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PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

GERALDO AMÂNCIO E SEBASTIÃO DA SILVA: UMA GRANDE DUPLA DE POETAS REPENTISTAS

Geraldo Amâncio e Sebastião da Silva glosando o mote:

Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

* * *

Geraldo Amâncio e Sebastião da Silva glosando o mote:

Quem passar no sertão corre com medo
das caveiras dos bois que a seca mata.

Geraldo Amâncio:

No sertão do Nordeste do Brasil,
vive a seca ao povo castigar
pouca água até pra se banhar.
Daqui pobre povo sempre fugiu
para trás deixou tudo quando partiu.
Quando parte nosso cabeça-chata
busca a vida ganhar sem bravata.
Sofrimento deste povo foi enredo.
Quem passa no sertão corre com medo
das caveiras dos bois que a seca mata.

Sebastião da Silva:

Sertanejo, foi sempre muito bravo,
mas correndo da seca que atormenta,
larga a terra que pouco lhe alimenta.
Deixa sua terra para ser escravo,
mundo afora não ganha um centavo.
Mas voltar à sua terra a fé lhe ata,
mesmo que nunca tenha uma data,
até quem partiu daqui muito cedo.
Quem passar no sertão corre com medo
das caveiras dos bois que a seca mata.

* * *

ALGUNS IMPROVISOS DE GERALDO AMÂNCIO E SEBASTIÃO DA SILVA

Geraldo Amâncio:

Eu bem novo pensei em me casar
Com uma moça do meu conhecimento
Disse ela: eu aceito o casamento
Se você deixar a arte de cantar
Ela estava esperando no altar
E eu voltei da calçada da matriz
Quebrei todas as juras que lhe fiz
E comecei a cantar dali por diante
Sou feliz porque sou representante
Da cultura mais bela do país.

Sebastião da Silva:

O Nordeste tem sido a grande escola
Dos maiores poetas cantadores
Sustentáculos e eternos defensores
Da origem maior que nos consola
Inspirados no ritmo da viola
Nos acordes de arame na madeira
Cantam de improviso a vida inteira
E o que cantam somente Deus ensina
Venham ver a viola nordestina
Defendendo a cultura brasileira.

Geraldo Amâncio:

Tire da bíblia sagrada
Sua perfeita lição,
Seja humilde, ajude ao próximo
Ao faminto estenda a mão;
Console quem está aflito
Se quiser seu nome escrito
No livro da salvação!

Sebastião da Silva:

A casa que morei nela,
que fui feliz com meus pais,
só restam teias de aranha,
cupim roendo os frechais,
é um poema de angústias,
de saudades, nada mais.

Geraldo Amâncio:

Quem nasce onde eu nasci
E se cria sem escola,
Andando com pés descalços
Ou corrulepe de sola,
Ou cresce pra ser vaqueiro
Ou cantador de viola.

Sebastião da Silva:

Gosto de ouvir a seresta
Da patativa-de-gola
E também do canarinho
Nas traves de uma gaiola:
Só não canta como a gente
Porque não possui viola.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

MAURÍCIO ASSUERO – RECIFE – PE

Prezado Papa,

hoje é de dia de fuxicar.

Falar da vida dos outros, rir, contar causo e tudo mais.

As portas do Cabaré estarão abertas a partir das 19h30 e qualquer um pode participar, não paga nada.

É só clicar aqui para acessar.

Divulgue, por favor.

Obrigado

R. Está dado o recado, meu caro amigo.

Às sete e meia da noite estaremos todos reunidos na sala desta magnífica e fuxicatícia instituição, competentemente gerenciado por Vossa Cabarecência.

Toda a comunidade fubânica está convocada.

Até mais tarde!

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

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ESCULHAMBAÇÃO GOVERNEIRA

Os próprios ministros não levam Lula a sério.

Ele voltou a decretar ontem que iniciativas são de governo e não de ministros.

Recado a Marina Silva (Meio Ambiente) e outros que agem à revelia do Planalto.

É a segunda vez que ele faz essa advertência.

Eles não ligam e nada lhes acontece.

* * *

A nota acima fala em “governo”.

Na verdade, o termo correto seria “zona”.

Isto, evidentemente, sem qualquer ofensa aos puteiros!

Mas, pensando bem, talvez o termo mais correto pra definir esta esculhambação que foi fraudulentamente colocada no Palácio do Planalto seja Janjaverno

Radicalização cresce com volta de Lula à cena política - 14/12/2019 - Revista - Revista sãopaulo

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

MEU QUERIDO SÃO JOÃO

Ele chegava alegre com três ou quatro pacotes, colocava-os na mesa e abria mostrando aos cinco filhos os fogos comprados para o São João. Arrodeando a mesa da sala na imensa varanda de minha casa, contemplávamos cheios de alegria aquele presente de meu pai. Ele sentia prazer, satisfação ao distribuir os fogos para os filhos. Aos menores cabiam traques, chuvinhas e estalos bebé. Aos maiores eram distribuídos foguetes de três tiros, foguetes de estrelas, bombas travalianas e peidos de veia, e o melhor, os vulcões. Perto de escurecer, na véspera de São João, dava-se o momento mágico: acender a fogueira bem arrumada na rua em frente à minha casa. Meu pai lançava o álcool por cima e tocava fogo com um fósforo. O fogaréu começava, chispando faísca, iluminava a rua enfeitada por uma fileira de fogueiras queimando. Os adultos, sentados nas cadeiras na calçada, conversavam, tomando doses de quentão, uísque ou cerveja, comendo pamonha, canjica e milho assado. A moçada soltava fogos. Os vizinhos seguiam o mesmo ritual. A rua engalanava-se em fogueiras e bandeirinhas, havia um rodízio de visitas enquanto a eletrola tocava: A fogueira tá queimando… Em homenagem a São João… O forró já começou… Vamos, gente, rapa pé nesse salão… Dança Joaquim com Zabé, Luiz com Yaiá… Dança Janjão com Raqué e eu com Sinhá…Traz a cachaça Mané! Eu quero ver, quero ver paia avoar…

Quando dava meia-noite, as mocinhas entravam para fazer “adivinhações”. Em uma bacia cheia d’água deixavam pingar cera de uma vela acesa até formar ou aparentar com os pingos alguma letra. Pronto, era com um jovem de nome iniciado com aquela letra que iria casar a moça que deixava pingar a vela. Ou levavam para o fundo do quintal uma faca que enfiavam no tronco de uma bananeira, e no dia seguinte puxavam a faca marcada, manchada com a primeira letra do seu futuro marido. Eu, menino, acompanhava com fascínio toda aquela movimentação da véspera de São João, ouvindo o som da eletrola rodando as músicas de Luiz Gonzaga. Quando a fogueira baixava, convidava um amigo do peito para pular por cima das brasas, um de cada lado, e ser “compadre” para o resto da vida. O momento mais esperado era a queima de três ou quatro vulcões enormes, um esplendor de explosão jorrando forte para o alto enorme faíscas com pontos coloridos.

Durante a adolescência, a expectativa do São João iniciava-se um mês antes com os ensaios da Quadrilha no Iate Clube. Vários pares de jovens dançavam e rebolavam ao som de uma animada música junina e sob o comando do quadrilheiro que cantava a sequência dos passos em francês: “En avant tout”, “change de dame”, “balancê”, “returnê”, “tur”, e lá íamos nós, os jovens casais felizes da vida. Ensaiávamos bastante até a noite da grande apresentação. Durante os repetitivos ensaios, a paquera era maravilhosa, iniciavam-se namoros entre os componentes da quadrilha, muitas vezes o próprio par. Afinal a noite de glória, a apresentação da Quadrilha do Iate. Todos fantasiados de matutos, com as calças e camisas remendadas, bigodes e costeletas de carvão, chapéu de palha, dançávamos como se fosse para a plateia do maior teatro do mundo. Enchiamo-nos de orgulho e felicidade quando os aplausos ensurdeciam o enorme salão cheio de mesas.

No CRB havia a famosíssima Festa dos Pedros, organizada na véspera de São Pedro, dia 28 de junho. As mesas rapidamente vendidas, quem tinha o nome Pedro, a mesa era cortesia. Um arrasta-pé intermitente animado por quatro trios nordestinos, forró de pé de serra, tocavam até o sol raiar. Ao lado de fora uma enorme fogueira acesa iluminava o Clube e a praia da Pajuçara.

Quando terminava a animada festa, nós, meninos da Avenida da Paz, vínhamos andando e cantando, geralmente de mãos dadas com a namorada, insistindo um beijo roubado, cantando pela noite iluminada: “Olha pro céu meu amor… Veja como ele está lindo… Olha para aquele balão multicor… Que lá no céu está sumindo… Foi numa noite igual a esta… Que tu me deste o coração… O céu estava em festa… Porque era noite de São João… Havia balões no ar… Xote, baião no salão… E no terreiro o teu olhar… Que incendiou meu coração…” A música valia um beijo da namorada já segura pelo pescoço. Durante a alegre caminhada, às vezes caía chuva, era sinal de alegria, estimulava nossa energia. Ao chegar perto do coreto da Avenida, o sol amanhecendo, o céu dourado anunciando um novo dia, com chuva ou sem chuva, corríamos para um mergulho no mar alaranjado da madrugada com a roupa que tivesse no corpo. Alegres, cansados, molhados, cada qual caminhava para sua casa. Era a despedida, acabavam-se as festas juninas tão esperadas durante o ano inteiro.