PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

CANTIGA PARA NÃO MORRER – Ferreira Gullar

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento

José Ribamar Ferreira, o  Ferreira Gullar, São Luís-MA, (1930-2016)

COMENTÁRIO DO LEITOR

CORREÇÃO

Comentário sobre a postagem MINHA QUERIDA DOUTORA E AMIGA

Peninha:

Aqui se faz necessária uma correção:

Dércio Marques não é o autor da música

“Disco voador” ele a regravou em seu Lp de 1983 “Fulejo”.

Esta música foi composta por Diogo Mulero, o Palmeira da dupla Palmeira e Biá, que em 1955 a gravaram em disco de 78 rotações.

A seguir, o vídeo com a versão original:

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

RETIRANTE

Este colunista à beira do Rio Madeira. Porto Velho, Rondônia

* * *

Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

Mote de Marconiza

Quando saí do Sertão
Há muito tempo passado
Mamãe me deu como agrado
Um saco de algodão
Cheio de recordação
Do meu velho Cabrobó
A bênção da minha vó
Desviou-me do buraco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

Trouxe meu velho pandeiro,
Uma peixeira, um anel,
Um folheto de Cordel,
Patuá de benzedeira,
O meu pião, a ponteira,
A carrapeta, o bozó,
Cachaça no mororó
Pra quando tivesse fraco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

Trouxe a pedra de amolar,
A foto de Padim Ciço,
Reza de quebrar feitiço
(No caso de precisar).
Ainda pude lembrar
Dum disco de Matricó *
Um bilhete do xodó
Tinha também no bisaco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

*PAULO MATRICÓ, poeta, cantor e compositor nordestino.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

DEU NO JORNAL

ARROMBOU!

Os brasileiros superam, neste domingo (28), a marca de R$ 2,9 trilhões em (muitos) impostos pagos ao governo, diz o Impostômetro.

Em média, o pagador de impostos bancou R$ 10,8 bilhões por dia, este ano.

* * *

Um domingo arrombativo.

Mais de 10 bilhões por dia neste ano de 2025.

Êita peste!!!

E sai tudo do bolso dos pagadores de impostos.

Coitada da cachorra Xolinha, mascote do JBF…

A bichinha ficou de tabaca arrombada com essa fantástica quantia.

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

SEM CHANCE

O prefeito da cidade Caaporã, Paraíba, ilustríssimo senhor Chico Nazário, foi filmado guardando, cerca, de R$ 400 mil numa bolsa. As apurações apontam para favorecimento de uma empresa para fazer a coleta de resíduos, cujo contrato beira os R$ 3,2 milhões supera o valor da gestão passada, mais que o dobro. Lógico, que o prefeito nega as acusações, alegando se tratar de um “vídeo fake” e que nada daquilo aconteceu. Acrescente-se que o intermediador desse contrato foi nomeado para uma secretaria e recebe, mais ou menos, R$ 9 mil.

De acordo com o IBGE, Caaporã, tem 21.193 habitantes, uma média de salário formal de 1,7 salários-mínimos, com 5.147 pessoas ocupadas. Registre-se que 48% da população vive com menos de 0,5 salário-mínimo por mês. Surpreende a taxa de escolarização entre 6 e 14 anos: 99,51%. O que interessante é que 91,39% da receita do município vem de transferências governamentais, ou seja, recursos repassados pela União e pelo Estado. Considere, ainda, que a Paraíba é o terceiro estado no Brasil com maior taxa de analfabetismo e Caaporã, particularmente, tem 29% da população analfabeta.

Poderia desenvolver uma tese de que a corrupção se alastra mais rápido em municípios com essas características, ou seja, quanto mais dependente do governo, quanto mais dinheiro vem e por mais “carimbado” que ele seja, o pessoal acha um jeito – diga-se, legal – de sacanear com a população. Seria, todavia, simplista demais e, além de tudo, seria esquecer que grande parte dos nossos representantes são doutores (advogados, médicos, engenheiros, educadores etc.) e que são eles os principais vetores do estado corrupto que é o Brasil.

Lamentavelmente, esses fenômenos não são próprios de cidades pequenas, interioranas, pobres e dependentes. No seio do estado mais rico do país, ali na conhecida região do ABCD, um prefeito, que no passado foi acusado de improbidade – quando era secretário municipal – e foi proibido de ocupar cargos públicos, incluindo os cargos eletivos. Apesar disso, esse cidadão foi eleito prefeito e foi afastado do cargo devido a uma operação da Polícia Federal.

Como se diz, “é chover no molhado” falar de corrupção no Brasil. Todos os dias, ações da PF, do TCU – apesar de sua inclinação política – revelam meandros cada vez mais intricados de atos de corrupção e não acontece absolutamente nada. O Brasil tem umas coisas estranhas: não há prisão perpétua, mesmo quando se trata de um crime hediondo. A corrupção deveria ser assim considerada, mas tudo que se faz é proibir o envolvido de concorrer a cargos eletivos por oito anos, ou seja, duas legislaturas. Nesse tempo, usando as brechas legais, o acusado “prova” que é inocente.

Enquanto isso, questões fundamentais como saúde, educação, segurança alimentar, empregabilidade, dentre outras, vão ficando relegadas a um segundo plano, porque o que nossos governantes pretendem, e precisam, é que a população continue dependente. Para não me alongar com termos técnicos, convido os senhores a uma rápida lida no Anuário de Educação Brasileira (Todos pela Educação), recentemente divulgado. Nossos alunos são incapazes de compreender matemática e português. Cerca de 8% dos alunos do terceiro ano do ensino médio conseguem proceder uma leitura correta e responder algumas questões de matemática.

A disparidade entre os estados do nordeste é quase uniforme, mas um dado preocupa: o baixo percentual de alunos do 3º ano do ensino médio que conseguem alguma proficiência em matemática e português. Nos anos iniciais, observa-se casos de um percentual elevado, por exemplo, 39,9%, mas quando a coisa tende para os anos finais, vira loucura e a falta de entendimento: o que houve com esse aluno que aprendeu alguma coisa de matemática e português nos anos iniciais? Ele chegou nos anos finais sem saber muito?

Eu vi uma declaração de um sindicato de professores comentando estes resultados. Para o interlocutor, a culpa não é apenas do professor, entretanto, não se enxerga uma pista de quem poderia ser responsável por esse estado caótico. Na verdade, há uma cadeia de culpados – mas, não há culpados na cadeia – e o principal dele, sem dúvida e o estado. Quem contrato o professor, é o estado e, também, cabe a ele fornecer as condições para se produza um bom resultado.

Fala-se da falta de dinheiro, da precariedade das estruturas físicas, da falta de equipamentos adequados etc. e tudo isso decorre, apenas, de um problema básico: corrupção. O desvio de dinheiro público conduz a essa situação de lamúria que se propaga dia a dia sob as benesses de quem deveria combatê-la.

Como decorrência da falta de conhecimento, temos os analfabetos funcionais, o subemprego, o atraso tecnológico, a mendicância por recursos constitucionais, a manutenção da pobreza e no fim dessa linha de miséria, temos as mesmas figuras que são sempre eleitas porque sabem manter esse povo dependente.

Nos velhos filmes de faroeste, uma das cenas mais comuns eram os grandes duelos. As divergências eram resolvidas na hora e o mais rápido no gatilho, o vencedor. Os duelos, atualmente, deveriam ser mais intensos no campo das ideias e não das armas porque é complicado quando uma pessoa busca defender uma ideia, de forma clara, democrática, e se depara com uma arma na mão de outra pessoa que tem divergência. Ter divergência não significa, necessariamente, ter razão.

Nos Estados Unidos é bastante comum o uso de armas para calar ideais. Lincoln (1865), por exemplo, foi assassinado por John Booths o por motivação o extremismo sulista após a guerra civil americana. James Garfield (1881) foi assassinado por Charles Guiteau por conta das suas frustações com sistema de patronagem, ou seja, o homem – um advogado medíocre, fracassado – escreveu um discurso em apoio à candidatura de Garfield e esperava, com isso, obter algum cargo na administração e por não conseguir, tomou a decisão de assassinar o presidente em 1901.

O caso de Kennedy (1963) vive cercado de controvérsias com um forte enredo de conspiração, dentre algumas, a que o próprio governo acobertou o assassinato, que havia mais de um atirador, que era por conta da invasão da Baía dos Porcos e que havia ligação entre Lee Oswald e Fidel Castro etc. Mais recentemente, uma bala de fuzil passou zunindo a orelha de Trump.

Outros casos envolvendo atentados, mas que as vítimas sobreviveram também são encontrados nos Estados Unidos. Há alguns bem esquisitos como o caso de Andrew Jackson (1835) que a arma falhou duas vezes e Gerald Ford que foi ameaçado por duas mulheres. Theodore Roosevelt (1912) e Ronald Reagan (1981) foram atingidos por armas de fogo. O primeiro, apesar de baleado, continuou o discurso.

No Brasil, os casos mais notórios envolvem Arnon de Mello que foi atirar num adversário, no senado, e atingiu outro que “pagou o pato” e, evidentemente, o caso de Bolsonaro que levou uma facada durante a campanha. Há, certamente, outros casos conhecidos, mas fiquemos com estes que foram citados. A questão dessas citações, está associada com o assassinato de um jovem de 31 anos que defendia o ideal de direita americana. Na Colômbia, durante a campanha presidente, um candidato da direita morreu em consequência dos tiros disparados um por jovem de 14 anos.

É sabido que a esquerda, de um modo amplo o socialismo, tem regras bem nítidas de implantação do seu sistema mundo a fora. Milhões de pessoas morreram sob o domínio de Lênin, não se sabe quantos se calam pelo regime da Coreia do Norte, mas é sabido as atrocidades cometidas por Che Guevara na, chamada, revolução cubana. O medo é uma forma natural de imposição. É por conta do medo que acontecem muitos abusos sexuais de crianças, por exemplo. Parece algo, infinitamente, paradoxal se falar de democracia, mas não se permitir que pensamentos contrários sejam ditos, defendidos ou pronunciados.

Não se pode calar um pensamento contrário à bala. A tentativa de silenciar pela força o que diverge de nossas crenças é não apenas um erro ético, mas uma afronta direta à ideia mais fundamental da democracia: a convivência entre os diferentes. A bala é a negação da palavra. Quando se abandona o argumento e se opta pela arma, decreta-se o fracasso do diálogo.

A democracia não é um lugar de unanimidades forçadas, mas um palco de debates vigorosos, onde o dissenso é não só permitido, mas necessário. É na pluralidade de vozes que se constrói o bem comum. E nenhuma sociedade pode dizer-se justa se não for capaz de proteger aqueles que pensam diferente. A história está repleta de exemplos de regimes que tentaram apagar pensamentos com pólvora. Mas ideias não sangram, não morrem, ao contrário: quando reprimidas, tendem a crescer com ainda mais força. Quem deseja calar o outro com violência, revela não apenas intolerância, mas medo. Medo da palavra, medo da mudança, medo do confronto civilizado.

Respeitar o pensamento contrário é um ato de coragem democrática. Significa aceitar que a verdade pode ter várias faces, que não somos donos do mundo nem da razão. E é justamente esse respeito que diferencia uma sociedade autoritária de uma sociedade livre. Portanto, que nunca se normalize o silêncio imposto pela violência. Que nunca se tolere o discurso que legitima o ódio contra quem discorda. Que nunca se esqueça: numa democracia, o embate se dá com ideias, não com balas. E é no ruído saudável dos argumentos, e não no estrondo de tiros, que se constrói um futuro verdadeiramente humano.

O abuso político pode levar a consequências extremas como o que acontece atualmente no Nepal. Confesso que não se o Brasil tem um termômetro que mostre a real temperatura. Ao que parece, não.

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Graça Aranha

José Pereira da Graça Aranha nasceu em 21/6/1868, em São Luís, MA. Escritor e diplomata, foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, em 1922. Seu romance Canaã é considerado um dos grandes marcos do nacionalismo e do pré-modernismo no período 1902-1922. Foi também um dos fundadores da ABL-Academia Brasileira de Letras, em 1897.

Filho de Maria da Glória de Alencastro Graça e Temístocles da Silva Maciel Aranha, tradicional família do Maranhão. Graduado em Direito pela Faculdade do Recife, atuou na magistratura e fez carreira diplomática servindo em Londres, na condição de secretário de Joaquim Nabuco. Foi ministro na França, Holanda e Noruega. Assim, esteve a par dos movimentos de vanguarda que surgiam na Europa. Ao retornar ao Brasil, se aproximou dos jovens modernistas que buscavam uma renovação na arte brasileira e participou ativamente do movimento. Proferiu a conferência na abertura da Semana de 1922 – “A Emoção Estética na Arte Moderna” – e sua presença foi vista como um importante apoio intelectual ao movimento modernista.

Em sua conferência retomou aspectos centrais de seu livro A estética da vida (1921) e lança as bases do evento modernista: “o que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil, e como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a germinação, tudo promete uma admirável florada artística”. Sua importância para o movimento modernista de 1922 tem sido minimizada, apesar da repercussão de suas obras e de ter feito o discurso de abertura da Semana de 1922. Foi definido por Oswald de Andrade como o “protomártir da nova era” e descrito por Mário de Andrade como “a antemão da Semana”. Para Di Cavalcanti, ele teria dado um ar de “seriedade” ao evento, pois “sua habilidade de diplomata, seu savoir faire de mundano, sua autoridade de mais velho, agiam como música sedutora”.

Segundo alguns autores, ele passou a ter sua presença sistematicamente desprezada nas avaliações do movimento. Ao que parece, isso se deve à incorporação de um discurso formulado pelos próprios participantes do movimento, que, no decorrer do tempo, elegem e cristalizam as imagens de Mário e Oswald de Andrade como seus líderes legítimos, vindo a ofuscar a pluralidade do grupo modernista. Em 1924 proferiu uma palestra chamada “O Espírito Moderno” na própria ABL e fez severas críticas à Academia, acusando-a de ser conservadora, de constranger a livre inspiração e de tolher o jovem talento. “Se a Academia se desvia desse movimento regenerador, se a Academia não se renova, morra a Academia!”. Pouco depois, em outubro de 1924, se desligou da ABL por meio de uma carta, formalizando seu rompimento com a instituição que ajudara a fundar. Sentiu que sua permanência na Academia era incoerente com suas ideias vanguardistas.

Casou-se com Maria Genoveva de Araújo, em 1891, e mais tarde manteve relacionamento amoroso com Nazareth Prado, irmã de Paulo Prado, ambos já casados. Em 1928, ele passou a viver abertamente com Nazaré, embora não pudessem se casar devido às restrições legais da época. Em 1935 tiveram suas “Cartas de amor” publicadas. O relacionamento durou mais de 2 décadas, até sua morte em 26/1/1931. Tal vínculo com a famíla Prado, facilitou sua aproximação com os modernistas da Semana de 1922, tendo em vista que Paulo Prado foi um de seus organizadores. O relacionamento amoroso prolongado influenciou sua atuação pública em defesa do divórcio. Tal visão crítica da sociedade conservadora aparece também em suas obras literárias. Qustões como liberdade individual, moralidade e crise de valores são temas recorrentes.

Sua ligação com Paulo Prado foi reforçada pelos negócios, que não eram poucos. Em meados de 1915, Paulo presidia Algumas empresas, como o Banco do Comércio e Indústria, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o Curtume Água Branca, o Frigorífico Barretos, a Vidraria Santa Marina, além de negócios imobiliários no Guarujá e o Automóvel Clube. Por essa época Paulo lhe enviou uma carta a respeito de uma remessa de café para a Rússia e ele passa a trabalhar para a família Prado, a partir de 1915, intermediando os interesses da empresa na Inglaterra.

Foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e da Ordem Militar de Cristo, ordens honorficas portuguesas. Deixou diversos livros publicados relevantes para Movimento Modernista, tais como A estética da vida (1921), Espírito moderno (1925), Futurismo (manifesto de Marinetti e seus compannheiros) (1928), e um texto autobiográfico explicitando seu estilo e forma literária: O meu próprio romance (1931).