Amor! Anda o luar todo bondade,
Beijando a terra, a desfazer-se em luz…
Amor! São os pés brancos de Jesus
Que andam pisando as ruas da cidade!
E eu ponho-me a pensar… Quanta saudade
Das ilusões e risos que em ti pus!
Traçaste em mim os braços duma cruz,
Neles pregaste a minha mocidade!
Minh’alma, que eu te dei, cheia de mágoas,
E nesta noite o nenúfar dum lago
‘Stendendo as asas brancas sobre as águas!
Poisa as mãos nos meus olhos com carinho,
Fecha-os num beijo dolorido e vago…
E deixa-me chorar devagarinho…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Mais um soneto de choro de saudade ao Alferes da nossa Florbela.
Comparar raios de luar aos pés brancos de Jesus dá a dimensão do quanto a rapariga era apaixonada.
O Alferes. com seu amor a pregou com os braços abertos numa cruz a sua mocidade.
Ó meu Deus, quanta blasfêmia.