DEU NO X

SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

A PALAVRA DO EDITOR

O NETO QUERIDO DE UM VOVÔ BABÃO

Meu querido neto Pedro Henrique Berto – que já me deu um casal de bisnetos -, é oficial de carreira da PM de Brasília.

Exerce o posto de Capitão e deverá ser promovido a Major no próximo ano.

Em setembro de 2019, fiz aqui uma postagem falando sobre ele.

A coluna do Peninha no JBF, que publica somente músicas, também fez uma postagem com ele em janeiro deste ano.

Na foto abaixo, Pedro parece ao lado da mãe, minha primogênita Patrícia.

A foto foi feita domingo passado, dia 24 de julho, durante a solenidade de conclusão do curso para Oficial Superior.

Embora seja militar de carreira – também bacharelado em Direito -, a paixão de Pedro é a música.

Ele toca bandolim desde criança e está sempre participando de eventos musicais

Esta semana Pedro chegou de Brasília com a esposa e fui pegá-lo no aeroporto.

Na bagagem, trouxe o seu inseparável bandolim.

Ele veio pra assistir ao FIG – Festival de Inverno de Garanhuns, um evento musical de muito sucesso que acontece todos os anos naquela bela cidade pernambucana.

Levei o casal ontem pra rodoviária. Embarcaram e já chegaram em Garanhuns.

Mas antes de viajar, Pedro e meu filho João se reuniram no terraço aqui de casa pra tocar algumas músicas.

O papai-vovô  coruja, com um filho adolescente de 15 anos e um neto adulto de 33, ficou só apreciando e se babando.

Vejam o vídeo com uma das várias músicas que eles tocaram.

Detalhe: nenhuma dos dois é canhoto.

Aparecem tocando com a mão esquerda por conta da filmagem invertida do celular de Aline.

DEU NO X

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

A VELHA SENHORA

Assim os torcedores da Juventus (Turim, Itália), La Juve, chamam seu time – La Vecchia Signora. E agora (quarta da semana passada), quando a Academia Brasileira de Letras fez 125 anos, podemos também assim chamar, com carinho, nossa Casa. Aproveito para lembrar.

CABECEIRAS DAS MESAS. Ninguém mais senta nelas. Isso vem de quando, por deferência, lá ficavam só os mais velhos. Dando-se, com frequência, serem os próximos a morrer. A partir daí, virou regra. Dá um azar danado. Melhor mesmo é deixar as cabeceiras vagas e sentar nas outras cadeiras.

PANELINHA. Na criação da Academia, intelectuais se reuniram em torno de Machado de Assis, com almoços servidos em uma pequena panela de prata (que está, hoje, no Museu da Academia). O utensilio acabou dando nome ao grupo. E, depois, a expressão ganhou mundo.

MULHERES. Demoraram a entrar na Academia. Lúcia Lopes, cogitada para ser uma as fundadoras, acabou vetada. Por ser mulher. Primeira a ser admitida foi Raquel de Queiroz (autora de Memorial de Maria Moura), 80 anos depois da fundação. E, primeira presidente, ainda mais tarde – a consagrada Nélida Piñon, 99 anos depois.

MAIS LONGEVOS. O caruaruense Austregésilo de Athayde permaneceu, na presidência, por 35 anos. E, na cadeira, Magalhães de Azevedo ficou lá durante 66 anos (morreu aos 91 anos). Como ninguém mais é eleito com 25 anos (seu caso), não haverá outro.

SEM LIVROS. Apenas Graça Aranha foi eleito sem haver escrito um único livro (toda sua obra é posterior). Certo dia, enlouqueceu e começou discurso dizendo que o lugar era um “Túmulo de Múmias”, após o que proclamou “Morte à Academia”. A reação dos acadêmicos foi passear, pela sala, carregando Coelho Neto (o mais velho ali presente) nos ombros. Graça renunciou mas a eleição do substituto esperou, que vagas ali ocorrem só com a morte dos acadêmicos.

VAGAS. Getúlio Vargas ‒ à época todo poderoso no país ‒ queria pertencer à academia. Só que faltava lugar, que não morria nenhum confrade. Foi quando Ataulfo de Paiva se prontificou “Não seja por isso, Presidente, se quiser eu me suicídio”. Não precisou, graças a Deus. Sobre Jorge Amado consta lenda de ter feito promessa a sua mulher, Zélia Gattai, de que ela entraria. Mas, novamente, não havia vaga. E ela insistia. Foi quando Jorge, elegante como sempre foi, preferiu morrer para que a mulher acabasse eleita no lugar que era seu. Non è vero, ma…

EMILIO DE MENEZES. Eleito, a Academia não permitiu que assumisse a cadeira. Por conta de críticas, no seu Discurso de Posse, a muitos acadêmicos. E ele não aceitou alterar nada. Só para uma ideia, veja-se o que disse (trecho) do confrade Oliveira Lima, no soneto O Plenipotenciário da Facúndia (da eloquência, pois). Começou

– De carne mole e pele bobalhona
Ante a própria vaidade se extasia
Sendo Oliveira, não dá azeitona
Sendo Lima, é quase melancia”.

E acabou

– Assim se conta essa figura estranha
São mil léguas quadradas de vaidade
Por centímetro cúbico de banha.

Percebendo a morte próxima, Emílio tomou posse na Secretaria da Academia. Sem discurso.

DEU NO JORNAL

É REAL

Os críticos da economia no mercado financeiro fazem fila no divã do analista.

É que o dólar se fortaleceu mundo afora, superou até o euro pela primeira vez, mas se desvaloriza perante o real.

* * *

É real R$ mesmo.

É a realidade

Haja divã.

Haja analista.

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

TEXTOS ALHEIOS – JANER CRISTALDO

Andei falando sobre a imprensa e o baixo nível dos jornalistas de hoje. Para contrabalançar, segue um texto de um de meus jornalistas preferidos, o gaúcho Janer Cristaldo, falecido em 2016, que fala justamente sobre o que seria um bom jornalista:

Um amigo me pergunta sobre o que seria necessário para ser um bom jornalista. Em verdade, nunca pensei no assunto e minha resposta é mais ou menos aleatória. Enumero então alguns quesitos que me parecem fundamentais, sem pretender que sejam definitivos.

O jornalista deve ter uma qualidade que deveria ser inerente a todo ser humano. Jornalista que vende sua capacitação para ideologias ou partidos não passa de um venal. Conheço não poucos colegas que, em épocas de eleição, aproveitam para faturar alto. Prestam assessorias a partidos. Quem presta assessoria a um partido, seja lá qual partido for, é pessoa que vendeu sua independência e só escreve o que patrão manda. Ser chapa-branca não é crime. Mas nada tem de ético. O jornalista chapa-branca – aquele que vende seu talento para o poder ou para partidos – sempre empunha o famoso argumento do leite das criancinhas. Não convence. A meu ver, uma vez que optou pela prostituição, deveria ser sumariamente excluído, e para sempre, das redações de jornal. Existe aliás uma tese de que a um jornalista não deveria ser permitido votar. É de se pensar no assunto.

Ora, direis, jornalista sempre tem patrão. De fato. Mas quando o dono de um jornal exige que seus redatores escrevam em franca oposição aos fatos, esse jornal não vai longe. Pode manter-se em ditaduras, onde os jornais são financiados pelo Estado. Em regime democrático, esse jornal morre. Neste sentido, a primeira qualidade de um jornalista deveria ser a mesma de todo cidadão decente: honestidade.

Dito isto, vamos a algumas qualificações específicas. Neste nosso mundinho globalizado, jornalista que não dominar pelo menos três línguas além da própria, nem deveria candidatar-se ao ofício. No caso do Brasil, considero o conhecimento do espanhol obrigatório. Do inglês, imprescindível. E do francês, muito oportuno. Conhecessem os jornalistas um mínimo de francês, não escreveriam bobagens com “um affaire” ou “um fondue”. Nem traduziriam – como invariavelmente traduzem – l’Arche de la Défense como o Arco de la Défense. Cada língua que dominamos é uma janela aberta para o mundo. Quanto mais janelas, melhor se vê.

Continue lendo

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO JORNAL

DIÁRIO DE INTIMIDADES

Luís Ernesto Lacombe

E se não fosse uma cartinha, uma carta aberta? E se fosse um diário? Do tipo que muita gente escreveu, até que o papel, a caneta, os cadernos de capa dura, as agendas, até que tudo isso ficasse esquecido e fosse reinventado em telas, teclados, num planeta digital, binário… Uma sequência doida de números: zero, um, zero, zero, um, um, zero… Não sei se quem escrevia diários o fazia só para si, se temia verdadeiramente que eles fossem descobertos e lidos por outras pessoas, ou se, ao contrário, ansiava por leitores. Talvez não imediatos, do tipo que encontrasse nas folhas de papel a tinta da caneta ainda úmida e, sem querer, borrasse as linhas com os dedos. Leitores futuros, que, depois de tantos anos, já veriam a poeira baixada, dramas e impasses resolvidos, remediados, a ponto de restar apenas uma doce nostalgia, superação, realização, alegria.

“Meu querido diário”, a descrição de acontecimentos podia começar assim. Podia ser mesmo um simples relatório de atividades, ou podia trazer também reflexões, pensamentos, sentimentos, confidências, segredos reunidos em letra cursiva… Estou deduzindo que menos gente, hoje em dia, se dedique a escrever diários, mas sempre haverá aqueles mais apegados a registrar dessa forma suas experiências, suas vivências. Vou supor, então, que haja, na grande maioria dos casos, nessas memórias rabiscadas (ou digitadas), um nível quase absoluto de sinceridade. Vou supor que não haja objetivos escusos, que cada palavra, que cada frase seja uma entrega quase total à verdade. Como se ninguém fosse capaz de se render a uma edição sempre positiva de si mesmo.

De repente, encontro numa gaveta, escondidos entre roupas em desuso, emboloradas, ou num baú pesadíssimo, impossível de ser deslocado, os diários de uma gente sonsa. São pessoas que assinam uma carta aberta se declarando grandes defensoras da democracia. Eram a favor de mudanças para aumentar a segurança e a transparência nas eleições, seus diários deixam isso bem claro, mas mudaram de ideia. Temem que um ser abjeto rasgue a Constituição, mas guardam entre as folhas de seus diários pedacinhos da nossa lei máxima. Na cartinha esvoaçante, frágil, afirmam que somos todos iguais perante a lei. Em suas confissões, nos dividem em grupos. Defendem a censura, defendem prisões, que sofram aqueles que não pensam como eles.

Trabalham por um político condenado em três instâncias, que não deveria ser candidato a mais nada. Deixam em ruínas o Largo de São Francisco, detestam a maior operação de combate à corrupção no Brasil, defendem que alguém só pode ser preso quando não tiver mais dinheiro para pagar seus advogados. São banqueiros bonzinhos, que abominam o lucro a qualquer custo, que amam seus clientes, que fazem qualquer sacrifício por eles. São pessoas tão incríveis, acima de qualquer suspeita, escreveram uma carta tão linda… Só que esqueceram de queimar seus registros mais íntimos. E está lá, escrito em letras garrafais: “Meu querido diário, que se exploda o Estado Democrático de Direito!”