DEU NO X

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

PACOTE ECONÔMICO

Há duas semanas, o ministro da fazenda gastou 7 minutos do povo brasileiro para anunciar um pacote econômico que, do seu ponto de vista, vai salvar o Brasil de todas as mazelas que seu partido fez. Começou culpando a conjuntura externa pelos impactos preocupantes na economia brasileira, mais precisamente as guerras, no seu entendimento, estão acabando com a moral econômica brasileira. A palavra desse “gênio” é sempre um amontoado de tolices.

O problema principal do Brasil, atualmente, é desequilíbrio fiscal. O governo do qual ele faz parte arrebentou as contas públicas desde que assumiu. As estatais que até 2022 deram lucros, agora estão apresentando déficit monumental, destacando o caso dos Correios que ostenta o pior resultado, com tendência a insolvência. Dois fatores contribuem fortemente com isso: o primeiro é a incompetência administrativa. Os gestores atuais não são preparados para gerir absolutamente nada. Estão ali pura e simplesmente, por apadrinhamento político.

A segunda questão é falta de criatividade gerencial porque os Correios perderam, há muito tempo, sua função social, passando a explorar, maciçamente, a prestação de serviços de entrega de encomendas. Então, o ministro da fazenda, ávido de arrecadar recursos para cobrir o rombo fiscal, instituiu a chamada “taxa das blusinhas” que cobrava imposto de importação de produtos até US$ 50. A queda de receita foi intensa e aliada com o aumento dos custos levou o déficit para algo em torno dos R$ 3,8 bilhões.

Contraditoriamente, vem o IBGE nos dizer que estamos com a menor taxa de desemprego, 6,3% e que, só este ano, milhões de pessoas foram tiradas da miséria. Embora, a instituição seja séria, seu presidente é um mau caráter. Tem histórico de falsear dados no IPEA apenas para atender o projeto político do seu partido. Mas, a dúvida que paira é a seguinte: se o desemprego está nesse patamar, por que a preocupação com a economia? Vamos por partes:

A Economia considera uma taxa natural de desemprego, chamada NAIRU, que se situa em torno dos 4,5%. Admite-se, portanto, que essa é a taxa do “pleno emprego”, ou seja, todos os fatores econômicos estão empregados e, de forma clara, quando o produto atinge seu ponto máximo, a tendência é que ele comece a cair, porque a economia se desloca em ciclos e não de forma linear. Então, a queda da economia está mais associada com um fator político do que com um fator econômico, ou seja, não é o momento para cair sob pena de desgastar a imagem do governo!

Outro fator é que com o desequilíbrio fiscal, a pressão sobre a inflação vai ser intensa. Então, vamos ter um momento no qual a renda está alta, adicionado a irresponsabilidade fiscal do governo, resultando na necessidade de aumento da taxa de juros para conter consumo e, com isso, a inflação. A taxa de juros alta implica redução no investimento, portanto, além desse fator que puxa o produto para baixo tem a alta do dólar reduzindo o resultado das exportações líquidas que é outra variável componente do PIB.

Quando tudo parece mais ou menos roteiro de um filme de terror, eis que a partir do dia primeiro de janeiro teremos mudança na presidência do Banco Central e em algumas diretorias importantes. Se este pessoal que vai assumir chegar com o objetivo de fazer o Banco Central obedecer às diretrizes do partido, vamos ter um período tenebroso na economia.

A proposta do governo com o arcabouço fiscal é uma piada. Primeiro porque isentar pessoas que ganham até R$ 5 mil já incorpora quem ganha até R$ 2.259,20 e isso representa, aproximadamente, 35% dos contribuintes. Então, novidade mesmo é para quem está acima desse valor e inferior aos R$ 5 mil, que representa, mais ou menos, 30% dos contribuintes. O melhor vem agora: tributar pessoas que ganham acima de R$ 50 mil na esperança de que a arrecadação nessa faixa compense o que deixou de ser arrecadado com a isenção até R$ 5 mil. Para isso o governo vai fixar a alíquota em …em quanto mesmo? Não se sabe! Quem ganha R$ 1,2 milhão por ano, vai pagar 10%, mas entre R$ 600 mil e esse valor não se tem um percentual definido. O que se sabe é que o governo pretende reduzir as deduções com saúde e educação. Ou seja, nitidamente o governo não sabe quanto pretende arrecadar numa faixa de renda que, numericamente, tem menos contribuintes do que a faixa mais baixa.

Outro detalhe é que, por se tratar de uma medida fiscal, deve ser observado o princípio da anterioridade, ou seja, sendo aprovado em 2025, só entra em vigor a partir de 2026. Com isso, a meta do governo de economizar R$ 375 bilhões até 2030 acaba sem uma utopia.

Em meio a tudo isso, o mercado é o culpado pelas desgraças do governo, a rejeição do presidente é superior a 90% e os bancos, isso mesmo, os bancos se uniram em defesa do ministro da economia. Ganha um Pix isento de cobrança de tarifas, quem adivinhar a razão disso. Aproveite a promoção porque daqui a pouco iremos pagar por transferência via Pix.

DEU NO X

JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

ÁGUA PRA QUÊ?

Seu Severino das Porteiras, sertanejo raro, amorenado, alto, magro, cabelo e bigode pretos naturalmente, dentes fortes, já contando seus oitenta e tantos, era sujeito de paciência pouca para perguntas tolas.

Na ponta da língua trazia sempre uma resposta afiada.

Nesses repentes era quase único por aqui.

No final dos seus dias as pernas respondiam penosamente às suas intenções, reflexo dos vários anos de trabalho árduo no campo: andava com o auxílio de dois cabos de vassoura lhe servindo de bengalas.

Certo dia ele atravessava a sala de sua casa, cimento queimado e escorregadio de tão limpo, andando com dificuldade e se equilibrando amparado nos apoios de madeira.

Um deles não cumpriu o papel adequado de lhe dar segurança, escorregou no piso liso e o velho Severino desabou; trazendo o som do baque a preencher toda a área da pequena casa, num “poc” seco e assustador de sua cabeça no chão.

Uma das filhas correu na direção da sala e foi encontrar o pai caído tentando se levantar com dificuldades.

– Chega, pai caiu! – gritou a moça com as mãos na cabeça, girando de um lado para o outro no auge do aperreio.

Logo chegaram outras pessoas e um pequeno alvoroço se criou, até que uma delas gritou:

– Corre! Traga um copo d’água pra pai. Um copo d’água pra pai! – gritava desesperada.

Aí entrou a veia de respostas em cima da bucha do velho e saudoso Severino, que mesmo meio zonzo respondeu:

– Água pra quê? Eu caí uma queda, num comi doce.

Saudade de Seu Severino das Porteiras.

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

AO VENTO – Florbela Espanca

O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amor,
A tua voz tortura toda a gente! …

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim ! … Ó vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
e a gente andar a rir pla vida fora!! …

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

J.R. GUZZO

OS SUPERSALÁRIOS DO JUDICIÁRIO E A FALSA INDIGNAÇÃO DO PT COM A MARINHA

Gleisi diz que vídeo da Marinha é “um grave erro”

Presidente do PT disse que vídeo da Marinha foi “erro grave”

Passeou pelo noticiário, e teve direito a seus quinze minutos de fama, a indignação do comitê central do PT contra um comercial da Marinha. O partido do governo tem a obrigação de apoiar o governo, ou pelo menos ficar de boca fechada, quando uma das forças comandadas pelo seu presidente da República faz propaganda, segundo ela própria, para recrutar gente. Mas não há nada como a direção do PT para aproveitar a mínima oportunidade que aparece para se fazer de esquerdista radical – naturalmente, quando pode fazer o seu show sem correr risco nenhum. Bater na Marinha, digamos, tem cara de “porrada nos milicos”, e oferece zero de perigo.

É o que acaba de acontecer com o escândalo do comercial da Marinha, promovido e denunciado pela presidente e inquisidora-chefe do PT como um “grave erro”. É grave mesmo? A peça de propaganda, um filminho com a mediocridade padrão da publicidade brasileira de hoje, mostra as durezas da vida militar e, ao mesmo tempo, as doçuras da vida civil para quem tem dinheiro no bolso. Moral da história: o governo está falando em cortar os privilégios dos militares, mas na Marinha o privilégio é rachar como um burro de carga. A presidente do partido ficou irada.

É mais uma batalha de Itararé do governo Lula: roncam de um lado, roncam de outro, e no fim nunca acontece nada. A Marinha fez o seu manifesto contra o plano do ministro Fernando Haddad, morto já na sala de parto, de cortar benefícios excessivos na remuneração do funcionalismo público, incluindo aí os militares. O PT fez o seu número como “partido de esquerda” – afinal das contas, esquerda tem de bater em “milico”, e a esquerda de Lula está travada nessa praia. O chefe tem medo de farda há 40 anos, e não admite que ninguém abra o bico para falar mal de gente fardada.

Dá, mais uma vez, uma bela soma zero. Já está decidido que não haverá corte nenhum nos contracheques dos militares. A Marinha não precisava do seu comercial, o PT não precisava se meter na história e no fim, como na “Festa no Interior”, ninguém matou e ninguém morreu. Entre eles, é claro: para o público pagante foi mais uma prova da determinação enfurecida das castas estatais mais privilegiadas em manter os seus privilégios. Quanto mais absurdos, mais histérica fica a sua defesa.

A prova veio junto com o pudim. Na mesma hora em que Marinha e PT faziam cara feia um para o outro, o consórcio de sindicatos que hoje fala em nome dos magistrados (chamam a si próprios de “associações”, mas são mais vorazes que qualquer dessas CUT que há por aí) proclamou que não vai aceitar que se mexa um milímetro nos seus esquemas de remuneração atuais. Não vão aceitar e Lula, o governo e o PT vão baixar o facho e engolir com casca e tudo. Por que mexer no pirão dos militares, se ninguém vai mexer no pirão dos juízes, desembargadores, procuradores, promotores e no resto do Judiciário mais caro do mundo?

A classe judicial exige – e Lula, o PT e sua PEC para “reduzir os altos salários” da máquina pública ficam de quatro diante da exigência, uma regra possivelmente inédita no planeta. A categoria não apenas se recusa a aceitar a mínima redução nos atuais privilégios de sua remuneração, como rejeita qualquer possibilidade de que esses privilégios deixem de aumentar ainda mais no futuro. É simples. Por conta das fraudes legais em vigor, os juízes, procuradores etc. etc. ganham mais, e frequentemente muito mais, que os R$ 44 mil por mês que a lei fixa como o salário teto para os servidores públicos.

Esse “teto” é uma das piadas mais insultuosas do Brasil estatal. Só para se ter uma ideia: os desembargadores acusados de vender sentenças no Mato Grosso do Sul estão ganhando, com isso e mais aquilo, R$ 200 mil mensais. Existe, aliás, gente que ganha muito mais que isso na magistratura brasileira. Mas os sindicatos judiciais não estão nem um pouco satisfeitos. Exigem que os seus salários, que já são os mais altos do mundo, continuem aumentando para sempre, por via dos infames “penduricalhos” e outras trapaças legais.

Cortes nos salários, benefícios e vantagens dos militares? Esqueçam. Esqueçam, aliás, qualquer corte, em qualquer área do funcionalismo. Para que pensar nisso, se os gatos mais gordos que se alimentam do Tesouro Nacional exigem ganhar mais ainda do que já estão ganhando? Os sindicatos da categoria judiciária dizem que se forem colocados limites no aumento perpétuo de seus ganhos, “metade” dos magistrados vai desistir da carreira, e aí seria preciso contratar outros, “ainda mais caros”. Não vai haver, é claro, uma única demissão, como você sabe muito bem – quem vai largar esse osso que, entre mil e uma vantagens, oferece a possibilidade praticamente oficial de vender decisões e, na pior das hipóteses, ser condenado a se aposentar com vencimentos integrais, mais a aposentadoria e mais todos os aumentos que aparecerem, até o fim da vida? Pensando bem: coitada da Marinha.

DEU NO JORNAL

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

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