DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

SONETO DO RECANTO – Carlos Pena Filho

Num recanto sem data e sem ternura,
e mais, sem pretensão a ser recanto,
descobri em teu corpo o amargo canto
de quem despenca para a desventura.

Há nos recantos sempre uma segura
desvantagem de unir o desencanto
e é por isto talvez que não me espanto
de ali perder teu corpo e a ventura

de viver entre atento e descuidado,
mirando o pardo tédio que descansa
nos subúrbios do amor desmantelado.

E só para ganhar mais espessura
eu resolvi fazer esta lembrança
de um recanto sem data e sem ternura.

Carlos Souto Pena Filho, Recife-PE, (1929-1960)

DEU NO X

JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

APAREÇA

Se você não aparece
Que graça tem o meu dia?
Vai-se embora a esperança,
Leva junto a alegria,
Foge também a vontade
E fica só a saudade
Do tempo que eu lhe via.

De quando aparecia
E sorrindo me olhava
Era como uma chuva boa
Todo feliz me deixava
Sua menor atenção
Enchia meu coração
De poesia me encharcava.

Enquanto você passava
Meu olhar lhe acompanhando
E seu nome bem baixinho
Eu ficava só chamando
Pedindo no pensamento
Que você por um momento
Para trás ficasse olhando.

DEU NO X

RODRIGO CONSTANTINO

O ÚNICO (QUASE) ACERTO DE LULA

O ex-presidiário Luís Inácio Lula da Silva só diz bobagem, mente que nem sente, inventa números, distorce a realidade e abusa da retórica sensacionalista. Mas ele quase acertou o alvo pela primeira vez. Foi quando disse que o PSDB acabou, morreu. Claro que, em essência, não é bem assim. Mas a ideia vai na direção certa: os tucanos derreteram, não só com Doria, mas com sua postura em geral.

A farsa da estratégia das tesouras chegou ao fim. Na pandemia, governadores e prefeitos tucanos se mostraram tão autoritários quanto os petistas. Na defesa do liberalismo econômico, os tucanos parecem tímidos demais. Nas pautas de costumes, eles aderiram em peso ao credo “progressista”. E quando o tucano mais “conservador”, que alertou que Lula pretendia voltar à cena do crime, acabou fechando chapa com o próprio larápio, o descrédito do tucanato foi no limbo.

Claro que há bons quadros no PSDB, gente mais liberal, alguns antipetistas de fato. Mas as lideranças, como o ex-presidente FHC, adoram incensar Lula, elogiar o corrupto, enquanto demonizam Bolsonaro. É uma esquerda acovardada, sem coragem de sair do armário, e que se vende como muito diferente porque usa terno melhor e perfume francês. Não engana mais tanta gente assim.

Quem não gostou da fala de Lula, porém, foi o jornalismo tucano. O Estadão, o jornal mais tucano de todos, publicou seu editorial do dia 3 condenando a fala “antidemocrata” de Lula. Diz o jornal:

Lula pretende se apresentar como ‘salvador da democracia’ no País, mas sua natureza autoritária sei mpõe, ao debochar do PSDB e da inteligência do eleitor. O chefão petista diz e repete que pretende ser líder de um amplo movimento suprapartidário para nada menos que “salvar a democracia”, mas, quando está entre os seus, deixa claro o que entende por “democracia”: um regime em que o PT governa sem oposição.

Em seguida, o jornal passa a elogiar as gestões tucanas, e alfineta Lula: “O perigo de uma eventual vitória de Lula não se manifesta somente nos momentos em que reafirma sua vocação autoritária. Preocupa igualmente sua visão tacanha de mundo. Em vários momentos, Lula parece que está disputando a direção de um centro acadêmico, não a Presidência da República”. E conclui: “Esse é o Lula – irredutível demagogo e incorrigível autoritário – que quer ser visto como o redentor do Brasil”.

O Estadão está certo sobre Lula, claro, mas chega a ser patética a defesa apaixonada que faz do PSDB. No fundo, o que os tucanos não aceitam é o desprezo de Lula por eles, que no fundo tentam tanto formar essa “frente ampla” contra Bolsonaro. Se ao menos Lula fosse mais tolerante com a turma da social-democracia, que não enxerga tanto defeito assim no socialismo ideológico do PT, mas que fica desesperada com o egoísmo e a gula de seu líder. Poxa, era só Lula elogiar um pouco o PSDB que todos os parentes esquerdistas seriam tão felizes juntos…

DEU NO JORNAL

SUPREMA DECADÊNCIA

Ao proferir decisão não alinhada com a ala socialista majoritária da Corte, o ministro Nunes Marques chegou a ser denunciado por “atentar contras as instituições”.

O duplo padrão é evidente: se é uma ordem favorece a esquerda, é a máxima expressão da democracia!

Se for contra a esquerda, então é um “atentado às instituições”.

E desobedecer ou derrubar a decisão é dever cívico.

* * *

“Ala socialista majoritária”.

É o que está escrito nesta nota aí de cima.

Só mesmo nas condições atuais da nossa sofrida república seria possível se dizer algo assim, referindo-se ao órgão máximo da justiça.

E isto é uma verdade incontestável, indesmentível: lá dentro tem mesmo uma bancada militante-partidária defendendo ardorosamente a nojenta ideologia esquerdo-petralha.

O fedor exalado pelo nosso SPTF é nauseante, imundo, nojento.

Me dá ânsias de vômito e eu tenho que sair correndo atrás do pinico.

WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

PARABÉNS, JORGE DE ALTINHO!

Jorge de Altinho: fez 70 anos anteontem, dia 3 de junho

De nascimento, Olindense,
Mas por força do destino
Foi o pequeno menino
Ter adoção Altinense.
Jovem, foi para o sertão,
Lá encontrou Gonzagão
Que se tornou seu padrinho
E Deus ajudou nos planos.
Ontem fez 70 anos
O nosso Jorge de Altinho.

Inspirado em Camarão
Botou metais no Forró
Quem ouviu, gostou que só
Desta bela inovação.
E como compositor
Fala em sertão, em amor,
Do voar do passarinho,
Dos seus amores ciganos.
Ontem fez 70 anos
O nosso Jorge de Altinho.

Petrolina e Juazeiro
Ficaram imortalizadas
Porque foram decantadas
Pelo nosso forrozeiro.
Quem não lembra “Confidência”?
De “Rio Una”, “Vivência”?
(Que escutei no radinho)
Sem pensar em desenganos…
Ontem fez 70 anos
O nosso Jorge de Altinho.

Jorge de Altinho cantando Petrolina-Juazeiro

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Antonieta de Barros

Antonieta de Barros nasceu em 11/7/1901, em Florianópolis, SC. Professora, jornalista e política, foi a primeira mulher negra brasileira a ocupar um mandato como deputada e uma das primeiras mulheres eleitas no Brasil. Batalhou pela emancipação feminina, pela educação de qualidade e pelo reconhecimento da cultura negra no Sul do País.

Filha da lavadeira Catarina de Barros e Rodolfo de Barros, ficou órfã do pai ainda criança. A mãe era empregada na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, futuro presidente da República. Sua irmã e seu irmão foram ativistas no incipiente movimento negro local. Em seguida a mãe criou uma pensão para estudantes em sua casa, criando um ambiente propício à alfabetização dos filhos.

Teve os primeiros estudos na Escola Lauro Miller e aos 17 anos ingressou na Escola Normal Catarinense. Colaborava na edição da revista da escola e presidiu o Grêmio Estudantil. Diplomada professora em 1921, criou no ano seguinte o “Curso Particular Antonieta de Barros” em sua casa, voltado à população carente. Queria ser advogada, mas o curso de Direito era vedado à mulher. Mais tarde lecionou na escola onde fez o curso primário, no Colégio Coração de Jesus e na escola onde se formou professora, na qual foi diretora nos anos 1944-51, quando foi exonerada por motivos políticos. Além do magistério, teve atuação destacada como jornalista e escritora. Fundou e dirigiu o jornal A Semana entre os anos 1922-27, conseguindo com isto outro pioneirismo: a primeira mulher negra a exercer o jornalismo.

Suas crônicas tratavam das questões ligadas à educação, condição feminina, desmandos políticos e preconceito. Em 1930 dirigiu a revista Vida Ilhoa e escrevia sob o pseudônimo “Maria da Ilha”. Em 1937 reuniu algumas de suas crônicas e publicou o livro Farrapos de Ideias. Participou da Associação Catarinense de Imprensa e passou a trocar correspondência com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, através de sua fundadora, a bióloga Bertha Lutz. Em 1934, na primeira eleição em que as mulheres puderam ser votadas, foi convidada pelo deputado Nereu Ramos a ingressar no Partido Liberal Catarinense e candidatar-se a Deputada.

Foi eleita deputada estadual em 1935 e ficou responsável pelos capítulos Educação e Funcionalismo na Assembleia Constituinte. Em 1937 assumiu a presidência da Assembleia Legislativa e concluiu seu mandato no mesmo ano com a instauração do “Estado Novo” e o fechamento dos parlamentos em todo o País. Voltou à política em 1947, foi eleita deputada em 1948, centrando sua atuação na área da educação. Batalhou pela concessão de bolsas de cursos superiores e magistério, dirigidos à alunos carentes e foi autora da lei estadual nº 145, de 12/10/1948, instituindo o Dia do Professor e feriado escolar no estado.

Foi vítima do preconceito e atacada pelo deputado Oswaldo Rodrigues Cabral, em 1951, quando disse que suas ideias políticas e educacionais eram uma “intriga barata da senzala”. Sua delicada resposta veio através de um artigo publicado no jornal O Estado: “Fizemos do Magistério o nosso caminho, e agimos sempre respeitando a professora que não morreu em nós, ainda, graças a Deus. Como, pois, a intriga? Compreendemos que a delicada sensibilidade do nobre Deputado tenha sofrido diante daquela frase. Sua Excelência, para a felicidade de todos quantos são arianos – apesar de portador de um diploma de jornalista – não milita no ensino público. Dizemos felicidade porque, à sua Excelência, falta uma das qualidades de professor: não distinguir raças, nem castas, nem classes”.

Aposentou-se em 1951, mas continuou lecionando até o ano seguinte, quando veio a falecer em 28/3/1952, vitimada pela diabetes. Ela passou por um processo de “apagamento histórico” até fins da década de 1990, quando a ex-senadora Ideli Salvatti iniciou o resgate de sua memória e uma série de homenagens foram e vem sendo feitas com seu nome extrapolando a fronteira de seu Estado: nome do auditório do palácio do governo, nome do programa de formação de jovens aprendizes, projeto de inclusão de seu nome no “Livro dos Heróis da Pátria”, Medalha Antonieta de Barros, comenda da Câmara Municipal, concedida a mulheres relevantes etc., além de seu nome dado à alguns logradouros de Florianópolis. Sua biografia – Antonieta de Barros: professora, escritora, primeira deputada catarinense e negra do Brasil – foi publicada em 2021 por Jeruze Romão.