Manifestantes no Congresso Nacional durante atos de 8 de janeiro de 2023
Os ministros do Supremo condenaram 15 manifestantes do 8 de janeiro que nem estavam na invasão das sedes dos três poderes – nem sequer saíram da frente do QG do Exército. Esses 15 se recusaram a um acordo pelo qual eles reconheceriam o crime de golpe de Estado etc., e passariam por uma lavagem cerebral de “aulas de democracia”. A votação foi no plenário virtual, terminou em 9 a 2. Kássio Nunes Marques e André Mendonça foram os dois votos vencidos, todos os demais votaram pela condenação.
O relator, Alexandre de Moraes, disse que, embora não tenham participado dos atos em si, os réus, lá estando, demonstraram a intenção de golpe de Estado incentivando as Forças Armadas. Isso foi endossado por mais oito ministros do Supremo. É mais um caso para ser estudado nas faculdades de Direito, porque agora as pessoas estão sendo punidas pela intenção. Isso já se discutiu abundantemente no Supremo: ninguém pode ser punido pela intenção, se não concretizou. Se os manifestantes estavam lá todo dia com palavras de ordem, música principalmente, para incentivando as Forças Armadas, elas não caíram no conto do incentivo, não morderam a isca.
Mas dessa vez os réus não foram condenados a 17 anos; pegaram um ano, convertido em prestação de serviços à comunidade, com proibição de uso de arma, entrega de passaporte e algumas outras restrições. Ou seja, quiseram dar uma lição nessas pessoas, que foram todas conduzidas para o presídio passando por cima do que diz a Constituição sobre flagrante delito. Foram presas em flagrante, embora não tivesse havido perseguição depois do 8 de janeiro, foram postas nos ônibus de maneira enganosa. É um episódio que vai ser muito estudado ainda nas escolas de Direito neste país.
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Toffoli continua anulando processos a torto e a direito
Um ministro do STF, sozinho, anulou um processo da 13.ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo envolvendo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Dias Toffoli mandou arquivar, contra a opinião da Procuradoria-Geral da República de Paulo Gonet, e contra a opinião da juíza titular da 13ª Vara. Toffoli disse que as provas eram imprestáveis, mas a juíza afirmou que havia outras provas imunes à contaminação. São aqueles registros da Odebrecht, de caixa 2, na campanha de Alckmin à reeleição para o governo do estado. Um total de R$ 8,3 milhões envolvidos. A defesa de Alckmin diz que foi feita justiça.
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Candidato que compra voto vai preso, mas e o eleitor que vende?
Eu quero saber o que vai acontecer com eleitores que venderam voto em Ourilândia do Norte (PA), porque pegaram o vereador que comprou – ele até mandou usarem óculos com microcâmera para provarem que estavam votando nele. O vereador e candidato, Irmão Edivaldo, foi preso, saiu pagando fiança, mas e os eleitores? Não existe um crime que não tenha outro lado, é o ativo e o passivo. Eleitor que vende o voto é tão criminoso quanto o que compra. Esses eleitores serão punidos para servir de exemplo aos outros, assim como o Supremo quer usar o pessoal do 8 de janeiro para servir de exemplo, de “lição de democracia”?
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Personalidades da esquerda estão sentindo o crescimento da direita
Com essa onda de direita, as coisas estão feias para o lado da esquerda. A Rede – que era o partido de Randolfe Rodrigues, que saiu e voltou para o PT –, fundada pela Marina Silva e pela Heloísa Helena (ou seja, já tem um racha lá dentro), só elegeu quatro prefeitos e 71 vereadores. Heloísa Helena, que já foi senadora, candidata a presidente da República, nem sequer se elegeu vereadora no Rio de Janeiro. Outra figura da esquerda, Manuela D’Ávila, que foi companheira de chapa de Fernando Haddad em 2018, anunciou que, depois de uns 25 anos, está saindo do Partido Comunista do Brasil. Também viu que não está funcionando. Cada partido tem a sua ideologia, mas a ideologia majoritária brasileira sempre foi conservadora, liberal, de valores ocidentais e judaico-cristãos.
Jornalistas mais engajados foram orientados a divulgar, sábado, que Lula (PT) caiu durante o banho. Um pé do banquinho em que estava sentado teria se quebrado, fazendo-o cair, bater a cabeça e ganhar cinco pontos na nuca.
Gerou a dúvida: em que estado Lula se encontrava para ter de tomar banho sentado? Estava sozinho?
O Planalto achou melhor alterar a versão: “ele escorregou”.
O dr. Roberto Kalil citou pequena hemorragia e ordenou observação para evitar piora, mas a assessoria decidiu armar uma sessão de fotos fazendo de conta que Lula trabalhava normalmente.
A História prescreve transparência: o presidente deveria ter contado o ocorrido a veículo insuspeito, expor o curativo, mostrar que está bem.
A saúde do presidente é assunto de interesse nacional e não pode ficar a mercê de conveniências e jogadas de marqueteiros de fim de semana.
Botar Lula posando para foto foi uma idéia infeliz, por isso não faltou quem lembrasse as velhas farsas com Tancredo Neves e Costa e Silva.
Não parece ser o caso, mas era grave o estado do general Costa e Silva e de Tancredo Neves quando ambos foram levados a posar para fotos.
Costa e Silva, Tancredo Neves e Lula
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A nota aí de cima termina dizendo que o caso de Lula não parece ser o caso de Costa e Silva e Tancredo.
Torço para que seja isso mesmo.
Não desejo a morte de ninguém.
Quem me conhece sabe que penso assim.
Torço para que Lula viva muito tempo.
Até mesmo para pagar tudo que ainda nos deve.
Que não é pouco.
E essa história de tomar banho sentado num banco tá muito esquisita…
The Wild Bunch, EUA (1969), traduzido no Brasil para “Meu Ódio Será Sua Herança”, possui uma abertura intrigante onde a uniformidade com a longa e antológica sequência final do longa-metragem. O filme começa com um grupo de policiais uniformizados, montados a cavalo, entrando numa pequena cidade norte-americana decadente. O bando cruza com crianças que brincam no meio da rua, perto dos trilhos de um trem. Algumas tomadas esparsas mostram que a brincadeira infantil é um bocado cruel: os meninos jogaram escorpiões no meio de um formigueiro, e os bichos venenosos estão sendo devorados pelas formigas. Junto, há uma tenda onde um pastor exaltado prega a salvação da alma, ignorando a crueldade infantil contra os animais indefesos.
“Meu Ódio Será Sua Herança” encerra enfocando os remanescentes do mesmo grupo de homens que aparece no princípio. Eles não são policiais, e sim uma quadrilha de assaltantes de banco; aquele era apenas um disfarce, como o espectador logo vai descobrir na movimentada e sangrenta sequência que abre o filme com gosto de pólvora. Não há heróis aqui, nem vilões. Todo o longo espectro de personagens é moralmente questionável.
Na ocasião do fim do longa os foras da lei estão no México, e se dirigem para resgatar um dos membros do grupo, preso por um rebelde paramilitar chamado General Mapache (Emilio Fernandez). O violentíssimo tiroteio que se segue não apenas encerra o filme de maneira brilhante, mas fecha um círculo e explica a cena dos escorpiões da abertura; os escorpiões são uma metáfora para os bandidos.
Os escorpiões são intrigantes porque jamais estiveram no roteiro do longa-metragem. Na verdade, eles foram uma sugestão de Emilio Fernandez, que contou ao cineasta Sam Peckinpah como se divertia no deserto mexicano, quando era menino. Peckinpah percebeu a fascinante simetria e filmou o ataque das formigas aos escorpiões abusando de planos-detalhes. Ao fazê-lo, acabou concebendo uma das aberturas mais estranhas, criativas e interessantes do cinema contemporâneo.
Enquanto filmava nos sets poeirentos do México, é possível que o diretor não soubesse que estava colocando uma pá de cal no já combalido gênero western. Adepto dos chamados westerns crepusculares, que lamentavam a proximidade do fim do gênero por causa do crescente desinteresse das novas gerações de espectadores, “Meu Ódio Será Sua Herança” transportava para a história este lamento. Foi uma despedida honrosa e adequada, já que o filme não é ambientado nos anos de ouro do Velho Oeste, mas em 1913.
Às vésperas da Revolução Mexicana, o antigo código de honra dos homens violentos e beberrões já não valia mais nada. O mundo agora era urbano. Botas viravam sapatos engraxados, revólveres transformavam-se em metralhadoras. A violência migrava dos descampados empoeirados para as cidades grandes. O Velho Oeste dava os últimos suspiros. Esse é o grande tema da obra de Sam Peckinpah, e também o pano de fundo do mais controverso e impactante dos filmes que dirigiu.
Em 1969, “Meu Ódio Será Sua Herança” foi recebido da mesma forma que “Clube da Luta” foi em 1999: sob acusações pesadas de ser hiperviolento e gratuito, até mesmo fascista. Para alguns, Peckinpah glorificava a violência. Reza a lenda que o astro William Holden teve uma violenta briga com o cineasta, após ver o filme pronto e odiar o resultado final. A verdade é que o filme é tremendamente violento mesmo: somente no verdadeiro balé de sangue que é o duelo final, Peckinpah gastou doze dias e mais de 10 mil cartuchos de bala de festim.
Sim, é verdade que o filme apresentou uma nova maneira de representar a violência no cinema, utilizando pela primeira vez a câmera lenta para mostrar mortes cruas. Caprichando no sangue e no estilo, Peckinpah enfatizava o sangue e fazia as mortes ganharem um significado simbólico e poético que ultrapassa a morte em si. No cinema dele, morrer dói pra caramba. Mas muita gente não entendeu.
A péssima recepção do filme pelas plateias no mundo foi ajudada pela estrutura narrativa incomum. Um filme tradicional enfatiza o enredo ou os personagens; “Meu Ódio Será Sua Herança” não faz nenhum dos dois. Pike (William Holden) lidera o bando de assaltantes que se encaminha para uma última missão, que é roubar um trem carregado de armas para um rebelde mexicano. Eles são perseguidos por um grupo, liderado por Deke Thornton (Robert Ryan), cujo objetivo é capturar ou matar Pike.
Os dois já foram parceiros, anos antes, mas algo separou seus caminhos. Nenhum deles é retratado com profundidade; Peckinpah só oferece fragmentos do passado. Pike e Deke são homens duros, que mostram nos rostos cansados e nos ombros caídos o peso dos anos. Ambos são melancólicos. Sabem que estão ultrapassados pelo tempo. Sabem que o fim está próximo.
O grupo de Pike bebe o tempo todo e frequentemente cai na gargalhada com piadas bobas, como se estivesse à beira da histeria. O personagem de William Holden, ruminando as palavras e com o olhar perdido no horizonte, resume perfeitamente o clima do filme: eles pertencem ao passado. Não há futuro possível para gente assim.
“Meu Ódio Será Sua Herança” documenta a melancolia do fim de uma era, a troca de guarda entre duas gerações muito diferentes. À medida que encerrou o tempo dos faroestes e inaugurou a fase da hiper violência, representou a mesma coisa para Hollywood. Pouquíssimos filmes têm essa honra de serem marcos divisórios. Por isso, esse aqui é um clássico inesquecível.
Trailer MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah, WARNER, 1969
Terminal petrolífero iraniano de Kharg, no Golfo Pérsico, em foto de 2017
Especialistas no complexo comércio mundial do petróleo, alguns bancos e casas de análises sobre problemas econômicos globais vêm alertando para uma possibilidade que, caso se concretize, afetará fortemente a vida de todos os países: novos aumentos nos preços do petróleo. As cotações já haviam subido cerca de 10%, chegando a US$ 78/barril nos primeiros dias de outubro, principalmente como reação aos conflitos entre Israel e Irã, e à invasão do sul do Líbano pelas forças armadas israelenses no ataque aos terroristas do Hezbollah.
Previsões feitas após o ataque de mísseis iranianos contra Israel indicavam que os conflitos podem aumentar em graus difíceis de mensurar; se isso ocorrer, o mercado de petróleo e seus derivados não escapará de forte pressão altista sobre os preços. Olhando o passado recente, especialmente nos últimos dois anos, os preços não sofreram altas explosivas nem mesmo após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. As razões para que os preços do petróleo não disparassem incluíam o fato de ter havido poucas interrupções no fornecimento de petróleo, o aumento da produção nos Estados Unidos e a fraca demanda da China pelo produto.
Uma preocupação vem dos efeitos derivados da mudança desse quadro causada por eventual aumento do conflito. O Irã é o quarto maior produtor mundial e supre o mercado com oferta de 4 milhões de barris por dia; se esse país reduzir a oferta, a lógica é a elevação dos preços, também porque, de cada quatro barris de petróleo consumidos, um barril trafega pelo Golfo Pérsico, nas margens do território iraniano, o que torna fácil para o Irã travar o fluxo de navios petroleiros. Até o momento, Israel tem prometido não atacar instalações nucleares ou petrolíferas em uma eventual retaliação ao ataque iraniano de 1.º de outubro, mas uma escalada nas hostilidades pode fazer o governo israelense mudar de ideia.
Atualmente, as cotações seguem abaixo de US$ 80/barril, nível suportável e sem o poder de fazer a inflação mundial subir expressivamente. Previsões menos otimistas, no entanto, sugerem que a combinação dos fatores componentes da estrutura do comércio internacional de petróleo pode sofrer complicações capazes de fazer os preços subirem acima dos US$ 80/barril.
Uma das dificuldades para os especialistas e as casas de análise é descobrir até quanto o preço do petróleo pode subir em função de uma crise. Historicamente, o preço máximo chegou a US$ 140 no início de 2008 – o equivalente a US$ 212 hoje, atualizando o valor pela inflação americana. Uma publicação do banco Goldman Sachs menciona que, atualmente, os preços poderiam subir 25%, ou seja, um aumento de US$ 20 no barril, levando o preço para US$ 100. Analistas pessimistas falam em US$ 150 e outros, mais radicais, chegam a dizer que, em situação extrema, o barril de petróleo pode atingir US$ 200, o que causaria um enorme caos na economia mundial.
Em administração de empresas, bem como na gestão dos negócios de governo, quando um cenário grave tem alguma probabilidade de ocorrer, a boa teoria econômica diz que governos e empresas devem formular hipóteses de eventos futuros, classificá-los segundo seu potencial de impacto e simular sua ocorrência em vários graus com o objetivo de obter consequências possíveis, a dimensão de cada consequência e quais as soluções disponíveis. Em economia, essa técnica é chamada de “índice de sensibilidade econômica”, pela qual é possível saber os efeitos sobre produção, emprego, renda, impostos e taxa de crescimento do produto do país.
Neste ponto, impõe-se uma questão tão interessante quanto grave: descobrir qual o grau de vulnerabilidade e a capacidade de resistência de cada variável macroeconômica (para o país) e microeconômica (para empresas e mercado de trabalho). Um mesmo evento – por exemplo, um aumento significativo nos preços do petróleo – tem impactos diferentes e em graus diversos segundo a estrutura econômica do país e de acordo com a situação anterior em termos de crescimento, desemprego, inflação, taxa de juros, situação fiscal e dívida pública.
Quando um país recebe o impacto da explosão dos preços do petróleo, caso já esteja com sua estrutura econômica fragilizada e indicadores fracos, o estrago na vida econômica e social é de grandes proporções. Caso o país tenha estrutura econômica sólida, boa taxa de crescimento, baixo desemprego, inflação controlada e equilíbrio fiscal e baixo endividamento, a mesma causa referida faz estrago bem menor.
Em função dos perigos escondidos na questão dos preços do petróleo, sobretudo neste momento de conflitos mundiais que podem se agravar, e considerando a importância dessa commodity em todo o sistema produtivo nacional, os responsáveis pela política econômica devem fazer simulações e estar com o quadro do problema esquematizado para, caso ocorram aumentos expressivos nos preços, o país disponha de um plano e medidas de aplicação rápida a fim de conter os danos econômicos e sociais. No Brasil, o governo já deveria ter ligado o sinal vermelho, sobretudo porque o país tem alguns indicadores ruins e elevada vulnerabilidade a impactos vindos de turbulências globais no mercado do petróleo e seus derivados.
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