DEU NO JORNAL

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A CIGARRA QUE FICOU – Olegário Mariano

Depois de ouvir por tanto tempo, a fio,
As cigarras, bem perto ou nas distâncias,
Só me ficou no coração vazio
A saudade de antigas ressonâncias…

Todas se foram… bando fugidio
Em busca do calor de outras estâncias,
Carregando nas asas como um rio
Leva nas águas – seus desejos e ânsias…

E ainda cantaram na hora da partida:
Era um clamor dentro da madrugada…
Essa, entretanto, desgarrou daquelas,

E entrou, tonta de luz, na minha vida,
Porque sabia que era a mais amada,
E cantava melhor que todas elas…

Olegário Mariano Carneiro da Cunha, Recife-PE, (1889-1958)

DEU NO X

DEU NO JORNAL

DEU NO X

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

A VIZINHA DA PONTA VERDE

Mário Cândido nasceu e morou toda a vida no bairro do Tabuleiro do Pinto, perto do aeroporto. Quando os filhos cresceram pressionaram o pai a se mudarem para orla, local mais alegre e mais divertido.

Cândido comprou um apartamento na praia Ponta Verde. Para família foi uma alegria, para ele um sacrifício. Trocou uma casa confortável de 300 m², com enorme jardim de muitas rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira e um quintal que mais parecia um bosque de tantas árvores, por um apartamento de três quartos de 150 m². Mas, a família acima de tudo. O casal ficou com uma suíte, os dois filhos ocuparam os outros quartos e transformaram uma pequena área da sala em gabinete, onde Cândido colocou um computador para trabalhar, escrever. Aposentou-se dos Correios, onde passou mais de 30 anos, estava em tempo de desfrutar a merecida aposentadoria. Como é um homem disposto, a ideia é passar um ano de pernas para o ar, depois continuar o trabalho de venda de imóveis, sua outra ocupação.

Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, fica a conversar numa rodinha até às 9 horas, olhando as pernas de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Finalmente dá um mergulho e algumas braçadas antes de subir ao apartamento. Preenchem as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. À noite, depois dos Jornais da TV, Cândido se recolhe ao escritório, entra no computador para pesquisar, enviar e-mails aos amigos, conversar com mulheres nos chats e escrever. Já plantou várias árvores, tem dois filhos, agora cismou em escrever um livro narrando passagens de sua vida. Da sua cadeira em frente à bancada do computador, tem uma ampla visão dos apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama. Aprendeu quando serviu ao Exército: observar é ver sem ser visto.

Quando uma jovem chega da Faculdade por volta das 23 horas, ele se liga no encanto da moça. Ela é fascinante, estatura média, cabelos escuros, escorridos até o ombro, nariz um pouco achatado, lábios grossos. Seu corpo é um monumento, seios duros, pontiagudos, cintura fina. A bunda é delirantemente protuberante. Assim que ela chega, tira a roupa, se enrola numa toalha e vai ao banho. A melhor cena, que deixa nosso amigo Cândido excitadíssimo é quando ao chegar ainda molhada do banho, abre a toalha, nua, como Deus a fez, veste uma minúscula calcinha antes de deitar, de dormir. Ele fica num entusiasmo de adolescente. Muitas vezes depois dessa cena, ele vai direto ao quarto acordar sua amada Helena; ela que gosta, sem saber por quê.

Cândido investigou a jovem vizinha: o pai é veterinário, trabalha perto de Palmeira dos Índios. Só vem para a capital nos fins de semana.

Certo dia, ao cair da tarde, Cândido foi às compras de carro no supermercado. Ao longe, no ponto de ônibus, percebeu a jovem em pé, com os livros abraçados ao peito, esperando o ônibus. Ao cruzar os olhos, ela sorriu, Cândido freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, deu alguns passos e entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a saia curta mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade do CESMAC no Farol. Cândido mentiu, também ia para o Farol. Conversaram amenidades, mas o coração do jovem coroa estava disparado feito um menino. Afinal chegaram à Faculdade.

Naquela noite Cândido ficou esperando a chegada de sua musa, a vizinha de janela. Compensou a espera, a jovem ao entrar no apartamento, tirou a roupa bem devagar, com sensualidade arrepiante. Quem gostou foi sua esposa Helena quando ele a acordou e caiu desesperadamente em seus braços.

No dia seguinte, repetiu, Cândido passou à mesma hora pelo ponto de ônibus e frustrou-se. Dias depois, se emocionou quando a viu abraçando os livros. Freou o carro; ela entrou mais bonita que nunca. Laurinha, assim se chama, 19 anos, faz o curso de Direito no CESMAC, é mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, vive com o pai, levam uma vida de parcimônia. Em certo momento ela foi direta, sem dó, olhando Cândido dirigir o carro.

– Eu tenho a impressão que você está me paquerando. Eu percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.

Cândido não esperava por essa, estremeceu, tentou se acalmar virou o rosto, encarou-a, e deu um sorriso largo.

– Você é uma danadinha hein?

– Danadinha ou danadona, vou lhe fazer uma proposta indecente: saio com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde. Às 9:30 horas, depois de minha última aula. Estarei lhe esperando nessa esquina.

Cândido, emocionado, parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás.

O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa às 9 horas àquela noite. Em certo momento ele arriscou um convite à esposa.

– Helena, está passando um filmaço no Cine Pajuçara. Topa assistir hoje?

Ficou esperando a resposta. Quando ela disse estar sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho.

Às 9.30 horas da noite Laurinha se aproximou do local, ele já estava plantado. No motel quase teve um infarto de tantas manobras de amor.

O aposentado Cândido ficou com mais despesa no orçamento. Mas, feliz da vida, espera as tardes das quartas-feiras para ter sua universitária nos braços. E toda a noite não se cansa em observar, ao longe, a vizinha da Ponta Verde.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

RODRIGO CONSTANTINO

LULA E AS DITADURAS

Da esquerda para a direita, começando por cima: Lula com Fidel Castro, Hugo Chávez, Mahmoud Ahmadinejad e Nicolás Maduro |

Além do maior escândalo de corrupção do país, a ligação de Lula e do PT com ditaduras socialistas é seu maior ponto fraco nesta campanha. Até porque os tucanos resolveram declarar apoio ao petista e assinar cartinha pela “democracia” alegando que Bolsonaro representaria uma ameaça às nossas liberdades, sem precisar apontar o motivo ou onde seu governo tenha avançado de fato contra nossas instituições.

Já Lula e seu PT nutrem desde sempre profundo apreço por regimes tirânicos. O TSE tem feito de tudo para apagar isso da memória do eleitor, inclusive censurando jornais, como a Gazeta do Povo, por simplesmente trazerem à tona o elo entre Lula e Daniel Ortega, o ditador da Nicarágua que persegue cristãos. O PT sonha com uma censura ao próprio passado petista, mas o povo tem na memória o afago entre Lula e vários tiranos.

A Folha de S.Paulo publicou nesta semana uma reportagem admitindo que a relação de Lula e do PT com ditaduras é uma “pedra no sapato” da candidatura esquerdista, já que o petista “foi próximo ideologicamente de líderes autoritários e firmou parcerias econômicas com regimes” socialistas. Mas a Folha, como de praxe, tenta suavizar a coisa, dourar a pílula, tapar o sol com a peneira. Lula não foi próximo; ele ainda o é! E não se trata apenas de parceria econômica, mas de laços umbilicais ideológicos.

Lula fundou o Foro de SP com Fidel Castro, com o intuito de “resgatar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu”, ou seja, o comunismo. Lula sempre idolatrou Fidel, o maior tirano assassino da história do continente. Até mesmo durante a campanha, quando teve a oportunidade de se afastar um pouco do genocida (esse sim, verdadeiro genocida), Lula insistiu em sua profunda admiração pelo “líder cubano”.

Na Venezuela, Lula gravou vídeos de apoio tanto a Chávez como a Maduro, e disse certa vez que Chávez dirigia uma Ferrari, enquanto ele dirigia um Fusquinha, mas ambos apontando para o mesmo destino. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, sempre defendeu o regime venezuelano abertamente. Na coligação do PT temos o PCdoB, que, além de comunista até no nome, já lançou manifesto de apoio à Coreia do Norte, o regime mais cruel do planeta.

Raúl Castro, Lula, Fidel Castro e Franklin Martins

Podemos falar também das tais ligações econômicas, claro. Quando o PT estava no poder, o BNDES virou instrumento para transferir recursos dos pagadores de impostos brasileiros para ditaduras socialistas como Cuba, Venezuela e Angola. Foram bilhões e bilhões de reais, e, se os mineiros ainda não possuem um metrô em Belo Horizonte, podem invejar os venezuelanos neste aspecto ao menos, pois Caracas construiu o seu graças ao nosso dinheiro enviado por Lula.

A diplomacia petista nessa época mirava na estratégia declarada sul-sul, ou seja, uma tentativa de reduzir a influência norte-americana e ocidental como um todo. Lula se aproximou de Ahmadinejad, o responsável à época pela ditadura iraniana. Lula se aproximou do Hamas, grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza. Lula foi ao Gabão e, ao retornar, “brincou” que foi lá aprender a como ficar quase 40 anos no poder.

Isso tudo é só a ponta do iceberg. Se o brocardo popular “diga-me com quem andas que te direi quem és” serve como sabedoria, então o PT sempre escolheu andar com as piores amizades. E nada disso é novidade. Em meu livro Estrela Cadente: as Contradições e Trapalhadas do PT, publicado em 2005, antes mesmo do Mensalão, já falou da bandeira ética esgarçada e dessa relação próxima com os piores tiranos do planeta. O Foro de SP não é uma invenção de Olavo de Carvalho, mas algo concreto criado pelo petista que se diz democrata.

Da esquerda para a direita, começando por cima: Lula, ao lado de Yasser Arafat; Muammar Kadafi; Bashar al-Assad; Teodoro Obiang; Nicolás Maduro; Mahmoud Ahmadinejad; Hugo Chávez; Cristina Kirchner; e Evo Morales

Olívio Dutra, ex-governador petista do Rio Grande do Sul, chegou a receber no Palácio Piratini representantes das Farc, o grupo narcoguerrilheiro colombiano que sequestrou milhares de inocentes, além de ter estendido uma bandeira de Cuba na fachada do prédio. Quando Lula chama os sequestradores de Abílio Diniz de “meninos”, portanto, não é por acaso. O grupo responsável pelo sequestro também tinha cores ideológicas comunistas, e por isso acaba sendo protegido pelos parceiros do Foro de SP.

Isso no campo internacional, mas dentro do Brasil o PT sempre apoiou o MST, que promove invasões criminosas, e o MTST, seu braço urbano. Lula disse que Boulos e o MTST teriam papel relevante em seu eventual novo governo. O PT tem “filósofos” que, além de odiar a classe média “fascista”, entendem a “lógica do assalto”. Nas manifestações esquerdistas, quase sempre há quebra-quebra, e Lula já chegou a defender os pneus queimados e a violência “revolucionária”. Que democracia é essa?

Como fica claro, Lula e o PT jamais demonstraram respeito pela democracia. Seu DNA é extremamente autoritário, quiçá totalitário. Tanto que o PT sempre tratou adversários como inimigos mortais, não como políticos ou partidos com divergências legítimas. Os tucanos que resolveram apoiar Lula podem até fingir que estão preocupados com a nossa democracia, mas ninguém acredita mesmo nessa lorota. Quem quer preservar a democracia não se une a quem mira nos exemplos de Cuba e Venezuela, ou quem liderou o Mensalão, esquema corrupto que usurpava a democracia representativa para transferir todo o poder para um só partido.

O TSE pode detestar isso, mas continua sendo verdade: o candidato petista tem ligação próxima com as piores ditaduras do planeta. Quem é democrata mesmo jamais votaria em Lula contra Bolsonaro.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe quadro do então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

DALINHA CATUNDA - EU ACHO É POUCO!

GLOSAS

O doce e eu

“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina!”

Mote desta colunista

Sou poeta e sou doceira,
E na farofa sou boa,
Faço verso, canto loa,
As vezes sou cantadeira,
E metida a cirandeira!
E nessa minha rotina
De cabocla nordestina,
Eu nasci pra versejar:
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina.”

Dalinha Catunda

Eu nasci agricultor
Cultivando o fértil chão
De enxada e foice na mão
Em meio a mata em flor
Sonhava ser escritor
Da cultura nordestina
Minha obra é pequenina
Mas preciso divulgar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina”

Araquém Vasconcelos

Eu me chamo Nelcimá
Sempre gostei de escrever
Eu só não quis entender
Que um dia ia versejar
E agora no pelejar
Vou com a alma felina
Tentando ser turmalina
Para a todos agradar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina.”

Nelcimá Morais

Não faço como Dalinha
Abençoada pela arte
Fazendo aqui minha parte
Pela casa e na cozinha
Pego agulha enfio linha
Faço isto desde menina
Tenho inspiração divina
Peço pra nunca faltar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina.”

Vânia Freitas

Sendo pra nascer mulher
Desejava ser Dalinha
Tendo vaga pra Mocinha
Até Pagu se quiser
Mas tinha outra colher
Caso fosse Messalina
Um homem em cada esquina
Para experimentar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina”!

Ésio Rafael

O seu verso apimentado
E o doce dos quitutes
São, sem dúvida, desfrutes
Para os fãs apaixonados
Nesse jeito misturado
De pimenta e sacarina
Tá completa a sua sina
Não convém se lamentar:
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina”

Giovanni Arruda

Na vida já fiz de tudo
Conquistei o infinito
Escrevi, soltei meu grito
A quem o queria mudo
Transformei rima em escudo
Numa verve cristalina.
Com mamãe, desde menina
Aprendi a cozinhar,
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina”

Nilza Dias

Sou poeta de cordel
Versejo com alegria.
Não vivo de fantasia.
À verdade sou fiel.
Vou traçando meu painel,
Na escrita sou feminina
E também sou nordestina
Pois gosto de versejar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina.”

Rosário Pinto

Não precisa que eu grite
Mas vou dizer nesta rima
Eu não sou de obra prima
Não chego a esse limite
Tenha calma não se agite
Essa poetisa fina
Muito muito me ensina
Deixa o mundo me julgar
“Porém nunca vou chegar
a ser Cora Coralina.”

RivaMoura Teixeira

Pareço na escalada
Da montanha dessa vida
Cada pedra removida
Será uma flor plantada,
Se a semente é germinada
Cumpro um pouco a minha sina
CORA chega e me ensina
Cair e se levantar
“Porém nunca vou chegar
A ser Cora Coralina!”

Bastinha Job

* * *

A grande poetisa Cora Coralina, Goiás-GO (1889-1985)