JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Padre João Maria

João Maria Cavalcanti de Brito, mais conhecido como Padre João Maria, nasceu em 23/6/1848, em Caicó, RN. Sacerdote, médico, jornalista e assistente social, reconhecido como santo em Natal, RN, conta com um processo de Beatificação aberto em 2002. Teve atuação destacada na grande seca de 1877 e na abolição da escravatura, quando foi apelidado de “Pai dos negros forros’.

Filho de Ana de Barros Cavalcanti e Amaro Soares de Brito, Estudou no Seminário de Olinda, PE; concluiu o curso teológico no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde foi colega do Padre Cícero Romão, e foi ordenado sacerdote em 30/11/1871. Sua família pobre e respeitada na vizinhança, contou com a ajuda financeira de fazendeiros amigos para custear seus estudos. Ralizou sua primeira missa aos 23 anos; foi vigário de algumas cidades e assumiu a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, antiga Catedral de Natal, onde criou a Escola São Vicente, para crianças pobres e fundou a imprensa católica, com a edição do jornal “Oito de Setembro”.

Era “médico” prático e ministrava medicação natural para os enfermos e cuidava das crianças, particularmente no cuidado com a higiene e prevenção de doenças. Em 1883 foi eleito presidente da Sociedade Libertadora Norte-Riograndense, e publicou o “Boletim da Libertação Norte-Riograndense”, motivo que lhe rendeu o apelido de “Pai dos Negros Forros”.

Ficou conhecido pelo trabalho em prol dos mais pobres; na luta contra a escravidão e a seca e no combate à variola, numa grande epidemia em 1905, da qual foi vítima em 16/10/1905. Era um padre querido pela povo, tendo batizado milhares de natalenses, entre os quais o historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo, em 1901.

Seu falecimento causou um abalo em Natal e pouco depois foi homenageado com um busto erguido na praça, que hoje leva seu nome, atrás da antiga catedral. Em 7/8/1979 seus restos mortais foram transladados do Cemitério do Alecrim para a Igreja de Nossa Senhora de Loudes. Sua vida ficou registrada em romance e poesia nos livros de Wanderley, R.C. Romance da vida e dos milagres do Padre João Maria (1968) e Costa, G. Padre João Maria: o santo de Natal na poesia (1999).

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

NOTAS SILVÍNICAS

Numa agência bancária, onde fui fazer uma doação para ajudar os vitimados pelas terríveis enchentes gaúchas, deparo-me com o João Silvino da Conceição, que para lá tinha se deslocado com o mesmo propósito. Sobraçando, como sempre, um caderno e uma esferográfica para anotações cotidianas, ele não se esquivou de mostrar suas últimas pensações. Transcrevo-as aqui, corrigindo suas mínimas incorreções ortográficas:

– “Sempre que possível, nunca diga “não” de supetão. Diga sempre “vamos raciocinar”, favorecendo a emersão de soluções mais venturosas.”

– “Quem sabe pensar, nunca vai se afundar.”

– “Ainda que botando asas numa vaca, jamais ela voará.”

– “Quando não se tem interesse concreto, todo amanhã idealizado é vão.”

– “Abandonar-se é o maior defeito de um ser humano.”

– “Na escola da vida pós-moderna, professores e alunos devem postar-se sempre com intensa criticidade estruturadora.”

– “Nas tragédias urbanas, toda precaução é pouca com os vitimismos, os exibicionismos, evitando responder perguntas idióticas de repórteres sem um mínimo senso de visão coletiva.”

– “Toda convivencialidade sadia é consequência plena de uma caminhada dotada de bom senso, solidariedade fraternal e caridade permanente.”

– “Quem desconhece e não analisa fatos passados, compreende mal os do cotidiano e não binoculiza com efetividade os dos amanhãs.”

– “Os possuidores de parcas leituras, analisam os fatos e feitos sem embasamento, com descontrole emocional e agressividade irracional.”

– “Ou serenamente convivemos dialogando com pensamentos contrários aos nossos ou brevemente nos destruiremos todos.”

– “O ser humano é o único animal cuja existência pacífica é um problema que ele mesmo terá que resolver.”

– “Enredos de telenovelas nada criativas geram psicopatias agressivas nada cidadanizadoras, tudo se resolvendo fingidamente nos últimos capítulos.”

– “Novos conhecimentos ampliam responsabilidades solidárias e militâncias favoráveis a realidades sociais mais dignas.”

– “Ser cristão é ter profundo respeito por todas as demais crenças, religiosas ou não, sem preconceitos nem irracionalidades comportamentais.”

– “Quem evita ser mentalmente bunda, tem a certeza de que nunca se comportará mal socialmente, mesmo dirigindo um Porsche.”

– “Quem pratica bandidagens nas tragédias urbanas, como a do Rio Grande do Sul, merece a castração física e cadeia longa, para não mais parecer ser um humano dignificante. “

– “Solidariedade e fraternidade são irmãs siamesas, jamais em tempo algum devendo ser separadas.”

– “Quem não tem solidariedade social possui uma infantilidade cognitiva não evolucionária.”

– “Nós existimos na Terra para sermos solidários com todos, incluindo os que discordam de nós.”

Abracei o João Silvino da Conceição, agradecendo a Deus por ter com ele uma amizade de muitas décadas, sempre ele professor e eu aprendiz, usufruindo das suas lúcidas orientações existenciais. E ainda recebi de presente, com uma dedicatória atenciosa, um livro que já comecei a digerir intelectualmente:

SOBRE A ARTE DE VIVER: LIÇÕES DA HISTÓRIA PARA UMA VIDA MELHOR, Romain Krznaric, Rio de Janeiro, Zahar, 2013, 376 p. O autor é um historiador britânico, fundador da School of Life de Londres, consultor internacional e pensante século XXI. Páginas que, segundo João Silvino, muito iluminarão nossas decisões pessoais, profissionais e comunitárias.

Um livro que eu tinha acabado de comprar presentei o Silvino, ratificando nossa amizade de muitas bênçãos divinas: A SOCIEDADE PERFEITA: AS ORIGENS DA DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL, João Fragoso, São Paulo, Editora Contexto, 2024, 352 p. O autor, professor titular de História, por concurso, na UFRJ, analisa com maestria, e de um jeito próprio, o Brasil como somos e por que somos detentores de uma humilhante redistribuição de renda. Cada um com seu livro, fomos tomar um caldinho de feijão com uma cerveja sem álcool, num pequeno restaurante popular das redondezas bancárias, permutando as anedotas mais recentes, inclusive as de baixo calão.

PENINHA - DICA MUSICAL

JOHNNY MATHIS

Dedico as postagens desta semana ao jovem José Ramos, colega colunista do JBF, que no último dia 30 de abril completou 81 anos. Parabéns e muita saúde Zé Ramos e que Deus o mantenha entre nós por muitos e muitos anos.

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A Certain Smile