JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A PENUMBRA

Nuvens de um fim de dia

A luz do dia vai sumindo, tal qual água que se esconde na areia do deserto.

Rápido!

Muito rápido!

O vento forte traz consigo a penumbra, aliada ao anúncio da escuridão noturna. Escurece, e estamos juntos, um ao lado do outro. Estamos misturados numa situação em que só a tua cabeça preconceituosa guardou a diferença – a diferença da tonalidade da nossa tez.

Por segundos, minutos e horas, a cor da nossa pele é a mesma – como na realidade é, e deveria ser.

Nem era necessária a chegada da penumbra para ficarmos iguais. Apenas um coração bom e uma sensatez, bastariam.

Passam segundos, passam minutos, passam horas – a penumbra desaparece e leva junto o teu raciocínio e a tua humildade.

Tua cabeça volta para a mesmice, e tua sensibilidade se transforma em pedra. Voltas ao teu status quo – ele é teu.

Tu és tu – e serão necessárias muitas noites transformadas em penumbra, para perceberes que temos a mesma tez. A mesma cor.

As nossas diferenças estão apenas no caráter.

Não na cor da tez.

Nessa particularidade, nenhum vento forte tangerá a penumbra que habita em ti. Infelizmente!

Que Deus (todo poderoso – aquele mesmo a quem recorres nos desesperos) te tire, definitivamente, da penumbra.

DEU NO X

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

O PODER DA FLOR

Apreciar uma flor
Pode melhorar seu dia.

Mote do Dr. Wellington Florêncio/Caruaru-PE

Fuja do noticiário,
Que só contamina a alma,
Traz danos a sua calma
Como alimento diário.
Ouça o trinar do canário
Que canta na cercania,
Traduzindo a alegria
Das obras d’O Criador.
Apreciar uma flor
Pode melhorar seu dia.

Cultive bem seus jardins,
Saiba conversar com as flores
Que mandarão suas dores
Habitarem outros confins.
O cheiro dos alecrins
É dotado de magia
Que realça a energia
De todo admirador.
Apreciar uma flor
Pode melhorar seu dia.

DEU NO JORNAL

SÓ SERVE DE ENFEITE

O Portal da Transparência aponta Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, como o servidor que mais gastou com viagens internacionais este ano: nada menos que R$ 795 mil. Viagens quase irrelevantes, na maior parte dos casos.

Desde que virou um chanceler de enfeite, Vieira raramente é convocado para acompanhar os périplos de Lula, exceto quando o protocolo obriga a presença do ministro das Relações Exteriores. Celso Amorim, aspone de Lula, viaja sempre em seu lugar.

O chanceler de enfeite não aparece, mas embolsou R$ 83,4 mil só em diárias, este ano. A viagem mais cara foi à China, em abril: R$ 165,1 mil.

As despesas de Vieira incluem passagens e diárias pagas entre janeiro e julho de 2023. Foram 19 viagens, sendo 14 internacionais.

Após a visita à China, na enorme comitiva de Lula, Vieira nos custou mais R$ 112,5 mil em suas idas a Portugal, Espanha e México.

O chanceler de enfeite não aparece, mas embolsou R$ 83,4 mil só em diárias, este ano

* * *

Nesse gunverno tem de tudo e mais alguma coisa.

Tem até um chanceler que não é chanceler. 

Um cabra que só serve de enfeite e num tá nem aí com essa humilhante condição.

Só interessa mesmo é faturar, como é comum e marca registrada de todo membro de um gunverno esquerdóide.

O aspone canhoto Celso Amorim é que cuida de fato das relações exteriores deste país banânico.

Enfim, um ministreco que é a cara do gunverno lulo-petralha. 

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILERAS: Anna Rosa

Anna Rosa Termacsics dos Santos nasceu em 1821, na Hungria e veio para o Brasil, com a família, aos 7 anos. Professora de piano, canto e alfabetizadora, foi precursora do movimento feminista brasileiro ao publicar o livro, em forma de manifesto: Tratado sobre a emancipação política da mulher e direito de votar, em 1868. Tal direito foi alcançado no mundo em 1893 (Nova Zelândia) e no Brasil apenas em 1932.

Filha de Antônio Termacsics e mãe desconhecida pelas fontes, foi descoberta pela historiadora Cristiane de Paula Ribeiro a partir de uma investigação, iniciada em 2016, para sua dissertação de mestrado. Descobriu primeiro seu nome, pois o Tratado traz na capa e página de rosto apenas a sigla A.R.T.S. Outras descobertas se deram com o entusiasmo da pesquisadora no encontro com a feminista tão precoce na história. Ficou sabendo que pertencia a uma família de posses; que gostava de ler; estudou aritmética, filosofia e história e devia ter uma boa biblioteca em casa.

A vinda da família para o Brasil deveu-se a perda de uma fortuna em processo judicial tido como “injusto e ruinoso”. O pai era agricultor e comerciante de vinhos conhecido na região. Aqui a família viveu na região de Taubaté, mudando-se para o Rio de Janeiro em meados de 1850. A família mantinha uma escola, onde ela, aos 15 anos, passou a dar aulas de piano, corte, costura e bordado. Manteve a docência, sobretudo a musical, até sua morte em 15/1886.

Foi uma mulher que trabalhou muito para manter seu sustento, vivendo em pequenos sobrados nas redondezas do centro do Rio de Janeiro. Além de trabalhar como professora de piano e canto, lecionou idiomas e alfabetização em algumas residências e colégios. Não se casou nem teve filhos, condição que dificultava sua vida num ambiente em que a mulher tinha poucas condições de se manter só e dignamente. Poucos antes de falecer, ainda se via seu nome anunciado em jornais como professora.

Seu Tratado conta com uma dupla reivindicação, ambas pioneiras: o reconhecimento da mulher como cidadã e o direito ao voto. Não é pouca coisa, visto que se deu em meados do século XIX. O livro foi publicado pela Tipografia Paula Brito, um nome conhecido no métier cultural da época, cuja editora era frequentada por Machado de Assis, Gonçalves Dias e Joaquim Manuel Macedo entre outros. Foi reeditado em 2022, incluído na série “Vozes Femininas” na Edições Câmara (dos Deputados), com prefácio e notas da pesquisadora Cristiane de Paula Ribeiro, cuja dissertação de mestrado traz o título A vida caseira é a sepultura dos talentos: gênero e participação política nos escritos de Anna Rosa Termacsics dos Santos (1850-1886), disponível na Internet.

A fim de termos uma ideia do conteúdo do livro, reproduzimos algumas partes, onde autora expõe suas reflexões sobre a emancipação da mulher: “Para interesse tanto dos homens como das mulheres, e do melhoramento do mundo, no mais largo senso, a emancipação da mulher, que o mundo moderno se gaba que tem efetuado (…), não pode parar aí”. Sobre o sufrágio feminino, sua reivindicação é mais objetiva: “O protesto das mulheres não é contra um abuso especial, mas contra um inteiro sistema de injustiças; e a importância particular do sufrágio político para a mulher é porque ele parece ser o símbolo de todos os seus direitos”.

Sobre a educação dispensada à mulher, que tinha um curriculum diferenciado do homem, suprimindo algumas matérias básicas, sua reflexão é um desabafo: “só a educação faz a diferença; diz-se que a mulher é deserdada da natureza, é destituída do espírito de invenção, que nada tem produzido; que o homem é astrônomo, poeta, maquinista e descobridor de terras; mas se ele recebesse a triste educação da mulher, que só serve para pasto do despotismo do homem, quero saber que habilidades ele adquiriria”.

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

AVALIANDO ANDANÇAS E BINOCULIZAÇÕES

Muitos milhões de seres humanos, dos mais diversos recantos do planeta, ainda desconhecem como analisar com racionalidade seus feitos passados e seus andamentos futuros, diante das complexidades cada vez mais velozmente mutáveis dos últimos tempos. Não conseguem identificar causas e efeitos, seus altos e baixos, sucessos e tropeços, alegrias e infelicidades, lucros e prejuízos causados e sofridos. Uma incapacidade analítica portadora de uma só causa: desconhecimento de como melhor enfrentar os teréns existenciais, ignorando origens e porvires dos fatos geradores por incapacidade de pensar e argumentar com “sustança e consistença”, utilizando aqui a expressão do homem rude do campo, inculto nas letras, embora bem apetrechado de muita abençoada SEC – Sabedoria Existencial Caminheira.

Estou seguro de que a pobreza instrucional muito contribui para uma ausente análise da realidade, posto que conscientização é um compromisso histórico adquirido que toma posse de uma situação concreta, postulando a efetivação de uma utopia que exige CCCSS – Conhecimentos Críticos Criativos Sementeiros Solidários, jamais solitários, sempre coletivos. Aptos para uma ampla dinâmica comunitária, cada participante consciente de ser apenas uma parte autoral do todo.

Os especialistas em posturas comportamentais confirmam que todo ser humano alienado é nostálgico, descomprometido com o seu derredor, perseverando na prática dos mesmos atos que o vitimaram, sempre fortalecendo sua ânsia de também desfavorecer outras pessoas.

No atual e sempre evolucionário setor tecnológico, onde se está chegando ao outro lado da lua, embora não se consiga aplacar a fome de milhões e milhões de todos os filhos de Deus, o papel de cada pensante deverá ser o de conquistar novas funções, inúmeras delas somente parcialmente intelectivas. Para continuar a libertar a inteligência para novas posturas inventivas, aptas para a crítica analítica, o combate e a formulação de propostas estruturadoras do todo, na consecução de uma nova ordem social mais humana, cada vez mais democrática, integradora e participativa.

Não há ocasião mais constrangedora, nos tempos atuais, do que aquela vivenciada por um portador de alguns dotes intelectuais diante de um endividado cerebral tagarela, que se imagina el fodón del mondo, a expressar primariedades jumentálicas repletas de intenções por ele tidas como geniais.

Vez por outra, deparo-me com atoleimado metido a humano, travestido de universitário. Abestado na pensação racional, destila bobajadas a granel por todos os poros, irracionalizando fatos do cotidiano mais simples, sempre embasado de crenças malucas, que explicitam um subdesenvolvimento mental que é o pior de todos eles.

Denuncia-se atualmente, nos mais diversos fóruns internacionais, a ausência de uma finalidade humana nas políticas de planejamento social que proliferam pelos noticiários televisivos, sob a forma de sutis propagandas eleitorais, sempre com muita falação e quase sempre sem nenhuma efetiva praticidade, estimulando mudanças nunca nulamente positivas.

Tenho colecionado algumas frases ditas por políticos beatos e candidatas santarronas, que semanalmente estão se manifestando nos canais televisivos, os olhos farisaicamente marejados diante dos seus próprios pronunciamentos. Algumas delas: “O mundo sempre teve pobre”, “Dos pobres Deus cuidará”, “Quem nasce para capim, nunca chegará à rosa”, “Cada um tem a sua história”, “Ninguém muda o que está traçado”.

Um exercício de primeira necessidade, eu recomendaria à gente amada nordestina, mormente aos pernambucanos outrora bravíssimos leões, que estão numa luta feroz pelo soerguimento da imagem humanístico-empreendedora do todo estadual: leituras reflexivas sobre provincianismo. E mais: sobre a artificialidade do apenas progresso e dos arrotos grandiloquentes de um muito cafona “já fui bom nisso”, que apenas ensejam lamuriantes compadecimentos, sem nada mais de proveitoso.

No mais é continuar caminhando, buscando soerguer-se com ampla disposição de sofrer cada vez menos, jamais menosprezando a convicção do notável compositor Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

PENINHA - DICA MUSICAL