ALEXANDRE GARCIA

ELEITOR BRASILEIRO FOI ÀS URNAS AMORDAÇADO

Eleições municipais 2024

Ontem fomos para uma eleição sem comprovante de voto. A gente é fraquinho, né? Está escrito na Constituição que todo o poder emana do povo, só que não. A gente vai continuar na dúvida sobre os resultados eleitorais, porque se houver dúvida não tem como comprovar. Na Venezuela tem. Todo mundo ficou sabendo que o Maduro perdeu porque ele se esqueceu de cortar a apuração antes. Só cortou quando a apuração já chegava 83,5% dos votos e ele estava perdendo, o adversário tinha mais de 60% dos votos e todo mundo ficou sabendo. Aqui não.

Outra coisa, fomos para a eleição censurados. Mais de 21 milhões de brasileiros, quase 22 milhões, que usam o X para expressar as suas ideias, as suas opiniões, foram censurados. É ruim que a gente vá para uma eleição de mordaça na boca. Inclusive, durante a semana, o X acabou cumprindo todas as exigências, pagou multa, R$ 28 milhões, eu acho, um dinheirão.

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Bloqueio ao X

Enfim, foi mais de 20 milhões, pagou tudo, e aí a alegação foi “não, pagou errado”. Gente, devia ter pago no Banco do Brasil, pagou na Caixa Econômica, é a mesma coisa, as dois são instituições financeiras estatais do governo federal e os dois têm depósitos judiciais. Foi feito o depósito judicial, mas essa desculpa foi para empurrar a decisão, para não abrir o X antes da eleição, para calar a boca, porque todo mundo sabe que a direita é mais forte, é mais ágil, é mais dinâmica, se aprofunda mais no uso das redes sociais que a esquerda. Então se fez isso para fazer uma restrição, uma censura. É lamentável que isso tenha acontecido.

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Venda de sentenças

Mudando de assunto, me chamou a atenção, saiu na Veja, saiu em vários jornais, o que foi descoberto depois que mataram um advogado em Mato Grosso. Um advogado chamado Roberto Zampieri. Deram 12 tiros nele. E aí sobrou o celular dele. E lá pelas tantas a polícia resolveu dar uma olhada no celular. Meu Deus do céu! Tem uns quatro anos de mensagens, de venda de sentenças. Compre e venda, claro. Mercado de sentenças, leilão de sentenças, bolsa de sentenças, Câmara de Compensação de Sentenças, horrível. Já foram afastados em consequência disso dois desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho. Dois filhos que não estão honrando os pais pelo jeito. Foram afastados pelo Conselho Nacional de Justiça. Mas também está pegando lá no Superior Tribunal de Justiça, que é um tribunal superior lá de Brasília. Está o nome de quatro desembargadores. Vendiam as minutas de sentença: “Você quer comprar essa?”, aí depois sai a sentença igual. O sujeito escolhe, paga, digamos, R$ 50 mil, depois sai a sentença ou despacho igualzinha à minuta que foi vendida. Esse Zampieri que foi morto resolvia coisas em causa própria ou funcionava como intermediário e lobista. Só para lembrar, casos semelhantes já foram encontrados em Tocantins, São Paulo, Bahia e sabe lá em quantos outros lugares isso está acontecendo.

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União na Amazônia

Produtores rurais da Amazônia, principalmente do Pará, do Sul do Pará estão se unindo para defender os seus objetivos. Essa gente ocupa o Brasil. O Brasil garante a sua soberania graças aos brasileiros que põem o pé sobre o território, que plantam. No caso, é gente que plantava cacau, café, que criava gado e que foram escorraçados de lá. Porque depois que eles foram instalados pelo Incra, inventaram reservas indígenas e eles foram escorraçados.

Já são 600 pessoas em torno disso unidos para defender seus direitos. Depois a história vai reconhecê-los como responsáveis pela soberania nacional. Tal como a história reconhece os bandeirantes, os criadores de gado, os garimpeiros, dos templos de Brasil Colônia que avançaram além da linha do Tratado de Tordesilhas.

XICO COM X, BIZERRA COM I

MEUS FRANCISCOS

A todos chamo Chico,
os santinhos do meu altar.
Está sempre ao lado de um bichinho:
cachorro, gato ou carneiro.
Em seu terreiro,
um passarinho, sempre
(acho que ele gostava de música) …

Assim são meus Santos.
Uns de barro, ou de madeira,
até de papel machê,
alguns pintados, na parede pendurados,
e outros mais nem sei do quê …
Mas todos meio carecas
e de roupa marrom que,
não sei a razão, atrai o canto dos pássaros
(acho que ele gostava de música, sim!) …

Tem uns que dormem, preguiçosos.
outros, de seus ofícios ciosos,
mas nunca sós,
cuidando dos bichos e de nós …

Dizem que viveu em Assis. Sei lá!
Não me importa de onde veio,
Se da Italia, ou de Canindé,
Nos cafundós do Ceará.
Basta-me sua proteção,
tê-lo aqui junto de mim.
Qualquer que seja seu canto
será meu Francisco santo …

São todos Xicos, como eu …
É o Santo que me acode
Quando a vida ‘dá um bode’ …
(A propósito, nenhum tenho ao lado de um bode.
Acho que ele gostava mais
do cantar dos Passarinhos que do berrar dos bodes.
Não fosse o meu Santo tão Santo
ia pensar que ele é preconceituoso).

COMENTÁRIO DO LEITOR

MALANDRAGEM BOTOCUDA

Comentário sobre a postagem CONCURSO PÚBLIO COM PRAZO DE VALIDADE

Roque Nunes:

Amigo Assuero, bom dia.

Você que é entendido em dinheiros, numerários, contas e despesas há de concordar comigo.

Se eu for votar, entre a ida e a volta vou gastar em torno de sete reais em combustível. Se eu deixar de votar vou pagar R$ 3,50 de multa ao TRE.

Por essa lógica, sai mais barato deixar de votar e não chancelar essa pouca vergonha de malandros, vagabundos e espertalhões que financiamos com nossos impostos para mentir, fazer propaganda enganosa e nos humilhar durante a propaganda eleitoral em rádio e televisão.

O ruim dessa lógica é que a nossa malandra lei eleitoral amarra os resultados das eleições aos votos válidos, ou seja, aqueles em que o otário pagador de imposto expressa a sua opinião valida, excluindo os votos em branco, nulo e as abstenções.

Mesmo assim ainda estou ponderando, neste seis de outubro se vou ou não chancelar essa malandragem botocuda em que somos obrigados a dizer, a cada dois anos, quais os salafrários que vão nos roubar e nos espoliar, tudo em nome de uma suposta democracia igualitária que termina, tão logo as malandras urnas eletrônicas deixam de computar o voto.

DEU NO JORNAL

NÁUSEA, INDIFERENÇA E REPÚDIO: AS ELEIÇÕES DE SÃO PAULO

Roberto Motta

TV Globo promove último debate em São Paulo.

TV Globo promove último debate em São Paulo

As eleições municipais de São Paulo prometem deixar uma marca na política brasileira, independente de seu resultado. Não se trata de um julgamento do valor ou do caráter de nenhum dos participantes. Não me proponho a isso. Mas é evidente que o mundo mudou, as pessoas mudaram e a tecnologia avançou de forma assombrosa, enquanto a política brasileira continua na década de 1980 – principalmente a política praticada pelos partidos de esquerda.

Na teoria, a principal característica do sistema democrático é a livre escolha, pelo cidadão, de quem serão seus governantes. Mas, na prática, no Brasil essa escolha é condicionada ao cumprimento de uma lista enorme de leis, regras e regulamentações que circunscrevem, restringem e dificultam a escolha do eleitor.

Você não vota na pessoa que você considera a mais preparada para governar a cidade. Na verdade, você faz sua escolha a partir de uma lista de candidatos que foi previamente montada por outras pessoas. Para fazer parte desse cardápio de candidatos, o indivíduo precisa vencer uma série de barreiras: ele precisa se filiar a um partido, precisa ter a sua candidatura aprovada pelos caciques partidários, lutar para conseguir um pedaço das verbas para sua campanha e implorar desesperadamente por alguns segundos da propaganda eleitoral. Ao mesmo tempo, precisa contratar um advogado e um contador para minimizar o risco de descumprir algumas das milhares de regras que regem uma campanha. Esse risco está longe de ser zero. Há vários casos de políticos que vencem eleições, tomam posse e, anos depois, têm seu mandato cassado por ter descumprido alguma regra, muitas vezes um dispositivo obscuro cuja interpretação está sujeita ao humor do momento.

Tudo isso faz com que o cardápio eleitoral oferecido ao eleitor seja, quase sempre, uma repetição dos mesmos nomes. São, em sua maioria, profissionais da política, cuja biografia se resume a flutuar de um cargo público para outro, de um partido para outro, de uma ideia tola para outra, sem qualquer compromisso com nada, a não ser com a satisfação de suas próprias necessidades.

Um exemplo perfeito: há anos o Rio de Janeiro sofre com certo político da esquerda radical. Ele já foi deputado estadual e federal, e hoje está confortavelmente encastelado na presidência de uma estatal federal irrelevante. Na sua trajetória radical ele sempre foi defensor ardoroso da legalização das drogas (chegou até a sugerir que existiria uma “dose segura de crack”) e crítico implacável da polícia e do sistema de justiça criminal (há um vídeo em que ele pergunta “prender para quê?” e afirma que “prisão não serve pra nada”). Não faz muito tempo, ele decidiu se candidatar ao governo do estado. Na época, eu fiz uma previsão: antes que a campanha acabe, ele vai renegar a pauta das drogas, irá à missa e vestirá uma farda da Polícia Militar.

Das três previsões que fiz, errei apenas uma.

A mesma coisa se repete agora nas eleições em São Paulo.

Tratar o eleitor como idiota é a regra, não a exceção. Candidatos nas eleições de São Paulo ou qualquer outra cidade, representam personagens caricatos, que caberiam bem em um programa de humor. Troque o discurso de um candidato pelo discurso de outro e ninguém notará a diferença: é o mesmo desfile de sandices, frases feitas e mentiras compradas a peso de ouro dos mesmos marqueteiros. Compradas com nosso dinheiro.

O eleitor reage a isso com náusea, repúdio e, principalmente, indiferença. Se o voto não fosse obrigatório meu palpite é que menos de 40% dos eleitores se dariam ao trabalho de votar. O impacto disso seria enorme em todos aqueles que ganham muito bem a vida organizando e participando de eleições. Por isso o voto permanece obrigatório e se gasta cada vez mais dinheiro para convencer o eleitor de que o seu voto faz a diferença. O eleitor não tem muita certeza disso.

A única forma de protesto que resta ao eleitor é escolher um candidato – qualquer candidato – que lhe pareça uma alternativa a esse sistema perdulário, debochado e parasita. Isso ocorrerá com frequência cada vez maior, a despeito dos protestos dos iluminados e dos “editores” do Brasil.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

XICO BIZERRA – JABOATÃO DOS GUARARAPES-PE

Meu Herói da Camisa 1

Para Bernardo Bezerra, Goleiro sub-11 do PSG Academy do Recife

Eu já era feliz em 2013. Fiquei mais ainda em 7 de outubro daquele ano quando Bernardo chegou. Hoje, depois que ele resolveu defender o gol, passei a olhar com outros olhos a triste função do golkeeper, como se dizia no tempo em que os padres diziam ‘Dominus Vobiscum’. Certo estava o Poeta Belchior, quando comparou a angústia ao sentimento do goleiro na hora do gol. Eu, como avô, vou além: fico muito mais que angustiado, fico aflito na hora em que se desenha um perigo contra a meta defendida por Bê. Ali, sob a barra, se desenvolve o trabalho sofrido de um arqueiro no futebol.

Esse ser de trabalho solitário e único, como definiu Albert Camus, é um espetáculo à parte, como o maestro de uma orquestra, o primeiro bailarino de uma companhia. Ser goleiro é ser diferente. Para compensar a sozinhez da função, veste uniforme diferente, usa luvas e, quando quer, joelheiras e calças compridas. Em sua solitude trabalha contra tudo que o povo quer ver no jogo: o gol. Mas o certo é que ninguém ama mais a bola que ele: enquanto todos a chutam, apenas a ele é concedido o direito de pegá-la com as mãos, de abraçá-la. Talvez por isso estampe o número 1 às costas.

Na torcida, vou tentando curar minha aflição na hora em que o time adversário ameaça a baliza de Bernardo. Corajoso e tecnicamente muito bom, como é, espero que ele sempre escape de uma bolada na caixa dos peitos, de um pênalti contra si ou leve um gol que, aos olhos do torcedor exigente, seja defensável. Faz parte. E que em sua vida futura, continue andando na linha e trocando os pés pelas mãos apenas quando estiver sob as traves de um campo de futebol. Pelo que conheço dele, assim será! Enquanto isso, Dominus Vobiscum, Bê! Feliz aniversário!

PENINHA - DICA MUSICAL