Neste sábado chuvoso aqui na gloriosa Campo Grande, fazendo jus à Pindorama que é chuvosa neste meio do ano, peguei-se-me a pensar sobre diversos assuntos. Assuntos pueris, assunto “miolo de pote”, como diz nosso amigo Maurício Assuero, ou assuntos que são aparentemente desimportantes, mas calam fundo nos nossos caracteres. E um desses assuntos, bispando eu na máquina de fazer doido, era, as ditas brigadas de vartizap para alavancar a campanha política de Luís Luladrácio da Silva.
Duas questões se me pularam no quengo: a primeira é sobre a legalidade de uma central sindical, ou seja, um ajuntamento de diferentes sindicatos, que em tese é a voz de seus afiliados, com um foco voltado apenas para um candidato, mesmo que na base desses sindicatos haja filiados de diferentes matizes, de diferentes ideologias, financiando esse candidato. E, outra, até onde eu saiba a legislação eleitoral proíbe sindicatos financiar candidatos de qualquer espécie.
A segunda questão é mais profunda, e envolve o sindicato profissional de professores – eles preferem ser chamados de educadores -. Eu não sou educador. A função de educar cabe aos pais, à família do estudante. Eu sou professor. A minha função é ensinar, dentro da minha especialidade a Língua materna, as artes e a literatura dessa língua. Eu não sou pago para educar, mas para ensinar.
Lembro-me, no começo deste ano, quando o presidente da república deu um aumento de 33% no assim chamado Piso Salarial Nacionalmente Unificado – aquele indexador de salários que nivela em um piso o mínimo que um professor pode ganhar, estando ele na esfera municipal, estadual, ou federal – e que causou alvoroço em todas as esferas administrativas, além de esperança e alegria nos professores.
Todavia, eu, este velho caeté que está ficando sem dentes para cravá-los no chã de dentro do Sardinha, sempre busquei fazer uma análise à la cachorro que caiu do caminhão de mudança; com cara de quem não tem casa nova para onde ir e nem casa velha para onde voltar. E busquei analisar como nossa diretoria sindical agiu diante desse decreto presidencial, mas sempre com uma mão na alavanca do freio.
Desde 2019 o sindicato de professores, tanto municipal, quanto estadual classificava o governo Bolsonaro como “miliciano” “golpista”, “genocida”, “nazista” “inimigo da educação”, e tendo, nas 24 horas do dia um único pensamento: acabar com a educação pública. Tudo certo, válido e perfeitamente aceitável dentro de uma sociedade DE DIREITO e com plena liberdade. Entretanto, eu penso que, se eu tomo determinada postura política e ideológica, eu tenho que me comprometer com essa postura e ver, naquele que está do outro lado, como o adversário a ser combatido e anulado pelo meu discurso e pela minha estratégia política.
A situação que se apresenta, logo depois do aumento dado pelo governo federal no piso salarial, a meu ver, tornou-nos prostitutas – com todo o meu respeito à profissionais da segunda atividade mais antiga do planeta. A primeira é a política -. Isso mesmo, prostitutas! E falo isso sem medo de censura, ou, como dizem na atualidade, sem medo de ser “cancelado”. De repente, o nazista, genocida, miliciano foi trocado por um bem comportado “não fez mais que a obrigação”.
Quando ouvi essa desculpa me senti mais prostituta do que nunca. Simplesmente nossos líderes sindicais disseram o seguinte, ainda que de maneira sub-reptícia: fiquem quietos e esqueçam as nossas pautas. O negócio e que, liberando a grana, calcinhas no chão. Nunca me senti tão vil, tão desacreditado em minha profissão. Tenho 31 anos de serviço público prestado ao Estado de mato Grosso do Sul. Nesses 31 anos fui chamado de muita coisa: pelego, guaipeca – aqui no MS esse adjetivo significa sem valor, ou vagabundo -, preguiçoso, mal casado, e outros. Mas em todos eles, havia certa reserva de dignidade, de altivez e de honra na profissão, porque sabia que não afetava a minha profissão e a minha vocação.
Quando nossos sindicatos fizeram assembleia para decidir como os governos fariam esse repasse aos salários, levantei a voz e disse que não poderíamos aceitar esse reajuste. Se não por honra, ao menos por coerência. E aqui é preciso entrar em filosofanças baratas, mas acertadas. Se eu, ser, ou ente, julgo e decreto ser o outro um “nazista”, “genocida”, “miliciano”, e tudo o mais que vai de encontro à minha ética e moralidade social, aceitar qualquer benesse desse mesmo ser me diminui e me torna cúmplice desses mesmos atos e conceitos que eu aplico no outro.
Se eu considero o outro um genocida, aceitar qualquer coisa dele, se não me faz genocida, ao menos, me coloca como alguém que aprova seus atos e ações, por mais abjetas que elas sejam. Ou é isso, ou então estamos tripudiando em cima de 65 milhões de cadáveres que o nazifascismo deixou no século XX. Ou repudiamos a ação de um miliciano, ou somos cúmplices nas atrocidades cometidas pelas milícias mundo afora.
Fiz essa mesma abordagem nas reuniões sindicais. Quase fui linchado. Praticamente fui expulso das reuniões. Passei na tesouraria e pedi minha desfiliação. Posso até ser chamado de guaipeca, mas prostituta é demais para mim.
Prezado Roque, se todo miolo de pote foi assim…. mas, eis-me aqui concordando com tudo dito. Vou te acrescentar dois ponto: o primeiro sobre esse aumento de 33% e o segundo sobre uma verba liberada pelo, então, ministro Mendonça Filho para a universidade que ensino. Em relação ao aumento, uns professores amigos desceram o sarrafo. “Filho da puta irresponsável. O cara dá um aumento desses para quebrar as prefeituras???”. Emputecido com tanta sacanagem caliguliana, entrei com tudo feito a vaca entrou em mestre Alfredo (um ferreiro da minha terra) e falei: “prezados, vocês sabem que as despesas de um município quem aprova é câmara? Assim como as despesas do estado são aprovadas na Assembleia Legislativa? Assim como a despesa da União é aprovada na câmara federal? Vocês que, por esse motivo, o governo não pode fixar despesas para municípios?”. O clima ficou pesado, mas ainda se procurou argumentos contrários e aí eu lembrei que uma semana antes eles haviam criticado o baixo salário de professores.
No segundo caso, é apenas para ver onde esse pessoal que conversa miolo de pote pode chegar. Mendonça Filho é um cara da direita. Uma praga de ruim. Foi vice-governador quando Jarbas Vasconcelos era governador e saiu para concorrer ao senado. Mendonça assumiu o governo por 9 meses, e perdeu a eleição para Eduardo Campos. Pois bem, o cara como ministro arrumou verbas para dos campi da universidade. Construíram un departamento de medicina em um deles. Daí, foi colocado uma faixa, num viaduto perto da reitoria, falando da grana e com o nome de Mendonça e o logotipo de MEC. Pois o pessoal de miolo mole, que fala miolo de pote, arrancou a faixa e escreveram: “abaixo a ditadura”. Isso foi em 2017 mais ou menos.
Pois é caeté…. pindorama tá fudida