DEU NO X

JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

DUAS GLOSAS

Ontem eu fui surpreendido por uma espécie de êxtase que só me acomete quando tenho contato com algo que, para mim, é sublime demais como arte.

O poeta tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira enviou-me pelo WhatsApp uma glosa sobre o mote do poeta Júnior Monteiro, e eu ouso em dizer que ambas as construções – mote e glosa – beiram a perfeição na construção de uma poesia no estilo próprio.

O mote:

“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”

Eis o que Marcílio inspirado divinamente escreveu:

Tá sem cor e sem vida o tabuleiro
O meu bispo sem cetro e sem batina
Meu cavalo pendeu caiu a crina
Meu peão sem a dama e sem roteiro
O meu rei sem castelo e sem dinheiro
Minha torre sem luz e camarinha
A rainha cansada de ser minha
Deu um xeque na minha embriaguez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha”

Diante de tão extraordinária composição, e seguindo a visão do tabuleiro criado por Marcílio, eu me arrisquei em glosar também.

De minha mente saíram os seguintes versos:

Eu tentei dar um roque foi em vão
Sou um rei acuado e sem saída
Quanto mais eu me mexo na partida
Mais eu sinto que perco a posição.
Já não tenho nenhuma proteção
‘Tou cercado e exposto sob a linha
Do amor, que era só o que mantinha
Certa fé na vitória e solidez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

DEU NO X

DEU NO X

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

CAFÉ AMARGO E O FUBÁ DA MINHA TIA

Rapadura cortada para adoçar o café

Nunca pense que a vida na infância é só peraltice, escola, comida boa ou jogar bola e andar de bicicleta ou qualquer outro brinquedo, pois a infância tem também suas agruras e dificuldades.

Papeira, ou caxumba?

Sarampo, conjuntivite (no Ceará, “dordói”), dedo dismintido, coqueluche, bexiga – acredite, isso não é nada bom. Que já enfrentou, sabe como é.

Isso, sem contar as surras (no Ceará, “pisa”) com cipó de marmeleiro, os castigos em casa e na escola – além daqueles famosos: “quando a gente chegar em casa, vamos conversar”; ou ainda a ansiedade da pisa antecipada, com o famoso: “quando teu pai chegar, vou contar tudo pra ele”!

Gripe com febre alta e assistir o aparelho fervendo com a ampola e a agulha para tomar aquela injeção que doía mais que parir uma criança?!

Tudo café pequeno.

Tomar banho, querendo ou não – porque está na hora!

Ouvir: “vá banhar, daqui a pouco vou lhe esfregar, pra tirar esse “serôto” do cangote”!

Todas essas coisas, boas e ruins que acabam sendo boas por que vão somar no aprendizado da vida, representam a convivência da universidade familiar, que vai nos acrescentar mais que qualquer mestrado ou doutorado.

É a verdadeira graduação da vida. Com diploma para emoldurar e exibir na parede da vida – quando os cabelos branquearem, as articulações começarem a doer e a urina começar a cair fora do vaso sanitário.

Fubá de milho torrado e pilado

Mas, como focar nesse “remake” da vida deixando de lado o que de bom enfeitou nosso viver?

Alguém conhece uma criança que, mesmo vivendo dificuldades, não tenha sido feliz?

E, assim sendo, quem teria inventado a frase: “a gente era feliz e (não) sabia”?

Eu fui feliz, sim senhor – mesmo enfrentando ao longo de oitenta anos os problemas que enfrentei. Mas, me atreveria a olhar para trás e repetir muita coisa.

Roubar a rapadura da Vovó (que, no fundo, era minha também), guardada numa cumbuca debaixo de sete chaves – única e exclusivamente para adoçar o “nosso café”.

Ajudar a socar no pilão o milho torrado para fazer fubá, pôr na boca uma mancheia e tentar falar: “minha Tia é boa porque pode”!

Pois é. Ser feliz é fazer e ver acontecer coisas simples, que, às vezes, apenas nós entendemos.

E, sinceramente falando, esse é o somatório da vida. É o que significa viver e ser feliz.

DEU NO JORNAL

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

NÃO TENHO MAIS PALAVRAS

Dedicado ao meu querido Rodrigo de Leon

Ao longo do tempo que publico aqui alguns textos, procuro pautar sempre em temas políticos, principalmente contra a corrupção, e econômicos, onde abro espaço para compartilhar alguns ensinamentos da Ciência Econômica, com o intuito de esclarecer os leitores, quando se trata de medidas do governo. Não me recordo de momentos nos quais tenha saído dessa linha e talvez essa seja a primeira vez.

Comecei, muito timidamente, a comentar alguns textos de colunistas e um deles era de Goiano Braga Horta. Pontuava coisas sobre o que ele escrevia e qual não foi minha surpresa quando, numa determinada ocasião, vi um texto publicado, em letras vermelhas, como Correspondência Recebida. O título era Tapar o sol com a peneira. O engraçado é que eu lia o JBF para mitigar os efeitos de uma depressão que havia me acometido duramente. O único ambiente que me permitia agira com desenvoltura era a sala de aula. Quando começava a dar aula, esquecia o mundo lá fora.

Com a operação Lava Jato, passei a ser mais crítico da bandidagem petista que se instalou nesse país para aparelhar, enriquecer, formar quadrilhas, ajudar ditaduras e em 2018, mais precisamente no dia 02/01/2018, ao ouvir o discurso de Paulo Guedes ao assumir a pasta da Economia, eu disse comigo mesmo: “Caramba! Essa é a primeira vez que vejo um ministro dizer, claramente, como pretende reduzir o déficit”. A partir daí passei a acompanhar a política econômica, muito mais com o intuito de cobrar as medidas prometidas.

Durante os 3,5 anos que se seguiram, mostrei e escrevi sobre isso, principalmente, no Facebook e aqui no JBF. Eu não me recordo de uma empreiteira sequer que tenha ganho destaque no governo Bolsonaro para realizar obras, mas não esqueço Odebrecht, OAS, UCT, etc. do governo Lula. Eu me recordo de todos os prejuízos que as empresas públicas tiveram nos governos do PT e não vejo um reconhecimento sequer ao fato de que no governo Bolsonaro todas as empresas públicas tiveram lucros.

Veio a eleição de 2022 e, ao que parece, eu voltei a sondar a disponibilidade da senhora depressão para uma conversa tête-à-tête, uma saída no final de semana, quiçá, de mãos dadas, de modo que eu possa me empanturrar de cachaça ou de remédio. Eu não consigo imaginar como se permite que um canalha do porte do atual presidente seja digno de concorrer a um cargo público e ser eleito. Acabei me afastando das publicações do facebook e procurei manter – por enquanto – esse monte de tolice que coloco aqui com a intervenção de Chuplcleide.

Não tenho palavras. Não tenho mais palavras. Não sei como me expressar diante de uma escolha dessa magnitude. Não tenho palavras para me expressar diante da impunidade, da sacanagem, da perseguição, da orquestração metódica dessa corja imunda que, ora, governa o país.

Não sei o que dizer ou que fazer quando vejo o canalha mor indicar seu advogado para um cargo de ministro do STF. O cara impetrou mais de 300 recursos e não ganhou um. Chamaram até Eros Grau para ajudar na defesa, mas ele foi devidamente escanteado Zanin. Alçar esse cara a guardião da constituição? Sério? Por 28 anos o cara vai ficar lá, sem a menor capacidade para tal. As falhas constitucionais não são preenchidas por interesses vis. A gente pode até pensar que a culpa disso tudo é do Edson Fachin, mas não. É unicamente do eleitor. Veja o sinal emitido pelos advogados de defesa de Lula que ocupam o STF: no dia de votação de medidas provisórias de interesse do governo, Dias Tóffoli liberou ação contra o presidente da câmara. Simples assim. Se a gente votasse em pessoas honestas, esse tipo de subserviência não aconteceria.

“Quando eu calar a minha voz, por favor, entenda, que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando, coração na boca, peito aberto, vou sangrando…”. Francamente, não posso me conformar com o “Deus está vendo”, com a justiça divina. Queria muito ver a justiça dos homens agindo com dignidade. “Se você agir com dignidade, pode até não consertar o mundo, mas tenha certeza de uma coisa: haverá um canalha a menos no mundo”. Era assim que diz um velho repórter pernambucano chamado Jota Ferreira. Lamento, mas “estou sentando no trono do apartamento com a boca escancarada esperando a morte chegar”. Só digo uma coisa: que eu não vá antes de Lula porque se eu for … ele nunca mais dormirá na vida, nem sob o efeito da cachaça.

DEU NO X

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

O SERTÃO DA MINHA INFÂNCIA

Foto de Dora Rodrigues

O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Mote de Zé de França

Do sertão rústico de outrora
Sou ainda o arremedo,
Nesse tempo eu tinha medo
De papangu e caipora.
Se em casa, alguém de fora
Apontasse no portão…
Eu corria feito o cão
Pois tinha medo de gente
O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Jr. Adelino

Duma limpa de barreiro,
Dum terço no mês de maio,
Do milho enchendo o balaio,
Da fogueira no terreiro.
Do aboio do vaqueiro
Conduzindo a criação,
Rádio tocando baião,
Coco, ciranda e repente.
O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Wellington Vicente