Infelizmente os ratos são mais letais do que os dragões.

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante ideia.
E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.
Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas
Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
Joaquim Maria Machado de Assis, Rio de Janeiro-RJ, (1839-1908)
Esse cara vai ser eleito presidente da Argentina.
Estou sentindo o sentimento de inveja pela primeira vez na vida. pic.twitter.com/yXzKlHPQIY
— Dama de Ferro (@Damadeferroofic) August 23, 2023
No submundo em que religião é business e o vigor da mensagem espiritual virou mercadoria, sempre me espanta a facilidade com que a clientela proporciona o milagre da multiplicação da grana. Ao escrever isso, ando muito longe de qualquer generalização, pois tenho respeito reverencial por quem se dedica honesta e piedosamente à salvação das almas. Repito: falo do submundo em que religião é negócio, onde a credibilidade dos operadores do empreendimento vira crédito e alcança contas bancárias e bens dos fiéis.
É uma analogia possível, uma dentre tantas, com a situação do hacker Walter Delgatti Neto, cujas peripécias não devem agradar ao vovô desse neto. O criminoso agiu ou declarou ter agido para explodir a Lava Jato a partir de fragmentos de conversa, pinçados dos longos anos de muito trabalho da força tarefa que atuava em Curitiba. Mesmo assim, de estalo, formou-se verdadeira multidão de fiéis, unindo a calda grossa do jornalismo companheiro ou camarada, o topo do Judiciário nacional, os políticos e empresários buscando toalha para se secar da água e do spray na Lava Jato, e a torcida organizada da esquerda.
Os fragmentos de conversa vazados pelas artimanhas do hacker de Araraquara consagraram entre seus devotos a narrativa pela qual os referidos grupos ansiavam. Para eles, na Lava Jato, policiais, delegados, procuradores, magistrados estavam todos mancomunados para o mal. Só o hacker era do bem e seus fragmentos de conversa tinham o valor de um papiro com texto bíblico encontrado no sítio arqueológico de Qumram.
Como cidadão me sinto ofendido por saber que o homem da vaza jato, que tornou canônica a narrativa de Lula e seus amigos, agora condenado a 20 anos de prisão, ostenta um conceito que varia entre criminoso, psicopata, picareta, mentiroso crônico, mistificador, estelionatário. Mas foi com mãozinha dele e jeitinho de outros que Lula chegou à presidência da República.
Nikolas Ferreira
Condenado a 20 anos e 1 mês de prisão na Operação Spoofing, que investiga vazamento de conversas de autoridades ligadas à Operação Lava Jato, sem dúvida o destaque da semana foi o depoimento de Walter Delgatti na CPMI do 8 de janeiro. O hacker, que de manhã se mostrou cheio de confiança e respondeu os questionamentos dos deputados de esquerda, mudou totalmente de postura na parte da tarde, quando foi questionado pela oposição.
As mentiras proferidas por ele até poderiam ter mais credibilidade se não fossem os fatos que o rodeiam. O depoente já disse em 2022 que não só votaria em Lula como faria campanha em prol de sua eleição, externou interesse em se candidatar, e se assim o fizesse, afirmou que seria por um partido de esquerda. Além disso, já foi condenado por estelionato, e em novembro de 2021 o advogado que o representa postou uma foto com o livro que conta a história do atual presidente. Como se não bastasse, convocou seus seguidores para uma noite de autógrafos, onde os direitos autorais dos livros vendidos seriam revertidos para Walter.
Todo esse histórico ideológico, somado com as inúmeras contradições e a seletividade nas respostas, renderam uma nova convocação para prestar depoimento na PF. Isso demonstra que, mais uma vez, os governistas não estão preocupados em apurar os fatos, mas politizar os trabalhos da comissão para atingir seus alvos preferidos. Enquanto isso, inocentes são presos e perseguidos unicamente por exercerem o seu direito à manifestação, conforme consta no artigo 5º da Constituição Federal.
Quando imaginei que as mentiras haviam acabado ao fim da audiência, um dia depois, o advogado Ariovaldo Moreira afirmou que seu cliente não conseguiria provar o conteúdo das supostas conversas com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em virtude do celular estar no modo avião. Realmente querem que você acredite que o hacker, especialista em tecnologia, que invadiu celulares e divulgou conversas, não conseguiu fazer algo extremamente básico. Conclusão? Eu não esperava menos de quem se calou até quando foi questionado por mim sobre suas próprias palavras. Pra variar, mais uma vergonha na conta da base do atual governo. Quanto a nós, ficaremos no aguardo da próxima narrativa, já que agora, Delgatti ficará em silêncio e na cadeia.