Editorial Gazeta do Povo
O presidente Lula (PT) e o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, se reuniram no dia 16 de setembro em Havana
Quem analisar os 193 países filiados à Organização das Nações Unidas (ONU) com a finalidade de separar aqueles considerados desenvolvidos, para observar as correlações entre suas políticas econômicas e seu grau de desenvolvimento e bem-estar social, encontrará um grupo de 35 a 40 países. Um olhar técnico detalhado sobre esses países identificará vários fatores comuns a eles, dos quais se destacam os seguintes: a) alto índice de abertura econômica ao exterior; b) elevado volume de comércio com o resto do mundo como porcentual do Produto Interno Bruto (PIB); c) expressivo intercâmbio de investimentos e tecnologias; d) economia interna baseado no livre mercado; e) democracia política; f) alto grau de confiança internacional.
Alguém poderia perguntar se tais países apresentam aqueles seis fatores porque são desenvolvidos, ou se eles se desenvolveram porque adotaram e praticam os seis fatores referidos. Embora seja legítimo estabelecer essa dicotomia interrogativa, o fato é que, entre as nações que não têm esses fatores, não há nenhuma considerada desenvolvida. Entre os países subdesenvolvidos, uns poucos apresentam alguns desses seis fatores, mas nenhum têm todos os seis. Um aspecto relevante da moldura econômica dos países desenvolvidos é que o elevado grau dos seis fatores mencionados depende essencialmente do último fator da lista: o grau de confiança internacional.
Em um país com grande população, como é o caso do Brasil com seus 203,1 milhões de habitantes em fim do ano passado, a conquista do crescimento econômico e do desenvolvimento social somente se tornará possível se o país conquistar antes a confiança no âmbito das relações políticas e econômicas exteriores, principalmente a confiança dos investidores e agentes econômicos públicos e privados internacionais. Porém, a conquista da confiança depende dos outros fatores componentes do conjunto já citado e depende também do comportamento do governo e das autoridades diplomáticas, sobretudo suas declarações sobre a política externa do país e sobre os acontecimentos mundiais.
A razão para ter extremo cuidado nas relações diplomáticas está no elevado grau de sensibilidade dos líderes políticos mundiais e dos agentes vinculados ao sistema financeiro e ao mundo dos negócios. O Brasil vem recebendo críticas do resto do mundo por declarações desastradas do presidente Lula, como as feitas sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, o Tribunal Penal Internacional, o abandono do dólar pelo Brasil como moeda padrão nas operações de mercado exterior, e a exaltação de ditaduras violentas como as de Cuba, Nicarágua e Venezuela.
A confiança do resto do mundo no Brasil – e isso vale para todas as nações – exige que, ao lado dos discursos e posições diplomáticas, o país exiba as qualidades que o governo anuncia e as condições políticas e econômicas que dão suporte à confiança internacional no país, como estabilidade política interna, exercício real da democracia política, estabilidade econômica configurada especialmente no controle da inflação, respeito aos contratos juridicamente perfeitos, equilíbrio das contas públicas, funcionamento real da economia de mercado, estabilidade das leis de intervenção no mercado e transparência quanto às informações e aos indicadores estatísticos.
Vale mencionar que as agências de classificação de risco exercem importante papel na geração da confiança em uma nação ao atribuírem notas de “risco-país”, um termômetro usado pelos investidores estrangeiros nas decisões de investimento e alocação de seus capitais financeiros, particularmente na instalação de empresas no território nacional e compra de ativos financeiros públicos e privados. O Brasil foi bastante lento na conquista da confiança dos agentes econômicos estrangeiros até ser visto como um país seguro para negócios e investimentos. Somente há cerca de 15 anos as agências de classificação de risco atribuíram ao país a condição de “grau de investimento”, classificação capaz de estimular os investidores a enviarem seus capitais financeiros externos para abertura de empresas e compra de ativos financeiros brasileiros. O “grau de investimento” seria perdido poucos anos depois, na esteira da enorme crise provocada pela Nova Matriz Econômica lulopetista.
O problema do Brasil é que o país não perde oportunidades de reduzir a confiança externa no país, tanto no aspecto econômico quanto em sua posição política sobre o cenário internacional. Após o sucesso do Plano Real no combate à inflação, a partir de 1994, a melhoria das contas externas e a superação da dívida externa – que é pequena e, mesmo assim, passível de liquidação pelas reservas internacionais acumuladas –, cresceu o otimismo quanto ao comércio exterior brasileiro e à relevância do país no tabuleiro da política internacional.
Porém, tendo optado por viajar de forma incessante pelo mundo, o presidente Lula, neste terceiro mandato, vem produzindo um rosário de declarações tóxicas e negativas, entrando em polêmicas nas quais não precisava se envolver, e pondo-se a fazer análises sobre assuntos mundiais de forma desastrada, tudo aliado ao cultivo aberto e explícito de apreço, apoio e parceria com governos que comandam as piores ditaduras do planeta.
Esse teatro dirigido e estrelado pelo chefe da nação só poderia terminar produzindo a queda rápida da confiança estrangeira no Brasil, além de hostilidade e má vontade com o país demonstradas até pelo mais importante aliado histórico, os Estados Unidos. No resto do mundo, há desconfiança quanto aos rumos que o Brasil pode tomar em matéria de regime político e de sistema econômico, e isso provoca retração dos investidores estrangeiros e cria uma imagem arranhada perante as principais nações do mundo. Para um país que precisa de capitais para investir em sua infraestrutura e tecnologias para aumentar a produtividade e renda por habitante, Lula tem sido o artesão de uma imagem internacional desastrada que vai na contramão de tudo do que o Brasil precisa.