Para o sertanejo antigo O ponteirar do relógio De hora em hora a passar Da escurecença da noite A sol-nascença do dia É dizido ao jeito deles No mais puro boquejar. Se diz até que os bicho: Galo, nambu e jumento Sabe às hora anunciar.
Uma hora da manhã: Primeiro canto do galo. Quando chega às duas horas: Segundo galo a cantar. As três se diz: madrugada As quatro: madrugadinha Ou o galo a miudar. As cinco é o cagar dos pintos Ou mesmo o quebrar da barra. Quando é chegada às seis horas Se diz: o sol já de fora Cor de Crush foi-se embora E tome dia clarear.
Sete horas da manhã É uma braça de sol. O sol alto é oito em ponto O feijão tá quase pronto E já borbulha o manguzá.
Sendo verão ou se chove Ponteiro bateu as nove É hora de almoçar. As dez é almoço tarde De quem vem do labutar. Se o burro dá onze horas Diz: quase mei dia em ponto As doze é o sol a pino Ou pino do meio dia O suor desce de pia Sertão quente de torar.
Daí pra frente o dizido Ao invés de treze horas Se diz: o pender do sol Viração da tarde é duas Quando é três, é tarde cedo. As quatro, é de tardezinha – Hora branda sem calor O sol perde a cor de zinco… Quando vai chegando as cinco: Roda do sol a se pôr.
As seis é o-pôr-do-sol Ou Hora da Ave Maria. Dezenove ou sete horas Se diz que é pelos cafus.
As oito, boca da noite. Lá pras nove é noite tarde. As dez é a hora velha Ou a hora da visagem É quando o povo vê alma Nos escuros do lugar É horona perigosa Fantasmenta e assustosa Do cabra se estupefar.
As onze é o frião da noite É sertão velho a gelar. Meia noite é MEIA NOITE E acabou-se o versejar Mais um dia foi-se embora E assim é dizido as horas Nesse velho linguajar.
Poema baseado nas “Horas sertanejas” de Câmara Cascudo