DEU NO JORNAL

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O BURRO E EU

Pavio pronto para irmos à Santa Missa

Desde quando meu Avô ficou agradecido pelo meu trabalho bom e rápido na carpina daquelas linhas de roça, e resolveu me presentear com um burro, que passei a conviver mais diretamente com os animais – principalmente com os que consideramos “domésticos”.

Sem muita criatividade e sem ter uma justificativa plausível, passei a chamar aquele burro pelo nome de “Pavio”. Crescemos praticamente juntos.
Era uma amizade que, garantia meu Avô, parecia inseparável.

Conversávamos, até.

Nos entendíamos através de sinais e tínhamos nosso “código de comunicação interpessoal” – na maioria das vezes, por conta da insistência na conversação, parecia que o burro era eu. Nunca me senti ofendido ou diminuído com essa comparação.

Pavio não gostava de cangalha. Provavelmente deve ter ouvido que, cambito e cangalha era para jumento. Ele respondia com um abano de rabo, quando eu preparava uma sela para preparar a montaria.

Certa vez, minha Avó cismou que eu tinha que buscar água no açude, antes de me dirigir à missa dominical. A celebração da missa começava cedo, e o Padre conhecia cada pessoa, pelo nome e por visitar as famílias que frequentavam a paróquia.

Traquinas e moleque como todo cearense, fui no quintal da casa e preparei o junto Roxo para ir pegar dos tonéis de água no açude. Deixei o jumento quase no ponto, faltando apenas a cangalha. Me dirigi até a sombra da mangueira onde Pavio estava ruminando milho misturado com borra de babaçu. Ele, Pavio, viu que eu me dirigia na direção dele, com a cangalha. Nossa Senhora do Pavio Curto.

Praaaa quuuêêê?!

Pense num animal que, de burro, virou uma fera!

Pensou?!

Pois assim foi Pavio.

Parei, pus a cangalha no chão, e disse:

– Caaaalma Pavio!

Nem lembro mais o que falei, e fui fazendo meia volta para levar a cangalha para o jumento Roxo, que ficara no quintal.

Pavio não sabia o que eu ia fazer, mas concluiu que a cangalha não seria colocada nele. Fez aquela conhecida “assopração” que os humanos também fazem com os lábios: fffrrruuuuu!

E era assim que nos comunicávamos. Pavio, o burro, e eu, o Zé.

Quando finalmente passei próximo dele (Pavio), levando o jumento Roxo para apanhar água, ele (Pavio), cavou o chão com a pata dianteira e soltou um pequeno relincho.

Entendi que, na linguagem dele, agradecia, ao mesmo tempo que esperaria minha volta, quando, com certeza, ele (Pavio) me levaria para a Santa Missa.

Na dúvida, pensei:

Ele (Pavio) me levaria, ou eu, o levaria?!

Fui e voltei rápido ao açude. Fiz o que minha Avó mandara. Agora era me preparar para ir à Sant Missa.

Calça branca. Camisa social. Alpargatas de couro com solado de pneu usado.

Quando Pavio me avistou trazendo comigo a sela, voltou a cavar o chão com a pata dianteira, querendo dizer que estava “pronto”. Coloquei a sela sem apertar muito no encilhamento.

Me abaixei e, de dentro do bornal retirei o par de esporas.

Prrraaaaaa quuuuêêêê?!

Pense num burro que virou animal. Pavio detestava ser “tangido” com espora ou chicote. Se alguém estivesse montado e esporasse, ele derrubava.

Fiz sinal pra Pavio com o polegar direito, aquiescendo e garantindo que não colocaria as esporas.

Acho até que eu sorriu levemente, quando viu que as esporas ficaram dependuradas numa das estacas.

Montei e lá vamos à Santa Missa.

Da casa da Vovó até a Igreja era uma boa distância. Coisa de cinco ou seis léguas. Sem que ninguém soubesse quem era o proprietário daquela terra, havia um espaço aberto que todos chamávamos de “capoeira”.

No exato momento que passávamos ao lado da capoeira, Pavio teve a atenção chamada por uma égua que, abrindo as pernas traseiras, soltou aquela mijada “cavalesca”.

Prrrrraaaaaa quuuuuêêêê, siô?!

Pavio saiu em disparada na direção da égua, sem esquecer de, antes, me derrubar. Quando estava tentando me levantar, Pavio já estava inteiro “dentro da égua”, com uma pajaraca que se aproximava dos 60 centímetros.

Tentei impedir, mas já era tarde. A pajaraca de Pavio já estava descendo. Mole! Provavelmente deixando alguma coisa dentro da égua.

Satisfeito, óleo trocado, Pavio fez apenas aquele conhecido:

– Frrrruuuuuu!

Pois, meu domingo terminou ali. Não fui mais à Santa Missa. Resolvi ir até ao açude tomar um bom banho e aproveitar para banhar Pavio também.

Tentando compreender a natureza das coisas e dos animais, acariciei a cabeça de Pavio e percebi que os olhos dele brilhavam feito duas pérolas. Me agradecia pela “pajaracada” que dera naquela égua.

Arre égua!

Pensativo, voltei para casa montando Pavio. E aproveitei para me questionar:

– O burro e eu; ou, eu e o burro?

Eu muitos anos depois do Pavio

COMENTÁRIO DO LEITOR

LAPA DE LADRÃO SEMPRE NA MÍDIA

Comentário sobre a postagem LUXO PETISTA

Deco:

O que o Lula quer e sempre quis é estar na mídia diariamente.

Até no JBF ele está praticamente todos os dias.

“Falem bem ou falem mal, mas falem de mim!

* * *

“Só falam de Lula no JBF; esqueceram da minha boca de priquito”

RODRIGO CONSTANTINO

O MEDO DO DR. FAUCI

Viver é algo difícil e arriscado. A condição humana, com a autoconsciência da própria finitude e questionamentos sobre o sentido da existência, já torna a escolha de seguir adiante com propósito algo delicado. Muitos se sentem presos no Mito de Sísifo, empurrando a pedra morro acima apenas para, em seguida, empurrá-la morro abaixo e recomeçar do zero. Felizmente, o instinto de sobrevivência fala alto em nós, e até aqui demos um bom jeito de avançar e procriar. Já somos quase 8 bilhões no planeta.

Condição necessária para isso foi a coragem de enfrentar riscos. Imagina o nosso antepassado apavorado diante de feras terríveis, e enclausurado numa caverna até o perigo passar. Não estaríamos aqui refletindo sobre a vida. Ou seja, parte inexorável de nossas conquistas foi a tolerância ao risco da morte. Não quer dizer comportamento suicida, irresponsável ou imprudente, mas, sim, um ato de volição para desafiar todas as ameaças que a pura existência num planeta hostil traz.

Ocorre que, por diversos motivos, estamos nos tornando mais medrosos. O sucesso planta algumas sementes do fracasso, torna as próximas gerações mais “suaves”, como “flocos de neve”. Se a ameaça nazista se desse hoje, com Hitler liderando sua turba de fanáticos, temo pela reação ocidental: não faltariam lideranças recomendando o “apaziguamento” com o inimigo, entregando nossas liberdades de bandeja. Não se faz mais Churchill como antigamente.

Essa pandemia de covid-19 veio comprovar isso. Países ocidentais resolveram espalhar medo e oferecer soluções “mágicas”, ainda que draconianas e autoritárias. O controle social passou a ser enorme, tudo em nome da saúde, da proteção à vida. Os mais acovardados nem pestanejam na hora de delegar cada decisão aos “especialistas”. Foi assim que o Dr. Fauci virou uma celebridade mundial, a “voz da ciência”, acumulando um poder inimaginável para reis medievais. Dr. Fauci soube explorar muito bem o medo dos outros.

E não é algo novo. Era o mesmo Dr. Fauci o responsável pelo combate ao HIV, vírus da aids. E não faltam críticos de que lá, assim como agora, o médico ajudou a espalhar um medo exagerado que afetou a vida de milhões de pessoas. Ele foi “cobrado” recentemente numa das centenas de entrevistas que tem concedido – haja tempo para tanto holofote! – à CNN, mas o apresentador não foi lá tão duro assim. Ele leu a denúncia do senador republicano Ron Johnson, de que Fauci espalhou pânico desnecessário antes e agora, e logo depois ridicularizou a crítica, levantando a bola e cedendo a palavra ao entrevistado. Fauci, então, disse: “Como responder a algo tão absurdo assim?”

Bem, talvez… respondendo? Mas Fauci adotou outra estratégia: “Exagerar a aids? Matou mais de 750.000 americanos e 36 milhões de pessoas em todo o mundo. Como você exagera isso? Exagerar a covid? Já matou 780.000 americanos e mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. Então, eu não tenho nenhuma ideia do que ele está falando”. Excelente resposta, caso a pergunta tivesse sido outra. O senador nunca alegou que morreu pouca gente com aids ou covid, e sim que o Dr. Fauci criou um pânico geral bastante desproporcional, ainda mais sabendo-se que ambos afetavam de maneira bem desigual grupos de risco específicos.

Ann Coulter escreveu uma coluna no Townhall detonando a postura de Fauci, e lembrando que acidentes de carro já mataram mais de 3,6 milhões de americanos e centenas de milhões no mundo todo, e que as propostas do “especialista” seriam análogas a recomendar que todos dirigissem de olhos vendados – ou nunca mais pegassem num volante. Idosos e obesos correm um risco infinitamente maior do que jovens saudáveis com a covid, mas Fauci e sua trupe mentiram, trataram todos basicamente da mesma forma, assim como Fauci mentiu sobre a aids ser um risco equivalente para heterossexuais, muito tempo depois de ficar claro que era quase inteiramente um problema para gays e usuários de drogas intravenosas.

Mencionar isso hoje já é “politicamente incorreto”, mas a ciência e o vírus não ligam para seus sentimentos. “Em vez de dedicar recursos maciços ao fechamento de casas de banho e pontos de drogas para impedir a disseminação da aids, e proteger os americanos mais velhos no caso do covid, Fauci afirmou repetidamente que todos estavam em risco”, acusa Coulter. Ela continua: “Parece que Fauci acredita em ‘ciência’ – exceto quando precisa aterrorizar os heterossexuais para não estigmatizar os gays, ou amedrontar toda a população para não estigmatizar os idosos e obesos”.

A aids apareceu pela primeira vez em 1981, em comunidades gays em Nova Iorque, Los Angeles e São Francisco. Dois anos depois, 72% dos casos envolviam gays e 90% das vítimas não homossexuais da aids eram usuários de drogas intravenosas. A maior parte do restante era de crianças nascidas de mães infectadas com aids ou vítimas de transfusões de sangue contaminadas com aids. Esse não era um grande segredo. De acordo com o CDC, em junho de 1983, de 1.552 vítimas de aids, apenas 37 não eram gays, usuários de drogas ou hemofílicos. Médicos da linha de frente aconselhavam que não havia motivo para tanto pânico, mas Fauci estava lá alarmando o mundo todo. Em 1983, ele disse: “Com o passar dos meses, vemos mais e mais grupos… A aids está saindo de limites epidemiológicos bem definidos”.

Em 1985 – quatro anos após o aparecimento da aids -, 73% dos casos eram em homens gays, 17% em usuários de drogas intravenosas, 3% em haitianos, 2,2% naqueles que receberam sangue e 1% em parceiros sexuais de pacientes com aids. Menos de 4% não se enquadravam em nenhuma dessas categorias. Com zero casos provados de transmissão heterossexual, em fevereiro de 1985 Fauci alegou estar preocupado com esse risco. Numa fala de 1987, ele chegou a afirmar que o vírus podia ser transmitido pela saliva num simples beijo.

Hoje, segundo Coulter, Fauci está fazendo exatamente a mesma coisa com a covid, tratando os adolescentes como se eles enfrentassem perigo tanto quanto pessoas na faixa dos 70 anos, apesar de estas terem uma chance 300 vezes maior de morrer de covid do que menores de 20 anos. Para essa faixa etária, as chances de morrer de covid são menores do que o risco de morrer de insolação ao longo de suas vidas inteiras. Mesmo para aqueles na casa dos 30 anos, as chances são quase as mesmas que o risco de morrer engasgado.

Ann Coulter conclui que, se Fauci fosse entrevistado por um jornalista sério, ele bem que poderia explicar por que sua ideia de “ciência” é evitar que certos grupos se sintam estigmatizados, e não salvar vidas ou falar a verdade.

DEU NO X

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA

O Artigo 207 da Constituição Federal fala da autonomia da universidade. Diz o seguinte:

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)

Evidentemente que nenhuma universidade pública federal tem autonomia financeira, visto que seus recursos orçamentários são repassados pelo MEC. Autonomia era de cada uma delas gerassem suas próprias receitas e com elas bancassem seus custos. Mas, pelo que assegura esse artigo, a universidade pode criar ou extinguir cursos, bastando para isso um projeto pedagógico aprovado no âmbito do colegiado do curso, do centro e finalmente a aprovação do Conselho Universitário, que se abrevia CONSUNI ou invés de CU.

Na UFRN, um professor pleiteou um curso, “Construção do Reino de Deus”, para alunos de medicina. Imediatamente, houve uma gritaria geral por aí afora, inclusive por parte dos alunos do curso e aí eu volto a falar que a universidade é autônoma e se quiser criar esse curso mediante a aprovação das competências internas, paciência. Que se crie, se oferte e veja se tem demanda de aluno. A UFABC criou um curso chamado Afroentomatemática que não serve pra porra nenhuma a não ser gerar emprego para o professor que ministra que vai arrumar alunos para fazer um mestrado e depois passar num concurso público para ensinar essa bosta a outros alunos que no futuro farão concursos para ensinar essa bosta. Os caras tratam Matemática como se fosse uma questão de cor, de etnia e não de cérebro. Duvido que isso traga um milímetro de contribuição para a educação brasileira, pra tornar nossos estudantes capazes de colocar o Brasil numa colocação melhor no exame do PISA.

O curso foi aprovado, alunos se matricularam – eu acredito – e ponto final. No meu entender dinheiro público jogado fora, mas tem um órgão superior da instituição que disse sim para isso e ponto final. De modo igual, Universidade de Brasília criou um curso “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. Seria importante olhar se essa bosta tem oferta regularmente, mas como disse antes, respeita-se a autonomia da universidade. Se existe um palerma pra ensinar e outros pra assistir, paciência. O problema é que isso acaba retirando dinheiro de coisas prioritárias dentro da própria universidade.

Fazem esse tipo de coisa e depois ficam publicando pesquisas com dados de empregos de universitários formados que não conseguem ganhar um salário decente. Os caras formam analfabetos funcionais, com currículos totalmente defasados da realidade, conteúdos que não preparam para o mercado de trabalho e ainda culpam o mercado por isso, além de ensinar o aluno a ter ódio da iniciativa privada que é quem gera emprego de verdade. Os alunos saem da universidade com um diploma e zero de experiência prática. Falta integração com o mercado. “Ah! Tem o estágio obrigatório!”. Já algum tempo uma aluna me pediu uma carta de recomendação pra um estágio no Banco do Brasil. Fiz destacando seu potencial, colocando que ela tinha sido uma boa aluna no curso de Matemática Financeira, etc. Ela ficou no estágio e um dia entrei na minha agência e lá estava ela de colete do BB orientando pessoas no uso do caixa rápido. Total dissociação com o que ela aprendeu.

Eu ensino Matemática Financeira abordando as coisas que vivi como bancário. Nenhum problema é retirado de livro. Tudo é fruto da engenharia que eu fazia para renegociar dívidas. Numa das minhas turmas tinha um doutorando em matemática que tirou 3,5 na primeira prova e sumiu do curso. Um dia recebi um folheto de um consórcio com uma oferta do consorciado pagar a parcela com 25% de desconto até a data do sorteio. Botei na prova e pedi para analisar a situação de quem era sorteado no primeiro mês, no trigésimo e penúltimo. Recebo proposta de parcelar fatura de cartão de crédito e peço pra o aluno calcular o custo efetivo. Faz. Se tu fizer estás no caminho certo. Minhas aulas são práticas. Excessivamente práticas porque eu uso Excel e HP 12C e o aluno que não souber isso, vai ter problema no mercado.

Só os imbecis não enxergam que o aluno sai da universidade sem conhecimento de práticas de mercados. Se o cara está ali para fazer mestrado e doutorado e depois ficar como professor, tudo bem. Mas, o cara que estuda para arranjar um trabalho, não vai conseguir se o interesse do mercado está distante do conhecimento adquirido na universidade. No mundo inteiro se fala da indústria 4.0 e esta é calcada em STEM+C (Science, Technology, Engineering, Mathematics + Computation). Mas, há quem acredite que trabalhos como A Folia dos Cus Prolapsados (dissertação), Cai de boca no meu bucetão (monografia) ou Banheiros Públicos: Os bastidores das práticas sexuais (dissertação), dentre outras, são meios para se desenvolver a indústria 4.0.

Volto a dizer: é de competência das universidades o que vai ser ofertado como curso e como disciplina. Agora, tem gente que faz pesquisas nas redes: “você é contra ou favor de ensinar religião na escola?”. Essas pessoas são as mesmas que defendem a linguagem neutra, a politização do ensino, a doutrinação do aluno. Ora, se ensinam política por que não ensinar religião, ética? Eu, orgulhosamente, digo: minha proposta como educador é ensinar o aluno a pensar. As escolhas que ele fizer depois disso são de sua inteira responsabilidade. Vou continuar transmitindo conhecimento para que o aluno decida se quer ir para a academia ou para o mercado.

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Olívia Penteado

Olívia Guedes Penteado nasceu em Campinas, SP, em 12/3/1872. Escritora e mecenas dos artistas da Semana de Arte Moderna de 1922. Integrante da aristocracia paulista, foi apelidada de “Nossa Senhora do Brasil”, pelos modernistas. Batalhou pelo voto feminino, promoveu a eleição da 1ª mulher deputada federal (Carlota Pereira de Queiroz) e participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.

Filha de José Guedes de Souza e Carolina Álvares Guedes, casou-se com seu primo Ignácio Penteado, irmão do conde Álvares Penteado, em 1888, e foi viver em Paris, onde fez de sua casa um importante ponto de encontro cultural e conheceu aluguns dos protagonistas do movimento modernista brasileiro, que por lá “flanavam”. Antes de conhecer os modernistas costumava receber os poetas parnasianos, tais como Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Em 1923, ao ficar viúva, voltou a viver em São Paulo e reuniu a nata da intelectualidade paulista em sua casa. Em seguida, criou o “Salão de Arte Moderna”, instituindo o “Modernismo” na cultura brasileira. Na condição de colaboradora da revista “Contemporânea”, veículo lisboeta de divulgação dos modernistas portugueses, tornou-se correspondente da revista no Brasil.

Em São Paulo sua mansão -ocupando a esquina das ruas Duque de Caxias e Conselheiro Nébias (onde hoje fica o Hotel Comodoro)- foi projetada por Ramos de Azevedo e foi reformada incluindo um pavilhão para abrigar as obras de arte. A pintura do teto foi refeita por Lasar Segal, tendo em vista uma melhor adequação com as “artes modernas”. Contava com uma bela coleção de obras de arte, incluindo o fantástico Le Polichinelle lisant “Le Populaire”, de Picasso; a escultura “Négresse Blonde”, de Brancusi e obras de Delanay, Foujita, Cézanne, Degas, Marie Laurencin, Brecheret, Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral entre outras

As reuniões semanais reunia uma plêiade de artistas e escritores daqui e de fora. Em 18/2/1924 o “Correio Paulistano” noticiou: “A sociedade paulista, que tem em D. Olívia Guedes Penteado uma das figuras de mais fino relevo e mais aristocrática tradição, festejou anteontem o notável escritor francês Blaise Cendrars, que teve na fidalga residência da Rua Conselheiro Nébias um acolhimento de excepcional elegância e de inexcedível fidalguia e intelectualidade”. Tais encontros e reuniões incluía também o chá das terças-feiras e os grandes jantares nos salões de décor clássico frequentados pela elite paulistana, incluindo, é claro, os protagonistas da Semana de Arte Moderna.

Blaise Cendrars ficou amigo dos modernistas e veio outras vezes à São Paulo. Numa dessas viagens juntou-se a um grupo de paulistas para visitar as cidades históricas de Minas Gerais. Participaram da excursão: ela, Mário e Oswald de Andrade e seu filho Noné, René Thiollier e Tarsila do Amaral. O poeta francês ficou encantado com as obras de Aleijadinho e Dona Olívia ficou indignada com o estado de abandono das igrejas. De volta à São Paulo, ela decidiu criar a “Sociedade dos Amigos dos Monumentos Históricos do Brasil”, cujos estatutos foram redigidos pelo poeta em um “chá das cinco” e logo foram inscritos não apenas os que viajaram à Minas, bem como Carlos de Campos, recém-empossado presidente do Estado e outras personalidades presentes na solenidade do chá.

Esse turismo cultural, promovido por ela, denominado por Mario de Andrade “viagens de descobrimento do Brasil”, alcançou o carnaval do Rio de Janeiro e chegou até à Amazônia, em 1927, numa viagem de navio subindo o rio Solimões até Iquitos, no Peru. Estas excursões ficaram registradas nas poesias de Oswald de Andrade (Pau Brasil), Mário de Andrade (Noturno de Belo Horizonte) e em pinturas de Tarsila do Amaral. Mas nem só de arte vivia a aristocracia paulista. Na Revolta Paulista de 1924, ou segunda revolta tenentista, São Paulo foi tomada por canhões e o poeta Cendrars, que participara da I Guerra Mundial, onde perdeu um braço, deu-lhe orientações como proteger a casa e sua coleção.

Em 1932 passou a integrar o Instituto Geográfico e Histórico de São Paulo e no mesmo ano participou da Revolução Constitucionalista de 1932, ajudando os feridos e as famílias dos combatentes na condição de Diretora do Departamento de Assistência Civil. Prestou substancial ajuda ao movimento doando valiosas joias à “Campanha de Ouro para o Brasil”, necessária à manutenção das frentes de combate. Por essa época estimulou e patrocinou a candidatura de Carlota Pereira de Queiroz, a primeira mulher a se eleger deputada no Brasil. Foi uma mulher à frente de seu tempo e transitou bem entre dois séculos e duas estéticas. Faleceu em 9/6/1934 de apendicite. Foi sepultada no Cemitério da Consolação e seu túmulo conta com uma escultura – O Sepultamento – feita por Victor Brecheret. O filho de seu genro, Goffredo da Silva Telles Jr., lembra que ao levar o caixão embandeirado ao carro dos bombeiros “sentimos um movimento do povo, uma aproximação compacta de gente, em torno de nós (…) E então vimos o total inesperado. O povo silenciosamente se assenhorou do esquife embandeirado. Homens desconhecidos, segurando as alças do féretro, puseram se a caminho. E o levaram, na força de seus braços, pelas ruas de São Paulo”.

Foi descrita com uma mulher sensível, bela, boa e de uma elegância soberana. Seu retrato (106 x 135 cm.) foi pintado, em 1911, por Henri Gervex e encontra-se exposto na Pinacoteca do Estado. Em 2002 o Museu de Arte Brasileira, da FAAP-Fundação Armando Alvares Penteado, realizou a exposição “No tempo dos modernistas: Dona Olívia Penteado, Senhora das Artes” e lançou o livro homônimo, organizado por Denise Mattar e Aracy A. Amaral.

Um belo relato de sua trajetória e época, que pode ser visto clicando aqui.

DEU NO X

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

SOBRE O HOMÃO DA GALILEIA

Outro dia, em setembro, travei um papo internético com alguns caminhantes amigos, um deles, quase agnóstico, me solicitando uma palavrinha sobre o Galileu que muito amo, a quem chamo de Homão da Galileia, Irmão Liberador.

Para início de conversa, encareci ao amigo Mariano que lesse um livro por mim lido há duas décadas, ainda plenamente atualizado, que muito favoreceria nossas reflexões recíprocas, via zapzap: JESUS, UM RETRATO DO HOMEM, A.N. Wilson, Rio de Janeiro, Ediouro, 2000, 304 p. Trata-se de um brilhante estudo, baseado em inúmeros textos da época, onde o autor até contesta algumas passagens dos Evangelhos, erradicando crendices e inserções feitas posteriormente, desfavorecendo a imagem do ser humano mais extraordinário de todos os tempos. Páginas que muito fazem diferenciar o Jesus da História e o Cristo da fé, dois seres amplamente diferenciados.

No livro, o autor Wilson, jornalista, escritor e biógrafo aplaudido mundialmente, resgata Jesus de um gigantesco emaranhado mitológico, enaltecendo um dos seres de mais poder e influência sobre a cultura ocidental. A partir de análises minuciosas, ele propõe novas versões sobre diversas passagens da vida do Nazareno, desde o seu nascimento em Belém, sua vida como carpinteiro, como agitador social, seu assassinato no madeiro como subversivo, incluindo teorias surpreendentes, inclusive sobre o papel desempenhado por Saulo de Tarso, o apóstolo Paulo, o São Paulo dos dias de agora.

Mesmo nada sabendo sobre vários aspectos do Galileu – que nada deixou escrito, que não há uma descrição física de como ele era, se era casado, como ressuscitou dos mortos e como efetivamente viveu após isso – Wilson nos mostra um Jesus mais real, favorecendo uma crença mais substanciosa em suas Mensagens inesquecíveis e até hoje insubstituíveis.

Nestes primeiros dias de uma nova temporada natalina, 2021, o mundo inteiro ainda temeroso das novas variantes do COVID-19, que exige cuidados preventivos e mil e outras cautelas, recomendaria leituras que atenuem ânsias e desesperanças, medos e pessimismos, ampliando convicções consistentes sobre os amanhãs planetários. Algumas sugestões, a ordem nada significando:

a. Um manual de textos histórico-analíticos curtos, excelentemente bem escritos por consagrados estudiosos, que pode ser lido como meditações ou para debates grupais ou familiares: JESUS, A ENCICLOPÉDIA, Joseph Doré (direção), Petrópolis RJ, Vozes, 2020, 834 p. O original em francês foi lançamento da Éditions Albin Michel, 2017, uma editora não confessional, que não está aliada a nenhuma igreja ou comunidade religiosa determinada, suas públicações sempre marcadas pelo sinal do pluralismo e da independência.

b. Para quem deseja obter maiores esclarecimentos sobre os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), refletindo-os a partir dos ensinamentos coordenados por Allan Kardec, páginas de um livro que deixou inúmeras lições de fraternidade: ELUCIDAÇÕES EVANGÉLICAS À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA, Antônio Luiz Sayão, 16ª. ed., Brasília, FEB, 2019, 475 p. Qual foi a intenção do autor (1829-1903)?: “um maior proveito, para a Humanidade, em substituir o fanatismo dos milagres, dogmas e mistérios por uma profunda promoção da verdade e exequibilidade dos ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo.” Para esclarecimentos de todos aqueles gregos e troianos que anseiam por uma maior enxergância das lições deixadas pelo maior revolucionário de toda a história da humanidade.

c. Para quem faz muchocho diante de um manual de filosofia, páginas que elucidam uma expressão utilizada pela vez primeira por Leibniz, que muito batalhou para conduzir a dúvida final entre entre a ciência e a compreensão pela fé: A FILOSOFIA PERENE, Luiz Fernando Lobão Morais, Joinville SC, Clube de Autores, 2016, 344 p. Páginas que ilustram por que o questionar, criticar e o desconstruir saberes consolidados é função primordial da Filosofia em todos os tempos.

d. Um guia natalino para cristãos e não-cristãos: O EVANGELHO SEGUNDO JESUS, Stephen Mitchell, Rio de Janeiro, Imago, 1994, 316 p. Segundo o Los Angeles Times Magazine, “ao contrário de alguns estudos sobre Jesus que atolaram em exangues disputas acadêmicas, O Evangelho segundo Jesus é uma obra de coragem e sensibilidade.”

Desejo a todos os leitores fubânicos, uma temporada natalina de muita tranquilidade, vacinação completa, reflexões sadias e plano futuros consequentes, favorecendo a emersão de um planeta mais solidário, nunca negativista, sem sectarismos, isento de preconceitos e com amplo respeito para seus rios, mares e meios-ambientes, na emersão de um Humanismo Mundial mais condizente com as mensagens deixadas pelo Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.