JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

Ontem eu fui surpreendido por uma espécie de êxtase que só me acomete quando tenho contato com algo que, para mim, é sublime demais como arte.

O poeta tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira enviou-me pelo WhatsApp uma glosa sobre o mote do poeta Júnior Monteiro, e eu ouso em dizer que ambas as construções – mote e glosa – beiram a perfeição na construção de uma poesia no estilo próprio.

O mote:

“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”

Eis o que Marcílio inspirado divinamente escreveu:

Tá sem cor e sem vida o tabuleiro
O meu bispo sem cetro e sem batina
Meu cavalo pendeu caiu a crina
Meu peão sem a dama e sem roteiro
O meu rei sem castelo e sem dinheiro
Minha torre sem luz e camarinha
A rainha cansada de ser minha
Deu um xeque na minha embriaguez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha”

Diante de tão extraordinária composição, e seguindo a visão do tabuleiro criado por Marcílio, eu me arrisquei em glosar também.

De minha mente saíram os seguintes versos:

Eu tentei dar um roque foi em vão
Sou um rei acuado e sem saída
Quanto mais eu me mexo na partida
Mais eu sinto que perco a posição.
Já não tenho nenhuma proteção
‘Tou cercado e exposto sob a linha
Do amor, que era só o que mantinha
Certa fé na vitória e solidez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”

22 pensou em “DUAS GLOSAS

  1. Lindas glosas, principalmente a sua, grande poeta Jesus de Ritinha de Miúdo:

    “Eu tentei dar um roque foi em vão
    Sou um rei acuado e sem saída
    Quanto mais eu me mexo na partida
    Mais eu sinto que perco a posição.
    Já não tenho nenhuma proteção
    ‘Tou cercado e exposto sob a linha
    Do amor, que era só o que mantinha
    Certa fé na vitória e solidez”
    “Minha vida sem ela é um xadrez
    Que não tem mais a peça da rainha.”

    Obs. O mote do poeta Júnior Monteiro é belíssimo. Adorei a postagem”

    Um abraço!

    :

  2. Adorei as construções poéticas e a inspiração. O xadrez, o roque, o rei exposto e perdendo posições pela falta dela, a rainha. Eu soube de uma partida onde o rei, mesmo vulnerável, deu a volta por cima e aplicou, ele mesmo sozinho, o xeque-mate. Ganhou tudo. Parabéns pelo poema, belíssimo!

  3. Lê uma poema de Jesus é como dizer “venha a nós o vosso reino”. Eu fico bastante contante porque Marcílio é um cabra da minha terra, um dos irmãos dele era afilhado de uma das minhas tias. Eu acho que ambos poderiam se debruçar e produzir. Já dei a ideia: 15 ou 20 temas, com estrofes intercaladas, décimas, umas seis estrofes. Vamos botar num livro.

    • Cícero, você é um querido de longe, que eu auguro um dia conhecer bem de perto para um abraço fraterno.

      • Obrigado, estimado Poeta!

        A recíproca é verdadeira. E vai ser um abraço apertado, junto com o Berto gordinho, e Dona Aline clicando a amizade.

  4. Parabens, Jesus, por tudo. Modestamente tento glosar, deixando meu abraço.

    Muito triste a tristeza que me abate
    Já não movo as pedras do meu coração
    Sem saber se jogue Dama ou Gamão
    Pois no Xadrez eu levei um cheque-mate
    E por isso me tornei um reles vate
    Mas não tendo a verdade que antes tinha
    Sem juizo, avancei, perdi a linha
    E lhe digo com toda desfaçatez
    ‘Minha vida sem ela é um xadrez
    E que não tem mais a peça da rainha’

  5. Poetas Marcilio e Jesus, viajando pela notável criação poética dos enxadristas da vida, viajei em tabuleiros outros, xadrez e outros de verdes panos, de listras e de quadros.
    Dama, firo, gamão, ludo… não achei nada igual a esse cheque mate de suas penas.
    Gratidão!

    • Pedrinho!
      Imaginei o velho e saudoso Nílson Brito glosando esse mote.
      Certamente sairia uma pérola já polida e de muito valor.
      Obrigado por sua visita.

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