PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

QUATRO MESTRES DO IMPROVISO E UM FOLHETO

Pedro Malta, pesquisador da cultura popular nordestina

De um lado a dor e a fome
Percorrendo na artéria.
Um guri sem sobrenome,
No apogeu da miséria.
Do outro lado, os verdugos,
Tratando como refugos
Quem vive na letargia…
É triste ver meu pais
Gratificando juiz
Com auxilio moradia.

Hélio Crisanto

O Nordeste tem sido a grande escola
Dos maiores poetas cantadores
Sustentáculos e eternos defensores
Da origem maior que nos consola
Inspirados no ritmo da viola
Nos acordes de arame na madeira
Cantam de improviso a vida inteira
E o que cantam somente Deus ensina
Venham ver a viola nordestina
Defendendo a cultura brasileira.

Sebastião da Silva

Eu não estava dormindo
Apenas dei um cochilo
Sonhei que estava pescando
Nas águas do rio Nilo
Pescando cada traíra
Que a cabeça dava um quilo.

Zé Bernardino do Pajeú

Doutor de cara fechada
Sem conhecer o caminho
Pergunta pra um garotinho
Descalço, roupa rasgada
Me responda se esta estrada
É a que vai pra Orós?
Raciocínio veloz
Diz a criança ao doutor
Num sei não, mas se ela for
Vai fazer falta pra nós.

Geraldo Amâncio

* * *

UM FOLHETO DE MANOEL MONTEIRO

LEANDRO GOMES O REI DO CORDEL

Leandro Gomes de Barros
Nosso amado menestrel
Que em vez de alaúde
Usou caneta e papel,
Tipo, tinta, impressora
Na construção precursora
Do folheto, ou do cordel.

– O cordel, este livrinho,
Escrito em versos rimados
Obedecendo um “tamanho”
Porque são metrificados
Conforme o que se comenta,
Da forma que se apresenta,
Teve aqui os seus primados.

– Trinta e cinco anos antes
De chegar mil novecentos,
Em Pombal, nasceu Leandro
Um dos maiores talentos
Que a poesia já deu,
Diz-se que ele escreveu
De cordéis, mais de quinhentos.

Leandro é da velha cepa,
De Inácio da Catingueira
De Romano da Mãe D’Água
Dos poetas do Teixeira,
De cangaceiro e polícia
Dos quais se deu a notícia
Pelos folhetos de feira.

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VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

A INTRIGA

Violante Pimentel

Bartolomeu passou muito tempo no Rio de Janeiro e, já beirando os 60 anos, voltou para sua terra natal, no interior do Rio Grande do Norte. Boêmio e seresteiro, reencontrou vários amigos da sua juventude e os encontros em mesa de bar tornaram-se diários. Voltou do Rio de Janeiro, chiando e com uma boa economia financeira, fruto do seu trabalho em um Jornal. Veio disposto a viver a vida com que sempre sonhou: “Sombra e água fresca”. Queria, agora, somente tomar suas cervejas, conversar com os amigos e curtir serestas, onde ele mesmo era o melhor violonista e cantor.

Divorciado, preferiu permanecer sozinho, sem qualquer relacionamento sério. Bom de copo e de conversa, os amigos sempre aguardavam, com ansiedade, a sua chegada.

Certo dia, Bartolomeu sentiu um incômodo no pescoço e, muito assombrado com doença, foi depressa à casa do Dr. Simplício, um médico antigo da cidade, que há anos estava aposentado. O Dr Simplício, disse-lhe que não estava mais clinicando, mas, por delicadeza, apalpou o pescoço de Bartolomeu, constatando alguns gânglios. Contundente, o médico sugeriu, então, que ele fizesse uma consulta com um médico moderno, na capital do Estado. Podia não ser nada e podia ser muita coisa. Por isso, era melhor prevenir do que remediar.

Bartolomeu ficou decepcionado com o Dr. Simplício e considerou uma grosseria o fato dele ter se recusado a lhe receitar qualquer remédio. E falou:

– O que é isso, Dr. Simplício? Um médico bom, como o senhor sempre foi, não esquece nunca o que aprendeu no exercício da sua profissão. Não está vendo que eu não vou sair daqui para me consultar a um médico novo, que ainda não tem a sua experiência?

Bartolomeu reclamou tanto que o médico saiu do sério. e falou aborrecido:

– Olha Bartolomeu, para mim é difícil dar um diagnóstico sem os exames que se fazem necessários. Por isso, eu insisto com você, para que vá a um médico em Natal, especialista em pescoço.

Bartolomeu não concordou com a sugestão do Dr. Simplício e disse que não iria a nenhum outro médico, muito menos em Natal. Já tinha passado muito tempo longe de sua terra e de seu familiares, e não se afastaria mais dali por motivo nenhum.

Nessas alturas, o nervosismo tomou conta de Bartolomeu e ele perguntou ao médico:

– Se for câncer, quanto tempo terei de vida, doutor? Pode dizer, pois não tenho medo de morrer!!!

Já irritado com a insistência de Bartolomeu, o médico sentenciou:

– Se for câncer, no máximo, seis meses.

Bartolomeu saiu arrasado da casa do Dr. Simplício. Não foi a nenhum centro adiantado para se consultar e continuou no interior, com a sua vida normal, de boemia e boas conversas com os amigos. Passou a usar no pescoço, todos os unguentos caseiros que lhe arranjavam, e aos poucos seu pescoço normalizou.

Quase um ano depois, Bartolomeu, completamente em forma, resolveu voltar à casa do Dr. Simplício, que lhe sentenciara, se fosse câncer, “no máximo, seis meses de vida”. Lógico, que não era câncer. Sorte de Bartolomeu.

O velho médico costumava passar as tardes na janela de sua casa, olhando o movimento da rua. Quando Bartolomeu vinha se aproximando, Dr. Simplício o reconheceu, saiu da janela e a fechou bruscamente. Humilhado, Bartolomeu foi ao encontro dos amigos que o esperavam no bar e contou a decepção por que tinha passado. Literalmente, o médico batera a janela na sua cara.
Um dos amigos saiu-se com essa tirada:

– Não se engane não, Bartolomeu. Esse Dr. Simplício ficou intrigado com você, somente porque você não morreu!!!

PENINHA - DICA MUSICAL

SATISFACTION

Dica musical do Peninha

A composição de Mick Jagger e Keith Richards foi o primeiro grande sucesso dos Rolling Stones em 1965.