DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

VOZES DA MORTE – Augusto dos Anjos

Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,
Tamarindo de minha desventura,
Tu, com o envelhecimento da nervura,
Eu, com o envelhecimento dos tecidos!

Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!
E a podridão, meu velho! E essa futura
Ultrafatalidade de ossatura,
A que nos acharemos reduzidos!

Não morrerão, porém, tuas sementes!
E assim, para o Futuro, em diferentes
Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,

Na multiplicidade dos teus ramos,
Pelo muito que em vida nos amamos,
Depois da morte, inda teremos filhos!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Cruz do Espírito Santo, Paraíba (1884-1914)

DEU NO JORNAL

DEU NO JORNAL

RLIPPI CARTOONS

J.R. GUZZO

O PROGRAMA ESTRATÉGICO DE LULA É ATENDER SUAS PRÓPRIAS VONTADES

O programa estratégico de Lula é atender suas próprias vontades

O presidente Lula quer um novo avião; o que ele usa agora, com cama e quarto separado para o primeiro-casal, mais sala particular, mais outras amenidades, aparentemente já não serve para atender as suas exigências de conforto – ele quer um avião maior e melhor. Essa coisa de avião tornou-se um hábito de Lula. O Brasil já deve a ele o AeroLula-1, comprado na sua primeira passagem pela Presidência; passará a dever o AeroLula-2 a partir de agora. É um tipo de ideia fixa.

O novo jato particular de Lula não vai ficar no chão, pela amostra que se tem até agora do seu governo. Em apenas cinco meses, já fez dez viagens ao exterior – isso mesmo, dez – coisa nunca vista antes na história deste país. Mais: é quase tudo viagem para longe, para lugares como China, Japão, Abu Dhabi, com 20 horas de voo e daí para cima.

É um programa de diplomacia turística que ele mesmo, e a sua corte, julgam importantíssimo para os destinos do Brasil e até do mundo. (Uma das fantasias-chefe do presidente, neste terceiro mandato, é desfilar no exterior como “líder global”, fazendo cara de estadista e com despesas pagas pelo Tesouro Nacional. Um avião de paxá faz parte deste show.)

O novo avião tem tudo a ver com o atual governo Lula; é mais um retrato preciso de um presidente cujo grande programa estratégico é atender as suas próprias vontades. Lula já indicou o seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para vaga aberta no Supremo. Exigiu, e levou, a cassação do mandato do deputado Deltan Dallagnol como vingança pelo papel que ele desempenhou na Lava Jato. Colocou Dilma Rousseff, ninguém menos que Dilma, na presidência do banco dos Brics.

Ficou num hotel com diárias próximas aos 40 mil reais na sua viagem a Londres. Sua mulher comprou um sofá de 65 mil para a residência presidencial – não estava satisfeita com a decoração que encontrou. Montou um governo com 37 ministérios diferentes, incluindo-se um “Ministério do Índio” e um “Ministério da Reforma Agrária”. Diz, aqui e no exterior, as coisas mais esquisitas que um presidente poderia dizer – e por aí se vai. O novo AeroLula é um item a mais na lista.

DEU NO JORNAL

ALEXANDRE GARCIA

ÍCARO BRASILEIRO

Ícaro brasileiro

O presidente quase ficou sem 17 ministérios e 17 ministros quase ficaram sem pasta. E não conseguiu tirar o COAF do Banco Central nem extinguir a FUNASA, nem dar o Cadastro Ambiental Rural e a Agência de Águas para a Marina Silva, nem a demarcação de terras indígenas para a Sônia Guajajara. E ainda pagou caro pela aprovação por um triz da nova estrutura de governo: o recorde de 1,7 bilhões em emendas liberadas no dia da votação. Se Lula ficou surpreso com esse resultado é porque anda afastado demais do país, voando demais. Na intimidade, se sabe que culpa seus articuladores no Congresso, embora todos saibamos que Artur Lira teve boas razões para prevenir o governo de que o problema está mais acima.

Talvez seja difícil para o presidente entender que ele foi eleito pela metade dos eleitores. A outra metade é oposição. Na melhor das hipóteses para ele, o país está dividido; ele não teve uma vitória esmagadora, como para ele parece. Além disso, a eleição que renovou a Câmara mostrou que cerca de dois terços dos deputados vêm de partidos e votos de centro-direita; a renovação de um terço do Senado aumentou a bancada conservadora para mais de 60%. Resta ao governo apelar ao fisiologismo; liberou emendas e agora fala em dar mais ministérios a partidos que ainda não receberam. Motivos para refazer o ministério é que não faltam.

Culpar articulação no Congresso é só ficar com uma parte do diagnóstico. Ministros inexperientes não têm noção de como se relacionar com deputados e senadores e, pelo jeito, cinco meses não foram suficientes para sentir que cada um tem que servir ao seu público, ao povo e ao mesmo tempo dar atenção aos integrantes do Poder Legislativo. Governo não é apenas o Executivo e, como se sabe, o falado semipresidencialismo já é uma prática há mais de quatro anos. Mesmo os experientes ex-governadores, hoje no ministério, estão gerando desgastes no governo, como o ministro da Justiça, Flávio Dino, e agora o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que, sem ser provocado, fez um discurso preconceituoso ofendendo Brasília, os brasilienses e levantando até os petistas da bancada do DF contra o ministro coordenador do governo. Nunca se havia ouvido antes um governador chamar ministro de “um idiota completo”, como disse ao Correio Braziliense Ibaneis Rocha (MDB) referindo-se a Rui Costa.

Não foi apenas a escolha do ministério inchado, mas também o espírito de revanche e desmanche. O teto de gastos, a privatizada Eletrobras, o marco do saneamento e a autonomia do Banco Central estão entre as tentativas de retroceder décadas e afastam também os notáveis que assinaram a Carta pela Democracia que apoiou Lula. E já aparecem editoriais e artigos com forte crítica ao governo, em órgãos que apoiaram a candidatura Lula. O programa econômico é claudicante; essa última novela de carro popular com corte de impostos, depois com bônus, e agora “repaginado” para caminhões e ônibus que já têm combustível subsidiado, mostra como a área econômica está insegura, indecisa e é incipiente no ramo.

A terceira década do milênio já não é como a primeira – essa é outra falha na percepção do chefe do Executivo. Aí, voa para fora do país – até quer um avião maior -, afastando-se das dificuldades internas. Viagens que causam mais críticas que elogios, nessa política externa de incensar o ditador Maduro em Brasília, sendo anfitrião de outros presidentes. Dia 22 será a 11ª viagem internacional – uma por quinzena. O próximo destino pode ser Paris para tratar de clima. Depois vai ao Vaticano.  Na verdade, para tratar de clima, deveria voar para o Sol, que é responsável pelo clima da terra. Mas, cautela: Ícaro iludiu-se sem saber que as asas estavam derretendo.

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

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