DEU NO JORNAL

Editorial Gazeta do Povo

Terminal de exportação de petróleo do Irã

Terminal petrolífero iraniano de Kharg, no Golfo Pérsico, em foto de 2017

Especialistas no complexo comércio mundial do petróleo, alguns bancos e casas de análises sobre problemas econômicos globais vêm alertando para uma possibilidade que, caso se concretize, afetará fortemente a vida de todos os países: novos aumentos nos preços do petróleo. As cotações já haviam subido cerca de 10%, chegando a US$ 78/barril nos primeiros dias de outubro, principalmente como reação aos conflitos entre Israel e Irã, e à invasão do sul do Líbano pelas forças armadas israelenses no ataque aos terroristas do Hezbollah. 

Previsões feitas após o ataque de mísseis iranianos contra Israel indicavam que os conflitos podem aumentar em graus difíceis de mensurar; se isso ocorrer, o mercado de petróleo e seus derivados não escapará de forte pressão altista sobre os preços. Olhando o passado recente, especialmente nos últimos dois anos, os preços não sofreram altas explosivas nem mesmo após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. As razões para que os preços do petróleo não disparassem incluíam o fato de ter havido poucas interrupções no fornecimento de petróleo, o aumento da produção nos Estados Unidos e a fraca demanda da China pelo produto.

Uma preocupação vem dos efeitos derivados da mudança desse quadro causada por eventual aumento do conflito. O Irã é o quarto maior produtor mundial e supre o mercado com oferta de 4 milhões de barris por dia; se esse país reduzir a oferta, a lógica é a elevação dos preços, também porque, de cada quatro barris de petróleo consumidos, um barril trafega pelo Golfo Pérsico, nas margens do território iraniano, o que torna fácil para o Irã travar o fluxo de navios petroleiros. Até o momento, Israel tem prometido não atacar instalações nucleares ou petrolíferas em uma eventual retaliação ao ataque iraniano de 1.º de outubro, mas uma escalada nas hostilidades pode fazer o governo israelense mudar de ideia.

Atualmente, as cotações seguem abaixo de US$ 80/barril, nível suportável e sem o poder de fazer a inflação mundial subir expressivamente. Previsões menos otimistas, no entanto, sugerem que a combinação dos fatores componentes da estrutura do comércio internacional de petróleo pode sofrer complicações capazes de fazer os preços subirem acima dos US$ 80/barril.

Uma das dificuldades para os especialistas e as casas de análise é descobrir até quanto o preço do petróleo pode subir em função de uma crise. Historicamente, o preço máximo chegou a US$ 140 no início de 2008 – o equivalente a US$ 212 hoje, atualizando o valor pela inflação americana. Uma publicação do banco Goldman Sachs menciona que, atualmente, os preços poderiam subir 25%, ou seja, um aumento de US$ 20 no barril, levando o preço para US$ 100. Analistas pessimistas falam em US$ 150 e outros, mais radicais, chegam a dizer que, em situação extrema, o barril de petróleo pode atingir US$ 200, o que causaria um enorme caos na economia mundial.

Em administração de empresas, bem como na gestão dos negócios de governo, quando um cenário grave tem alguma probabilidade de ocorrer, a boa teoria econômica diz que governos e empresas devem formular hipóteses de eventos futuros, classificá-los segundo seu potencial de impacto e simular sua ocorrência em vários graus com o objetivo de obter consequências possíveis, a dimensão de cada consequência e quais as soluções disponíveis. Em economia, essa técnica é chamada de “índice de sensibilidade econômica”, pela qual é possível saber os efeitos sobre produção, emprego, renda, impostos e taxa de crescimento do produto do país.

Neste ponto, impõe-se uma questão tão interessante quanto grave: descobrir qual o grau de vulnerabilidade e a capacidade de resistência de cada variável macroeconômica (para o país) e microeconômica (para empresas e mercado de trabalho). Um mesmo evento – por exemplo, um aumento significativo nos preços do petróleo – tem impactos diferentes e em graus diversos segundo a estrutura econômica do país e de acordo com a situação anterior em termos de crescimento, desemprego, inflação, taxa de juros, situação fiscal e dívida pública.

Quando um país recebe o impacto da explosão dos preços do petróleo, caso já esteja com sua estrutura econômica fragilizada e indicadores fracos, o estrago na vida econômica e social é de grandes proporções. Caso o país tenha estrutura econômica sólida, boa taxa de crescimento, baixo desemprego, inflação controlada e equilíbrio fiscal e baixo endividamento, a mesma causa referida faz estrago bem menor.

Em função dos perigos escondidos na questão dos preços do petróleo, sobretudo neste momento de conflitos mundiais que podem se agravar, e considerando a importância dessa commodity em todo o sistema produtivo nacional, os responsáveis pela política econômica devem fazer simulações e estar com o quadro do problema esquematizado para, caso ocorram aumentos expressivos nos preços, o país disponha de um plano e medidas de aplicação rápida a fim de conter os danos econômicos e sociais. No Brasil, o governo já deveria ter ligado o sinal vermelho, sobretudo porque o país tem alguns indicadores ruins e elevada vulnerabilidade a impactos vindos de turbulências globais no mercado do petróleo e seus derivados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *