DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

MAURÍCIO ASSUERO – RECIFE-

Prezado,

o recado hoje será rápido:

Abro o Cabaré do Berto às 19h30 para batermos um papo e falarmos da vida dos outros, da nossa e das perspectivas.

Infelizmente, não deu para avisar antes em função de demandas acadêmicas.

O link é o de sempre: basta clicar aqui para entrar.

R. Ufa!

Ainda bem que chegou.

Chegou tarde, mas chegou.

Daqui a pouco a gente se encontra por lá.

Até mais!

DEU NO JORNAL

PARA ELES E PARA OS OUTROS

Luís Ernesto Lacombe

Para eles e para os outros

Para eles, jatinhos da FAB, para cima e para baixo, para tomar um cafezinho em casa, ir a leilão de cavalos. Para eles, avião com boa suíte, cama de casal, banheiro com chuveiro, escritório, 100 poltronas confortáveis. Avião que não precise ficar fazendo escalas. Para os outros, carro popular, com desconto brincalhão, financiado, para custar dois ou três carros no fim.

Para eles, um giro pelo mundo, com um mundo de gente amiga. Para eles, hotéis de luxo, compras em lojas de grife, o deslumbrante turismo dos deslumbrados. Para os outros, talvez roupinhas chinesas, uma ida à esquina, sabendo quem não encontrarão por lá.

Para eles, cama de R$ 45 mil, sofá de R$ 62 mil, revestidos de couro, de couro italiano. Para eles, churrasco no palácio… Para os outros uma TV apenas, num apartamentinho com sacada, a “sacada do pum”. Talvez um coxão duro.

Para eles, a licença para gastar. Para eles, a permissão para fazer dívidas. Para os outros, os boletos, as contas, a obrigação de pagar e de contar migalhas. Para eles, o dinheiro dos impostos, as mordomias, os penduricalhos, os bônus, as diárias.

Para eles, a semana curta, as férias longas. Para os outros, o mundo de trabalho como ele deve ser. Para eles, os privilégios, a distribuição de privilégios. Para os outros, os pedaços, os trapos das leis perante as quais todos seriam iguais.

Para eles, as prioridades, as prioridades deles, o primeiro lugar. Para os outros, as filas, a espera interminável, as senhas para o juízo final. Para eles, eles mesmos, seus interesses, seus desejos, suas vontades. Para os outros, a noção de que são os outros.

Para eles, a burocracia, a tecnocracia, o confuso, o complexo, o controle, a manipulação. Para os outros, as facilidades e liberdades proibidas, a simplicidade vetada, o descomplicar impossível.

Para eles, 37 ministérios, emendas parlamentares, a Polícia Federal, pelo menos três tribunais de Justiça. Para eles, o caminho livre, os processos anulados, arquivados, não abertos. Contra os outros, a caçada. Para os outros, a perseguição, também a suas famílias e seus amigos. Para eles, os amigos premiados, a eliminação de vozes contrárias, o fim da oposição.

Para eles, toda mentira autorizada, abusos, arbítrios, ilegalidades. Para os outros, censura, silêncio, cadeia, exílio. Para eles, as narrativas. Para os outros, a obrigação de acreditar nelas, de não rebatê-las, de não perguntar. Para eles, os cercadinhos, a proteção, a esquiva, os socos distribuídos. Para os outros, os tapas na cara, os socos no peito.

Para eles, a corrupção sem fim. Para os outros, todas as desgraças da corrupção, da desonestidade. Para eles, a incompetência, o compromisso com os erros (propositais), os equívocos, sempre, sempre. Para os outros, os erros e equívocos que não são seus.

Para eles, a quadrilha formada, atuante. Para os outros, a união proibida, o medo, a desorientação, o desalento. Para eles, os “acordos” feitos com base em ameaça e chantagem. Para eles, a “nova democracia”. Para os outros, a ditadura.

A PALAVRA DO EDITOR

SEXTAFEIROU!!!

Chegou a sexta-feira!

A estabanada Chupicleide, secretária de redação dessa gazeta escrota, manda um xêro e um agradecimento especial para os fubânicos Eraldo Moura, Violante Pimentel, Arnaldo do Couto, Edwaldo M. Martins e Áurea Regina.

Ela já disse que hoje vai encher a cara e se balançar no forró do Bar O Cu da Perua, que fica no Alto do Mandu, aqui perto da redação.

Isso graças à nossa fiel e generosa patota, que nos dá força e ajuda a manter este jornaleco nos ares.

Conforme me informou Chupicleide, ela e Bosticler vão relar o bucho dançando a música “Vou te matar de cheiro“, uma composição de João Silva interpretada por Luiz Gonzaga.

A inxirida garantiu que vai fazer tudo que está contido na letra da música!

E aqui vai a magistral interpretação do Rei do Baião para alegrar a nossa tarde.

J.R. GUZZO

O DESASTRE VEM MAIS DEVAGAR

A única coisa positiva que se pode falar sobre o governo Lula é que ele parece estar tendo, pelo menos até agora, mais dificuldades do que se previa em seu plano geral para a destruição do Brasil. O plano, no papel e na discurseira do presidente, é impecável. Não existe praticamente nenhuma medida proposta, falada ou sugerida pelo governo que não torne tudo pior do que está – ou que tenha um mínimo de cabimento para um país que precisa, com urgência máxima, fazer com que sua economia cresça de verdade. Também não existe nada, em nenhuma ação do poder público, que torne a sociedade mais equilibrada ou crie mais oportunidades para as pessoas melhorarem de vida. Pense em alguma coisa ruim para o brasileiro comum – o governo Lula quer fazer, está tentando fazer ou promete fazer. Pense em alguma coisa boa: não apareceu nenhuma até agora. O Brasil, em vista disso, deveria estar dando a esta altura mais sinais de ruína do que se pode perceber – mas não está. Ao que parece, demolir um país deste tamanho não é tão fácil assim. Talvez leve mais tempo do que se pensa. Talvez o que o governo pensa não seja aquilo que pode. Talvez aquilo que pode não seja aquilo que quer.

Esta é, em todo caso, a única esperança à vista – que as ideias de destruição acabem sendo maiores do que a capacidade real de destruir. O crescimento da economia no primeiro trimestre de 2023 é uma excelente demonstração disso. O PIB brasileiro cresceu 1,9%, um índice muito bom para estes tempos de paradeira global – foi, na verdade, um dos maiores do mundo. Só que o crescimento aconteceu contra a vontade do governo Lula: foi atingido unicamente pelo vigoroso avanço do agronegócio nesse período, e se dependesse da ação oficial o agro brasileiro teria ido para trás. Desde o primeiro dia, o governo declarou o produtor agropecuário como seu grande inimigo e de lá para cá vem sabotando sua atividade em tudo o que pode. Mas aí é que está: nada do que fez até agora foi suficiente para diminuir a produção rural ou a procura internacional pela soja, pelo milho ou pela carne do Brasil. A última agressão é um conjunto de ideias que a ministra do Meio Ambiente anunciou para “combater a destruição das florestas”, como diz sua propaganda. Sob o disfarce da virtude ecológica, o plano do MMA e das ONGs brasileiras e estrangeiras que vivem ao seu redor deixa claro, mais uma vez, a obsessão em tratar a agropecuária nacional, em princípio, como atividade criminosa. É o retrato perfeito do Sistema Lula: enquanto o agronegócio salva a economia brasileira, seu governo vem com ideias não de incentivo ao campo, mas de hostilidade.

Plantação de soja em Mato Grosso do Sul

Coisas desse tipo não foram capazes de diminuir nem a área plantada, nem a safra, nem as exportações, nem o valor em dólar da produção rural; fazem barulho na mídia, mas não mudam a realidade no campo. Vai continuar assim? A resposta a isso vai estar nos fatos do dia a dia; aguardemos, agora, os números do segundo trimestre. O certo é que o governo não conseguiu até agora desfazer a principal força da economia brasileira de hoje – age para isso, mas não está conseguindo. É importante que esteja assim, porque em todo o resto a sua ação é uma calamidade. O que dizer, por exemplo, da treva que Lula está criando nas relações do Brasil com a Europa? Sua última manifestação a respeito é puro atraso de vida. Diz que não vai assinar os projetados acordos comerciais entre a União Europeia e o Mercosul – e, pior ainda, orgulha-se desse gesto que considera heroico.

É algo realmente extraordinário: Lula acha que a população brasileira fica mais rica, ou melhor de vida, se o Brasil se afastar da Europa, em vez de se aproximar. Os acordos, como se sabe, aumentam a abertura dos mercados europeus para os produtos brasileiros e estabelecem, em troca, uma maior abertura do mercado brasileiro para os produtos europeus. É o que se chama de livre comércio — e, naturalmente, abre oportunidades maiores nos mercados mais ricos, que têm mais consumidores e onde há mais capacidade de comprar, como é o caso dos países da Europa. Lula acha o contrário. Para ele, a possibilidade de vender mais para os países da União Europeia é um mau negócio.

Lula

Em 2022, Lula foi eleito com o apoio da ‘frente ampla’

Sua motivação, no caso, é a pior possível – é o protecionismo na sua forma mais primitiva, esse mesmo que há décadas impede o Brasil de crescer e de criar riqueza, para beneficiar uma elite inepta, ignorante, incapaz de competir e dependente do Erário. A União Europeia, com muita lógica, espera que as empresas europeias possam vender seus produtos para o governo brasileiro – assim como as empresas brasileiras estariam livres para vender seus produtos aos governos europeus. É livre comércio ou não é? Lula não quer. Diz que as compras públicas devem ficar fora do acordo – e que o governo do Brasil vai continuar comprando só de empresas brasileiras. Por quê? Porque a indústria brasileira faz produtos ruins e caros, que o mercado externo não quer comprar; mas o governo do Brasil compra, com dinheiro público, e aí ficam todos muito contentes, industriais e governantes. Quem paga a conta, no final, é você. Nada deixa tão clara a mentalidade econômica medieval de Lula do que a justificativa central que ele dá para a sua postura protecionista: segundo ele, as compras feitas pelo governo são “a única” maneira de fazer com que a indústria brasileira sobreviva. Não é a competência. Não é a qualidade dos produtos. Não é o trabalho, nem a pesquisa, nem a tecnologia, nem o investimento. Não é a capacidade de superar os concorrentes. É o dinheiro do pagador de impostos brasileiro. Sem isso, diz Lula, não há indústria nacional.

O presidente entregou-se, depois que assumiu o cargo, à fantasia de que pode se tornar um “líder mundial” — incapaz de resolver qualquer dos problemas reais do Brasil, imagina que sua vocação seja resolver os problemas do mundo. É um bom sinal; quanto mais tempo fica longe daqui, mais se enterra como presidente e mais deixa que se compliquem as suas estratégias de acabar com o país. Tem conseguido, até o momento, ser apenas ridículo. Em cinco meses no governo, já fez viagens a dez países diferentes; torra dinheiro público de um país pobre hospedando-se em hotéis de quase 40.000 reais a diária e queimando combustível de avião a jato. Não poderia, com esses espasmos de brega descontrolado, provocar mais desprezo entre os grandes que supõe impressionar. Como não tem ideia do que está fazendo, produz o mais agressivo conjunto de declarações cretinas que qualquer presidente brasileiro já produziu em suas falas públicas, aqui ou no exterior. Sua campeã, até agora, é a afirmação de que a invasão da Ucrânia pela Rússia é responsabilidade “dos dois países” – um primeiro caso, em toda a história universal, em que uma nação é responsável pela invasão militar do seu próprio território.

Torna-se a cada dia um estorvo para os Estados Unidos e a Europa, que até outro dia o consideravam um salvador da democracia no Brasil e no Terceiro Mundo; está virando um chato para os que realmente resolvem as coisas. Sua tentativa de socorrer a Argentina com dinheiro do Banco do Brics, só porque arrumou ali um emprego para Dilma Rousseff, foi tratada com risadas; chinês empresta dinheiro para receber de volta, não para dar fôlego a regimes falidos. Deu para falar em “governança mundial”, e acha que oferecendo a Amazônia para a “internacionalização” vai se transformar num novo Nelson Mandela para europeus com carência ecológica e a menina Greta. Tenta transformar o ditador Nicolás Maduro em vítima de uma “narrativa”. Ele seria um pobre democrata, perseguido pela má imagem que os seus inimigos criaram – e quem destruiu a Venezuela não foi a sua ditadura, foi o “embargo” econômico norte-americano. Prega o fim do dólar como moeda internacional de troca. Sua última realização é indispor-se com a Europa, a quem já tinha acusado de colaborar com a guerra na Ucrânia, por causa dos acordos comerciais com o Mercosul. Não se vê, em suma, como, quem e o que ele vai liderar na sua posição de figura mundial — meia dúzia de ditadorezinhos latino-americanos?

nicolás maduro e lula - venezuela

O ditador Nicolás Maduro e o presidente Lula, em Brasília

Enquanto estiver fazendo papel de palhaço terceiro-mundista pelo mundo fora, e tentando entrar de penetra na sala dos grandes, Lula fica mais afastado do Brasil. E, se continuar assim, as dificuldades que está tendo para conduzir a nação ao colapso tendem a ficar maiores do que têm sido. Nos dias de hoje, é a boa notícia possível.

DEU NO JORNAL

PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

GRANDES MESTRES DO REPENTE

José Antônio do Nascimento Filho, o Zeto do Pajeú, Canhotinho-PE (1956-2002)

A vileza do destino
Espedaçou meu futuro,
O meu viver é obscuro
Desde o tempo de menino.
Hoje sou um peregrino,
Não sei o que é riqueza,
Bruxuleia a luz acesa,
Perdi a perseverança …
E o retrato de minha infância
Está na minha pobreza.

Na terra dos marechais,
Sem ter quem me queira bem,
Ó morte, por que não vens
Tirar meus dias finais?
Vivo gemendo meus ais,
Só sei o que é aspereza,
Não apresento nobreza,
Sou igual a uma balança …
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.

Zeto do Pajeú

Nas gotas fracas da chuva
Que a terra vai borrifando
E faz levantar o cheiro
De chuva que vou cheirando
Eu sonho dias melhores
E levo a vida cantando.

Nildo Cordel

ANDARILHO

Vou cantar com total atrevimento
Imitar os ciganos andarilhos
Percorrer os caminhos dos trocadilhos
Vendo Louro inventar um novo invento
Misturar poesia e andamento
Construir uma estradeira
Ter um sonho normal numa esteira
Numa noite no lindo Moxotó
Caminhar nas estrelas vendo o pó
Das passadas da glosa derradeira

Imitar o pavão com suas cores
Vou vestir colorido em minha vida
Tratarei como sábio esta ferida
P’ra lembrar a loucura dos amores
Pois os loucos os grandes sabedores
Dão ao lúcido a loucura do real
Pra mostrar que o bem intencional
Faz morada em lugar bem diferente
Qualquer cor, qualquer dor é sempre gente
Sugerindo a paixão o seu aval

A tarefa é não ter nenhum caminho
P’ra encontrar o caminho do não ter
Ser irmão do bonito amanhecer
Ser agulha seguindo o seu alinho
Encontrar multidões quando sozinho
Colocar tom menor no violão
Ser maior entoando uma canção
Perceber quanto tempo falta ainda
Colocar no cabelo a fita linda
Como fosse uma estrofe de canção.

Francisco Nunes de Oliveira

Ser poeta não é pensar de ser
Que quem pensa que é finda não sendo
Diz que sabe de tudo não sabendo
Que quem sabe não gosta de dizer
Pois que diz o costume é não saber
Que o sabido sabendo se aquieta
Mas o erro maldito do pateta
É querer um lugar que não lhe cabe
Diz ao povo que sabe, mas não sabe
O dever ideal de ser poeta.

Zé Maria

O que mais me admira
É vêr-se um sapo inocente
Que gosta de lama fria
Mas detesta a terra quente
Vendo da cobra o pescoço
Pinota dentro do poço
Pra se livrar da serpente.

João Paraibano

Eu acho que esse louro
Dos outros é diferente
Não tem asa mas tem boca
Não tem bico mas tem dente
Não tem pena mas tem pena
De vir dar dinheiro a gente.

Zé de Almeida

Alagoas tem Quilombo
Belas praias, tem coqueiro
Berço de Apolônio Belo
E de Vicente Granjeiro
Famosa nas duas coisas
Marechais e violeiro.

Noel Calixto

Admiro o Zé Ferreira
Um cantador estupendo
Se a roupa se suja, lava
Se rasga, bota remendo
Gasta menos do que ganha
Que é pra não ficar devendo.

Roberto Queiroz

O meu pai não tem estudo
Mamãe é analfabeta
Eu pouco fui à escola
Somente Deus me completa
Com esse sublime dom
De repentista e poeta.

Miro Pereira

A patativa de gola
Nos campos da providência
Uma pequena figura
Uma larga inteligência
Canta com tanta certeza
Sem precisar de ciência.

João Abel

Meu sonho de alpinismo
No precipício caiu
Quando eu caí todos viram
Quando escalei ninguém viu
Os monstro feitos de mármore
Que a mão de Deus esculpiu.

Biu Dionísio

No varal do infinito
Uma nuvem pendurada
Parece com uma roupa
Bem confeccionada
Que Deus coseu com maestria
Para o corpo da madrugada.

Raimundo Borges

Eu já passei tanta coisa
Que na vida nem pensava
Pra minha felicidade
A mulher que eu procurava
Deus teve pena de mim
Mostrou aonde ela estava.

João Lourenço

O mínimo precisaria
Aumentar uns cem por cento
Quem recebe no salário
Quinze reais de aumento
É mesmo que receber
Nota de falecimento.

Ismael Pereira

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO X

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA