É bem provável que, no futuro, arqueólogos, arqueantropólogos, historiadores, pesquisadores de ruínas possam explicar a gênese, evolução e desaparecimento de um país que existiu, naquilo que Henry Kissinger chamou de “uma adaga cravada no coração da Antárctica” e que ficou conhecido mundialmente como Surubão. País que, na visão de muitos historiadores do passado, tinha tudo para ser uma grande potência, mas finou-se com um rosário de mediocridade, derrotas, investimentos pesados no retrocesso e luta encarniçada pela manutenção da ignorância, da miséria e da indigência.
O Surubão é uma mistura de países do globo terrestre. Cobrava impostos da SUécia, prestava serviços públicos de RUanda, tinha a infraestrutura do Burundi e a segurança jurídica do AfeganistÃO. Nasceu no longínquo ano de 1500 a.D, por uma improvável cagada navegacional, mas isso ainda está aberto a discussões, e desde então, o Surubão, a cada troca de marcha, mais levava sua população para o fracasso total.
Politicamente, o Surubão passou por quatro regimes de governo. Foi colônia, de seu descobrimento, até os donos da terra, em um cagaço histórico, fugirem da Europa, chegarem nele e o transformaram em Reino Unido. Passadas as escaramuças por lá, o rei voltou à sua terra natal, mas antes limpou todas as economias em ouro do Surubão e deixou a terra, literalmente quebrada. Em seguida virou Império, e, em uma quartelada por causa de um rabo de saia, virou República, e aí, meus amigos, a marcha para o desastre foi acelerada.
O sistema educacional do Surubão é digno de nota. Basicamente o Estado surubanês pega a criança de três a quatro anos, completamente analfabeta, obriga a família a matricular essa criança em uma de suas escolas estatais, tornando a população refém do Estado, e larga, o agora adolescente aos 17 anos, totalmente analfabeto, fechando um ciclo de mediocridade, militância e ignorância. O estudante da escola pública do Surubão não consegue ler um manual de aparelho celular, não consegue trabalhar com um computador, não consegue ler um texto de dez linhas, mas tem na cabeça todos os argumentos tolos, equivocados e suicidas contra as sociedades liberais. Enfim, é uma pessoa livre, mas que sonha em ser escravo de um regime totalitário.
Na Educação Superior a coisa não é diferente. Já até me disseram que nas universidades públicas do Surubão existe mais militante de ideias suicidas do que filiados de carteirinha do partido comunista cubano, em todo território da Ilha Prisão, mas isso deixarei para os historiadores do futuro.
O Surubão sempre foi hostil à pesquisa, ao desenvolvimento, ao empreendedorismo. Suas universidades, custosas, financeiramente irrelevantes não pesquisam, não produzem conhecimento científico, mas são especialistas em produzir dissertações e teses que louvam aquilo que Mikhail Bakhtin chamou de “baixo material corporal”, ou seja, a bunda. A universidade do Surubão se contentou em nivelar sua qualidade por baixo, lutando diariamente para que, quanto mais desconhecimento, quanto mais ignorância, quanto mais analfabetismo tiver em seus quadros docente e discente, tanto melhor terá cumprido a sua dita, função social.
O sistema de saúde do Surubão, que já foi decantado e louvado por muitos surubanhentos que vivem pendurado em cabides de empregos estatais e possuem planos de saúde privados é outra anomalia. Essoutrodia vi um surubanhento cacarejando em redes sociais, porque se escandalizou com a postagem de um conterrâneo seu que, foi ao hospital na gringolândia e saiu com uma conta de dez mil dólares. Esse surubanhento zurrava dizendo que no Surubão esse disparate não acontecia, afinal a saúde do país era “de grátis” e não explorava o cidadão.
Daí lembrei-se-me da fila de exames que podiam demorar dois anos entre a agenda e a realização, dos corredores dos hospitais do Surubão – aqueles que atendem pelo dito sistema de saúde gratuito, claro – cheio de gente deitada no chão, médicos e enfermeiros suplicando por um milagre, gente morrendo sem assistência médica por causa de doenças provocadas por falta de saneamento básico, educação em saúde, enfim, essas coisas desnecessárias para se levar uma vida, minimamente digna. De fato, o Surubão não é lugar para amadores.
Na política, o Surubão é outro luminar. Apesar da quartelada republicana ter mais de cem anos, ainda o país convive com capitanias hereditárias, coronelismo, caudilhismo e safadeza. A região Nordeste desse país, quem tem tudo para ser o maior polo de hortifruti do mundo, ainda convive com carros pipas, água salobra, deserto que não é deserto, descaso, cabresto político. Milhares de esfaimados e desdentados, sempre aprisionados nas lorotas de que, ao se trocar governo, cairá chuva de jabá, correntezas de jerimum, picanha, cerveja, farinha de puba, entre outras coisas.
O Surubão atingiu seu estágio de arte quando sua mais alta corte de “justiça”, tirou um prisioneiro, triplamente condenado por corrupção ativa e passiva, ladroagem da grossa, gatunagem de todos os tipos, rapinagem a ponto de não perdoar centavos e o colocou na cadeira de mandatário geral. Mais um passo para o desastre.
Mas, tudo isso deixo para que pesquisadores do futuro revolvam isso. Talvez, esse texto mixuruca, sem vergonha mesmo, possa, quem sabe, servir de pontapé de partida para que melhor se analise essa anomalia política chamada Surubão.
Dez nobre Roque, texto irretocável, parabéns aos leitores desse jornal por dividirmos a realidade contada por quem realmente tem sensibilidade do quadro negro em que nosso torrão se encontra e o despenhadeiro está logo após a curva.
Luiz, Luiz, lamá sabactani….sempre digo. Vamos voltar para o mato…lá é nosso local… irracional, retrógrado, mas bem mais civilizado que este arremedo de nação.
Excelente, Roque, simplesmente excelente. Como dizia o professor Raimundo na escolinha, “Eu queria ter um filho assim!”.
Caro Marcelo… são bondades suas e irritação deste caeté preguiçoso que produz despautérios desse quilate, mas obrigado pela massagem no ego.