Muitos milhões de seres humanos, dos mais diversos recantos do planeta, ainda desconhecem como analisar com racionalidade seus feitos passados e seus andamentos futuros, diante das complexidades cada vez mais velozmente mutáveis dos últimos tempos. Não conseguem identificar causas e efeitos, seus altos e baixos, sucessos e tropeços, alegrias e infelicidades, lucros e prejuízos causados e sofridos. Uma incapacidade analítica portadora de uma só causa: desconhecimento de como melhor enfrentar os teréns existenciais, ignorando origens e porvires dos fatos geradores por incapacidade de pensar e argumentar com “sustança e consistença”, utilizando aqui a expressão do homem rude do campo, inculto nas letras, embora bem apetrechado de muita abençoada SEC – Sabedoria Existencial Caminheira.
Estou seguro de que a pobreza instrucional muito contribui para uma ausente análise da realidade, posto que conscientização é um compromisso histórico adquirido que toma posse de uma situação concreta, postulando a efetivação de uma utopia que exige CCCSS – Conhecimentos Críticos Criativos Sementeiros Solidários, jamais solitários, sempre coletivos. Aptos para uma ampla dinâmica comunitária, cada participante consciente de ser apenas uma parte autoral do todo.
Os especialistas em posturas comportamentais confirmam que todo ser humano alienado é nostálgico, descomprometido com o seu derredor, perseverando na prática dos mesmos atos que o vitimaram, sempre fortalecendo sua ânsia de também desfavorecer outras pessoas.
No atual e sempre evolucionário setor tecnológico, onde se está chegando ao outro lado da lua, embora não se consiga aplacar a fome de milhões e milhões de todos os filhos de Deus, o papel de cada pensante deverá ser o de conquistar novas funções, inúmeras delas somente parcialmente intelectivas. Para continuar a libertar a inteligência para novas posturas inventivas, aptas para a crítica analítica, o combate e a formulação de propostas estruturadoras do todo, na consecução de uma nova ordem social mais humana, cada vez mais democrática, integradora e participativa.
Não há ocasião mais constrangedora, nos tempos atuais, do que aquela vivenciada por um portador de alguns dotes intelectuais diante de um endividado cerebral tagarela, que se imagina el fodón del mondo, a expressar primariedades jumentálicas repletas de intenções por ele tidas como geniais.
Vez por outra, deparo-me com atoleimado metido a humano, travestido de universitário. Abestado na pensação racional, destila bobajadas a granel por todos os poros, irracionalizando fatos do cotidiano mais simples, sempre embasado de crenças malucas, que explicitam um subdesenvolvimento mental que é o pior de todos eles.
Denuncia-se atualmente, nos mais diversos fóruns internacionais, a ausência de uma finalidade humana nas políticas de planejamento social que proliferam pelos noticiários televisivos, sob a forma de sutis propagandas eleitorais, sempre com muita falação e quase sempre sem nenhuma efetiva praticidade, estimulando mudanças nunca nulamente positivas.
Tenho colecionado algumas frases ditas por políticos beatos e candidatas santarronas, que semanalmente estão se manifestando nos canais televisivos, os olhos farisaicamente marejados diante dos seus próprios pronunciamentos. Algumas delas: “O mundo sempre teve pobre”, “Dos pobres Deus cuidará”, “Quem nasce para capim, nunca chegará à rosa”, “Cada um tem a sua história”, “Ninguém muda o que está traçado”.
Um exercício de primeira necessidade, eu recomendaria à gente amada nordestina, mormente aos pernambucanos outrora bravíssimos leões, que estão numa luta feroz pelo soerguimento da imagem humanístico-empreendedora do todo estadual: leituras reflexivas sobre provincianismo. E mais: sobre a artificialidade do apenas progresso e dos arrotos grandiloquentes de um muito cafona “já fui bom nisso”, que apenas ensejam lamuriantes compadecimentos, sem nada mais de proveitoso.
No mais é continuar caminhando, buscando soerguer-se com ampla disposição de sofrer cada vez menos, jamais menosprezando a convicção do notável compositor Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.