ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

COMO NOSSO LAR

Judy Garland, no filme “O Mágico de Oz”, disse uma célebre frase: “… não há nada melhor como nosso lar”! De fato, a moça tinha razão, principalmente quando o assunto é cagatório, o lar é o melhor lugar do mundo, quando a pessoa sente a hiena mordiscando as pregas do bufante.

Esteja onde você estiver, a hora que for, nos momentos mais tristes, ou felizes da vida, quando se sente aquele arrepio que sai da nuca, desce pela carcunda e chega na pontinha do osso do mucumbu, pode ir se despedindo. Nada, mas, nada vai fazer com que você consiga dar uma chapiscada na louça, se não for no recesso do lar.

A pessoa está na casa de um amigo, compadre, ou até mesmo de um irmão, irmã. Sente aquele bululu nas tripas, um remelexo das verminas e uma piscadela rápida do olho de Thundera. Batata! É sinal de bater em retirada. Você pode até pedir licença para a pessoa e ir usar o banheiro dela. Nada. Sabe aquele momento em que você faz cara feia para o nada? Pois é. Assim mesmo. Solta umas bufas bem fininhas, quase em pianíssimo, sua igual a cavalo quarto de milha depois de uma corrida, o rosto fica parecendo um pimentão e…. nada.

Nessas horas parece que o toroço cria uma relação de paixão misturada com super cola. Não sai de jeito nenhum. Afora a vergonha de soltar uma bufa mais alta e todo mundo que está na sala ouvir. Ao sair do banheiro, mais sem jeito que cachorro arteiro, ainda ficar pensando se os amigos não caíram na gargalhada às suas custas.

Ou, quem nunca, estando em um bar, vê o amigo dar aquela emborcada no copo de cerveja e dizer, de forma altaneira… vou pra casa cagar e já volto! Sai e deixa os demais meio que apalermados e, depois de uma meia hora volta, senta, pede outra gelada e continua a conversar como se nada tivesse acontecido.

Todas as vezes é a mesma coisa, estando em um local que não seja o lar, quando a ariranha começa a arranhar as bordas da olhota, não tem jeito, o indivíduo tem que correr para casa, sentindo as picadas do marimbondo já na saída da colmeia. Aí se trava uma luta quase titânica entre a máquina de picotar churros e o trem de carga já apitando na curva da estrada, avisando que está chegando na estação. É a hora dos calafrios, do suar até mesmo em dias com temperatura abaixo de zero.

Um ato tão natural quanto respirar, mas que damos a maior importância, a ponto de só nos sentirmos bem se estivermos chapiscando nossa própria porcelana. Na dos outros, é quase impossível. Uma tarefa que até Rambo pensa duas vezes antes de aceitar. Acredito que essa hora seja um momento de epifania de você com você mesmo. Alguns usam esse momento, enquanto o caminhão betoneira está trabalhando, para pensar em grandes temas da humanidade.

Outros, trazem à lembrança momentos do dia, a briga com a mulher, ou marido, o desentendimento no serviço, o estresse do trânsito. O ato de desfazer aquele prato, muitas vezes preparado por um “chef” de renome, torna-se um momento catártico, sublime, como se a pessoa estivesse adentrando os portões do paraíso. Mas isso só ocorre em casa. Na dos outros é descer ao sétimo círculo do inferno dantesco. Se for no do trabalho, aí então pode esquecer…. nem com lavagem de mangueira de bombeiro você consegue exorcizar o espirito maligno que gruta em sua essência.

Ato primitivo. Qualquer ser vivo o faz, principalmente os animais. Os irracionais o fazem em qualquer lugar, à hora que bem entendem, na frente de qualquer um. Aliás, é bem conhecida a história do bugio que, quando está irritado, caga na mão e joga em quem estiver em sua frente. Mas vá lá…. um bugio não tem consciência nem de si e nem do seu ato. O humano é diferente. No século XX ele ritualizou o ato de picotar barro e escondeu no banheiro, casinha, reservado, WC, ou qualquer outro nome que se use para indicar o espaço onde ele se senta e os pensamentos correm soltos como corcéis selvagens na pradaria.

Aliás, ritualizou-se tanto que fomos suavizando o ato para exprimir a essência de nosso eu: ir falar com o Che Guevara, Soltar o Lula, Aliviar as entranhas, exorcizar um espírito maligno, reinar, sentar no trono, despachar-se, aliviar-se, despachar a marmota, picotar churros, despejar um inquilino, e por aí vai. São tantas as expressões, principalmente no Brasil, terra que tem mais gozador que eleitor, os nomes variam de lugar para outro, para o simples ato, como dizia coronel Jesuíno, de ir cagar.

E, não adianta, voltando a Judy Garland, esse ato epifânico só acontece em sua plenitude se você estiver dentro de seu lar, sentindo-se acolhido e seguro por paredes brancas, uma louça limpa que será borrada, a depender da quantidade e qualidade da legião que sairá de você. Aí você não se importa com o ronco da cuíca, ou mesmo com o som dos morteiros que soltará. Será quase uma salva de canhões, fazendo força para que, quanto mais alto for o tiro, mais heroico você se sentirá. Tente fazer isso em outro local que não seja sua louça. Nem com os poderes do He-Man conseguirá se aliviar e sentir aquele alívio que só existe nos anjos e nas crianças de colo.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

O PENITENTE

Resolveu pegar aquela van porque os amigos disseram que seria mais rápido. Pensou. São apenas 200 Km. Chega-se rápido e sem cansaço algum. Afinal, que mal faria estar em casa antes da hora do jantar… pensou assim durante o dia todo. Telefonou rápido. Reservou lugar. Pagaria quando o veículo o pegasse no endereço passado à moça que o atendeu. Colocou rapidamente suas coisas na mochila.

Quatro e trinta. Uma buzina. Despediu-se dos amigos com um “até logo”. Sentou-se. Depois de várias paradas começou a ver a cidade rarear. Contou de relance, onze pessoas, ao todo naquele veículo. Depois campos cultivados, viadutos, pontilhões. Adormeceu embalado pelo sacolejar da van no asfalto irregular. Antes de fechar os olhos pensou em sua casa. Na tranquilidade e silêncio de seu lar. Acostumara-se a esse silêncio. Acostumara-se à paz de viver sozinho, apenas, de vez em quando, ouvindo o barulho de vozes que passavam na rua, ou no som de motocicletas, carros e caminhões, lá, do outro lado do muro, como se fosse um mundo distante, separado, alheio a ele.

Acordou meio que assustado. O sol na linha do horizonte. Tentou se mexer. Uma dor subiu-lhe da bexiga até o peito. Placa de 10 Km até o seu destino final. Ficou contente. Precisava de um banheiro mais do que do ar que respirava. Cada sacolejo da van, que antes o fizera dormir, agora provocava uma dor excruciante que passeava pelo abdome, descia até aos pés e subia novamente. Tentou pensar em algo, mas o cérebro só se fixava naquele pequeno saco de urina. Cheio. Quase para estourar. Por mais que se concentrasse. Nada. Dor. Dor. Dor apenas.

Levantou-se. Nada. A dor não lhe dava trégua. Começou a se desesperar. Placa 5 Km. Pensou aliviado que chegaria ao seu destino rápido. 15 minutos talvez, descontando o trânsito. Sentou-se. Piora na dor. Resolveu ficar em pé. Nove pessoas sentadas dormiam tranquilamente. Olhou para o motorista. Olhos fixados na estrada. Cada movimento da van era como se agulhas perfurassem o seu corpo todo. Desespero. Contorcia-se. A dor cada vez mais intensa. Tinha vontade de gritar. Pedir ao motorista para parar. Queria descer. Precisava descer. Necessitava descer. Cada vez mais urgente. Nada mais via. A dor o cegava. Colocava-o como um animal desesperado dentro de uma jaula.

Na estrada a van em alta velocidade. O sol se pondo. Metade ainda no céu e a outra metade já abaixo da linha do horizonte. Cortando rápido o vento. 5 Km. 5Km. Nada. O desespero cada vez maior. Suava frio. Retorcia-se. Quase clamando piedade. E a cidade ainda não chegara. E a van fazendo o seu caminho rotineiro.

Km 10. Um inferno! Socorristas. Bombeiros. Policiais. Trânsito parado. Sirenes e buzinas enlouqueciam o ar. Borbotões de fogo e fumaça no ar. Cheiro de combustível queimando. Manchete no dia seguinte? Quem vai saber! Doze corpos enegrecidos, queimados até o osso. Horrendos. Odor de carne queimada. Vísceras à mostra. Uma van e um caminhão com seus ferros retorcidos ao lado da estrada.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

VÍCIO EM PORNOGRAFIA

Tenho alguns vícios, como qualquer mortal deste pedregulho que orbita uma estrela de quinta magnitude, pequena, em relação a outras estrelas espalhadas no firmamento. Há pessoas que são viciadas em álcool, em jogos, voyer, erotismo, pornografia escrita, falada, também chamada de coprolagnia, ou visual. O vício em pornografia – quem não se lembra de Sylvia Cristel fazendo aqueles malabarismos eróticos às duas da manhã de domingo, na televisão aberta, com certeza, não teve adolescência.

Mas, o meu vício é muito mais escatológico, mais pesado, que envergonharia qualquer cidadão, independente da religião que professe, do culto que pratica, ou mesmo o mais empedernido ateu que pisou este planeta. É um vício novo, adquirido há pouco tempo, mas que me impele, todas as manhãs, seja no serviço, em casa, ou mesmo em lugares públicos. Adquiri o vício de ler o Diário Oficial, da gloriosa Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul.

Vocês podem até rir, achando que fumei orégano estragado, ou mesmo coentro mofado. Mas, é sério. Depois que você adquire esse vício, fica muito difícil se desprender dele, ou mesmo abandoná-lo de vez. E, após a leitura, vem aquela sensação de impotência, de desânimo, de frustração. Se qualquer tipo de vício, seja o legal, ou o ilegal traz uma sensação de euforia durante o seu uso, vindo depois uma frustração, o vício na leitura dos diários oficiais é um vagalhão de frustrações, assim que começa a brilhar na tela do computador a página inicial do dito diário.

Começa-se pela apresentação das “otoridades” responsáveis pela administração pública e todas as tetinhas gordas em que se penduram centenas de gente ao qual eu não confiaria nem com um estilingue nas mãos, mas estão no comando de verbas “pìu grassas”, com um magote de assessores, diretores, coordenadores, superintendentes, adjuntos, e por aí vai. Recentemente, no diário oficial daqui da gloriosa capital do Mato Grosso do Sul houve a reestruturação da secretaria de saúde. Trata-se de um secretário, um secretário adjunto (numa época em que se pode fazer e tomar decisões via rede de computadores, ter um vice virou uma excrescência), onze superintendente, vinte e dois coordenadores e catorze chefes de departamentos. Só para começar.

Os diários oficiais, apesar de ser um jornal de comunicação da administração pública só traz leis inúteis, decretos absurdos, interferências diárias do Poder Público sobre quem produz e gera riquezas, normas feitas para atrapalhar o cidadão, instruções espertalhonas que visam criar dificuldades para quem produz, para depois se vender facilidades, além de reorganizações do próprio serviço visando a criação de vantagens remuneratórias, verbas e gratificações para quem comanda a máquina pública.

Afora essas coisinhas, o que mais existe são extratos de contratos, termos aditivos de contratos, reajustes em contratos, despesas financeiras sem fim, e num crescendo que, se a estrutura pública fosse uma empresa privada, á teria ido à falência há muito tempo. A gestão pública, pelo que tenho visto e lido nos diários oficiais, se enquadram, com perfeição ao que se chama de “gestão temerária”, aplicada às sociedades de capital aberto.

Basicamente o Poder Público, que toma o dinheiro de quem produz riqueza virou um mero atravessador dessa riqueza, pois todas as ações, todas as intervenções são feitas com a contratação de agentes privados, de empresas privadas, de pessoas físicas privadas, sem ligação com esse mesmo poder. O caso da dita “filósofa” Marcia Tiburi dando uma palestra na Petrobras sobre gênero é a cereja do bolo dessa balbúrdia. Aí vou me utilizar da frase lapidar do ex-presidente Ernesto Geisel sobre a empresa: a Petrobras existe para furar poços de petróleo. Ponto Final.

Cada órgão do Poder Público é obrigado por lei a dar publicidade às suas ações, mas o que ninguém repara é que noventa e nove por cento dessas informações é sobre gastos da máquina pública, e gastos que tem aumentado na mesma proporção em que os impostos estão subindo e escorchando o cidadão que produz riqueza. Nesses sete meses de vício pesado, ainda não vi um ato da administração pública que vá na contramão dessa ação. Não vi um ato que busque a economia, a restrição de gastos, a eficiência e efetividade dos serviços supostamente prestados.

As ditas conferências, seminários, palestras, dentre tantas ações, sempre são feitos com contratações elevadas de entidades privadas. Sempre me pergunto se não há, dentro do próprio serviço público pessoas qualificadas, tituladas, com expertise para encabeçar esses eventos. Alexandre Garcia, certa vez, declarou que não cobra centavo algum para dar palestra quando o ente é público, pois entende que é um dever como cidadão cooperar para a elevação da qualidade do serviço prestado.

Mas Garcia é uma exceção. Honrosa, mas exceção. Qualquer evento que envolve palestra o Poder Público contrata pessoas a peso de ouro para duas, máximo três horas de palestras. Não existe gente qualificada no serviço público, nas universidades públicas, nas autarquias e fundações que vivem diariamente os desafios, e com muito mais experiência para compartilhar com os demais? Sairia mais barato, já que funcionário público não pode cobrar para prestar serviço para o órgão público. Além de mais barato, valorizaria o próprio servidor, honraria o próprio serviço e criaria um ambiente propício para a busca da qualificação permanente.

Afora discussões inócuas, em leis e decretos inócuos. Fica-se debatendo se a faca que feriu uma pessoa entrou na vertical, na horizontal, ou na diagonal no bucho do indivíduo. A pergunta é: que diferença isso faz para o esfaqueado? Nenhuma. Mas, acima de tudo, depois que se adquire esse vício, é muito difícil, quase impossível se apartar dele e ter o resto do dia alegre e tranquilo.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

APOLÔNIO PREÁ

Para Violante Pimentel

Chamava-se Apolônio Boaventura de Jesus, mas era mais conhecido como Apolônio Preá, ou apenas Preá. Matador de aluguel, conhecido pelo bom serviço que fazia na arte de despachar cristãos para a terra do além. Gabava-se do bom serviço que fazia: seu doutor! Tenho tirocínio e maestria no meu ofício. Faço serviço melhor que muito doutor médico com suas poções, sinapismos e beberagens, na minha arte.

Nascera em Cacimba do Mato Dentro nos idos tempos de antanho. Já molecote, bem puxado para o pardavasco entrou em quizília com um desafeto e passou o desinfeliz na lâmina de sua “Coqueiro”. Serviço de primeira. O vitimizado não teve tempo de dizer ai, antes de entregar a alma pra Deus, Nosso Senhor! Dessa rezinga de tempos de moleque investiu-se no cargo de matador de aluguel, e era bem pago pelos serviços prestados.

Com a fama de valente, de sujeito que não levava desaforos para casa, sentou praça em São José. Sua sala, naqueles tempos, pratrasmente de muitos verões, quando política se resolvia na bala e na ponta de faca, tornou-se cabo eleitoral, juiz, promotor, júri e carrasco daqueles a quem era encomendada morte matada. O cliente apresentava o nome, o tipo do sujeito e a espécie de morte. Preá, como todo bom servidor estipulava tabela de preço no ofício de sua arte, e ainda brincativo, preguntava para o cliente se tinha algum recado a mandar pro falecido de morte contratada e com firma passada em cartório.

Mas, deu também de apresentar ares de funcionário público de alto escalão. Coisa nanica, tipo surra de cipó de boi, ou mesmo de lâmina de fação, nem se dava o trabalho de pessoalmente despachar o corretivo. Mandava um de seus moleques qualquer fazer o serviço, pagava o jornal do trabalho subalternista e ia gozar licença prêmio na casa de sua amiga Maria Veludo.

Valente que só a peste, olhos de um verde claro que mais parecia caninana em noite de lua cheia, quando as bichas estão com o cio aberto, andava meio cambaio, pra lá e pra cá. Falava todo cacarejoso, de peito estufado, voz de entupir sala e saleta. Também era conhecido pelo seu educativismo com mulher moça e moça mulher. Pedia benção às senhoras cujas bocas muitos verões já haviam esquecido e era devocioneiro de José e São Lifôncio, apesar de não machucar piso de igreja pra mais de vinte anos.

Vivia em sua casinha na entrada de um capoeirão, criando galinha, cabra e porco, além de um roçado de aipim, feijão e milho. Era a sua mantença, fora os serviços de finadismo que dava conta quando contratado por algum figurão que queria se livrar de um desafeto, seja em briga de terra, de política, ou de qualquer outro assunto, como perda de donzelismo. Só não dava finalmência em ladrão de moça. Até elogiava o ladronismo do sujeito. Mesmo com ares superiores, não enjeitava nenhum serviço. Trabalho graúdo, desses de aparecer em gazeta de primeira página, dava de pessoalmente o serviço. Trabalho nanico, mandava algum dos afilhados, pois era padrinho de muitos moleques em São José, principalmente daqueles moleques cujos pais eram desconhecidos, ou tinham paradeiro incerto, ou daqueles filhos de moças de casas suspeitosas.

Bom caçador, gostava de ter em sua mesa, carne de alguma caça, fosse anta, tatu, ou mesmo onça, que, segundo os mais velhos da cidade era de muita sustança. Nas suas caças, sempre que trazia bicho mais graúdo, não se esquecia dos afilhados, ou dos velhos a quem sempre prestava algum ajutório. Naqueles dias bons, quando Preá caçava, os velhinhos tinham certeza de gosto de gordura na mesa.

Apolônio Preá, no entanto, tinha um segredo. Era temente de lobisomem, visage de menino pagão, ou qualquer abusão de noite trevosa, principalmente em noite de corisco, quando as lacraias de fogo de Nosso Senhor Jesus Cristo cortavam o céu de São José. Certa noite desabou uma tempestade na cidade, justo na hora que Preá voltava de um serviço de despachamento de um graúdo da política da cidade de Mocambos. Mal abriu a porta e aquela chama de corisco alumiu toda a sua casa. Nesse alumiar, Preá viu a figura de um menino comedor de terra que tinha virado anjo pra mais de vinte anos.

Sabedor de toda raça de encantado, de toda marca de visage, seja dentro de casa, em porta de cemitério, ou mesmo em estrada de chão, ao meio dia, horário mais apropriado para esses abusões e provocativismo do povo já pertencido ao barro do cemitério, encalistrou e sentiu um frio que correu da ponta da nuca, passado pelo cavername do peito e chegando no dedão do pé.

Tentou chamar alguém. Sua voz grossa de não respeitar nem sala de doutor médico, nem de desembargador jubilado saiu fininha, quase um sussurro, gaguejando um ora pro nobis aprendido nos seus verdes anos de menino quando um cura de Cacimba de Mato Dentro ensinou a ele e aos demais moleques, a garatujar o nome e algumas rezas em latim em homenagem aos santos de sua devocionice. Nem pernas Preá tinha mais. Só pensava na visage, quando sentiu um arrepio na carcunda e logo pensou em lobisomem. Mal acabou de pensar, sentiu uma mão grande e peluda tocar seu ombro e escorrer pelo espinhaço, até quase perto de suas partes subalternas.

Aí era demais. Nunca que um Apolônio Preá, matador de fama contada e cantada iria permitir tamanho sem-vergonhismo com sua pessoa. Tirou seu “Coqueiro” da cintura, chamou pelos santos de sua devoção e esfarinhou aquela mão que escorria pela sua cacunda a poder de “toma, safardana”. Quando avivou o pavio do lampião de querosene começou a rir do seu próprio medo. Na noite trevosa e cheia de vento, não reparou que havia deixado a vassoura de piaçava atrás da porta que, com o vento caiu e derrapou pela carcundinha do Preá, de alto a baixo.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

PORQUE SOU MONARQUISTA

Muitos podem até estranhar essa minha confissão, mas analisando Pindorama no século e mais algumas quireras de República, posso afirmar, sem a menor dúvida: nessa história de republicanismo, a indiaida nacional entrou bem. Os donos da república entraram com o fumo, e a bugraiada, com a bunda.

Quase dois anos após o falecimento da Rainha Elizabeth II, do Reino Unido, peguei-se-me a pensar como a monarquia britânica promoveu, entre o século XX e agora, cento e vinte e quatros anos de estabilidade, mesmo com a ruma de primeiros-ministros bons, excelentes, ruins, péssimos e petistas, mesmo.

Eduardo VII, após o falecimento da Rainha Vitória, assumiu o trono em uma sucessão tranquila. Seu filho, George V enfrentou a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão e manteve a serenidade e o Reino e o Império unidos. A crise da abdicação de Eduardo VIII, causou comoção, mas logo depois da sucessão, George VI enfrentou o resto da depressão, a guerra mais destrutiva da história da humanidade e a desagregação do império em estados independentes, mas a maioria optando por permanecer na chamada Commonwelth, tendo o soberano britânico como chefe de estado dessas nações. Há até uma história, não sei se verdadeira que, quando George VI anunciou a entrada da Grã-Bretanha na Segunda Guerra, o primeiro-ministro da Austrália, nem solicitou autorização do Parlamento para declarar guerra à Alemanha nazista, apenas comunicou: “Se a Grã-Bretanha está em guerra, a Austrália também está em guerra”.

Elizabeth II governou durante setenta anos, e viu o fim do império, a ascensão da guerra fria, o fim do bloco soviético, a guerra dos Bálcãs, os desastres humanitários na África, a escravidão trazida pelos regimes socialistas, a ascensão dos ideários sindicalistas, a chamada Revolução Tatcher, a retomada dos princípios da livre iniciativa. Tudo bem que os filhos deram mais trabalhos que os súditos, principalmente em assuntos privados, mas Elizabeth II se manteve firme.

Há um documentário da década de 1980 quando os idiotas dos generais argentinos resolveram invadir as Falklands, em um debate no parlamento inglês, um deputado do Partido Trabalhista, abanando a mão na cara da senhora Tatcher gritou que ela havia deixado a Argentina humilhar a Rainha Elizabeth. Vejam, não foi a nação que foi humilhada, mas a rainha, tal a concepção que os ingleses têm de que o Trono é o país e o país é o Trono.

Voltemos os olhos para Pindorama nesse século e alguns anos de republicanismo. Se olharmos com curiosidade de pesquisador veremos que não houve uma década sequer de estabilidade política, uma década sequer de previsibilidade econômica, social, educacional. Já começamos errados. A res publica, ou coisa pública brasileira, de público mesmo nada tem. A república brasileira começou com um golpe militar que, malandramente deixou o povo fora, restando a este, apenas pagar as contas das festas que se seguiram ao golpe. Em seguida vieram as crises: crise da abdicação de Deodoro, a Revolta da Chibata, a Revolta da Armada, a Guerra de Canudos, a Guerra do Contestado, o tenentismo, a revolta de 1930 que implantou o populismo e o varguismo como panaceia para todos os nossos males.

Vargas, boa bisca que era, provocou a revolta constitucionalista de 1932, o golpe de 1937 e foi chutado em 1945, após a vitória brasileira nos campos italianos, lutando contra aquele carequinha – tô falando do carequinha 1, o Mussolini, não do dois, ou do… bem, deixa pra lá -, entre o governo Dutra, a volta de Getúlio, houve um aparente período de tranquilidade que pariu figuras como Jânio Quadros, João Goulart, Francisco Julião, Miguel Arraes, entre outros símbolos do atraso. A posse de Juscelino também foi antecedida de revoltas militares, como a do Araguaína outras instabilidades. Jânio fez o que fez e foi jogado na lata de lixo da história. Jango, com aquela sua postura nem-nem, trafegava pelo apadrinhamento, pela politicagem do toma lá da cá, até ser chutado da presidência e começar os governos de coturno e toda a barbárie cometida neste torrão, seja pela direita, seja pela esquerda.

Após a dita redemocratização veio o desastroso governo Sarney, a aberração chamada Constituição de 1988, o ladroísmo descarado de Collor, e o impeachment do mesmo que quase nos leva para o buraco. O governo Itamar foi aquela sensaboria que todos conhecem, afora a cena com a sans-cullote no carnaval que se tornou um escândalo e quase leva Itamar para o buraco. Fernando Henrique Cardoso tentou dar alguma racionalidade, mas rendeu-se ao sistema republicano do toma lá-da cá para poder passar a emenda da reeleição. Chamaram isso de presidencialismo de coalização, ou seja, o chefe do executivo entrega um ministério, uma autarquia, um banco, uma estatal de porteira fechada para um chefe político, em troca de votos no congresso. E o público? Sempre convocado a pagar essa brincadeira cara demais, sem graça demais, para quem precisa gerar riqueza e sustentar essa máquina balofa e ineficiente chamada Poder Público.

Após FHC – Fernando Henrique Cardoso – inaugurou-se a república do lúmpen sindicalismo, com toda sorte de bucaneiro, parasita, escroque, vagabundo, preguiçoso e oportunista se adonando da nação. O resultado? Mensalão, Petrolão, a Fraude contábil, que muitos idiotas chamam de pedalada fiscal, como se esse crime fosse tipificado, mas é apenas uma forma de atenuar os crimes cometidos por um desastre ambulante que somou nove mais quatro e encontrou onze, que disse que uma bola feita de folha de bananeira era o ápice da evolução do brasileiro, que saudou uma raiz de mandioca, que encontrou um cachorro como sujeito oculto atrás de uma criança, e por aí vai.

E outra crise se instalou quando, os bucaneiros do congresso resolveram chutar a inquilina do Alvorada porque as tetinhas estavam magrinhas e saindo pouco leite. Só não saiu porrada no congresso porque estava todo mundo de olho, mas cuspe, xingamentos, alusão à mãe, promessa de vingança pulularam, naquele espaço que chamam de casa do povo. Sinto, mas até um puteiro há mais ordem, decência e organização do que naquele espaço. Imagina isso ocorrendo na casa de um cidadão? Jamais.

Veio o governo Bolsonaro, a pandemia e toda a esculhambação político-jurídica que bagunça a nação e destrói as possibilidades de futuro. Certa vez Paulo Guedes disse que em seis meses o Brasil viraria uma Argentina de Cristina Kirchner e em um ano, uma Venezuela de Maduro. Enganou-se. Em um ano saímos de uma Argentina e fomos direto para uma Coreia do Norte, com toda a sua arbitrariedade, sua truculência, suas vinganças e mesquinharia.

Aproveitou-se a pandemia para levantar a bandeira de “salvar a democracia”, reconduzindo um ladrão triplamente condenado, e seu acusador, aquele que dizia que o ladrão queria voltar à cena do crime, de volta ao poder e à lúmpen república. Em resumo, nunca, na história republicana tivemos vinte anos sem crises e regressos, sem objetividade e sabotando o futuro do país, tudo em nome de uma república que, de público nada tem, apenas o dinheiro para pagar as contas dos “donos do poder”.

Comparativamente, acredito que dei exemplos suficientes de que, a volta à monarquia, pelo menos dará estabilidade e previsibilidade ao país, mesmo porque, despejar um primeiro-ministro inepto é menos traumático do que um presidente, pois uma família imperial será espelho dessa estabilidade, tranquilidade e certeza de uma representação de decoro público que nossa república prometeu, mas nunca cumpriu.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

O BELO, O BOM E O CERTO

Fim de semana quente aqui na gloriosa Campo Grande, e eu, caeté velho, com uma gripe de tirar pica-pau do oco. Havia horas que, estando com febre, sentia frio com um calor de 34 graus e sensação térmica de 39. Tomava um antitérmico e um banho e aí sentia calor. Fiquei até na dúvida se era melhor aguentar a febre e sentir frio, ou eliminar a febre e ser torturado pelo calor. E, ao mesmo tempo em que ficava nessa dúvida ricardiana, ia acompanhando a devastação de princípios executada pela esquerda contra o Brasil.

O esquerdismo, não importa onde se homizia – em Pindorama homiziou-se em todos os desvãos do poder -, possui alvos definidos, precisos para atacar e destruir. Toda ação esquerdista não é fruto de imperícia, ou mesmo imprudência. Apesar da canalhice histórica da esquerda, há sim, entre eles, pessoas inteligentes, porém malignas em suas almas, que usam seus intelectos e suas mãos, não para construir, para deixar um legado geracional. Todas as ações do esquerdista estão na contramão daquilo que é belo, que é bom e que é correto.

O ataque ao Belo – e tomo o Belo aqui no seu conceito estético hegeliano -, é patente na ação da esquerda. Quando a sociedade se escandalizou com aquele espetáculo no Ministério da Saúde e a – Deus que me perdoe -, música do “Baticu”, em que um sujeito sem talento nenhum para música ficava repetindo o mantra “baticu, baticu, baticu”, e uma moça ficava rebolando o traseiro e esfregando parte da sua anatomia que, por decoro deveria ficar comportada, pelo menos em um evento público, pago com os impostos do cidadão, não se estava apenas fazendo um evento cultural. Aquele espetáculo grotesco era mais um exemplo de como a esquerda busca a degradação do Belo, do estético.

Pode-se observar que, desde a volta da esquerda ao poder central, os financiamentos via Lei Rouanett, em sua maioria foram para espetáculo desse calibre. A “cantora” Anitta, em uma premiação no exterior, usando uma camisola transparente, uma roupa que nem uma “quenga” de posto de rodovia usaria, foi aclamada como símbolo da mulher brasileira. Eu não sei vocês, mas aqui na gloriosa Campo Grande, a mulher respeitosa, a mulher de valor, de caráter, jamais usaria um traje daquele, nem se estivesse em um puteiro. Aliás, mulher respeitosa, aqui, nem passa na mesma calçada onde existe um puteiro.

E os exemplos vão se acumulando, na música, na literatura, nas artes plásticas. Quem não se lembra daquela exposição porca bancada por um grande banco, em que o artista manchou hóstias da Igreja Católica, com sangue menstrual e as exibiu como mostra cultural, vilipendiando imagens sacras, princípios basilares da civilização cristã? Ou a dita exposição “criança viada”, em que o artista, um pedófilo que, na minha concepção deveria estar respondendo a um inquérito por pedofilia, usou imagens de crianças para promover a sua dita “arte”. O esquerdismo é amoral em relação ao Belo. Tudo que ele toca fenece, morre, apodrece, porque essa podridão moral está no interior de sua alma, e quanto maior for essa podridão, melhor para o esquerdista.

O esquerdismo possui uma deficiência moral. Ele não é imoral, mas sim amoral. Não existe um limite de moralidade, aliás, não existe um conceito de moralidade para ele. Sua tese basilar é “construir o novo homem”. Mas e se houver a necessidade de matar aqueles que não concordam com essa tese? Sem problemas. Exemplos há muitos: Stalin matou de 35 a 40 milhões de russos, Mao Zedong 70 milhões, Pol Pot 2,5 milhões, Kim Il Sung, cerca de 4,3 milhões, Fidel Castro 150 mil, e por aí vai.

Lembro-se-me certa vez que o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad dizer, em uma entrevista que a superioridade moral de Stalin sob Hitler, embora ambos matassem seus opositores que escreviam qualquer coisa que não gostassem é que Stalin lia a obra antes de mandar matar a pessoa. Fiquei me questionando à época: Que diferença isso faz para aquele que vai receber o caroço de azeitona bem no meio dos cornos? A falta de um freio moral, de um limite moral gera esse tipo de barbaridade que as pessoas não param para refletir e perceber o quão perigoso é o esquerdismo para qualquer ser humano que habita este pedregulho que orbita o sol.

A amoralidade esquerdista é tão perversa que, para aqueles que possuem um pouco de massa cinzenta há de concordar comigo que, na década de 1960 o país teve que decidir: ou uma ditadura dos quarteis que matou, segundo os dados oficiais do Relatório Brasil: nunca mais! (1982), cerca de 600 pessoas, ou a ditadura de esquerda que se queria implantar, com um provável número de mortos na casa de milhões vidas. Um exercício matemático que fiz, apesar de eu ser um jumento batizado e crismado em cálculo, levando-se em conta que, na década de 1960 o Brasil possuía pouco mais de 70 milhões de habitantes, e levando-se em consideração que todo regime esquerdista, quando implantado elimina de 13% a 20% de sua população, podemos dizer, até com alívio que a ditadura militar foi um parque de diversão, em relação à ditadura esquerdista que se queria implantar em Pindorama.

A amoralidade esquerdista é como uma gangrena que corrói e apodrece um corpo, estando esse corpo ainda vivo. Sua meta é sempre rebaixar a moralidade de uma sociedade ao seu nível mais baixo. Como eles vivem em um lamaçal podre, em que o furto, o roubo, a corrupção, a mentira, a falta de compromisso, a desonra, a traição, a falsidade, o esbulho são tão naturais como o ar que respiram, é necessário que todos sejam iguais a eles, porque então não seria necessário tempo para dar justificativa à sua imundície moral e sua canalhice ética.

Veja-se o caso de Jair Bolsonaro. A esquerda não quer prender o Bolsonaro porque ele cometeu qualquer tipo de crime, seja político, seja jurídico, ou de qualquer outra natureza. O que eles querem é poder gritar: vejam… vocês também têm um ex-presidiário como líder. Seu líder também foi preso. Assim buscam nivelar aqueles que não concordam e não se chafurdam na lama em que eles chafurdam, com eles mesmo. A perseguição a Bolsonaro é a perseguição à decência, à moralidade, à honestidade, à conduta irrepreensível. Bolsonaro é apenas a quintessência construída em torno desses valores. Como a esquerda não consegue agregar esses valores do bem civilizatório em sua alma, então, é mais fácil nivelar o outro à sua corrupção moral do que se elevar até esse bem moral.

Por fim o Certo na visão esquerdista contradiz a censura feita por Ivan Karamazov – obra que eu recomendo, “Os Irmãos Karamazov” de Fiodr Dostoievsky – sobre o certo e o errado. Deus morreu. Então tudo é permitido? Ivan usou essa expressão com alto teor de censura. O esquerdista usa essa expressão com elevado grau de fé. Daí porque o esquerdista sempre apoiar ditadores, terroristas, assassinos, ladrões, narcoterroristas, bandidos de todas as espécies. Eles se espelham e se completam. O esquerdismo é como o deus Janos. Enquanto aquele deus olhava para o passado e para o presente ao mesmo tempo, com suas duas faces, o esquerdismo, com suas duas faces mira o mal e a tragédia como se ambos fossem um caminho virtuoso para a concretude de seus sonhos assassinos.

Não há, na mente esquerdista, um conceito de certo histórico e humanista. O certo para eles é aquilo que permite a empolgação e a manutenção do poder. Stalin fez isso, Mao Zedong fez isso, a família assassina dos Kim faz isso, o tarado orelhudo da Nicarágua faz isso, o gigolô da fome alheia da Venezuela faz isso, e a esquerda no Brasil também faz isso. Veja-se o caso do Nordeste do Brasil, o caso do Yanomamis, dos sem-terras. Jamais a esquerda os vai tirar dessa condição, pois precisam da miséria e da desgraça alheia para poder sobreviver. O certo para essa escumalha monstruosa é degradar o outro, a fim de que ela possa sobreviver, nem que para isso seja necessário matar todos aqueles que não se nivelem, reze, ou os aceitem como deuses e seus métodos como luz do mundo.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

NÃO MERECEM

Nestas últimas semanas passadas estive acompanhando os acontecimentos de Pindorama, suas ações, discursos, avanços, discursos irracionais e anticivilizatório, fazendo arder com mais força a fogueira da barbárie que nos move a um futuro incerto, a um porvir tenebroso, cheguei a um dilema que, se não filosófico, ao menos comportamental: a ideia de liberdade como direito inerente da pessoa humana e sua dinâmica no Brasil.

Como caeté que ainda anda pelado, carregando uma borduna, com um belo canitar de penas de arara no calcanhar, pintado com tinta de urucum, que me deito todo dia em uma rede de imbira, meu maior prazer é coçar a carcundinha de meus cachorros, catar os carrapatos nas orelhas deles enquanto fico cuidando o braseiro onde asso a pancetta do honorável bispo português, não sou de dar bola às conversas fiadas que os arariboias de BrasILHA dizem a respeito de nossas liberdades.

Um povo que troca seu voto por uma promessa de picanha assada e cerveja gelada prometida por um ser mentiroso, cujas falsidades estavam patentes, não somente nos olhos, mas até no modo como falava não merece liberdade. Merece ser escravo sempre, como dizia Machiavelli.

Um povo que troca seu voto por uma centena de tijolos, dez telhas de fibrocimento, um par de chinelos, uma dentadura, um tapinha nas costas, uma visita de quatro em quatro anos, com direito a beber café em um copo de extrato de tomate, e recebe os políticos como se estivessem recebendo o Divino Pai Eterno, e não o seu servidor, não merece ser livre.

Um povo que, quando vai ser contratado para um serviço, a primeira coisa que pergunta é sobre seus direitos e benefícios que a empresa pode dar, que fica com olhos cúpidos no calendário civil buscando as datas em que cairão os feriados, a fim de poder espichar a folga semanal, e não se preocupa com sua produtividade, compromisso, ação positiva no seu local de trabalho, não merece liberdade.

Um povo que faz uma fila de dobrar quarteirão, que passa um fim de semana em uma fila de Centro de Apoio Social para receber seu “bolsa esmola estatal”, mas não tem paciência de ficar 10 minutos em uma fila de emprego, ou mesmo em uma fila de votação no dia de uma eleição, não merece liberdade.

Um povo que se diz isento em questões políticas, que não toma lado em uma discussão que definirá o futuro de sua nação, que se omite em discussões que busca traçar as linhas futuras da educação de sua nação, que prefere ligar a televisão, ver um jogo de futebol bebendo uma cerveja e pouco está se lixando para o que seus filhos aprendem na escola, não merece liberdade.

Um povo que terceiriza a educação de seus filhos, transfere para a escola a função de educar sua prole, e em casa deixa essa função para a internet, que não acompanha o que seus filhos estão aprendendo nas salas de aula, que aceita passivamente todo o entulho ideológico que as escolas de hoje transmitem a seus filhos, não merece liberdade.

Um povo que aceita que as leis que regem seu país sejam violadas por aqueles que, em tese deveriam ser ultimo bastião dessas leis, que aceita que juízes criem leis, façam prejulgamentos sobre assuntos que irão julgar, que aceita que ministros da mais alta corte do país mintam, usem de um vocabulário que fica mais adaptada na boca de meliantes, que aceita que funcionários públicos se acumulem de privilégios, de auxílios, de recomposições salariais, ou de gratificações para fazerem aquilo que são regiamente pagos para fazer, não merece liberdade.

Um povo que acredita que praia e carnaval são o ápice de sua evolução, que acredita que equidade social se dá na base de cotas, de reservas de vagas, de tribunais raciais, que acredita que o mérito, o esforço individual, que o intelecto, que o “nerd” é uma aberração, enquanto o jeitinho, o troco para a cerveja, o agrado para o guarda de trânsito é uma característica do brasileiro, não merece liberdade.

Um povo que fura o sinal vermelho, que não respeita a placa de “Pare”, que buzina em zona de silêncio, que, ao ver um amigo no início da fila, pede para ele pagar as suas contas, e aquele que aceita também fazer isso, que não respeita a vaga para o idoso nos bancos de ônibus, ou na fila de um banco. Um povo que arruma uma criança de colo para passar à frente dos outros em uma fila qualquer, não merece liberdade.

Um povo que, ao ver um caminhão tombado na estrada, corre, não para ajudar o acidentado, ou desobstruir a pista para dar segurança aos demais motoristas, mas corre de maneira ávida para saquear a carga tombada, não merece liberdade.

Um povo que, quando um prefeito faz um bolo gigante para comemorar qualquer data desimportante, com o intuito de humilhar o cidadão e revelar o seu caráter incivilizado, se submete a essa humilhação e participa de maneira alegre dessa injúria, não merece liberdade.

Um povo que rejeita a cultura, que torce o nariz para o Belo, mas aplaude ninfetas seminuas, cantoras que exaltam o que Mikhail Bakthin chamou de “baixo material corporal”, ou seja, a bunda e suas adjacências, que conhece mais sobre letras sexualizadas, mas não conhece uma estrofe inteira de seu próprio hino nacional, não merece liberdade.

Liberdade é uma conquista de todos. Liberdade dada não é liberdade, é graça. Graça não é dom do homem, mas divino. Liberdade é uma conquista. Liberdade é fruto da percepção individual de que o seu estado natural é de injustiça, pobreza e acomodação, e luta, em conjunto, como um só homem, para garantir que, nas diferenças individuais, a busca de uma equidade para todos é o fim máximo de uma sociedade.

Liberdade é dizer não ao arbítrio, mesmo para aquele com quem se tem discordância irreconciliáveis, mas luta para que esse outro tenha o direito total de dizê-las onde quer, quando quer, como quer, sem que sofra sanção por causa disso. Liberdade é a conquista máxima do homem e que nunca deve ser negociada, pois é princípio e fundamento de todas os demais direitos que advém com ela. Um povo que não tem esse princípio em mente merece ser escravo. A liberdade é algo estranho para quem não tem em sua alma a consciência de que enquanto não apagarmos a fogueira irracional caeté que arde em cada um, continuaremos sendo escravos e merecemos essa escravidão.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

EU NÃO ACREDITO!

Este último fim de semana, aqui na minha taba, coçando a carcunda de meus cachorros, estava escuitando as ditas análises de “especialistas” em relações internacionais das redações bananeiras sobre as falas do descondenado fantasiado de presidente, tanto no Egito, quanto na Etiópia. Refiro-me à pergunta sobre quanto tempo que a oliveira levaria para dar um cacho de uva e a comparação do direito de defesa de Israel e a busca em acabar com o terrorismo, com o regime assassino de Adolf Hitler.

Quase todos os ditos analistas, ou mesmo professores especialistas de universidade prestigiosas, acabam por creditar essas bizarrices ditas pelo ex-condenado fantasiado de chefe da nação, suas falas toscas, grosseiras e ofensivas à sua ignorância histórica, a sua falta de conhecimento formal e à sua enganosa desenvoltura em lidar com outros chefes de Estado e de Governo.

Sinceramente, eu não acredito e não dou uma agulha quebrada para quem defende essa tese, porque ela não se ajusta e não se adéqua à realidade, ou mesmo a um simples raciocínio lógico, do tipo um mais um. Lula não é um ignorantaço movido por uma visão bonachona de mundo, que quer o bem de todo o ser humano que ainda respira neste planeta. Lula não é esse ser desconectado do chamado “concerto entre as nações”, ou mesmo desconectado das posições e interesses da diplomacia brasileira.

Todas as vezes que vejo esses especialistas atribuindo à ignorância de Lula essas falas irresponsáveis e bizarras, volto à memoria a entrevista de um professor, fundador do PT, e que, em uma entrevista ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, disse com todos os efes e erres: “Lula é um mal caráter”. E é, a partir dessa fala que muito fiquei pensando e analisando a vida de Lula e suas falas, desde quando eu passei a me interessar por política, quando tinha treze anos.

Lula só é contido quando está rodeado de assessores e quando tem um discurso escrito, por algum funcionário com alma a soldo de vários contos de réis por mês. Tal qual a estocadora de vento que dizia que uma bola feita de folha de bananeira era o ápice de nossa evolução, Lula, em estado natural traz para a superfície todo o seu lixo interior e todos os seus preconceitos, sem filtros e sem freios.

Lula é homofóbico em sua essência. Quem tem um pouco mais de memória RAM disponível e consegue fazer um panorâmico histórico dos últimos vinte e cinco anos poderá constatar o que falo. Em uma ocasião, estando no Rio Grande do Sul, sem qualquer papel nas mãos, Lula soltou seu famoso “Pelotas é um polo exportador… de viados”. Não foi piada, não foi ato falho, não foi um momento de relaxamento. O que se viu ali foi a exposição daquilo que Lula guarda bem no fundo de sua alma. O mesmo ocorreu quando ele estava próximo a ser preso, quando perguntou onde estavam as “mulheres de grelo duro”, referindo-se de maneira grosseiras às lésbicas filiadas ao PT, que deveriam sair em defesa de sua liberdade.

Outra situação, também grotesca e asquerosa foi quando comparou os presos políticos cubanos aos criminosos brasileiros, também presos, nivelando-os na mesma categoria de malfeitores e bandidos condenados, seguindo todos os processos legais de uma democracia. Nessa fala, Lula trouxe para o exterior o seu lixo autoritário e exterminador que o faz aliar-se às piores ditaduras e aos piores violadores dos direitos humanos que ainda existem em nosso mundo.

Lula é racista até o tutano. No caso daquela fala grotesca que comparou uma menina negra, estagiária de uma multinacional, que chegou lá pelos seus méritos e competências, ao batuque e samba, pois para o larápio de Garanhuns, preto, ou está numa roda de samba, ou cantando axé, ou ainda, quando muito auxiliar de serviços gerais. Não passa pela alma de Lula que um negro, um índio, um gay, um pardo conseguir ser reconhecido por seus próprios méritos. Para Lula, um negro, só pode chegar a uma posição intermediária se ele permitir, através das suas bolsas e cotas e reservas. Para Lula, qualquer um que destoe desse mundo de pesadelo que ele criou e tenta implantar, é uma falha que deve ser corrigida e eliminada, assim que possível.

Lula é violador de Direitos Humanos em sua essência, só não teve, AINDA – vejam que grifei em caixa alta -, a oportunidade de trazer todo esse monturo fedorento para Praça dos Três Poderes. Ao relativizar ditaduras, ditadores, violadores de direitos humanos, sugerindo a construção de uma “narrativa” palatável pelo jornalismo sabujo, e para os catequizados da seita petista, está, de fato, justificando e se colocando no mesmo espectro políticos desses assassinos. Não há uma fronteira, para Lula não ultrapassar porque o seu mau caratismo já sufocou todas as vozes morais interiores, se é que um dia teve um caráter.

Ao comparar as ações de defesa de Israel ao que o nazismo fez com os judeus, gays, ciganos e outras minorias e indesejáveis na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial, Lula não está relativizando nada. Simplesmente está trazendo para o exterior aquilo que ele acredita, aquilo que é a essência de seu ser, aquilo que é o seu caráter e seu desejo máximo no poder: eliminar todos aqueles que ele e seu PT desprezam. Não há ato falho ali, não há ignorância histórica, ou ignorância política, muito menos esperteza política. Há somente o monstro imoral que tem uma visão particular de mundo, que deve ser reconstruída à sua imagem e semelhança, com a eliminação de todos aqueles que ele não considera digno de viver neste planeta.

O caso da oliveira que produzirá uvas também não é fruto de uma ignorância biológica. Se fosse uma criança de três anos de idade que produzisse essa pérola poderia, até dar um desconto, mas não a um homem com mais de setenta anos, cujas experiências de vida já criaram uma forma de conhecimento, ainda que empírico, da vida, da sociedade e da história. O que vejo ali é apenas um “boi de piranha” que chamará a atenção da mídia, dos ditos analistas, dos comentadores políticos, para que estes se esqueçam de voltar suas atenções para a análise que importa: como o mau caratismo de Lula está rebaixando a moralidade do país, tanto interna, quanto no exterior, buscando cauterizar os limites e as fronteiras morais e éticas da sociedade para que seu projeto de eternização do poder possa ser executado.

O que percebo, no país, é que fomos condicionados, principalmente pelos jornalistas comprometidos com esse projeto de poder, a minimizar e aceitar a monstruosidade de Lula a uma desculpa como “ignorância”, ou “falta de estudos formais”. Meu pai estudou até a segunda série primária, mas possuía uma consciência histórica, um padrão moral e uma postura ética inflexíveis, sempre repudiando o arbítrio, os preconceitos e os regimes de força. Seu Benedito (meu pai), peão de fazenda que até hoje não se adapta à cidade construiu esse caráter. Por quê Lula, não o faria? A resposta não é porque ele não teve tempo. Ele não quis, já que essa aquisição iria contra a sua natureza, contra a sua essência.

Então, não me venham com essa de “ignorância”, “falta de conhecimento histórico”. Lula, quando não está sob supervisão traz, para o exterior, toda a monstruosidade e amoralidade natural dele. Bebês degolados, mulheres estupradas, velhos assados vivos em fornos, tortura, prisão e eliminação de preso político, que para qualquer ser humano moral gera protesto, para Lula, apenas massageia o seu interior estragado e revela, de fato, quem ele é.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

SOBRE CHIFRES E OUTRAS ADJACÊNCIAS

Estive retirado, em minha taba, por esses dias, mas não deixei os miolos pararem de funcionar, refletindo sobre temas tão importantes para a vida no planeta, tal como, se a televisão deve ficar na parede esquerda, ou direita, na sala, se um dia colonizaremos plutão, ou se os aliens virão nos visitar, apesar de nossa inteligência. Deparei-me, nesse refletir com um tema tão antigo quanto a própria humanidade: os chifres e outras adjacências no ser humano.

O chifre, galhada, cornos, aspas, chapéu de touro, guampa – e quem souber outros sinônimos, por favor colabore -, é um acessório tão antigo e pertinente à espécie humana, quanto a coceira e o olhar pidão de adolescente para moças novas. Às vezes dolorido, às vezes conformado, às vezes zangado, chifre é um acessório do macho humano quase tão comum que feliz é aquele homem que um dia, seja flertando, namorando, ou casado, nunca os tenha levado. Aliás, eu sempre digo que o chifre é um componente natural e que, um animal sem chifres é, por definição, um ser indefeso, na natureza.

A mais famosa guerra de todos os tempos, cantada por Homero na Ilíada foi, em último caso, causado por um belo par de guampas. A história é basicamente o seguinte: Paris, marido de Helena foi homenageado pela mulher e Menelau, fugiu com o pé de pano, e o chifrudo do rei provocou uma guerra de mais de dez anos contra Tróia. O cornudo em vez de sossegar e ir lustrar a galha, resolveu sacrificar um magote de soldados só para ir à desforra por causa do enfeite que colocaram em sua cabeça.

Homero, em sua sabedoria deu uma grandiosidade épica a uma história, por si só, banal e quase tão natural quanto respirar, inspirando e moldando toda a história e a literatura do ocidente. Também as más línguas contam que Alexandre, rei da Macedônia, fez uma campanha insana, indo dos Bálcãs até a margem ocidental do rio Indo por causa de um suposto chifre que Xerxes iria colocar nele, com seu companheiro predileto, Hefestion. Mas tudo isso são más línguas, eu só estou vendendo peixe como comprei.

Napoleão Bonaparte também entrou pelo cano por causa da Madame Pompadour, que enfeitava a cabeça de Josefina, em companhia do Imperador. Essa atividade chifrística levou os impérios europeus a declararem guerra ao baixinho corso, como forma de vingança à galha levada pela princesa austríaca.

E a atividade guampística segue pela história, envolvendo, também nossos dois Pedros. O primeiro com a Marquesa de Santos, a caganeira que provocou nossa independência e o segundo com as aventuras de alcova com a Condessa de Barral. Na República, o caso mais célebre foi o assassinato de João Pessoa. A história oficial diz que foi em um atentado político, mas os fofoqueiros de plantão dizem que, ele, enciumado por causa de um caso amoroso, de um inimigo político, com certa dama da sociedade paraibana, divulgou cartas dessa senhora para esse político. Em represália, o inimigo passou fogo na língua ferina de João Pessoa.

Mas nem só de chifres veve o homem. Há também, na sociedade pindoramense, alusões à pomba, chibata, mangará, verruma, caceta, pinto, peru, verga e outros nomes. Aliás, a mítica popular diz que ela é proporcional a certas partes do corpo como o nariz, a distância do punho ao dedo médio, ou ao tamanho do pé. Mas tudo isso são apenas ilações e mitos. Particularmente, já foi tempo em que eu dava importância a essas fofocagens de botequim. Ultimamente só paro para pensar quando estou próximo a espirrar. Fico sempre na dúvida se vai ser só um espirro, ou vai vir acompanhado de uma freada de caminhão fenemê, ou a ruptura de um vaso no olho, ou sangramento do nariz, ou pior, a ruptura de um vaso no cérebro.

Aqui, na gloriosa Campo Grande, temos um ditado que, quanto maior e exposição de um determinado bem, menor é o tamanho da bengala do indivíduo. Se assim for verdade, o que tem de homem de pinto pequeno nesta região dá para encher uns cem caminhões bitrem. É carro em que o indivíduo tira as partes traseiras e mete caixa de som e sai andando no último volume, carro rebaixado, caminhonetes super-hiper grandes, correntes que deixam o sujeito com a carcunda envergada para frente, e por aí vai.

Quanto à história da nareba, penso que foi algum turco com uma napa de sugar todo o ar da redondeza que inventou essa história e ela pegou. Aliás, os gregos já veneravam um deus, cujo nome era Priapo que tinha uma chibata que chegada nos joelhos – Te cuida negão da internet -, e que abençoava homens jovens e velhos na antiga arte da sedução e conjunção carnal, a famosa trepada.

Chifres, pintos e homens caminham sempre juntos até a morte de algum deles chegar. Nem sempre na mesma época, ou na mesma ocasião. Há situações, e são inumeráveis, em que a pomba vai primeiro, o homem depois, e o chifre por último. Aliás, na senectude do homem, sempre desaconselho um homem velho se casar com uma mulher nova.

Casamento de homem velho com uma mulher nova é igual orelha de vaca, longe do rabo, mas muito perto do chifre. Conta-se, uma história aqui em Campo Grande, que certo senhor, já beirando os oitenta, mijando naquilo que era seu, ou seja, nos pés, resolveu se casar com uma mocinha de vinte e cinco. Ao fazerem os exames médicos o resultado dela foi AS, ou seja, Apto para o sexo. No caso dele saiu a sigla AAPM, apto apenas para mijar.

Mas, como disse, são coisas da vida, ou apenas algo que alguém colocou na sua cabeça. E assim caminha a humanidade, chifrando e levando chifres, mas com toda a felicidade do mundo.

ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

A BUNDA ABUNDA

Como um bom caeté não poderia deixar de tratar de um assunto que chega a ser unanimidade em Pindorama, é democrática, atrai para si todos os olhares, chega a ser quase reverenciada, seja pela quantidade, qualidade e forma: a bunda.

A bunda é, em princípio, ingrata com o seu dono, pois, por mais que se lave, sempre estará na oposição dos ditos bons cheiros humanos, ou aqueles cheiros que mais lhes agradam. Aliás, tive uma amiga que defendia a tese que, se não fossem nossos constantes banhos, uso de cremes, perfumes, emolientes, esfoliantes, sabonetes, xampus, o macho da espécie Homo sapiens ainda conseguiria sentir o cheiro da fêmea, o natural, quando esta entrasse em período fértil, ou, traduzindo para o português popular, o macho ainda sentiria o cio feminino. Mas, isso, são lá elocubrações dela, e não minhas.

E, minha mente safadosa já pensou, àquela época, o macho da espéciesair farejando tudo quanto for bunda fêmea e se deleitando com os odores e dizendo… esta está, essa ali, não. Essa tá quase, aquela ali ainda falta seus etcéteras e tal. Aquela falta mais guarnição, aqueloutra é perfeita. Ah, bandido que sou. E esse texto está quase escorregando para o terreno da patifaria bundística.

A bunda é algo que Deus Pai, Nosso Senhor a distribuiu de forma equânime (Violante vai ao delírio com esse verbete, aposto!), entre todos os seus filhos, mas, e sempre existe um mas, alguns foram mais gulosos, outros mais preguiçosos, indo daí que uns têm uma aBUNDÂncia, enquanto outros, parecem ter substituído por maracujá de gaveta, a fim de ter o que mostrar.

Nas minhas andâncias e observâncias – quase sou um vagamundo, ou melhor, um flâneur, para usar a língua de Baudelaire -, já notei como a bunda é o centro das atenções, seja em feira livre, em xofis center, nas ruas, nas igrejas, em clubes, e, principalmente nas praias. Tenho uma amiga, loiraça legítima, brancona, bem polaca que tem um amassador de sofá do tipo que merece um óscar e ser aplaudida em pé. Soutro dia, em minhas vagamundices, encontrei-a, dando sopa na rua, e, de dentro do carro, soltei meu grito de “independença”….. loira boazuda, sobe!!!! A coitada até hoje não sabe quem a elogiou, e muito menos sabe que as adjacências eram secundárias, o elogia foi para a sua bela bunda, ou calipígia.

Dizem que se o ser humano andasse nu, se acostumaria com a nudez do outro e deixaria de lançar olhos gulosos, principalmente para a bunda – estou falando no caso pindoramense -. Acho isso um desserviço e uma desumanidade. Iria tirar 95% da graça de se andar, de se passear e de se sonhar com aquilo que não nos pertence. Cada um deve cuidar da sua bunda!

E, as taponas então? Como ficariam? Para aqueles homens que gostam de chegar em casa, ver aquela suculência ajeitada, e dar uma certeira, límpida e cheia tapona na bunda da mulher, namorada, caso, cacho, ou rolo. Não, meus caros caetés. Deixem a bunda com pano e roupa. Não nos tirem esse raro prazer da vida.

Apesar de ser orgulho e “preferença” a bunda não deixa de denegrir também. É uma parte da anatomia humana versátil, flexível e adaptável. Mandar ir “coçar a bunda”, chamar alguém de “bundão”, “bunda mole”, e outros adjetivos demonstra como a bunda, no nosso vocabulário é versátil. Não falo do português de Portugal, pois lá bunda é cu. Assim mesmo, sem a conotação escatológica que nos, indiaida de todas as nações damos a esse vocábulo. Aliás, se alguém for um dia a Portugal e ser informado que, para entrar no país é necessário tomar uma “pica no cu”, fique tranquilo, é só uma injeção na bunda.

Se bem que, na atual conjuntura essa expressão vem ganhando novos contornos, novos significados abaixo da linha do Equador, com tanto fresco assim o querendo, mas com outro significado. Mas, deixa isso pra lá. Afinal bunda é igual a gosto, cada um tem o seu e ninguém tem nada a ver com isso.

A bunda atrai os olhares e os desejos desde o tempo das cavernas. Na Grécia antiga chegou ao seu auge com artistas se esmerando em apresentar “estautas” com bundas perfeitas, sendo retomado essa expressão artística no Renascimento. Muitos adolescentes de minha época ficaram com o braço direito forte ao ver aquelas estátuas, passando depois para revistas e periódicos especializados no assunto, afinal bunda também é arte, e Carlos Zéfiro que o ateste. Além de ser a “Shangri-lá de muitos marmanjos hoje em dia, que só vão à praia, ou balneário, ou clube com piscina só para ficar avaliando a bunda alheia.

Há aquelas feitas, em que se pagam fortunas para um cirurgião plástico meter ali silicone e sair desfilando pelas aí. Esse tipo de bunda artificial não me interessa. Acho-as feias e incômodas, principalmente se a bolsa de silicone não encontra um jeito certo de ficar. Essas bundas ora estão de ponta cabeça, ora quadrada, ora olhando para o infinito, ora para o inferno, e por aí vai.

Bunda que se preze tem que ser natural, até mesmo para aquelas que foram disprivilegiadas desse apetrecho fundamental na figura humana. A anatomia diz que o glúteo – assim é o nome do músculo que liga o íleo à coxa -, é uma evolução que permitiu ao ser humano poder ficar em posição ereta, e que deixa ereto homens, de mamando a caducando quando passa toda jeitosa em qualquer rincão, ou biboca de Pindorama. Eu acredito que o amigo Carlito Lima, nosso “Velho Capita”, dada à sua formação militar possa responder essa. Ao ver toda dengosa, rebolativa, fico logo em pé e bato continência.

São uns murunduns que fazem o gaudio de homens, mulheres, e principalmente adolescente espinhento que vive todo amarelo e fraco por causa da bunda. Mas, há bundas e bundas. Num país em que a bunda abunda – dizem que uzamericanus gostam de peitos, mas não tenho certeza -, a maioria das brigas, seja onde for, não é por causa de ciúme da moça, mas sim, por causa de ciúme da bunda.

Eu mesmo, na minha sem-vergonhice latente e congênita, ao ver uma bela bunda, prego meu olhar venenoso nessa parte subalternista. Já aconteceu até o caso de levar um beliscão da nossa amiga de confraria, a Renata Duarte, para parar de olhar para a parte ofendida de uma bunda que não era a minha. Coisas da vida! Que posso fazer, se zoiudo do jeito que sou, sinto quase um magnetismo irresistível ao ver uma bunda que abunda.

O Inesquecível Luiz Gonzaga até fez uma música para a bunda… se não me engano ela diz… “Zé Matuto foi à praia/só pra ver como é que é/mas ficou ruim da bola, de ver tanta rabichola/nas cadeiras das muié”….Mestre Lua, pernambucano arretado, sabia como elogiar uma bunda! Já, bunda de carnaval eu não gosto, pois justamente, o que meu caráter deformado e libertino quer é poder imaginar, flutuar, deixar a mente correr solta . Ver, tira toda a graça, toda essa energia primordial dos adoradores bundalísticos e bunditícios de Pindorama.

Mas, deixo aqui minha homenagem a todos os bundistas, pois em um país onde a bunda abunda e superabunda, poder gozar e deleitar-se em ver uma calipígia bunda e depois tomar uma tapona no pé do ouvido, por causa do merecido elogio, é melhor que ser cego, se bem que a vantagem do ceguinho é ver a bunda em Braille.