Lisboa. Mais conversas, novamente de Portugal, em livro que estou escrevendo (título da coluna).
Almirante AMÉRICO THOMÁZ, 13º presidente de Portugal, último do Estado Novo. O mesmo que, logo depois da Revolução dos Cravos, acabou exilado no Rio. Se o Brasil teve um presidente (Jair) Messias, Portugal se gaba de ter tido (Américo) Deus. Em conversa com o generalíssimo Franco, da Espanha, disse
‒ A mi me gustam las cazadas (caçadas de animais, queria referir).
O espanhol não entendeu; que caçada, na sua língua, é caceria. E tentou responder, a partir do que imaginou,
‒ Ah, si? E las solteras, non?
ANÚNCIO NO GOYANNA (NUM. 153), EM 10.12.1922.
‒ Effectuou-se no dia 6 do mez corrente o enlace matrimonial do querido moço Luiz Cornelio da Fonseca Lima, agricultor, com a senhorita Ignacia Rabello, prendada, filha do nosso saudoso amigo Senador José Rabello e de sua virtuosa consorte. O acto civil effectuou-se no Lindo Amor, em caza de rezidencia da digna genitora da nubente. Os recém-casados seguiram após os actos para a sua excelente morada no Engenho Jacaré, onde fixarão rezidencia.
APÓCRIFO DO POETA ALEIXO. Apócrifos são citações que não tem autenticidade comprovada; e assim é conhecido um do poeta popular (António Fernandes) Aleixo (1899-1949), guardador de rebanhos e cantor de feiras, que diz
‒ Quando os olhos cansam
As pernas dançam
As peles crescem
Os colhões descem
O nariz pinga
E a piça minga
Deixa-te de bazófias
Que a missão está finda.
GILDA MATOSO, jornalista. Caetano Veloso, no Porto, pede que ligue para o cineasta Manuel de Oliveira. Atende mulher, desaforada, gritando
‒ Minha querida!, Miguel está em África!, buscando locações para o próximo filme!.
‒ Que coisa boa.
‒ Boa para quem?!
‒ Estou ligando só para convidar para o show de Caetano.
‒ E a Betânia?!
‒ Está no Rio.
‒ Então não vou!, que gosto mesmo é da Betânia!
JOÃO PAULO SACADURA, jornalista. Mandou página do semanário salazarista Agora (março de 1961) em que se lê
– MENINAS DE CALÇAS. Consta que no Liceu Infanta D. Maria apareceu há dias uma menina de calças à homem para assistir às aulas. A reitora, pessoa recta, mandou-a imediatamente para casa. Felizmente ainda temos professorado digno que sabe impor o respeito.
JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS, jornalista e advogado. Em Coimbra, estavam a passear José Carlos, natural de Freamunde, Porto; Paulo Quintela (germanista, tradutor de Goethe e Rilke), de Bragança, Trás-os-Montes; e Vitorino Nemésio (poeta, da revista Presença), de Praia da Vitória, Açores. Ocorre que, sem perceber, entraram em propriedade privada, conhecida como São Marcos (hoje, pertencente à universidade local). Foi quando apareceu um tipo que os censurou rudemente
– Andam por aqui e não sabem que estão a invadir terra de terceiros?
Quintela, considerando-se ofendido por seu tom de voz, falou em nome dos amigos
– E quem é o senhor?
O outro, não se sabia então, era da Casa de Bragança – fundada pelo Rei Dom João I, mestre de Avis, nos anos 1400. Caindo Filipe IV (em Portugal Filipe III, por conta do fuso horário, se diz brincando) um antepassado, Dom João IV, Duque de Bragança, até rei foi (em 1640). Bragança, como nosso Dom Pedro I – Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Por isso, com toda pompa de quem ainda se considerava com direitos ao trono português, encheu o peito
– Sou Dom Duarte Pio de Bragança.
Com ênfase no de Bragança. Só para ouvir Quintela responder, sem lhe dar maior importância,
– De Bragança? Como de Bragança? De lá sou eu e não o conheço de lugar nenhum.
JOSÉ OTÁVIO CAVALCANTI, advogado e tenor. Vinham Glória e ele caminhando pela Rua das Oliveiras, à Cidade Invicta (O Porto), quando viram no Pipa Vella essa placa
‒ Se bebe para esquecer, pague adiantado.