ANA PAULA HENKEL

A RECEITA DE KU KLUX KLAN

E então veio a ressaca – aquela ruim, que traz uma dor de cabeça insuportável – do 7 de Setembro. Eles mal puderam abrir os olhos e acreditar no que estavam vendo. Como assim milhões de brasileiros foram às ruas apoiar um governo em fim de mandato? Como assim milhões de pessoas estiveram juntas em centenas de cidades pelo país celebrando as cores e a bandeira do Brasil, pedindo respeito à Constituição e nenhuma lata de lixo foi revirada? Nenhuma briga foi reportada, nenhuma vidraça foi quebrada e nenhum prédio depredado? Meu Deus! Os ungidos estavam certos, isso é a cara do fascismo.

Mas, para a patota que anda de mãos dadas com a imprensa de necrotério (ou do “despiora”) que ficou na torcida por um 6 de janeiro tupiniquim, não bastou tentar pintar um quadro de horror com as manifestações pacíficas, ordeiras e democráticas que encheram ruas e avenidas de girassóis humanos. Eles foram além. Diante de imagens aterrorizantes de uma congregação histórica de brasileiros de várias etnias, idades e religiões, o ex-presidente e ex-presidiário Lula teve a brilhante ideia de comparar os atos que também comemoravam o bicentenário da nossa Independência com atos da Ku Klux Klan, grupo de terrorismo doméstico fundado logo após o fim da Guerra Civil dos Estados Unidos, em 1866, no Tennessee. Para manter a supremacia branca nos governos do sul após e derrota dos confederados para o exército da União de Abraham Lincoln, a KKK usava extrema violência e intimidação contra negros e brancos que ousassem ajudar outros negros a ascender na sociedade.

Manifestação pró-governo no 7 de Setembro, em comemoração ao Bicentenário da Independência do Brasil

Apesar de ter virado chacota em todo o Brasil depois de vociferar em um microfone que as manifestações pareciam uma reunião da “cuscuz clã”, podemos usar as ofensas do corrupto de estimação do STF para esclarecer mais uma falácia imensamente propagada pelos “jornalistas e correspondentes” internacionais no Brasil, assim como membros do consórcio na América. Ao contrário do que tentam empurrar os “regressistas” (sim, não há nada de progresso nos tais progressistas) na educação e na mídia, a história do Partido Democrata até o século 20 é uma história praticamente ininterrupta de roubo, corrupção, intolerância e racismo. Para isso, basta apenas voltarmos nas páginas da história. Detalhes chatos que esquerdistas não apreciam, mas está tudo lá.

O partido da escravidão

Os democratas sempre foram o partido da escravidão, e a mentalidade escravagista continua a moldar as políticas dos líderes democratas hoje, até para usar as minorias apenas como simples massa de manobra e manutenção de poder político. A questão não é que os democratas inventaram a escravidão, que é uma instituição antiga que antecede em muito a América. Em vez disso, democratas inventaram uma nova justificativa para a escravidão, a escravidão como um “bem positivo”.

Muitos insistiam que a escravidão não era benéfica apenas para os senhores; diziam que também era bom para os escravos. Hoje, “especialistas” tentam esconder a cumplicidade dos democratas na escravidão nos EUA, culpando o “Sul” pela nefasta prática. Essas pessoas teceram todo um fio que que tenta retratar de maneira simplista a batalha da escravidão como uma batalha entre o Norte antiescravagista e o Sul pró-escravidão. É claro que isso beneficia os democratas no atual cenário político, porque hoje a principal força do Partido Democrata está no Norte e, a do Partido Republicano, no Sul.

Mas a questão da escravidão não era principalmente uma questão Norte-Sul. Na verdade, foi uma batalha entre os democratas pró-escravidão e os republicanos antiescravidão. Isso não é uma mera opinião, está nos livros de história. Basta visitarmos suas páginas e veremos que os democratas do norte, como Stephen Douglas, protegiam a escravidão, enquanto a maioria dos sulistas não possuía escravos. Basicamente três quartos daqueles que lutaram na Guerra Civil do lado confederado não tinham escravos e não estavam lutando para proteger a escravidão.

Enquanto isso, todos os republicanos, em um grau ou outro, se opunham à escravidão. O próprio Partido Republicano como conhecemos hoje foi fundado exatamente para acabar com a escravidão. É claro que havia uma variedade de pontos de vista entre os republicanos, de abolicionistas que buscavam acabar imediatamente com a escravidão a republicanos como Abraham Lincoln, que reconheciam que isso era uma questão também constitucional e politicamente impossível de resolver da noite para o dia. Então, eles se concentraram em impedir a extensão da escravidão aos novos territórios. Esta foi a principal plataforma com a qual Lincoln venceu a conturbada eleição de 1860. Como ele resumiu em seu primeiro discurso de posse, “um lado acredita que a escravidão é certa e que deve ser estendida aos novos Estados, e o outro acredita que é errada e deve ser restrita”. Como disse Lincoln no famoso discurso, “esta é a única disputa substancial”.

Após a guerra que mais matou norte-americanos em sua história, os republicanos acabaram com a escravidão e baniram a prática permanentemente através da Décima Terceira Emenda. Os democratas responderam agressivamente se opondo à emenda e um grupo de membros do partido planejou e assassinou Abraham Lincoln, o homem que consideravam responsável pela emancipação dos negros. Os republicanos aprovaram então a Décima Quarta Emenda, garantindo aos negros direitos iguais perante a lei, e a Décima Quinta Emenda, que deu aos negros o direito de votar. Tudo isso com violenta oposição dos democratas.

Os votos de homens anteriormente escravizados ajudaram a dar ao Partido Republicano o controle da legislatura do Estado do Mississippi, o que fez de Hiram Rhodes Revels o primeiro afro-americano no Senado dos Estados Unidos. Em 1870, a Carolina do Sul elegeu diretamente Joseph Rainey também pelo Partido Republicano, outro afro-americano, para a Câmara dos Representantes dos EUA. A Ku KLux Klan reagiu com manifestações noturnas aterrorizantes com homens encapuzados e tochas de fogo nas casas dos eleitores negros. Em todo o Sul, o linchamento e a intimidação eram predominantes. A KKK usou sigilo, intimidação, violência e assassinato para impedir que homens negros anteriormente escravizados votassem. Homens brancos que porventura usassem seus cargos e profissões para ajudar negros e seus apoiadores também viraram alvos do terror da KKK. Tudo para que a plataforma de Era da Reconstrução, que também visava a dar aos negros direitos sociais, políticos e econômicos, não avançasse.

Ku Klux Klan, com uma cruz queimando no Tennessee, 4 de setembro de 1948

Depois que a Reconstrução terminou, em 1877, as legislaturas estaduais foram capazes de implementar as leis de Jim Crow que garantiam a superioridade e a segregação dos brancos. Os eleitores negros foram intimidados ou simplesmente impedidos de se registrar e votar. As novas leis colocaram obstáculos quase intransponíveis. A Ku Klux Klan inicial se desfez na década de 1870, em parte por causa de leis federais, mas também porque seus objetivos foram alcançados nos Estados. A organização seria revivida no início do século 20 com seu retrato falsamente heroico no filme O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation, clique aqui para assistir), aclamado pelos democratas, e o afluxo de imigrantes católicos e judeus da Europa Oriental ofereceu um novo alvo para o preconceito da KKK.

Atualmente, muitos democratas se defendem dizendo que a escravidão acabou em 1865 e que, por isso, não podem ser colocados no balaio da culpa pelos erros pré-guerra do Partido Democrata. Fato. Porém, a digital segregacionista do partido vai do apoio à escravidão à cumplicidade na Ku Klux Klan. A organização fundada por um grupo de ex-soldados confederados teve como primeiro grande líder um general que também foi delegado na Convenção Nacional Democrata. A KKK, como mostra a história, logo se espalhou do Sul para o Centro-Oeste e o Oeste. Nas palavras do historiador Eric Foner, ela se tornou “o braço terrorista doméstico do Partido Democrata que, na década de 1880, inventou a segregação e as leis Jim Crow que duraram até a década de 1960”. Líderes democratas, incluindo pelo menos um presidente, dois juízes da Suprema Corte e inúmeros senadores e congressistas, eram membros da Klan. O último deles, Robert Byrd, morreu em 2010 e foi elogiado pelos ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton.

A história sórdida do Partido Democrata no início do século 20, fortemente escondida e blindada pela imprensa a até por historiadores, é casada com a história abominável do movimento progressista durante o mesmo período. “Progressistas” como Margaret Sanger, fundadora da Planned Parenthood, cadeia de clínicas de aborto espalhadas por todo o país – e elogiada publicamente por Hillary Clinton — apoiaram causas como a eugenia e o darwinismo social. Embora o aborto não fosse um problema na época de Sanger, ela apoiou a esterilização forçada de pessoas “impróprias”, principalmente negros e minorias. O projeto do modelo de feminismo para as democratas foi especificamente focado na redução da população negra, e clínicas abortivas foram implantadas majoritariamente nas comunidades e bairros negros nos Estados Unidos.

Ku Klux Klan, na área de Panhandle, Flórida, Estados Unidos, em 1995

Os regressistas democratas

Pois é, pouco disso é conhecido pelas pessoas hoje, porque os regressistas democratas fizeram um bom trabalho varrendo tudo para debaixo do tapete, assim como andam tentando reescrever o que – de fato – aconteceu durante a pandemia. Essas páginas são simplesmente deixadas de fora dos livros didáticos, debates, reportagens e informações passadas na TV, embora tudo esteja documentado no registro histórico. Há anos, eles têm trabalhado arduamente para distorcer, esconder e até mentir sobre esses fatos. E, para isso, têm todo um contingente cultural – a grande mídia, Hollywood, as universidades de elite e agora até mesmo o esporte – para vender sua propaganda e as páginas editadas de seu ministério da verdade.

Curiosamente, o Partido Republicano não é apenas o partido dos direitos dos negros, mas também dos direitos das mulheres. Os republicanos incluíram o sufrágio feminino na plataforma do partido já em 1896. A primeira mulher eleita para o Congresso foi a republicana Jeanette Rankin, em 1916. Naquele ano, o partido teve um apoio excepcional defendendo o direito de voto para as mulheres, então, depois que os republicanos recuperaram o controle do Congresso, a Décima Nona Emenda concedeu o sufrágio feminino, e voto feminino foi finalmente aprovado, em 1919, sendo ratificado pelos Estados no ano seguinte.

Apesar de toda a sua intenção assassina, Leon Trotsky, comunista e líder na Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, uma vez tropeçou num pedaço de projeto de sabedoria que viveu através dos tempos. No auge de uma das maiores instabilidades na Europa, Trotsky escreveu que, às vezes, há um limite para o diálogo. Quais são as opções para argumentarmos com pessoas que nos desumanizaram e que determinaram que somos – de qualquer maneira – o pior inimigo? Em que ponto alguns perceberão que o outro lado não está disposto a visitar nenhuma lógica e está determinado a nos esmagar pelo poder político?

O curioso é que as elites esquerdistas brancas explicam muito sobre menosprezo. Ao focar em xingamentos e no suposto racismo das classes trabalhadoras e de movimentos populares democráticos e patrióticos que rejeitam as ideias dessas bolhas hedonistas disfarçadas de tolerantes, eles pensam que encontram isenção para suas próprias vidas segregacionistas. O tal “ódio da classe média” da boca de Marilena Chauí, companheira do ex-presidiário, nunca foi tão visceral para todos eles.

O 7 de Setembro mostrou – e imprimiu nas páginas da história – imagens que incomodarão os incautos por muito tempo. Mas, além disso, o 7 de Setembro levantou espelhos para que aqueles que têm ódio do Brasil e de sua gente pudessem ver e expor a real imagem de uma hipocrisia.

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PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

O SOL QUE CANTA – Olegário Mariano

Quando a cigarra canta é o sol que canta.
Por isso o canto dela acorda cedo
E vai rolando com veemência tanta
Que enche as grotas, os campos e o arvoredo.

Desce aos vales, penetra na garganta
Da serra e acorda a pedra do rochedo.
Parece que da terra se levanta
Um punhado de pássaros com medo.

Em chispas de ouro e vibrações estranhas
Vibram clarins nas notas derramadas …
Estilhaçam-se taças nas montanhas …

E o sol, seguindo o canto que se alteia,
Deita fogo na poeira das estradas
E põe pingos de luz nos grãos de areia.

Olegário Mariano Carneiro da Cunha, Recife-PE, (1889-1958)

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

ASTÚCIAS DE POLÍTICOS

Dr. Benedito Valladares

Sempre acompanhei meu pai nas tendências de apoio aos políticos, mas apenas votando neles, desde que atingi a idade própria. Jamais me afiliei embora tivesse desejado, porque meus preferidos locais foram Marco Maciel, Roberto Magalhães, Gustavo Krause, Joaquim Francisco e Fernando Skaff. Há saudades desses líderes quando em suas plenas atividades! A honestidade deles valia minha admiração.

Meu velho havia sido Integralista, portanto, partidário de respeitável homem público que já aparecia em relevo na década 1920, cujos livros: Obras Completas de Plínio Salgado, hoje guardo com certo respeito, porque foi jornalista, teólogo, filósofo, escritor e político, fundador do Partido Republicano Paulista. Um homem preparado para outros tempos.

INTEGRALISTA: CAMISA QUEIMADA

Plínio Salgado com sua camisa-símbolo

Diante de perseguições ao partido, aconselhado a mudar de sigla, lembro-me que meu velho queimou, no quintal de casa, sua indumentária – uma camisa verde, dragonada e uma gravata preta – símbolo da agremiação partidária do famoso Integralista.

Fora uma astúcia para não sofrer vexames.

Tornou-se apreciador da UDN – União Democrática Nacional, depois que conheceu um primo que residia no Paraná, que era Senador e Presidente da UDN..

Estávamos em pleno reboliço da “Era Vargas”, período do chamado “Estado Novo”, uma ditadura feroz.

O fato para mim foi estranho. E marcante para uma criança vendo o pai queimar algumas roupas. Só vim a entender quando cresci e me inteirei dos episódios históricos ligados à década de 1940.

O velho Arthur Lins dos Santos, como meu avô, Pacífico dos Santos, sempre desejou que eu compreendesse o que significava a política para o progresso de um país e benefício das pessoas.

Mas a política limpa, como diria Fernando Ferrari, o saudoso deputado que ficou famoso por sua Campanha iniciada pela afirmação: Sou um político de mãos limpas!

Assim, travei conhecimento com as peripécias dos donos do Poder, convivendo com suas histórias e peripécias de ontem e de hoje. Fazendo comparações e entristecendo-me de vergonha, por eles. Algumas lamentáveis por sua brutalidade e outras bem pitorescas.

ARTHUR SANTOS: ASTÚCIA DE ELEITOR

Lembro-me perfeitamente que num domingo ensolarado, – eu com 10 anos – fomos ao Aeroporto dos Guararapes, no Recife, receber Carlos Lacerda (Carlos Wernek de Lacerda), e saudá-lo.

Entendíamos que logo estaríamos abraçando um dos políticos mais ativos daquele momento. E papai praticava, no gesto, a sua astúcia: divulgar depois que conhecera de perto o visitante ilustre e isto era trunfo para comentários com nossos vizinhos.

Já se apresentava à História como editorialista muito ativo – dono do jornal Tribuna da Imprensa – figura que ainda não exercera nenhum cargo político, mas estava começando a se projetar e por isso, percorrendo o Brasil.

Jornalista Carlos Lacerda

Chegou de camisa slack colorida, que era novidade por aqui, onde se andava com a indumentária que se apelidara “esportivo de velho”, ou seja: paletó sem gravata, como papai usava em dias informais.

Foi a primeira astúcia de Lacerda. Ou melhor dizendo, uma estratégia – para se integrar à gente do Nordeste, lugar de tempo quente. Chegou em traje de verão, todo colorido, bem à vontade para confabular com os correligionários.

Recebi dele um afago. Passou a mão pelos meus cabelos, beijando-me a face carinhosamente. Papai se apresentou como udenista, portanto seu partidário. Nas primeiras palavras disse ser primo de Arthur Bravo Ferreira dos Santos, então Senador e presidente da UDN. Sorrisos largos!

Empolgado com essas primeiras lembranças, tornei-me udenista “sem carteirinha” e lacerdista pela inclinação de desejar ser um jornalista como ele. Serviu-me de padrão no estilo de escrever reportagens.

“BRIGADEIROS” DE GOELA ABAIXO

Depois desse acontecimento, fui crescendo atento às notícias. Ouvi belas histórias sobre outro político importante, o Major-brigadeiro Eduardo Gomes, que concorreu à Presidência da República, mas perdeu para o General Eurico Gaspar Dutra.

Com a subida de Getúlio Vargas (Getúlio Dornelles Vargas) ao Poder, Eduardo Gomes empenhou-se na criação do Correio Aéreo Militar, que viria a se tornar o Correio Aéreo Nacional. Em 1935, comandou o 1º Regimento de Aviação contra o levante conhecido como “Intentona Comunista”. Em 1937, com a decretação do “Estado Novo” exonerou-se do comando, continuando entretanto na carreira militar.

Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, foi promovido a brigadeiro, sendo um dos mais ativos membros da organização e construção das Bases Aéreas que iriam desempenhar importante papel no esforço de guerra do Brasil, com os Países Aliados, na Segunda Guerra Mundial.

Vamos às astúcias políticas:

OS DOCINHOS “BRIGADEIRO”

Na primeira Campanha do Brigadeiro, em dezembro de 1945, ele formou em torno de si a UDN – União Democrática Nacional. Para angariar fundos as senhoras – que na época se sabia eram fascinadas pelo tipo esbelto e sério do Brigadeiro – moças jovens e também as esposas dos partidários, passaram a fabricar, em casa, docinhos deliciosos para serem vendidos e levantar grana para atender às despesas.

Docinhos Brigadeiro: produto antigo

A receita é simples: leite condensado, chocolate granulado e manteiga. O fato é que o brigadeiro se tornou insubstituível ainda nas atuais festinhas infantis, por serem as delícias da meninada.

Uma astúcia feminina curtida na antiga política.

“Santinho” do Brigadeiro Eduardo Gomes

Mas meu pai, entusiasta ferrenho do Brigadeiro Eduardo Gomes contava outra cena protagonizada pelo notável militar, que infelizmente não tive a honra de conhecer de perto, mas vivi seu tempo de Campanha e distribuí muitos “santinhos”.

CHEVROLET INCORPORADO

Chevrolet de presente

No mês anterior à eleição de 1945 um grupo de entusiastas adquiriu um automóvel Chevrolet, novo, importado, e deu de presente ao Brigadeiro, inclusive já emplacado no Detran de Pernambuco em seu nome.

Sabendo que tal “presente” além, de impróprio para sua a natureza, poderia repercutir mal, abalando seu estilo de honestidade, mandou pintar o veículo e o incorporou ao patrimônio da Aeronáutica, obtendo u’a manchete favorável:

Jornal do Commercio: “Brigadeiro manda pintar Chevrolet e o presenteia ao II COMAR”. (Comando Aéreo Nacional, sediado no Recife).

Outra significativa astúcia de político!

Eduardo Gomes foi um dos líderes da campanha pelo afastamento de Getúlio Vargas após o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro, em agosto de 1954. Com o suicídio de Getúlio Vargas, assumiu o ministério da Aeronáutica no governo de Café Filho até 1955.

O JIPE QUE “SE ATOLOU-SE”

Entretanto, nestas breves notas curiosas, porém históricas, creio que a mais genial partiu de uma cena tipicamente mineira.

Nunca estive perto do Dr. Benedito Valladares Ribeiro. Porém, pela cidade que recebeu seu nome – Governador Valladares, MG –passei de automóvel, rodando pela BR-4, muitas vezes e só agora descobri que o homenageado era aquele político de quem meu pai sempre falava, por suas astúcias para se desvencilhar de situações complicadas.

Jornalista e escritor famoso, conciliador por excelência, Benedito Valladares se tornou ícone do apaziguamento de brigas homéricas nas hostes nacionais, saindo-se sempre vencedor nas contendas, graças à sua mineirice tancrediana..

Certa feita, chovia muito na estrada sem asfalto, porta de entrada para se chegar a Pará de Minas, sua terra de nascença. Um jipe atolado e dois jovens brigando feio, ambos muito sujos de lama. Dr. Benedito manda o chofer parar para cientificar-se da ocorrência.

Indagados, um dos moços informou que brigavam por causa de um “se”. Um dizia que o jipe “se atolou” o outro bradava que o carro atolou-“se”.

O político, ladino como ninguém, foi ver a situação mais de perto. Observou de perto as rodas e notou que ambos os eixos estavam atolados.

Perguntou qual era o partido dos dois e ambos disseram que eram apreciadores do PSD, o mesmo do antigo mineiro que ali estava para acabar com a briga. E logo veio a solução conciliatória:

– Ora, meus jovens, se estão arroladas as rodas da frente e as rodas traz eiras, então o jipe “se atolou-se”! Fim de briga! Jogada genial!

Rua da cidade de Governador Valladares

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AUGUSTO NUNES

ROSA TAMBÉM ACHA QUE SÓ A DITADURA SALVA A DEMOCRACIA

No fim da tarde de 23 de setembro de 1985, José Sarney resolveu passear por Nova York a bordo de uma limusine branca. Tal requinte, muito apreciado por casais de Michigan em lua de mel na cidade grande, foi um fecho perfeito para o dia mais glorioso da longa vida desfrutada pelo dono da capitania do Maranhão que, no ano anterior, tinha virado presidente da República. De manhã, ele chegara para discursar na abertura da assembleia geral da Organização das Nações Unidas escoltado por uma comitiva de bom tamanho. Quando empunhou o microfone, os compatriotas já ocupavam a fila do gargarejo do plenário repleto de assentos vazios.

No meio do falatório soporífero, resolveu apresentar ao mundo o poeta maranhense Bandeira Tribuzzi. Nem mesmo o bando de brasileiros ouvira qualquer menção ao bardo que conviveu com Sarney durante a juventude em São Luís. A procissão de platitudes recomeçou depois dos versos. Ansioso, o deputado mineiro Milton Reis enxergou na primeira vírgula a senha para soltar o grito de guerra que animava os comícios de antigamente: “Apoiado!”. As cenas de primitivismo explícito confirmaram a frase em que Millôr Fernandes condensou o sentimento nacional decorrente da descoberta dolorosa: o país que dormiu com Tancredo Neves pronto para subir a rampa do Planalto acordou com o vice no gabinete presidencial: “Sarney foi o túnel no fim da luz”.

Neste 12 de setembro, a cerimônia de posse da nova presidente do Supremo Tribunal Federal avisou que Rosa Weber é uma espécie de Sarney em forma de mulher, de toga, com sotaque gaúcho e a expressão atarantada de quem ainda não sabe direito o que faz por lá. Terminada a discurseira, enfeitada por bravatas de vereador de grotão em campanha eleitoral, ficou claro que a ministra nomeada por Dilma Rousseff é o prolongamento de um túnel que começou a ser construído em 2013, com o fim do julgamento do escândalo do Mensalão, e parece condenado a não rever a luz.

“Que não se cogite descumprir ordem judicial”, caprichou na bravata a sucessora de Luiz Fux. A salva de palmas revelou que os devotos do ativismo judicial (ou da judicialização da política) encontraram no aplauso unânime o sinônimo sonoro do “apoiado!” berrado na ONU pelo deputado mineiro que admirava Sarney. A festa oferecida a Rosa teve menos pompas e fitas que as exibidas na chegada de Alexandre de Moraes ao comando do Tribunal Superior Eleitoral. Da mesma forma que o atual, nenhum ex-presidente da República deu as caras por lá. Nenhuma surpresa. Aos 73 anos, Rosa ficará no cargo só até outubro de 2023. Até aposentar-se, será obediente à maluquice segundo a qual existe uma única forma de impedir que a democracia seja assassinada por Jair Bolsonaro: tratar a pontapés a Constituição e mutilar a machadadas o Estado de Direito.

Desde o parto do inquérito das fake news, vulgo inquérito do fim do mundo, abjeções que deixariam ruborizado o pior advogado da Coreia do Norte ganharam o status de “medidas necessárias à preservação de instituições ameaçadas por atos antidemocráticos”. Monitorada pelo decano Gilmar Mendes, a tropa que controla o Poder Judiciário é fortalecida por snipers do calibre de Luís Roberto Barroso (“Eleição não se vence, se toma”), Ricardo Lewandowski (“Se Dilma perder os direitos políticos com o impeachment, não conseguirá emprego nem como merendeira”), Edson Fachin (que proíbe a polícia de enfrentar bandidos e desarma os brasileiros honestos enquanto combate hackers homiziados na Macedônia do Norte) ou Luiz Fux “(Mexeu com um ministro, mexeu com todos”).

É compreensível que um tribunal dominado por tamanhas sumidades tenha escalado Alexandre de Moraes para desempenhar simultaneamente, num único inquérito, os papéis de vítima indignada, delegado de polícia à beira de um ataque de nervos, acusador que não perdoa sequer bebê de colo e magistrado que julga tudo a favor de si mesmo – até recursos que contestam medidas sem pé nem cabeça. O inquérito infame já consumiu milhares de páginas, cujo conteúdo permanece em sigilo. Assim, os alvos do carrasco não sabem sequer do que são acusados. Mesmo depois de assumir a chefia do Tribunal Superior Eleitoral, o impetuoso artilheiro segue agindo em duas frentes.

Num mesmo dia, por exemplo, enquanto o Moraes da eleição tentava sepultar a candidatura ao Senado do deputado federal Daniel Silveira, o Moraes das fake news mandou às favas os sólidos argumentos apresentados pela Procuradoria-Geral da República para que sejam respeitados os direitos constitucionais de oito empresários suspeitos de terem inventado outra brasileirice de hospício: o golpe de Estado via WhatsApp, urdido e consumado com desabafos eletrônicos. Baseado numa reportagem, Moraes determinou o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa dos cidadão que ousam apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro. Também ordenou o bloqueio de contas bancárias e sociais dos “investigados pela Corte”.

A decisão de Moraes trucidou dois textos legais. Confiram o que dizem:

Artigo 129 da Constituição: Compete ao MPF promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

Parágrafo II do artigo 282 do Código de Processo Penal: “As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público”.

“Pessoas sem foro privilegiado perante o STF têm de ser investigadas e processadas na primeira instância”, explica a procuradora Thaméa Danelon. “Alguém que não tem foro no STF poderá ser processado na Corte apenas se for comprovado o envolvimento em crime cometido por um indivíduo com foro.” Thaméa lembra que o artigo 102 da Constituição especifica que têm direito a foro privilegiado o presidente e o vice-presidente da República, parlamentares, ministros de Estado, integrantes do Ministério Público Federal, ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça. Empresários não figuram na lista. Mais: a Procuradoria-Geral da República só foi notificada sobre o que aconteceria depois de Moraes ter ordenado a operação. Ministro que age assim não tem notável saber jurídico (se tem, faz de conta que esqueceu). Tampouco parece interessado em preservar a reputação ilibada, sem a qual ninguém pode jogar no Timão da Toga. São esses os dois requisitos exigidos pela Constituição. Quem não os preenche é um ministro inconstitucional.

Como a epidemia de truculências ilegais parece altamente contagiosa, vai se tornando mais extensa que muita motociata liderada por Bolsonaro. Neste fim de inverno, por exemplo, a juíza Marisa Gatelli, em ação numa comarca gaúcha a 90 quilômetros de Porto Alegre, ordenou a remoção de um outdoor com a inscrição DEUS PÁTRIA FAMÍLIA LIBERDADE. Marisa entendeu que a junção das quatro palavras “está ligada ao facismo”. (Assim mesmo: facismo, sem o s entre o a e o c.) O nome da cidade é Vale Real. A cabeça baldia da doutora não vale um tostão.

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