João Pereira da Luz, o João Paraibano (1952-2014)
João Pereira da Luz, conhecido no fantástico mundo do repente como João Paraibano (1952 – 2014), nasceu em Princesa Isabel/PB, porém, desde os anos 70, residiu em Afogados da Ingazeira/PE. A natureza era a sua maior especialidade e o levou a cantar motes que tendem a durar muito tempo na memória de quem os aprecia. Sua bagagem cultural era grandiosa e sua inspiração o tornou presença em grandes festivais que aconteceram no Nordeste e Sudeste.
João Paraibano nunca frequentou escola, entretanto sempre criou seus versos de improviso com qualidade utilizando sua inspiração privilegiada. Ele foi um dos principais repentistas do país e participou de dezenas de festivais pelo Brasil inteiro. Em um dos festivais realizados na cidade de Patos/PB, fez esta sextilha:
Quando os pardos nevoeiros
Cobrem o chão, a água rola;
O sapo vomita espuma,
Onde o boi pisa se atola;
A fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola.
Em cantoria, com Valdir Teles (1955 – 2020) na sede da AABB de Arcoverde/PE, encerrando a apresentação, improvisou:
Por todos que aqui estão
Foi linda a festividade;
Eu cantei como queria,
Valdir cantou à vontade;
Até agora foi festa,
Daqui pra frente é saudade.
Em outro baião, Valdir concluiu:
Doido que o tempo lhe entregue
Seu momento derradeiro.
João Paraibano fez uma reflexão sábia:
Vou topando este madeiro,
Já que nasci com a sina;
Vendendo verso a retalho,
Desde a praça pra esquina,
Como quem vende banana
Depois que a feira termina.
E finaliza sua apresentação com esta sextilha:
Afogados hoje tem
Um poeta como eu;
Papai me fez, inda moço,
Mas, depois esmoreceu;
Mamãe tentou fazer outro
E o material não deu.