PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

AUTO-RETRATO – Bocage

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, médio na altura,
Triste de cara, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento.
Inimigo de hipócritas, e frades.

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.

Manuel Maria Barbosa du Bocage, Setubal, Portugal (1765-1805)

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RODRIGO CONSTANTINO

ATIVISME SUPREME

Nosso Supremo Tribunal Federal cada dia dá mais provas de, na atual composição, ter se transformado num partido político, num órgão inquisidor, num Estado policialesco, num grêmio estudantil, qualquer coisa, menos um tribunal de última instância responsável pela proteção da Constituição. São tantos exemplos que até mesmo os veículos de comunicação da velha imprensa, que têm passado pano para o abuso de poder supremo, começam a demonstrar preocupação.

Primeiro foi o jornal carioca O Globo, que publicou um editorial alertando para os riscos do arbítrio de alguns ministros. O editorial começa atacando Bolsonaro, seu passatempo preferido, mas depois acrescenta que “outro risco” para a democracia está na politização do STF, um risco que “tem passado despercebido”, segundo o jornal. Na verdade, esse risco não tem passado despercebido, e basta lembrar do 7 de Setembro, quando milhões foram às ruas pedir justamente respeito à Constituição. Os “bolsonaristas” apontam para esse perigo faz tempo, mas acabam sendo demonizados pelo próprio jornal como “golpistas”.

A mídia militante ajudou a alimentar esse monstro, e agora parece se mostrar preocupada, pois deve ter se dado conta de que pau que bate em Francisco também dá em Chico: ninguém está a salvo do arbítrio supremo! Por isso o editorial passa a elencar alguns casos de abuso de poder e atuação politizada do STF, como se não fossem justamente os pontos criticados desde sempre e com veemência pela direita no país.

O Globo menciona o ativismo legislativo também como um problema, apesar de não enxergar nada errado em si nas decisões. Ora bolas! Os meios importam, e, se a decisão foi tomada de forma indevida pelo Supremo, e não pelo Poder Legislativo, isso está errado em si e é temerário. No caso, o jornal “progressista” aplaude o resultado dessas decisões, e por isso alivia na crítica à forma como elas foram tomadas.

O editorial conclui com muito otimismo e ingenuidade, numa clara incoerência em relação ao que critica antes. Os casos de “acertos” são bem menos relevantes do que os absurdos que o próprio jornal elenca. Contar com a “sabedoria” desses ministros para “manter” uma atitude exigida de juízes com tanto poder é uma piada de mau gosto. O jornal faria mais se lembrasse do papel institucional do Senado para conter tantos abusos. Deveria ter pressionado o presidente Rodrigo Pacheco para agir, uma vez que há vários pedidos robustos de impeachment de ministros engavetados.

Além de O Globo, a Folha de S.Paulo também criticou algumas medidas abusivas do STF, mas cheia de “dedos”. Foi o caso da prisão de dois “bolsonaristas” por perturbação de sossego alheio após um ato em frente da casa do ministro Alexandre de Moraes. A dupla foi condenada a 19 dias de prisão. “Atropelo”: é assim que a Folha chama o fato de alguém ter sido condenado à prisão por perturbação de sossego, depois de ficar 49 dias em prisão preventiva por conta do “crime”. Isso num país que não deixa preso nem mesmo traficante pego em flagrante!

O irônico é que a Folha já publicou sessões sobre o que o jornal pensa sobre certos assuntos, e eis o que consta sobre ativismo jurídico: “Nos últimos anos, em especial nos momentos de desgaste das instâncias políticas, o Judiciário tem assumido um protagonismo perigoso, tomando decisões que caberiam ao Legislativo ou ao Executivo. O voluntarismo de magistrados se manifesta desde a primeira instância e chega às sentenças monocráticas de ministros do Supremo Tribunal Federal. Mesmo quando os julgamentos parecem acertados, tais práticas não devem ser encorajadas, em nome da preservação dos freios e contrapesos da democracia”.

Mas, pasmem!, nossa velha imprensa ainda parece tímida demais para realmente condenar as práticas bizarras desse STF politizado. Teria isso alguma relação com o fato de ser Bolsonaro o principal alvo desse ativismo? Pergunta retórica, claro. Já vimos até ministro se considerar o bem e a democracia encarnados para derrotar o populismo, o Mal, no caso o atual presidente. Eles nem sequer tentam esconder o ódio que sentem por Bolsonaro. Segundo Paulinho da Força, o ministro Gilmar Mendes estaria até mesmo colaborando com conselhos para a campanha de Lula. E, segundo o PCO, um partido radical de esquerda, o ministro Alexandre de Moraes teria o claro intuito de impedir a reeleição de Bolsonaro.

Qualquer brasileiro minimamente preocupado com nossas instituições republicanas deveria colocar o abuso de poder do STF como sua prioridade hoje. É a maior ameaça à democracia, de longe. Mas a demonização do bolsonarismo, como se fosse de fato uma grande ameaça fascista, serve para blindar esses ativistas disfarçados de ministros. Eis o intuito do estigma criado pela mídia, como explica Flávio Gordon: “Fulano é bolsonarista, logo, contra ele tudo é permitido – eis o silogismo consagrado nas redações, nos estúdios, nos palcos e nos tribunais do Brasil de nossos dias”. O monstro vem sendo alimentado por aqueles que se dizem “democratas” ou até “liberais”, mas que, por ódio patológico ao presidente ou por interesses obscuros e ambição desmedida, agem como cúmplices desse ativismo indecente do STF, que soltou Lula e o tornou elegível num malabarismo tosco, enquanto faz de tudo para perseguir Bolsonaro.

O atual STF virou uma extensão do PT, participa de “lives” com influencers bobocas antibolsonaristas, seus ministros fazem palestras o tempo todo, não largam os holofotes da mídia, participam até de bate-papo sobre legalização das drogas. Mas fiquemos tranquilos! No mês do “orgulho LGBT”, nosso Supremo demonstrou incrível “consciência social” e apreço pela “inclusão”. O prédio ficou todo iluminado com as cores do arco-íris, para provar como nosso STF está atento às causas “progressistas”, como é “moderno”. Ele rasga a Constituição da qual deveria ser o guardião diariamente, é verdade, mas é um STF muito “fofo”. É um “ativisme supreme” que visa a agradar a “todes”. Ufa!

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GUILHERME FIUZA

BARRACO NO MUSEU

O debate entre Aloísio Mercadante e Eduardo Suplicy tirou o Brasil do marasmo. Até que enfim alguma coisa relevante na política brasileira. Ninguém aguentava mais essa oposição xexelenta de dorias, leites, moros, randolfes e companhia limitada, limitadíssima. Chegou finalmente a hora da verdade: o confronto entre Suplicy e Mercadante é o fato mais marcante da nação desde o assassinato de Odete Roitman.

Tudo começou com mais um evento fechado de bajulação a Lula, o ladrão honesto que trocou o xadrez pelo cárcere itinerante em que se transformou sua vida. Em qualquer lugar onde não tenha povo ele pode estar. A qualquer lugar onde não tenha gente livre e trabalhadora ele pode ir. De claque em claque, de cenário em cenário, de gaiola chique em gaiola chique, de chiqueiro de luxo em chiqueiro de luxo, de confraria 171 em confraria 171 lá vai o herói dos cínicos, com a desenvoltura dos que se casaram em comunhão de bens com a mentira. Aí apareceu o invasor.

Mas não fez tanto sucesso assim. Invadir um evento de aclamação da picaretagem com uma câmera de celular para chamar Lula de corrupto não chega a ser uma apoteose. Esse invasor foi logo contido. Apoteótica mesmo foi a aparição inesperada de outro invasor – Eduardo Suplicy, que surgiu como um raio em câmera lenta desafiando Aloísio Mercadante. Isso muda o mundo.

Era um evento de lançamento de um suposto programa de governo – de mentira, claro, como tudo que vem do PT. Mas aí surgiu a verdade. Com Mercadante presidindo os trabalhos numa grande mesa em “U” – ou seja, um filme de época (ruim) -, Suplicy se insinuou no espaço vazio, se projetou como elemento surpresa no vão central do “U” e se postou de pé diante de um Mercadante sentado e perplexo. Aí se impôs, gloriosa e inexorável, a verdade.

Basicamente, numa tradução livre do falatório, Suplicy acusou Mercadante de só pensar nele, e Mercadante replicou acusando Suplicy de só pensar nele. Até que enfim, a verdade! Não foi bem isso que eles disseram, mas foi. Suplicy protestou contra a exclusão da sua proposta de renda básica na formulação do programa petista e reclamou da arrogância de Mercadante, afirmando que sequer foi convidado para o evento. Mercadante tratou Suplicy como um intruso personalista, dizendo que o evento tinha convidados demais e a lista não era problema dele.

Ou seja: o embate foi um resumo do fisiologismo petista – cada um acusando o outro de só olhar para o seu umbigo, ambos repletos de razão.

Visitar o museu da impostura não deixa de ser pedagógico. Voltar a ver um Mercadante, a estátua do economista de papelão, associado a todas as teses esdrúxulas, obtusas, anacrônicas e estúpidas que subsidiaram tudo que deu errado na economia nacional é como ter a chance de estar diante de um dinossauro extinto pelo meteoro da Lava Jato. E, como diria Dilma Rousseff (se lhe dessem a chance), o que está extinto já se extinguiu. Se reaparece, é assombração.

Mas, por incrível que pareça, mesmo uma assombração pode passar despercebida – e é por isso que Mercadante deve tudo a Suplicy. O tal sujeito detido pelos seguranças petistas por chamar Lula de corrupto não daria uma fração da repercussão que o evento obteve. Suplicy emergindo do nada como um monstro do Lago Ness para esculhambar Mercadante – com sua famosa fala modorrenta e interminável – não tem preço e não se encontra em museu nenhum de Paris ou Nova York.

Se é para avacalhar a eleição presidencial e fingir que o futuro está condenado ao passado, pelo menos tragam os fantasmas mais divertidos.

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FALA, BÁRBARA !

DEU NO JORNAL

JUDICIALIZANDO A PAJARACA

Ninguém ouve ministros da Suprema Corte dos EUA se manifestarem fora dos autos.

Mas os ministros do STF não param de palpitar.

Inclusive sobre assunto interno americano: a recente decisão sobre aborto.

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Dizem que a próxima declaração do ministreco supremeiro Língua do Veludo vai ser manifestando sua opinião sobre o tamanho das pajaracas dos negões africanos, um assunto de sua estima.

É cada lapa de cacete que vai bater lá no joelho!

Ele está empolgado com o tema.

ALEXANDRE GARCIA

A BANDIDOLATRIA DA IMPRENSA: NÓS, JORNALISTAS, ENLOUQUECEMOS

O vigilante Jorge Luiz Antunes, morto pelos assaltantes do Village Mall, shopping no Rio de Janeiro

Morreu o vigilante Jorge Luiz Antunes, quatro netos, quatro filhos, 49 anos. Recebeu um tiro no rosto, e o noticiário é a coisa mais cruel que existe. Parece que se está culpando o Jorge por ter morrido. O noticiário diz que ele não tinha treinamento para usar arma; ou culpa o shopping, que foi assaltado por 12 bandidos. É incrível esse amor aos bandidos, a bandidolatria. O procurador Aras, que é o chefe da Procuradoria-Geral da República, lançou ontem um movimento nacional em defesa das vítimas. Ele disse que a vítima não pode ser culpada, e parece que Jorge Luiz Antunes é posto como culpado no noticiário. Enlouquecemos, nós, os jornalistas. É uma coisa incrível.

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Brasil, Japão, Rússia e energia

A Petrobrás está com novo presidente. O problema da Petrobrás é a falta de refino, um problema do Brasil. Nós temos a matéria-prima, que é o petróleo, e não temos como beneficiar todo o combustível de que necessitamos, principalmente diesel. Qual é o problema estrutural disso? Duas refinarias do governo Lula: Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí, que está com prejuízo de R$ 47 milhões. Abreu e Lima foi um negócio com Hugo Chávez, que não cumpriu sua parte; era para custar R$ 2 bilhões e está com custo de R$ 18 bilhões, incrível. Então, no fundo, é isso.

Enquanto isso, Tóquio está com problema de eletricidade. O governo japonês está pedindo para desligarem as luzes em uma das cidades mais iluminadas do mundo. Para mim, é a “cidade luz” do mundo; já estive em Tóquio algumas vezes e, realmente, a beleza da iluminação não está em Paris, está em Tóquio. E com problemas de energia elétrica. Já aqui, no Brasil, nós temos abundância futura, só depende de nós no presente. Por exemplo, a energia eólica no Nordeste pode gerar o equivalente a 50 ou 100 Itaipus. Sabem lá o que é isso?

Por fim, queria registrar uma conversa entre Putin e Bolsonaro, ao telefone, que resultou em uma nota oficial do Kremlin, informando aos brasileiros que a Rússia garante fornecimento ininterrupto de fertilizantes aos agricultores. E mais: os dois lados garantem expansão da cooperação mútua em energia e no agro.

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Meus amigos

Eu tenho muitos amigos na Amazônia – inclusive, muitos marubos, meus irmãos marubos do Vale do Javari, onde aconteceu esse assassinato. Tenho amigos por toda parte, no garimpo, pessoas que estão lá sofrendo embaixo das árvores, que não são vistas pelo satélite. Foi com um desses que conversei ontem. E ele me perguntou: a Polícia Federal vai mesmo desvendar esse assassinato? Porque na Amazônia ninguém morre de graça. Sempre há motivos. E desconfiamos que o motivo vai esclarecer muita coisa, e derrubar muita narrativa e ficção. Então fica no ar a pergunta: por que foram mortos Dom e Bruno? Em geral, quando não se quer esclarecer, não se dá o motivo da morte. Quando se quer deixar que uma morte fique alimentando narrativas por anos, como acontece com aquela vereadora do Rio de Janeiro, então é preciso esclarecer e dizer por quê.