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JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Antônio Candido

Antônio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 24/7/1918. Sociólogo, professor, escritor, político, crítico literário e estudioso da literatura brasileira, é uma das principais referências do País na área da cultura e um dos pensadores sobre a formação do Brasil ao lado de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes chamados de “intérpretes do Brasil”.

Filho do médico Aristides Candido de Mello e Souza, seus primeiros estudos se deram em casa, com a mãe, Clarisse Tolentino de Mello e Souza. Concluiu o ensino secundário em 1935, no Ginásio Estadual de São João da Boa Vista, SP. Iniciou a formação acadêmica na Faculdade de Direito e Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP, em 1939. A primeira foi abandonada no 5º ano e formou-se em Ciências Sociais em 1942. A carreira de crítico literário teve início na revista “Clima”, em princípios da década de 1940, junto com um grupo de destacados amigos: Paulo Emilio Salles Gomes, Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado, Gilda Rocha de Mello e Souza, com quem veio a se casar, dentre outros.

Iniciou a carreira de professor em 1942, na USP, como assistente do prof. Fernando de Azevedo, de quem era também assistente Florestan Fernandes. No ano seguinte, passou a colaborar com o jornal Folha da Manhã, com artigos sobre escritores que despontavam, tais como João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. Em 1945, obteve o título de livre-docente com a tese “Introdução ao método crítico de Silvio Romero”. O título de doutor em Ciências Sociais veio em 1954 com a tese “Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida”, um de seus destacados livros, publicado em 1964. Trata-se de uma obra considerada até hoje como um marco nos estudos brasileiros sobre sociedades tradicionais.

As carreiras de crítico e professor foram intercaladas com a militância política, iniciando com o Grupo Radical de Ação Popular, em princípios da década de 1940. Por essa época, participou da criação do jornal clandestino “Resistência”, para combater a ditadura de Getúlio Vargas. Em seguida, o grupo cria a União Democrática Socialista (UDS), que pouco depois adere à esquerda democrática, para formar o Partido Socialista Brasileiro (PSB), em 1947. Aí permaneceu até 1954 e foi dirigente da seção paulista. Consolidando a carreira de crítico, criou o Suplemento Literário, encartado aos domingos no jornal O Estado de São Paulo, junto com os amigos Paulo Emilio Salles Gomes e Wilson Martins. Durante muitos anos, o suplemento dominical foi visto como o principal veículo do pensamento crítico brasileiro.

Sua obra-prima, Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, lançada em 1959, consiste num apurado estudo da produção literária nacional. Para isso, utiliza-se de um método amplamente empregado mais tarde: a dialética, que envolve uma visão inter e transdisciplinar, que entende a literatura como uma das expressões da nossa cultura e objeto de estudos das Ciências Sociais. Segundo o autor, “o livro constitui uma história dos brasileiros no seu desejo de ter uma literatura”. Pode-se dizer, também, que é uma história de brasileiras e brasileiros em “seu desejo de ter uma nação”. Vem daí a sua inclusão entre os autores “intérpretes do Brasil”.

No período de 1964-1966, quando o Brasil ficou inabitável para qualquer intelectual avesso ao Golpe Militar de 1964, foi dar aulas de literatura brasileira na Universidade de Paris. Em 1968, no auge da ditadura, lecionou literatura comparada na Universidade de Yale, nos EUA. De volta ao Brasil, retoma sua cadeira na USP e, a partir de 1974, torna-se professor-titular de Teoria Literária e introduz o estudo da Literatura Comparada na grade curricular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. No cargo, foi responsável pela formação de destacados nomes: Antônio L. de Almeida Prado, Fernando Henrique Cardoso, Roberto Schwarz, Davi Arrigucci Jr., Walnice Nogueira Galvão, João Luiz Lafetá, Antônio Arnoni Prado e Antônio Cagnin entre outros.

Aposentou-se em 1978, mas permaneceu ligado à pós-graduação, orientando trabalhos acadêmicos até 1992, quando orientou a última tese, a do crítico mexicano Jorge Ruedas de la Serna. Permaneceu como crítico atuante na área literária e na política. Em 1980, ao lado de outros intelectuais, como Sergio Buarque de Holanda, participou da criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Para ele, no sistema capitalista “não havia face humana nenhuma” e a redução da desigualdade social é fruto das lutas do socialismo, a exemplo de direitos trabalhistas, como as férias e a jornada de 8 horas de trabalho. Em sua opinião, o socialismo seria a possibilidade de almejar a equidade. Explicava: “Por exemplo, sou um professor aposentado da USP e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode”.

Foi agraciado com grandes premiações literárias, como o Prêmio Camões, em 1998, e o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México, em 2005. Foi contemplado também com o Prêmio Jabuti em 4 ocasiões: 1960, 1965, 1966 e 1993; Prêmio Juca Pato (2007); e Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (1993). Em 2005, sofreu um abalo com a morte de sua esposa, Gilda de Mello e Souza, também professora da USP, e passou a viver mais recluso, distante da vida social e acadêmica, porém sempre procurado por alunos e instituições. Faleceu em 12/5/2017.

Antônio Candido deixa um considerável acervo de obras essenciais, com destaque, além das citadas, para: Tese e antítese: ensaios (1964); Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária (1965); Na sala de aula: caderno de análise literária (1985); O estudo analítico do poema (1987); O discurso e a cidade (1993); Iniciação à literatura brasileira – Resumo para principiantes (1997); O Romantismo no Brasil (2002) e outros livros em parceria. Em termos biográficos, expondo seu legado, temos: Antônio Candido: pensamento e militância (1999), de Flavio Aguiar; Antônio Candido y los estúdios latinoamericanos (2002), de Raúl Antelo; História e literatura: homenagem a Antônio Candido (1999), de Jorge Ruedas de la Serna; A formação de Antonio Candido: uma biografia ilustrada (2020), de sua filha Ana Luiza Escorel. Uma síntese biográfica pode ser vista na homenagem que lhe foi prestada pelo Jornal da USP, em 2017. Clique aqui para acessar.

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