Primeiro Comando da Capital (PCC) reacende estratégia de “queima de arquivo” para não expor lideranças da facção
Não é preciso um assassinato a tiros de fuzil na saída do maior aeroporto do Brasil para se perceber que quem lá desembarca, vindo do exterior, está chegando a um país que não soube lidar com o crime. Está na cara de todos nós, há décadas, mas não vemos, ou não queremos ver. Em geral os políticos lidam com a criminalidade por medidas ilusórias, de propaganda. Vão anunciando programas, intervenções superficiais e transitórias, mas tudo fica só na demagogia. As leis lenientes continuam as mesmas, a mídia continua induzindo o povo a ficar contra a polícia, e os assaltantes, traficantes e contrabandistas continuam sendo muito bem tratados pelas audiências de custódia e voltam às ruas para assaltar e matar. A impunidade infla a cultura da transgressão da lei e a corrupção é premiada com ausência de castigo.
O crime já tem, há décadas, áreas fora da soberania do Estado nacional no Rio de Janeiro, e agora se expande na Amazônia e nas grandes cidades. Não é de hoje, vem de muitas décadas, desde a existência de autoridade sob mesada do jogo do bicho. E todos fomos induzidos, pela omissão da mídia, a pensar que isso é natural. Juntam-se a fraqueza e ineficácia das leis à fraqueza e ineficácia dos que representam o Estado, em seus três níveis e seus três poderes. Ainda se pode confiar na sabedoria popular, que tudo observa e tudo sabe, pelos capilares do Estado. Sabe-se quem vende sentença, quem recebe propina do crime, quem facilita, quem está infiltrado.
Parece um plano para enfraquecer o Brasil, enfraquecendo a estrutura. Por isso ficamos subindo um degrau e descendo dois, numa ciclotimia doentia. Vejo, por exemplo, que desde 2010 estamos quase parados em produtividade e PIB, mesmo com os grandes avanços do agro. Com o nosso potencial, parece sermos a Terra Prometida, mas, embora não acredite em conspirações, vejo que se enfraquece a célula-básica do corpo da nação, a família; restringe-se a religião, que dá valores e temores; o ensino vira catequese ideológica e esquece as ciências e artes; divide-se os brasileiros em sulistas e nordestinos, em homens e mulheres, em brancos e negros, em pobres e ricos; liberam-se drogas para fragilizar o amor-próprio.
Até as Forças Armadas são alvo dos que querem dividir. “Divide et impera”, usavam os romanos para dominar. Fazem tudo para fragilizar a polícia. A política externa fica sem rumos, a censura ilegal cala até a manifestação do pensamento, o pagador de impostos é onerado até esmagarem a livre iniciativa; o Estado precisa de impostos para custear seus privilégios; tira-se a autonomia financeira dos indivíduos e das pessoas jurídicas públicas e privadas para que dependam apenas de um poder central – e não notamos tudo isso, como não notamos, por décadas, o crescimento do crime. Assim cresce a dominação, não sei se planejada e concertada ou se é improvisada e espontânea. Como disse Cervantes, em Dom Quixote: não creio em bruxas, mas que elas estão aí, estão.