DEU NO X

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

GLOSAS

Minhas narinas ficaram
Dependentes do teu cheiro.

Mote deste colunista

Essa química primitiva
Que possui o teu perfume
Além deste mau costume
Quase me deixa à deriva
A minha mente cativa
Do teu odor feiticeiro
Entrou em teu cativeiro
Depois as grades fecharam
Minhas narinas ficaram
Dependentes do teu cheiro.

Meu olfato te procura
Pelas ruas da cidade
Buscando a saciedade
No coquetel da loucura.
Tem a semelhança pura
Com cachorro perdigueiro
Farejando o dia inteiro
Por onde teus pés pisaram
Minhas narinas ficaram
Dependentes do teu cheiro.

Comprei um contraveneno
Num grande laboratório
Mas se tornou irrisório
Perante o grande veneno
Que tem teu corpo moreno
Esbelto, lindo, trigueiro,
Já devolveram o dinheiro
Pois nesta cura falharam
Minhas narinas ficaram
Dependentes do teu cheiro.

DEU NO JORNAL

UM PARAÍSO CARIBENHO

* * *

A imprensa deste nosso país é muito reacionária e mentirosa.

Chamar o regime cubano de “ditadura” não condiz com a realidade.

Segundo as esquerdas brasileiras, Cuba é uma democracia aberta, um recanto encantado, um paraíso que deveria servir de exemplo pro resto do mundo.

Perguntem pro Lula que ele confirma.

 Fidel (à esquerda) com Lula e Raúl Castro, em Havana: ex-segurança comparou estilo de vida do ex-presidente cubano ao de um rei Foto: / REUTERS/24-2-2010

Fidel, Lula e Raúl, um trio de amigos que sempre lutou pela democracia

MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

A GUERRA DOS MANIFESTOS (ou O APARENTE CONFRONTO DA DEMOCRACIA COM A LIBERDADE)

Eleição é um evento que sempre traz novidades. A criatividade das pessoas que se dedicam às campanhas é grande. Desde os políticos até os hoje chamados genericamente de apoiadores, passando por marqueteiros e cabos eleitorais, todo mundo participa da elaboração e execução de estratégias para atrair a atenção – e, se possível, o voto – dos eleitores.

Foi assim com os showmícios; as carreatas (um neologismo criado a partir da palavra passeata, com os participantes comparecendo, não a pé, mas de carro); e a alocação de militantes nas esquinas das avenidas, portanto bandeiras de partidos e candidatos, dentre outras manobras.

Mas essas iniciativas foram ficando para trás.

Os showmícios acabaram proibidos pela legislação eleitoral. Os agitadores de bandeiras foram perdendo a graça, à medida que militantes de verdade foram sendo substituídos por pessoas remuneradas para esse trabalho.

Somente as carreatas ainda têm alguma relevância, especialmente no interior, onde candidatos costumam encerrar a campanha com uma espécie de desfile que demonstraria sua popularidade. Estas, porém, têm sido superadas este ano pelas motociatas, até agora praticadas exclusivamente pelo Presidente da República que tenta a reeleição.

Hoje, o campo da batalha pelos votos deslocou-se quase totalmente para o universo virtual da internet, especialmente das redes sociais.

Basta ver a preocupação da Justiça Eleitoral com uma prática chamada “disparos em massa pelo WhatsApp”. Segundo se verifica em reportagens e comentários de jornalistas sobre o tema, o envio de mensagens com conteúdo eleitoral a uma grande quantidade de pessoas foi decisivo nas eleições mais recentes.

Há quem diga que o verdadeiro mal dessa massificação do envio de conteúdo político por meio de aplicativos de mensagens é a difusão de notícias falsas ou indutoras ao erro, no que tem sido chamado de fake news. Tenho minhas reservas quanto a essa afirmação, mas não quero fugir do tema que escolhi para hoje.

Nas redes sociais, candidatos tentam contar com maior número possível de seguidores, a ponto de existir gente especializada em arrebanhar esses seguidores, mediante pagamento, é claro. O que não significa que algumas lideranças tenham efetivamente muitos seguidores, o que é fundamental para a propagação de suas ideias.

Mas o que me motivou a tocar neste assunto hoje foi a constatação de algo que me parece novo, senão inédito: uma disputa de manifestos.

Qualquer pessoa que tenha acompanhado o noticiário brasileiro na última semana sabe que no dia 26 de julho foi lançado um documento intitulado “CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DO PROCESSO ELEITORAL”. Por meio desse documento, juristas, professores e artistas, dentre outras figuras de destaque, manifestam sua preocupação com as instituições democráticas, em especial o processo eleitoral, do qual fazem parte as urnas eletrônicas, cuja credibilidade vem sendo motivo de acirrados debates ultimamente.

Com os recursos de difusão de informações que a internet proporciona, o documento logo passou a receber o apoio de milhares de pessoas, com os sites de notícias destacando sua grande repercussão.

Não tardou para aliados e apoiadores do movimento pela reeleição do Presidente da República identificarem o documento como uma ação político-eleitoral, cujo objetivo seria, de uma só vez, tachar o Presidente de antidemocrático e demonstrar o grande apoio popular dos que se posicionam contra ele.

De fato, o documento não cita nominalmente o Presidente da República, mas é fácil extrair do seu texto referências a condutas que lhe são atribuídas.

Veio então a resposta, dois dias depois, 28 de julho, por meio de um documento com o seguinte título: MANIFESTO EM DEFESA DAS LIBERDADES. Este, além de defender a premissa de que “sem liberdade não há democracia”, cita nominalmente o apoio ao Presidente da República.

Formou-se assim o embate entre os dois manifestos.

Obviamente que o embate não é entre a LIBERDADE e a DEMOCRACIA, pois se tratam de dois valores que tendem a conviver com imensa facilidade. Não seria absurdo afirmar que a LIBERDADE tem melhor possibilidade de florescer na DEMOCRACIA, e que a DEMOCRACIA somente se desenvolve onde prevalece a LIBERDADE.

O que se observa é que cada polo da nossa polarizada política (desculpem a redundância) escolheu, como símbolo para sua posição, um valor que seja caro ao cidadão comum, de modo a disputar seus corações e mentes não a partir de pessoas, mas desses valores (embora o grupo que apoia o Presidente mencione seu nome em seu manifesto).

Aparentemente, a escolha desses valores foi baseada – ou, no mínimo, inspirada – em questões ligadas à realidade dos cidadãos. Ou seja: a DEMOCRACIA, relacionada ao processo eleitoral e às urnas eletrônicas; a LIBERDADE, relacionada às medidas restritivas adotadas durante a pandemia da COVID19, em contrariedade à posição defendida pelo Presidente da República, e às restrições à liberdade de expressão recentemente impostas pelo Poder Judiciário, notadamente o STF e o TSE.

O fato é que agora, com a GUERRA DOS MANIFESTOS deflagrada, esses detalhes a respeito de como ela foi iniciada pouco importam.

Os lados do embate estão definidos. O que interessa agora é qual deles conseguirá reunir o maior número de adeptos. Não é uma antecipação da eleição presidencial, que ocorrerá em breve, mas imagino que o sentimento dos que compõem cada um dos lados seja parecido.

Uma verdadeira corrida por assinaturas digitais está acontecendo. Vejamos onde isso vai dar.

Na última consulta que fiz aos sites que recebem assinaturas, às 16 horas do dia 30 de julho, ontem, o placar estava assim:

DEMOCRACIA: 555.200
LIBERDADE: 524.200

Diferença: 31.000

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O VERÃO DE UMA ANDORINHA SÓ

A andorinha e a sua magia de fazer o verão

Hoje nosso passeio será pela política. Política construtiva e, para aqueles que quiserem, participativa.

Lá na minha “Queimadas”, povoado cearense de Pacajus, onde nasci no século passado, foi onde comecei a ouvir que, “uma andorinha, só, não faz verão”.

Entretanto, sem nunca ter passado na calçada de uma escola mas, tendo conquistado Doutorado na Vida, minha sábia Avó garantia do alto da experiência:

– Depende. Se essa andorinha tiver Fé, e conseguir colocar essa Fé nas asas, vai conseguir fazer verão!

Pois, hoje, 31 de julho, estamos no outono. Ainda atravessaremos toda a primavera e teremos que viver e confirmar mais 143 dias para o verão.

Mas, creiam – a Fé de uma única andorinha está trazendo o verão!

Jair Messias Bolsonaro, ungido pelo povo do bem se encheu de Fé e em momentos ímpares está conseguindo acordar um povo que até então parecia dormir ou estar sem direção. JMB subiu numa moto e como João, arrebanhando e pastorando ovelhas, está reunindo tantas andorinhas quantas lhe serão necessárias para fazer o verão antecipado.

Pela primeira vez no Brasil, o verão de “uma andorinha só” sai do dia 21 de dezembro para o dia 2 de outubro. Movido pela Fé!

A andorinha conduz os seguidores para o verão

Depois de viver sete mandatos na Câmara Federal, convivendo com ideias diferentes da sua formação militar, Jair Messias resolveu “virar a andorinha” – tão só, que as pesquisas encomendadas sequer falavam o nome dele.

O número dele: 17. Dezena do cachorro e número do macaco. Nada de andorinha.

O final das apurações a incrédula andorinha surpreendia um país inteiro. Antes mesmo da eleição final, não uma pedra de baladeira que tentou acertar a andorinha pousada no fio da rede elétrica. Uma facada misteriosa tentou ceifa-lo a vida.

A partir de então, queimadas, conchavos, mentiras, perseguições e jogo fora das quatro linhas constitucionais – tudo contra uma “andorinha só”.

Eis que a Fé começava a vencer e mostrar a face e os voos rasantes da andorinha. O povo acordou e aderiu.

Agora as andorinhas são muitas e farão o verão antecipado

Somatório de tudo: o verão de 21 de dezembro foi antecipado para 2 de outubro.
Os que ainda têm Fé haverão de ver que, uma andorinha só, também pode fazer verão.

DEU NO JORNAL

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JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Dyonélio Machado

Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS, em 21/8/1895. Escritor, poeta, ensaísta, jornalista, psiquiatra, político e um dos pioneiros da psicanálise no Rio Grande do Sul. Foi também um autor destacado na 2ª geração do Modernismo brasileiro.

Filho de Elvira Tubino Machado e Sylvio Rodrigues Machado, morto num duelo quando ele era uma criança, fato que o marcou por toda a vida. Para ajudar no sustento da família, vendia bilhetes de loteria junto com o irmão. Contudo, continuou estudando e se dando bem na escola. Auxiliava os alunos mais atrasados e com isso conseguiu gratuidade na escola para si e o irmão. Aos 12 anos conseguiu um emprego como auxiliar no jornal O Quaraí e passou a conhecer a intelectualidade local. O gosto pelo jornalismo estimulou-o a fundar um jornal intitulado O Martelo por volta dos 16 anos, demonstrando certo interesse pelo comunismo

Em 1921 mudou-se para Porto Alegre e fundou o jornal A Informação, ligado ao Partido Republicano. Pouco depois publicou o ensaio Política contemporânea: três aspectos e ingressa na Faculdade de Medicina, em 1924. Diplomado em 1929, foi trabalhar no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Em seguida, passou 2 anos no Rio de Janeiro, onde se especializa em psiquiatria e neurologia e publica sua tese de doutorado: Uma definição biológica do crime. De volta à Porto Alegre, foi um dos responsáveis pela divulgação da psicanálise no Rio Grande do Sul. Em 1934 traduziu o livro Elementos de psicanálise, de Edoardo Weiss e fez dessa especialidade sua profissão.

No entanto, manteve o interesse pelo jornalismo, que foi estendido à literatura. Assim, participou de um círculo de amigos conhecido como “a turma da Praça da Harmonia”. A estreia literária se deu em 1927 com uma coletânea de contos: Um pobre homem. Por insistência do amigo Érico Veríssimo, escreveu o romance Os Ratos, em 1935, e ganhou o Prêmio Machado de Assis, tornando-se sua obra prima. No mesmo ano, devido à “Intentona Comunista”, foi preso por 2 anos e na cadeia adere ao PCB-Partido Comunista Brasileiro. Em 1942 publicou O louco do Cati, mais um romance muito bem recebido pela crítica e público.

Eleito deputado constituinte, pelo PCB, em 1947, manteve-se até ser cassado com a dissolução do partido. Afastou-se da política e do mercado editorial por quase 20 anos, dedicando-se à medicina e escrevendo romances. Além da medicina e da literatura, foi um entusiasta do jornalismo. Participou da fundação da pioneira ARI-Associação Rio-Grandense de Imprensa, em 1935, e foi colaborador dos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias. Em 1946, junto com Décio Freitas, fundou a Tribuna Gaúcha, porta-voz do PCB. Em 1966, com a reedição de Os Ratos, voltou a cena literária com a publicação de Deuses econômicos (1976), Endiabrados (1980), Ele vem do fundão (1982) e O estadista, publicação póstuma em 1995.

Sua obra, após um período de esquecimento, foi resgatada no meio acadêmico a partir de 1990, devido ao caráter psicológico arraigado em suas obras, particularmente em Os Ratos e O Louco do Cati. Foi considerado um “escritor maldito” bem antes do tempo em o termo foi aplicado a alguns escritores na década de 1970. Ele mesmo confirmou esta impressão ao declarar “Eu sou um rebelde. Eu não sou do público. Sou incapaz de escrever algo pensando no que vão achar, qual será a impressão que causará. Sou incapaz de ser vendido à editora, ou ao público”, publicado no livro O cheiro da coisa viva, em 1995, pela Graphia Editorial.

Independente da fama de maldito, fato é que Os Ratos e O Louco do Cati encontram-se no cânone da literatura brasileira, conforme diversos críticos e estudiosos que se debruçaram em sua obra através de teses e dissertações acadêmicas. Faleceu em 19/6/1985 e seu último livro – Proscritos – teve publicação póstuma em 2014 pela editora Siglaviva. Entre as biografias do autor, contamos com uma “intelectual”, escrita por Marinês Dors: Dionélio Machado (1895-1985): os múltiplos fios da trajetória ambivalente de um intelectual, na forma de uma dissertação de mestrado realizada na UNISINOS-Universidade do Vale dos Sinos, em 2008 e outra, digamos, “literária”, escrita por Maria Zenilda Grawunder: Instituição literária: análise da legitimação da obra de Dyonélio Machado, publicada pela EDIPUCRS, em 1997.

Encontramos também um “retrato” do autor, que pode se constituir numa síntese biográfica, escrita por Jonas K. Moreira Dornelles: Dyonélio Machado como figura pública e intelectual brasileiro – notas para compreensão, na forma de um artigo publicado na revista Opinião Filosófica, vol. 10, nº 2, de 2019, a disposição na Internet. Clique aqui para ler.

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