JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Antonieta de Barros nasceu em 11/7/1901, em Florianópolis, SC. Professora, jornalista e política, foi a primeira mulher negra brasileira a ocupar um mandato como deputada e uma das primeiras mulheres eleitas no Brasil. Batalhou pela emancipação feminina, pela educação de qualidade e pelo reconhecimento da cultura negra no Sul do País.

Filha da lavadeira Catarina de Barros e Rodolfo de Barros, ficou órfã do pai ainda criança. A mãe era empregada na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, futuro presidente da República. Sua irmã e seu irmão foram ativistas no incipiente movimento negro local. Em seguida a mãe criou uma pensão para estudantes em sua casa, criando um ambiente propício à alfabetização dos filhos.

Teve os primeiros estudos na Escola Lauro Miller e aos 17 anos ingressou na Escola Normal Catarinense. Colaborava na edição da revista da escola e presidiu o Grêmio Estudantil. Diplomada professora em 1921, criou no ano seguinte o “Curso Particular Antonieta de Barros” em sua casa, voltado à população carente. Queria ser advogada, mas o curso de Direito era vedado à mulher. Mais tarde lecionou na escola onde fez o curso primário, no Colégio Coração de Jesus e na escola onde se formou professora, na qual foi diretora nos anos 1944-51, quando foi exonerada por motivos políticos. Além do magistério, teve atuação destacada como jornalista e escritora. Fundou e dirigiu o jornal A Semana entre os anos 1922-27, conseguindo com isto outro pioneirismo: a primeira mulher negra a exercer o jornalismo.

Suas crônicas tratavam das questões ligadas à educação, condição feminina, desmandos políticos e preconceito. Em 1930 dirigiu a revista Vida Ilhoa e escrevia sob o pseudônimo “Maria da Ilha”. Em 1937 reuniu algumas de suas crônicas e publicou o livro Farrapos de Ideias. Participou da Associação Catarinense de Imprensa e passou a trocar correspondência com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, através de sua fundadora, a bióloga Bertha Lutz. Em 1934, na primeira eleição em que as mulheres puderam ser votadas, foi convidada pelo deputado Nereu Ramos a ingressar no Partido Liberal Catarinense e candidatar-se a Deputada.

Foi eleita deputada estadual em 1935 e ficou responsável pelos capítulos Educação e Funcionalismo na Assembleia Constituinte. Em 1937 assumiu a presidência da Assembleia Legislativa e concluiu seu mandato no mesmo ano com a instauração do “Estado Novo” e o fechamento dos parlamentos em todo o País. Voltou à política em 1947, foi eleita deputada em 1948, centrando sua atuação na área da educação. Batalhou pela concessão de bolsas de cursos superiores e magistério, dirigidos à alunos carentes e foi autora da lei estadual nº 145, de 12/10/1948, instituindo o Dia do Professor e feriado escolar no estado.

Foi vítima do preconceito e atacada pelo deputado Oswaldo Rodrigues Cabral, em 1951, quando disse que suas ideias políticas e educacionais eram uma “intriga barata da senzala”. Sua delicada resposta veio através de um artigo publicado no jornal O Estado: “Fizemos do Magistério o nosso caminho, e agimos sempre respeitando a professora que não morreu em nós, ainda, graças a Deus. Como, pois, a intriga? Compreendemos que a delicada sensibilidade do nobre Deputado tenha sofrido diante daquela frase. Sua Excelência, para a felicidade de todos quantos são arianos – apesar de portador de um diploma de jornalista – não milita no ensino público. Dizemos felicidade porque, à sua Excelência, falta uma das qualidades de professor: não distinguir raças, nem castas, nem classes”.

Aposentou-se em 1951, mas continuou lecionando até o ano seguinte, quando veio a falecer em 28/3/1952, vitimada pela diabetes. Ela passou por um processo de “apagamento histórico” até fins da década de 1990, quando a ex-senadora Ideli Salvatti iniciou o resgate de sua memória e uma série de homenagens foram e vem sendo feitas com seu nome extrapolando a fronteira de seu Estado: nome do auditório do palácio do governo, nome do programa de formação de jovens aprendizes, projeto de inclusão de seu nome no “Livro dos Heróis da Pátria”, Medalha Antonieta de Barros, comenda da Câmara Municipal, concedida a mulheres relevantes etc., além de seu nome dado à alguns logradouros de Florianópolis. Sua biografia – Antonieta de Barros: professora, escritora, primeira deputada catarinense e negra do Brasil – foi publicada em 2021 por Jeruze Romão.

7 pensou em “AS BRASILEIRAS: Antonieta de Barros

  1. “Não basta existir”.

    “É preciso saber encher a vida do colorido do bem.” Frase de Maria Antonieta Barros, educadora, política, negra, que transformou a educação no seu modo de vida.

    Catarinense e neta de escravos, conseguiu chegar ao mais alto posto social com garra, talento e determinação.

    Parabéns, Brito, pelo belo painel dessa catarinense neta de escravo, que soube driblar o preconceito social com talento.

    Abraçaço.

    • Pois é, Cicero
      Veja como são as coisas. Antonieta de Barros faleceu em 1952 e reapareceu quase 40 anos depois após a descoberta de seu legado.
      O vídeo diz que o esquecimento é um ato político

      • “O vídeo diz que o esquecimento é um ato político”

        Uma mesquinharia nefasta as atitudes humanas ante as coisas belas da vida, Mestre Brito!

        Por que não reconhecer o talento de quem tem talento, seja de que raça for? O lindo está na simplicidade!

      • A lembrança também é um ato político, uma necessidade social diante da carência de nomes exemplares. Os devidos reconhecimentos à Antonieta de Barros são exemplos disso.
        Bem, qual fato social não politico?

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