DEU NO JORNAL

RODRIGO CONSTANTINO

MASSACRE TRANS

Atirador matou sete crianças na segunda-feira 27, numa escola particular da cidade de Nashville, no Estado do Tennessee | Foto: Montagem Revista Oeste/Departamento de Polícia de Nashville

Atirador matou sete crianças na segunda-feira 27, numa escola particular da cidade de Nashville, no Estado do Tennessee

Indivíduos agem. Logo, indivíduos devem ser responsabilizados por seus atos. Claro que as ideias e os valores disseminados no entorno podem influenciar tais ações, mas, quando deixamos de culpar o próprio indivíduo por seus malfeitos, temos um convite a novos erros. Por isso a impunidade é um mecanismo perverso de incentivo a novos crimes.

Faço esta breve introdução para comentar a nova tragédia numa escola norte-americana. Mais um tiroteio. Uma pessoa abriu fogo contra crianças e professores, matando sete inocentes. Tais atos terroristas quase nunca apresentam uma razão simplista. Mas fica clara a tentativa de manipulação da mídia e da esquerda.

No caso, a atiradora era uma mulher biológica, mas se identificava como homem. Ou seja, era um homem trans. O alvo era uma escola cristã, na qual ela (ou “ele”) já havia estudado. A assassina deixou um manifesto, e a polícia disse que havia alvo certo, ou seja, o motivo do atentado era o fato de se tratar de uma escola cristã. Crime de ódio, certamente. Mas não para nossos jornalistas “progressistas”.

Para a patota woke espalhada pela imprensa, só há crime de ódio quando o algoz é homem e branco e a vítima pertence a alguma “minoria”. Existe uma narrativa predeterminada, e, se os fatos não atendem a tal narrativa, então pior para os fatos: ou se abandona a história, ou se muda o foco.

Foi a escolha neste episódio lamentável. Como uma pessoa transgênero abriu fogo contra crianças cristãs, então a mídia resolveu falar apenas de armas. Eis que o objeto inanimado ganha volição e passa a ser o verdadeiro problema. É como quando fundamentalistas islâmicos praticam atos terroristas: carros, caminhões e aviões ganham vida própria, como se fossem os Transformers, para ocultar o sujeito da ação e suas intenções.

Em alguns casos mais bizarros, os comentaristas resolveram culpar as próprias vítimas! A culpa pelo tiroteio seria dos próprios cristãos, do “clima de intolerância” para com a comunidade trans. Se um cristão atira numa pessoa trans, então é prova do preconceito violento da direita; mas, se um cristão é alvo de tiros de uma pessoa trans, então isso também é prova do preconceito violento da direita! Cara, eu ganho; coroa, você perde: independentemente do que acontece, a culpa é sempre da direita “intolerante”.

Teve comentarista na mídia que ainda trouxe à tona uma decisão recente do Estado onde ocorreu a tragédia proibindo cirurgias em crianças consideradas transgêneros. Ou seja, se você é contra permitir a mutilação de crianças confusas ou que sofrem de disforia de gênero, acreditando ter nascido no corpo errado, então você só pode ser um defensor do genocídio de trans. E, para se defender de gente terrível como você, até o terrorismo parece justificável. Ficamos assim: para “proteger” jovens trans da direita tacanha, aceitamos até mesmo que jovens trans matem… crianças!

É tudo tão bizarro que dispensa maiores reflexões. Estamos diante da loucura plena. A turma que criou o “ódio do bem” tem ajudado a espalhar um clima de degradação moral enorme no país. Sendo sempre a “vítima” na história, essa gente que se diz “minoria” considera legítimo partir para o ataque em nome de uma suposta legítima defesa.

É a visão amalucada e revolucionária de Marcuse, como explica Theodore Dalrymple: “As ideias de Marcuse eram tão bobas que teriam sido engraçadas se ninguém as tivesse levado a sério. Apesar de ele estar quase esquecido hoje em dia, uma de suas ideias mais tolas e perniciosas, a da tolerância repressiva, está voltando, se não na teoria, na prática. De acordo com esse conceito, a repressão praticada pelos conservadores é intolerável, mas a repressão praticada pela esquerda é na verdade uma forma de libertação, e não representa repressão nenhuma”.

Vamos “libertar” o mundo do ódio e do preconceito, eliminando quem pensa diferente! É por isso que fascistas da Antifa agridem inocentes em nome do combate ao fascismo, enquanto autoritários esquerdistas praticam a censura pelo “crime” de opinião em nome da tolerância e da democracia. Essas ideias têm consequências, e, quando alguém nitidamente perturbado resolve agir com base nelas, não deveríamos ficar tão surpresos assim.

Claro que não seria justo acusar toda pessoa trans de ser potencialmente violenta, mas, quando as narrativas midiáticas fornecem justificativas para a “violência do bem”, devemos esperar que alguns malucos possam agir com base nesse contexto insano. E, como a doença mental é um dos fatores mais negligenciados nesses atentados em escolas, talvez seja um bom ponto de partida buscar suspeitos entre aqueles que juram pertencer ao sexo oposto e ainda bancam as vítimas quando o mundo não se curva diante de seus fetiches ou delírios.

Não podemos incorrer no mesmo erro de generalização em que a imprensa sempre cai para condenar toda a direita quando indivíduos violentos agem em nome de uma ideologia. Mas podemos — e acho que devemos — mostrar que essa ideologia de gênero que força a barra para enfiar goela abaixo de todos a ideia de que basta “se sentir” para de fato ser, num subjetivismo radical que desafia a própria natureza, tem produzido mais e mais indivíduos insanos e perigosos.

Três crianças morreram num tiroteio que aconteceu nesta segunda-feira (27) numa escola particular da cidade de Nashville, no Estado do Tennessee

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

DEU NO JORNAL

APLAUSOS

A primeira-dama Janja, que ama holofotes, aprontou mais uma.

Foi pessoalmente (e discursou, claro) na “inauguração” do letreiro do prédio do Ministério da Cultura.

Com claque para garantir aplausos.

* * *

O jumento Polodoro, mascote desta gazeta escrota, ficou feliz quando viu a cena.

Ele aplaudiu Janjeca com muito entusiasmo.

E fez isto usando a sua ajegada caceta.

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DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JACOB FORTES – BRASÍLIA-DF

OS CICLOS DA VIDA E AS ESTAÇÕES DO ANO

A primavera é a estação em que a infância e a juventude tem a gracilidade das flores, vai do nascimento aos 21 anos. É nesta estação que a adolescência, sonhadora, se faz inquilina do espelho. Para isso não lhe faltam avalistas de crédito, cada qual mais encantador: um rosto jovial; uma cabeleira basta, esvoaçante; um sorriso doce e terno, enfim, uma paisagem fresca e graciosa, exclusividade dos que vivem a plenitude do calendário primaveril. Mas, o tempo, que traz na sua composição ingredientes corrosivos, tem o condão de promover mudanças. Sutilíssimas transformações são verificadas nas doces feições antes que a primavera complete o seu ciclo.

Chegou o verão, tempo de maturidade, vai dos 21 aos 42 anos, é quando se atiça o sentido de direção. Enquanto na primavera o espelho exprime aberração fanática, no verão o seu uso é comedido. Os habitantes desta quadra, distraídos com suas buscas e conquistas, por vezes não percebem que o outono já lhes bateu à porta.

Chegou o outono, maturidade autêntica, abrange o ciclo dos 42 aos 63 anos. Nesta fase, em que o espelho é de uso secundário, dá-se a preparação para a velhice.

Finalmente, chegou o inverno, a estação anosa, tempo de serenidade e sabedoria, começa a partir dos 63 anos. Nesta quadra já não há inquilinos para alugar o espelho: o rosto, que era jovial, encheu-se de rugas; o sorriso, que era franco, tornou-se moderado; a cabeleira, basta e esvoaçante, desapareceu; o olhar, arguto, cheio de brilho, tornou-se opaco; os passos, céleres, tornaram-se lentos; a voz, erguida, tornou-se macia e calma. Enfim, com as flores do vaso emurchecidas, o que era bonito ficou feio. O espelho, que um dia se fizera escravo da vaidade romântica, agora, de raro em raro, tem a serventia de desfazer ilusões. Mas, atrás do feio estão pessoas luminosas, de espirito apurado, “valorizam muito mais o que vem de dentro, menos o que vem de fora”.

 

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

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CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

1º DE ABRIL DE 1964

Comício do presidente João Goulart em frente ao Ministério da Guerra, dia 13 de março de 1964

Acordei-me com o som cadenciado do toque de alvorada pelo corneteiro do quartel. Eu era tenente do Exército Brasileiro servia na 2ª Companhia de Guardas, tropa de elite do IV Exército sediada no centro da cidade. Soldados altamente treinados contra distúrbios e guerrilha urbana. Uma luminosa manhã acordava a bela histórica cidade do Recife. A Companhia estava de prontidão há mais de uma semana devido aos acontecimentos políticos da época. Um processo de desgaste do Governo Federal se espalhou sobre a Nação. O presidente João Goulart era ambíguo, acendia uma vela a Deus outra ao Diabo (como diria Julião em uma entrevista, tempos depois). O que sustentava Jango era um suposto esquema militar. O General Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército (Nordeste), jurou de que defenderia a legalidade ao lado do Presidente. Quando a conjuntura mudou, ele também mudou. A situação política ficou mais nebulosa depois do grande comício das reformas em frente ao Ministério do Exército, dia 13 de março, com discursos provocativos às Forças Armadas. Jango, foi inábil, estava cutucando a onça com vara curta.

Naquela bela manhã, logo depois da formatura matinal da tropa, o capitão Luís Henrique Maia reuniu os cinco tenentes comandantes de pelotão e informou as notícias já confirmadas. A tropa do general Mourão Filho de Minas Gerais havia se rebelado e estava em marcha ao Rio de Janeiro para unir-se ao I Exército, e depor o presidente João Goulart. O objetivo da rebelião militar era restabelecer a ordem no país e garantir a eleição para presidente em 1965. O capitão mandou preparar o pelotão para um possível enfrentamento, entrar em combate urbano a qualquer momento, tendo necessidade.

Eu era um jovem que amava os Beatles, os Rolling Stones, a Bossa Nova, a Boemia, pensava em mil coisas, retornei ao alojamento do pelotão. Fiquei especulando o que haveria de ser. As notícias do rádio, televisão, de boca a boca e os boatos previam até guerra civil. O presidente João Goulart estava para dar o golpe, não haveria eleição em 1965 e seria implantado um Estado Socialista-Sindicalista, eram os comentários mais fortes.

Eu encontrava-me ainda em devaneios, quando o comandante me chamou, fui ao seu encontro no gabinete. Ele olhou nos meus olhos e deu-me as primeiras ordens:

– Tenente a Revolução foi deflagrada em todo Brasil, chegou a nossa hora. Escolhi seu pelotão para primeira missão, talvez um batismo de fogo. Está havendo uma manifestação em frente ao Sindicado dos Bancários. A missão do Pelotão é dissolver esses militantes, confio no seu bom senso, por isso o escolhi.

Coloquei o pelotão em forma, passei em revista os soldados, o armamento e equipamento, fiz uma preleção sobre a missão, deixei bem esclarecido, tiro só com minha ordem. O Sindicato não era longe, o Pelotão tomou a Rua do Príncipe em marcha. A batida uníssona do coturno no calçamento fazia um barulho assustador. Enquanto aqueles 44 soldados bem armados e equipados avançavam, eu percebia a movimentação nas ruas: mães colocando meninos para dentro das casas, pedestres entravam em seus lares. De cima dos prédios ouvi alguns aplausos, como também algumas vaias, era o povo dividido. O Pelotão avançava, eu continha a emoção, lembrava as informações, os boatos, os rumores que os sindicalistas, os camponeses, os homens que o governador Arraes apoiava, tinham sido treinados em guerrilha em Cuba e possuíam armamentos tchecos modernos.

De repente, mais emoção, avistei ao longe a multidão, em torno de 400 manifestantes. Tive de controlar um velho sargento, auxiliar, que suplicava dar um tiro para o alto, a fim de dispersar a multidão. Mandei o sargento se aquietar, lembrando que comando era exclusivo meu. Evitar uma reação por parte dos manifestantes e provocar numa carnificina de balas dos dois lados. O pelotão se aproximava cada vez mais, já dava para ver as fisionomias dos manifestantes, me preparava para dialogar, se possível. Enquanto o sargento, junto a mim, insistia em atirar, eu esbravejei em sua cara: Não!

Naquele instante dei voz de comando ao Pelotão: – “Acelerado marche!” Os soldados iniciaram a avançar em acelerado (correndo curto). De repente tive o maior alívio e alegria de minha vida ao perceber a multidão se dispersando em todas as direções.

Invadimos o sindicato a “manus militaris”. Ficaram apenas três sindicalistas. Pedi para que eles deixassem o prédio ou teria que levá-los presos, era a ordem. Apenas um sindicalista, barbudo, corajoso, magro, me encarou: -“Só saio morto ou preso”. Dei a ordem “Então têje preso, não vou lhe matar”. Mandei lacrar todos os móveis, deixei cinco soldados guarnecendo o sindicato. Retornei com o resto do pelotão para Avenida Visconde de Suassuna, sede da Cia de Guardas.

Durante o percurso, o pelotão marchava em duas colunas, e o barbudo, preso, caminhando no meio da tropa.

Encostei-me e cochichei no seu ouvido uma mentira assustadora: -“Estão matando tudo que é comunista, quando você chegar ao quartel vai ser fuzilado. Vou lhe dar uma chance, na próxima esquina lhe empurro e você se manda, corra”. Ao chegar mais perto da esquina, o barbudo olhou para trás, encarou-me com olhar suplicante. Aproximei-me, segurei-o pela camisa, puxei-o pelo braço e o empurrei. Ele disparou, escafedeu-se na primeira rua. No quartel fiz um relatório verbal ao Comandante. Ainda no 1º do abril, meu pelotão teve outras missões: Ocupou a sede dos Correios, patrulhou a cidade do Recife. À noite, cansado, dormi pensando no dever cumprido, em ter contribuído para garantir da ordem e a paz, a democracia e as eleições presidenciais de 1965. Ninguém, nenhum cientista político, nenhum profeta, nenhum futurólogo, acreditaria que aquele dia era o primeiro de uma ditadura de 21 anos.