WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

O SERTÃO DA MINHA INFÂNCIA

Foto de Dora Rodrigues

O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Mote de Zé de França

Do sertão rústico de outrora
Sou ainda o arremedo,
Nesse tempo eu tinha medo
De papangu e caipora.
Se em casa, alguém de fora
Apontasse no portão…
Eu corria feito o cão
Pois tinha medo de gente
O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Jr. Adelino

Duma limpa de barreiro,
Dum terço no mês de maio,
Do milho enchendo o balaio,
Da fogueira no terreiro.
Do aboio do vaqueiro
Conduzindo a criação,
Rádio tocando baião,
Coco, ciranda e repente.
O sertão de antigamente
Não sai do meu coração.

Wellington Vicente

RLIPPI CARTOONS

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Ada Rogato

Ada Leda Rogato nasceu em 22/12/1910, em São Paulo, SP. Uma das pioneiras da aviação no Brasil; primeira mulher paraquedista; primeira piloto de avião planador e terceira a obter o brevê de aviadora. Foi também a primeiro piloto agrícola do País e ficou famosa com suas acrobacias aéreas. Voando sempre sozinha em pequenas aeronaves e grandes percursos, ganhou fama internacional a partir da década de 1950.

Filha dos imigrantes italianos Maria Rosa Greco e Guglielmo Rogato, teve os primeiros estudos em bons colégios com aulas de piano e pintura. O pai constituiu nova família em meados da década de 1930 e ela passou por alguns perrengues ajudando a mãe com bordados e artesanato para se sustentar. Trazia consigo o sonho de voar e conseguiu, em 1935, o primeiro brevê feminino de voo a vela. No ano seguinte conseguiu a primeira licença concedida a uma mulher para pilotar avião pelo Aeroclube de São Paulo. Em 1941 fez o curso de paraquedismo no Campo de Marte e recebeu o primeiro certificado concedido a uma mulher.

Utilizou suas habilidades para divulgar a aviação e participou de diversos eventos aeronáuticos em todo o País. Durante a II Guerra Mundial, ajudou voluntariamente o Exército com 213 voos de patrulhamento aéreo no litoral paulista. Em 1948, com o surgimento da “Broca-do-café” no Brasil, ameaçando sua hegemonia no mercado mundial, ela foi a salvação da lavoura. Aceitou o desafio e implantou a dispersão aérea dos defensivos agrícolas. Em 1956, no “Cinquentenário do primeiro voo 14-bis”, ela percorreu mais de 25 mil km. de voo por todos os estados para homenagear e divulgar os feitos de Santos Dumont, levando material sobre a vida e obra do Pai da Aviação.

A pedido das autoridades eclesiásticas, levou também nesta peregrinação aérea uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, colaborando, assim, para divulgar a santa padroeira do Brasil. Na década de 1950 foi redatora de aviação da Revista dos Aviadores e da revista Velocidade. Recebeu da imprensa diversos epítetos “Milionária do Ar”, Gaivota Solitária”, “Águia Paulista” e no Chile “Condor dos Andes”. Foi uma colecionadora de feitos notáveis na aviação: 1ª piloto brasileira a atravessar os Andes, 11 vezes, em 1950; única aviadora do mundo a cobrir uma extensão de 51.064 km. em voo solitário pelas 3 Américas chegando até o Alaska; a 1ª a atingir o aeroporto de La Paz, o mais alto do mundo até então (1952).

Foi também 1º piloto, homem ou mulher, a cruzar a selva amazônica num avião pequeno e sem rádio, usando apenas uma bússola (1956); 1ª aviadora a chegar sozinha à Terra do Fogo (1960); 1ª mulher no mundo a saltar de um helicóptero, realizando 105 saltos, e 1ª mulher paraquedista das Américas. Foi condecorada diversas vezes e recebeu centenas de troféus: foi a primeira aviadora a receber no Brasil a Comenda Nacional do Mérito Aeronáutico, no grau de Cavaleiro, as “Asas da Força Aérea Brasileira” e o título de Piloto Honoris Causa da FAB; também no grau de Cavaleiro, recebeu na Bolívia o troféu Condor dos Andes; no Chile, foi condecorada com a medalha Bernardo O’Higgins no grau de Oficial e na Colômbia com as “Asas da Força Aérea Colombiana”.

Em 1954, recebeu da Federação Aeronáutica Internacional, o diploma “Paul Tissander” por seus méritos na aviação. Em 1986 foi conselheira, secretária e presidente da Fundação Santos Dumont e se manteve no cargo de diretora do Museu da Aeronáutica, no parque do Ibirapuera, até seu falecimento em 15/11/1986. O cortejo de seu funeral foi acompanhado pela “Esquadrilha da Fumaça”, recebendo todas as honras da Aeronáutica brasileira. Seu avião -o Cessna 140-A- encontra-se hoje em exposição no Museu TAM, em São Carlos, SP.

Os feitos aeronáuticos de Ada Rogato podem ser vistos no filme de curta metragem Folguedos no firmamento, realizado em 1984, com direção de Regina Rheda e na biografia Um pássaro solitário, de Lucita Briza, publicada em 2018 pelo Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, acessível na Internet.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

PARA BRABOS ENFRENTAMENTOS

Recebi uma historieta que me parece oportuna para os momentos brasileiros que estamos vivenciando, de denúncias mil que envergonham todos nós e o mundo todo, de enriquecimentos ilícitos, de salários incompatíveis com a dignidade humana e de um Congresso Nacional ainda abrigando sectários irresponsáveis sem qualquer sentimento pátrio, a maioria sempre votando em troca de liberações orçamentárias para seus quintais. Para não falar nas propostas ridículas de rearrumações organizacionais, acontecendo tudo isso nos três segmentos da vida administrativa pública do país. Eis o que me foi enviado, com um cartão de um pai muito atencioso de cinco pimpolhos:

Uma filha se queixou ao pai sobre sua vida e de como as coisas estavam difíceis para ela. Já não sabia mais o que fazer. Estava cansada de lutar e combater, pois assim que resolvia um problema, logo outro aparecia, tão ou mais complicado que os anteriores.

Mestre-cuca de renome, o velho ouviu o desabafo da filha querida, conduzindo-a até a cozinha do restaurante onde trabalhava. Lá, encheu três panelas com água e as colocou em fogo alto, a fervura logo acontecendo. Na primeira pôs cenouras, na outra depositou ovos, na última duas colheres de pó de café. Após vinte minutos, desligou tudo, espalhando as cenouras numa tigela, pondo os ovos num prato fundo, o café sendo acolhido por um bule pequeno.

Percebendo a perplexidade da filha, indagou:

– Querida, o que você está vendo?

– Cenouras, ovos e café, respondeu ela sem pestanejar, continuando atônita.

Pediu o mestre-cuca que a filha experimentasse as cenouras, notando a jovem que elas estavam macias. Depois, cumprindo nova solicitação, descascou um ovo, verificando que ele se tornara endurecido após a fervura.

Ainda sem entender o que o pai fizera, a jovem questionou o significado daquilo. E o mestre-cuca, com a serenidade dos que sabem fazer a hora, disse-lhe que a cenoura, o ovo e o pó de café haviam sofrido a mesma adversidade, a fervura da água, muito embora cada um tivesse reagido de um modo totalmente diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de submetida à fervura, amolecera e se tornara frágil. O ovo, por sua vez, possuidor de uma casca que protegia o seu interior líquido, viu sua estrutura interna tornar-se rígida após a fervura. E o pó de café, depois da fervura, havia transformado a água.

– Qual deles é você? perguntou o pai à filha. E complementou:

– Quando a adversidade lhe bate à porta, como você responde? Como uma cenoura, um ovo ou o pó de café? E questionou:

– Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade murcha e se torna frágil, perdendo a força? Ou você será como o ovo, que começa com um coração maleável, mas depois de uma falência ou demissão, se torna difícil, sua casca continuando a mesma, embora seu interior endurecido? Ou será que você se comporta como o pó de café, que muda a água fervendo que lhe provoca dor, para conseguir o máximo de sabor a 100 graus? Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornarem piores, você se tornará ainda melhor, para que tudo ao seu derredor possa ficar muito mais bonito. A escolha é sua.

Devemos sempre continuar sendo pó de café. Aguentando a quentura para ser eleitor de primeira, dando um solene basta nos enganadores. Se sempre levamos, chegou a vez de botarmos para valer. E se um dia fomos manada, chegou a hora de montar. E transformar este país numa Nação de gente que não tem medo algum de ser feliz.

Percebamos sempre o alerta feito por Graham Bell (1862-1939), inventor do telefone:

“Quando uma porta se fecha, outra se abre. Mas muitas vezes nós ficamos olhando tanto tempo, tristes, para a porta fechada, que nem notamos que se abriu outra porta para nós.”

PS. A nossa integral solidariedade aos atletas negros de todo o mundo, irmãos do Vinicius Jr e nossos irmãos. Que sejam exemplarmente punidas pelo Poder Judiciário os países, clubes e pessoas que possuírem furores racistas, pavimentando uma fraternidade universal sem discriminações humilhantes.

DEU NO X

PENINHA - DICA MUSICAL