial comprador que o baixo preço pedido era devido à necessidade de serem efetuados alguns reparos.

Quais?

Bem, havia um pequeno amassado no lado, a pintura estava meio desgastada, um para-choque estava um pouco torto, pneus, digamos assim, meio calvos, alguns parafusos estavam soltos e um farol queimado fechavam a lista do que precisava ser feito.

O potencial comprador, muito simpático, regateou um pouco o preço e explicou que estava começando um negócio e precisava de um veículo simples para fazer a entrega de seus produtos. Era o começo de um empreendimento, a vida estava difícil, e se a venda do fusquinha se concretizasse no preço oferecido por ele isso seria de grande ajuda para o início de seu negócio.

– Que ótimo! – disse meu irmão, já esfregando as mãos com a perspectiva da venda. – Fico feliz em poder dar-lhe uma mão para o início de seu empreendimento.

– Obrigado. Muito gentil de sua parte. Esse carrinho vem a calhar, mesmo com todos esses problemas, mas principalmente por ser marrom.

– Sério? Qual vai ser o seu negócio?

– Vou produzir sorvetes para concorrer com a Kibon!

– Maravilha. E qual vai ser a marca do seu sorvete?

– Kimerda.

E, soltando uma sonora gargalhada, desligou o telefone.

Não foi desta vez que o fusquinha marrom foi vendido.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

BOAVENTURA BONFIM – FORTALEZA-CE

Caro Berto e caros leitores fubânicos,

No vídeo abaixo, o destemido prefeito de Chapecó conversa com centenas de desditosos venezuelanos que fugiram para nosso país.

O Brasil precisa conhecer o intemerato e intimorato prefeito da cidade de Chapecó, em Santa Catarina, o grande brasileiro João Rodrigues, exemplo de Político (com P maiúsculo) que conhece o verdadeiro sentido da palavra Política, qual seja, administrar a pólis/cidade com vistas à realização plena da essência humana em coletividade.

Vejamos o vídeo:

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

CASSINOS

Todo país gosta de turismo. Produz empregos, gera renda, produz riqueza. Cassinos são um elemento importante do segmento turístico no mundo inteiro.

Mas não no Brasil. Aqui, sete décadas atrás, um presidente os baniu, do dia para a noite, com uma canetada (segundo a lenda, atendendo aos pedidos de sua esposa beata). Arruinou a vida de milhares de pessoas que trabalhavam dentro da lei e de repente se viram no olho da rua. E, claro, transferiu o setor para aqueles grupos que têm o privilégio de poder fazer o que os outros não podem, graças às suas conexões, amizades e conchavos. Ou será que alguém é tão ingênuo a ponto de achar que existe cidade grande no Brasil que não tenha suas “casas de jogo” funcionando sob o sigilo e a proteção das autoridades, mediante uma conveniente distribuição dos lucros?

Não é de estranhar que nas esferas do governo qualquer tentativa de discutir o assunto fracasse: boa parte das pessoas que se beneficiam com a atual situação está justamente dentro do governo ou muito próxima dele.

O que me espanta é a quantidade de gente que, sem ganhar nada com isso, faz côro e aplaude a situação. Mais do que impor sua vontade, o que pedem (na verdade exigem, e aos gritos) é simplesmente que se proíba até mesmo falar no assunto.

Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha e Suíça têm cassinos. Portugal e Espanha, mais próximos culturalmente de nós, também. Suécia e Dinamarca, que alguns julgam ser os países mais desenvolvidos do planeta, também. Austrália e Nova Zelândia, exemplos de países “jovens” como nós, também. Nossos vizinhos – Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Perú, Colômbia – todos têm cassinos.

Todos eles estão errados e só nós estamos certos?

Duas explicações me vêm à cabeça, e ambas me deixam triste.

A primeira é que existe gente tão preocupada com as aparências que acha que políticos assinarem um papel dizendo que algo é proibido é mais importante do que este algo existir ou não na realidade.

A segunda é que existe gente que acredita que nós, brasileiros, somos vítimas de alguma maldição ou defeito genético que nos faz inferiores ao restante da humanidade, e portanto somos incapazes de lidar com coisas que são triviais para o restante do mundo. É como se fôssemos as únicas crianças no meio dos adultos, e certos assuntos fossem proibidos para nós.

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

POR CAUSA DA CACHAÇA

“Cada terra tem seu uso; cada roca tem seu fuso.”

A cachaça, hóspede dos negros africanos, destronou todos os vinhos tomados costumeiramente.

Cada povo tem sua bebida preferida. No Brasil, apesar de já ter sido muito discriminada, a cachaça concorre, hoje, com qualquer bebida tradicional.

É tão popular, quanto o futebol e o samba.

Também conhecida, popularmente, por pinga, cana ou caninha, há quem a chame, poeticamente, de “água que passarinho não bebe.”

Produzida no Brasil, a cachaça é obtida através da fermentação e destilação do caldo de cana ou melaço.

Seu nome pode ter sido originado da velha língua ibérica – cachaza – significando vinho de borra, um vinho inferior bebido em Portugal e Espanha.

Pois bem. Depois de beber muita cachaça, Vilinha, que adorava a noite, tentou caminhar de volta para casa, achando a rua muito estreita e trocando as pernas. Muito embriagado e com sono, parou junto de um poste de iluminação elétrica e com ele se abraçou. Olhou para o céu e ficou admirando as estrelas. De repente, sentiu a terra estremecer e rodar. Com medo de cair, abraçou-se ao poste, ainda com mais força. Fechou os olhos e começou a sonhar com um monte de moedas de ouro, postas umas sobre as outras, até à altura dos seus joelhos. Rapidamente, o monte de moedas começou a crescer, formando um caule dourado e ganhando o espaço, até atingir as nuvens. No sonho, ele viu na sua frente uma corda de ouro enorme, formada por moedas, como se fosse uma árvore de rara beleza, ligando a terra ao céu.

Deslumbrado com tanto ouro na sua frente, Vilinha ouviu alguém falar:

– Sobe, Vilinha!!!

No sonho, o bêbado segurou-se à corda de ouro, feita de moedas acumuladas, e quando começava a subir, a corda estalou e se partiu, fazendo-o despencar pelo espaço, até se estatelar com força, no chão.

Abrindo os olhos, Vilinha viu-se sentado na calçada, ao lado do poste.

Espantado, olhou ao seu redor e viu no chão uma moeda de um real, caída do bolso de algum transeunte.

Decepcionado, procurou se consolar, pensando:

– Ainda bem, que a ponta da corda ficou pra mim…

Apanhou a moeda, guardou-a no bolso e continuou o caminho de volta para casa, aos trancos e barrancos.