Recebi uma historieta que me parece oportuna para os momentos brasileiros que estamos vivenciando, de denúncias mil que envergonham todos nós e o mundo todo, de enriquecimentos ilícitos, de salários incompatíveis com a dignidade humana e de um Congresso Nacional ainda abrigando sectários irresponsáveis sem qualquer sentimento pátrio, a maioria sempre votando em troca de liberações orçamentárias para seus quintais. Para não falar nas propostas ridículas de rearrumações organizacionais, acontecendo tudo isso nos três segmentos da vida administrativa pública do país. Eis o que me foi enviado, com um cartão de um pai muito atencioso de cinco pimpolhos:
Uma filha se queixou ao pai sobre sua vida e de como as coisas estavam difíceis para ela. Já não sabia mais o que fazer. Estava cansada de lutar e combater, pois assim que resolvia um problema, logo outro aparecia, tão ou mais complicado que os anteriores.
Mestre-cuca de renome, o velho ouviu o desabafo da filha querida, conduzindo-a até a cozinha do restaurante onde trabalhava. Lá, encheu três panelas com água e as colocou em fogo alto, a fervura logo acontecendo. Na primeira pôs cenouras, na outra depositou ovos, na última duas colheres de pó de café. Após vinte minutos, desligou tudo, espalhando as cenouras numa tigela, pondo os ovos num prato fundo, o café sendo acolhido por um bule pequeno.
Percebendo a perplexidade da filha, indagou:
– Querida, o que você está vendo?
– Cenouras, ovos e café, respondeu ela sem pestanejar, continuando atônita.
Pediu o mestre-cuca que a filha experimentasse as cenouras, notando a jovem que elas estavam macias. Depois, cumprindo nova solicitação, descascou um ovo, verificando que ele se tornara endurecido após a fervura.
Ainda sem entender o que o pai fizera, a jovem questionou o significado daquilo. E o mestre-cuca, com a serenidade dos que sabem fazer a hora, disse-lhe que a cenoura, o ovo e o pó de café haviam sofrido a mesma adversidade, a fervura da água, muito embora cada um tivesse reagido de um modo totalmente diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de submetida à fervura, amolecera e se tornara frágil. O ovo, por sua vez, possuidor de uma casca que protegia o seu interior líquido, viu sua estrutura interna tornar-se rígida após a fervura. E o pó de café, depois da fervura, havia transformado a água.
– Qual deles é você? perguntou o pai à filha. E complementou:
– Quando a adversidade lhe bate à porta, como você responde? Como uma cenoura, um ovo ou o pó de café? E questionou:
– Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade murcha e se torna frágil, perdendo a força? Ou você será como o ovo, que começa com um coração maleável, mas depois de uma falência ou demissão, se torna difícil, sua casca continuando a mesma, embora seu interior endurecido? Ou será que você se comporta como o pó de café, que muda a água fervendo que lhe provoca dor, para conseguir o máximo de sabor a 100 graus? Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornarem piores, você se tornará ainda melhor, para que tudo ao seu derredor possa ficar muito mais bonito. A escolha é sua.
Devemos sempre continuar sendo pó de café. Aguentando a quentura para ser eleitor de primeira, dando um solene basta nos enganadores. Se sempre levamos, chegou a vez de botarmos para valer. E se um dia fomos manada, chegou a hora de montar. E transformar este país numa Nação de gente que não tem medo algum de ser feliz.
Percebamos sempre o alerta feito por Graham Bell (1862-1939), inventor do telefone:
“Quando uma porta se fecha, outra se abre. Mas muitas vezes nós ficamos olhando tanto tempo, tristes, para a porta fechada, que nem notamos que se abriu outra porta para nós.”
PS. A nossa integral solidariedade aos atletas negros de todo o mundo, irmãos do Vinicius Jr e nossos irmãos. Que sejam exemplarmente punidas pelo Poder Judiciário os países, clubes e pessoas que possuírem furores racistas, pavimentando uma fraternidade universal sem discriminações humilhantes.