DEU NO JORNAL

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

UM INESPERADO “PAS-DE-DEUX” DO LOUVA-DEUS

O ballet dos louva-a-deus

As estradas da vida já nos mostraram tantas coisas. Mas, tantas coisas que, uma única culminância não serviria de somatório.

Vimos, outrora, o poético sopro do vento desenhando ondas imaginárias nas águas paradas do açude; vimos o nascimento da rosa que há segundos, minutos, horas e dias era um botão; e, parafraseando o sertanejo, vimos até o casamento da raposa, quando chovia e fazia sol ao mesmo tempo.

Vimos a vida humana desabrochando em ser, transformando uma vagina num buquê de rosas que sangrava e mostrava ao mesmo tempo, o quão bela e ao mesmo tempo perfeita a Natureza divina. Vimos, também, a morte num adeus solene de quem parte – tendo consciência disso! – num último aceno, querendo dizer: nos encontraremos brevemente!

Vimos o semear do milho e do feijão – e aquilo dava um sabor diferente na hora da mastigação. É, com certeza, o ciclo da vida e de tudo.

Pois, certa noite mal chegada, tivemos a feliz premiação de ver, também, uma fina neblina tangida pelo fraco vento que, pela nossa posição, transformava um grosso galho de acácia num palco natural da vida.

Um desenho que não foi feito por nós: ao fundo, a lua de agosto, redonda e límpida, nos trazia a silhueta de um provável casal de Louva-Deus em cópula, garantindo a preservação da espécie.

Mas, aos olhos curiosos e profanos do amor em transe, e na retina da nossa experiência, o que vimos (ou o que queríamos ver) foi um verdadeiro balé transformado num autêntico, perfeito, PAS-DE- DEUX!

O ballet do pas-de-deux

DEU NO JORNAL

MUITO POUCO

O governo Lula, através do ministério dos Povos Indígenas de Sônia Guajajara, despejou dinheiro do pagador de impostos para financiar o Acampamento Terra Livre, em Brasília, para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) na questão do marco temporal de terras.

Tem de tudo, até indígenas, para além de ongueiros, muitos estudantes e o MST. Segundo o Portal da Transparência, o governo bancou até aluguel de van para 12 pessoas ao custo de R$10 mil, mais R$ 10 mil para gasolina.

Coordenadora regional da Funai de Passo Fundo (RS) ganhou R$ 2 mil para participar da fuzarca em Brasília, a título de “despesas com diárias”.

Lideranças indígenas contaram até com ônibus para zanzar por aí. O veículo, contratado sem licitação, claro, custou R$ 9 mil ao nosso bolso.

Tenda médica, com ambulância e consultórios, também levou uma gaita. Há ao menos uma nota no Portal registrando despesa de R$ 15 mil.

Os próprios indígenas faturaram algum. Há registros de pagamentos que superam os R$ 4 mil/cada para apoio à tenda das “medicinas indígenas”.

* * *

Pro padrão luleiro, esse gasto foi pouco.

Muito pouco.

Besteirinha, quase nada.

A presidenta Esbanjanja disse que poderia ter sido um gasto melhor.

E prometeu liberar mais dinheiro pro próximo evento da indiada.

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

MIOPIA x ESQUIZOFRENIA

Confesso que preciso consultar um psiquiatra porque estou com sintomas fortes de esquizofrenia. Não leio jornais, não tenho mais tempo de ver televisão, das novelas globais, a última que assisti foi Roque Santeiro, nos idos dos anos 1980. A Globo não me atrai mais. Abri mão até do especial de final de ano de Roberto Carlos, mas a internet não me deixa alheio ao que acontece, pois basta abrir o celular e uma chuva de notícias inunda a telinha.

Hoje, me interessa mais as notícias econômicas, até mesmo porque isso faz parte do meu trabalho, ou seja, eu acompanho indicadores econômicos porque gosto de debater com meus alunos. O melhor laboratório é usar dados reais da economia e procurar justificar as diversas teorias. É aqui que reside o problema: eu não consigo enxergar as maravilhas econômicas do governo atual e olha que eu me esforço bastante. Eu queria ter os olhos de Miriam Leitão, não a mente.

Eu sempre achei a mente de Miriam Leitão um pouco limitada. As opiniões econômicas dela são desprovidas de nexo, aliás, sempre foram, mas agora o cérebro inchou tanto que ficou do tamanho de uma ervilha. Em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, conversando com um professor amigo no seguinte ao da eleição, eu perguntei o que ele tinha achado do “discurso da vitória”. Eu queria ter certeza de que havia entendido direitinho o que ouvi e por isso perguntei. A resposta dele foi: “eu já estou na oposição!”

Entabulamos a conversa no sentido das promessas que dificilmente seriam cumpridas e também dos comentários dos “especialistas” sobre a proposta econômica. Lembro que ele se referiu a Miriam Leitão dizendo: “Eu tenho pena dessa coitada. Toda vez que ela começa a falar, eu desligo a televisão ou saio da sala”. Que bom! Eu não era o único que via as deficiências intelectuais de Miriam.

Olhando os indicadores econômicos, a gente sabe que a dívida pública cresceu nesse governo, estão engolindo o PIB; as estatais que antes davam lucros, agora estão dando prejuízo; os Correios cujo lucro foi suficiente para reverter alguns anos de prejuízo – e que chegou a comprar um avião – teve sua proposta de privatização enterrada e …deu prejuízo em 2023. Puseram um sindicalista que não tem a menor experiência em Atuária para administrar o fundo de pensão dos Correios, o Postalis que tem um déficit financeiro e atuarial absurdo. Coisa da ordem dos R$ 7 bilhões.

Em adição, a política de preços da petrobras está longe de fazer a empresa ter o desempenho que teve no governo anterior. Além disso, o governo se meteu a regulamentar a profissão de motoristas de aplicativos e os próprios trabalhadores protestaram veementemente. Acrescente agora, mais de 29 universidades em greve de professores e técnicos administrativos e o governo diz que não tem orçamento para dar aumento em 2024, mas autorizou um aumento de 23% para funcionários do Banco Central, que será pago em duas parcelas: janeiro de 2025 e maio de 2026.

Registre-se que as desgraças não param por aí. A meta fiscal é “lêndia”. O imposto sobre consumo proposta no novo arcabouço fiscal será comprado no local de consumo e não de produção. Isso é pouco? O governo pretende tributar bebidas, puteiros, e um monte de outras formas de lazer. O imposto sobre o valor agregado, proposta básico do ministro da fazenda, terá uma alíquota mais alta do que se imagina. Não está satisfeito? O senado aprovou uma proposta que aumenta benefícios do poder judiciário, inclusive, criaram um quinquênio a ser pago com o nosso dinheiro, mas isso se faz porque os deputados morrem de medo do judiciário. Boa parte deles tem processos no STF e ninguém incomoda a corte com medo de represália.

Isso é pouco? Bem, o candidato que criticou sigilo imposto por Bolsonaro em assuntos relacionados com sua vacina, virou presidente e colocou sobre sigilo a hospedagem de 57 funcionários públicos que se hospedaram em Londres.

Eu vejo tudo isso ocorrendo no Brasil e Miriam Leitão vê a população prestes a comer picanha. Segundo ela, o preço da carne está caindo. Por favor, me diz onde para que eu possa comprar, porque onde eu compro carne, faz um bom tempo que um quilo de picanha custa R$ 75,00.

DEU NO X

DEU NO JORNAL

POLÍCIA POLÍTICA DE LULA AGORA QUER CALAR O X

Editorial Gazeta do Povo

Não contente em desempenhar o papel de polícia política de Lula, a Advogacia-Geral da União (AGU), chefiada pelo advogado Jorge Messias, agora quer ser a responsável por derrubar toda uma plataforma de comunicação, o X, anteriormente conhecido como Twitter. Em um documento encaminhado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, obtido com exclusividade pela Gazeta do Povo, a AGU indica que pretende pedir a suspensão ou mesmo a dissolução da empresa no Brasil, caso obtenha provas de que o X “prejudicou” investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para embasar o pedido, a AGU quer acesso às informações e possíveis provas obtidas pelo STF durante a investigação aberta pela corte há duas semanas para apurar se Elon Musk, proprietário do X, cometeu obstrução da justiça. Além disso, a AGU também apresentou uma “notícia de fato” ao STF contra a divulgação de documentos sigilosos nos chamados Twitter Files Brasil na rede social X. Segundo a AGU, haveria indícios de “provável ocorrência de crime contra o Estado Democrático de Direito e contra as instituições, em razão da divulgação de informações sigilosas, às quais foi atribuído segredo de justiça”. Para punir a empresa, a AGU pretende acionar a Lei Anticorrupção, que responsabiliza companhias que praticam atos contra a administração pública.

Na visão da AGU, a X Brasil Internet Ltda., sediada em São Paulo, poderia ser enquadrada no ato lesivo de “dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos”. No documento, a AGU também pediu que a petição fosse colocada sob sigilo – o que foi atendido pelo ministro Alexandre de Moraes. Ao atender o pedido, Moraes retirou a peça do inquérito das milícias digitais, em que a petição foi protocolada, e a colocou para tramitar de forma autônoma e sigilosa dentro do STF. Com isso, não será possível à sociedade conhecer o teor das decisões do ministro no caso, um grande risco, considerando a gravidade da petição e suas possíveis consequências.

Logo após Elon Musk ter revelado que executivos do antigo Twitter sofreram pressão de parte do Judiciário brasileiro, especialmente do ministro Alexandre de Moraes, para censurar perfis do Twitter não alinhados à esquerda, Messias já tinha esbravejado contra Musk e prometido tomar medidas para tentar calar o empresário, fazendo eco aos representantes do governo e parlamentares de esquerda que acusaram o bilionário de “porta-voz da extrema-direita global” e pediram sua criminalização.

No dia 9 de abril, Messias usou o próprio X, a rede social que pretende calar, para anunciar que o “Estado brasileiro” – leia-se governo Lula e aliados – tomaria medidas contra “o discurso de ódio, a desordem informacional e o extremismo” – as mesmas palavras que se tornaram padrão nas tentativas de criminalizar qualquer discurso ou manifestação de que o governo não goste. Mas não chegou a mencionar que a intenção mesmo era tentar suspender a rede social no país, coisa que atualmente só acontece em ditaduras como China, Irã, Coreia do Norte e Rússia.

O argumento da AGU de que os documentos relevados por Musk seriam protegidos por segredo de Justiça no nosso entender não se sustenta. No caso do Twitter Files, o suposto vazamento, na hipótese aventada pela AGU, partiu de funcionários de uma empresa privada e não envolveu propriamente documentos sigilosos do STF e do TSE, mas somente trechos de e-mails corporativos em que faziam menção a algumas decisões de Alexandre de Moraes. O interesse público do que foi divulgado também precisa ser avaliado – os materiais contêm indícios de casos de censura prévia e tentativas de obtenção de dados protegidos, que não chegariam a conhecimento do público se não fossem divulgados.

Igualmente absurdo é o argumento de que a rede teria permitido uma “dolosa instrumentalização criminosa” da rede social para favorecer a disseminação de “notícias fraudulentas” contra as instituições, por parte das chamadas “milícias digitais” – mesmo nome que o ministro Alexandre de Moraes dá a um grupo de políticos, comentaristas e influenciadores digitais que, segundo ele, promovem “ataques” ao STF e ao TSE. Aqui a AGU parece enveredar pelo caminho das teorias conspiratórias, levantando hipóteses absurdas sobre a existência de um plano maquiavelicamente construído pelo X contra as instituições, esquecendo que, se algum usuário da rede cometeu algum crime previsto na lei brasileira, é ele quem deve ser alvo de punição – desde que seu crime seja devidamente comprovado. Propor o fim da rede social no país soa totalmente desproporcional.

Não há nenhum argumento que justifique o fechamento do X no Brasil. A penalização da empresa nesse caso representa uma ameaça grave à liberdade de expressão no país. A AGU não pretende responsabilizar apenas os executivos do X, apontados como possíveis responsáveis por atos ilícitos ou eventuais usuários da rede que a usaram para cometer algum crime – e, frise-se, até agora não há comprovação de que de fato algum crime foi cometido; ela pretende encerrar de vez a plataforma no Brasil. Com uma canetada, a AGU pretende cometer um ato de censura em massa, cerceando o direito de expressão de 22 milhões de brasileiros que usam a rede social.

É questionável também a participação da própria AGU neste caso. Sabe-se que, no governo Lula, a AGU, além de ter como função defender os interesses diretos do governo Lula – foi a AGU, por exemplo, que entrou com uma ação no STF pedindo que a decisão do Congresso sobre a desoneração da folha fosse derrubada – agora também está relacionada com o “Ministério da Verdade” de Lula. É dentro da AGU que funciona a chamada Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia, que tem entre suas funções de “representar a União, judicial e extrajudicialmente, em demandas e procedimentos para resposta e enfrentamento à desinformação sobre políticas públicas”. Mas no caso da petição que pretende encerrar o X no Brasil, a AGU está agindo na defesa dos interesses do Judiciário, especialmente das altas cortes, as principais atingidas pelas revelações dos Twitter Files Brasil.

Toda a argumentação da AGU, aliás, baseia-se em supostos danos ao Judiciário e seus processos, não há nenhuma menção a qualquer crime ou prejuízo aos interesses do Estado brasileiro. É curioso pensar qual seria o interesse do governo Lula – representado pela AGU – em querer a todo custo calar o X no país. Se a AGU estivesse interessada de fato em defender os interesses do país, deveria, em vez de dar andamento a maquinações desprovidas de qualquer razoabilidade para encerrar a rede social no Brasil, dar o apoio às iniciativas que querem trazer luz aos excessos cometidos pelo Judiciário.

Não se sabe ainda qual será a resposta do STF ao pedido da AGU – e com a declaração de sigilo do ministro de Moraes sobre o documento será muito mais difícil para a sociedade acompanhar o desenrolar do caso. Como bem mencionou o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), embora não seja surpresa ver a AGU apresentar tal pedido, “o Judiciário conceder é que seria algo muito mais grave”. Mas, levando-se em conta a situação surreal que vivemos, existe, sim, a possibilidade de o insólito plano da AGU para dar fim ao X no Brasil ir adiante – o que seria absolutamente inaceitável em qualquer democracia.

É de se perguntar se nossos parlamentares, que há anos parecem adormecidos diante dos reiterados excessos das altas cortes brasileiras – foi preciso, inclusive, que parlamentares americanos elaborassem um relatório para denunciar a censura no Brasil – vão continuar de olhos fechados, aceitando placidamente tantos acintes, agora com o reforço da AGU, contra a democracia brasileira. Já passou da hora de o país abrir a caixa-preta das altas cortes, instalar a CPI do Abuso de Autoridade, que desde novembro do ano passado espera a boa vontade do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para sair do papel. É preciso colocar o Brasil de novo no caminho da normalidade.

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Vinícius de Moraes II

Em 1959 surge a “Bossa Nova”, com o álbum-disco “Canção do Amor Demais”, gravado por Elizeth Cardoso, contendo a música “Chega de saudade” e uma nova batida de violão tocada por João Gilberto. A música é fundamental no movimento, tornando-o famoso em todo o mundo. Enquanto suas músicas faziam sucesso por aqui, ele servia ao Itamaraty em Montevideo no periodo 1957-1960. De volta ao Brasil, inaugurou o Teatro Santa Rosa, em 1961, com a peça Procura-se uma rosa, em parceria com Pedro Bloch e Glaucio Gil. Em 1962 gravou Garota de Ipanema, a 2ª música mais executada do mundo depois de Yesterday, dos Beatles.

A peça foi transposta para o cinema italiano: Una rosa per tutti, estrelado por Claudia Cardinale. Na poesia publicou mais 3 livros: Antologia Poética, Procura-se Uma Rosa e Para Viver Um Grande Amor. Mas continuou na música com a gravação de discos junto com os amigos: “Vinicus e Odete Lara” e “Elizabeth interpreta Vinicius” ambos em 1963. Em 1965 inscreveu duas músicas no 1º Fertival da Música Popular Brasileira: Arrastão, em parceria com Edu Lobo e defendida por Elis Regina, ficou em 1º lugar e Valsa do amor que não vem, em parceria com Baden Powell, defendida por Elizeth Cardoso, ficou com o 2º lugar.

No mesmo ano foi homenagerado com o show “Vinicius: poesia e canção” no Teatro Muncipal de São Paulo, com apresentações de Carlos Lyra, Edu Lobo, Luis Eça, Francis Hime, Ciro Monteiro e Baden Powell acompanhados pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. No ano seguinte lançou o album “Os Afro-Sambas” e participou do concerto “Pois é” no Teatro Opinião ao lado de Maria Bethânia e Gilberto Gil em sua primeira apresentação

Ainda em 1966 foi convidado a participar do juri do Festival de Cannes. Na ocasião descobriu que sua canção Samba da Benção foi utilizada, sem créditos, no filme Um homem e uma mulher, dirigido por Claude Lelouch. Diante da ameaça de processo, Lelouch creditou a música. Em seguida se deu a estreia do filme Garota de Ipanema, baseado na canção homônima. Em 13/12/1968 deu-se o recrudescimento da ditadura militar com o AI-5. Neste dia, encontrava-se num show em Portugal, quando soube pelos jornais. Aproveitou o instante para fazer um protesto na apresentação e declamou seu poema Pátria Minha, tendo Baden Powell dedilhando o Hino Nacional no violão. Esse protesto lhe rendeu a exoneração do Itamaraty, por ordem direta do presidente Costa e Silva.

Ao fim do espetáculo, estudantes salazaristas ficaram na porta do Teatro para prostestar contra o poeta. Foi aconselhado a se retirar pela porta dos fundos, mas ele decidiu enfrentar a turba e declamou Poética I: “De manhã escureço / De dia tardo / De tarde anoiteço / De noite ardo”. Um dos manifestantes tirou a capa acadêmica e colocou no chão para que ele passasse sobre ela, ato imitado por todos os estudantes. Por essa época fez uma parceria com Toquinho e gravou algumas canções: Tarde em Itapoã, Testamento e Como dizia o poeta, entre outras. Em 1970 se apresentaram num show no “Canecão”, que ficou quase um ano em cartaz. A dupla realizou shows em diversas cidades brasileiras e lançou o primeiro LP em 1971.

No ano seguinte lançaram o segundo: “São demais os perigos dessa vida”. Outros discos da dupla foram lançados até 1978, quando saiu o álbum “10 anos de Toquinho e Vinicius”, coletânea de uma década de trabalhos em parceria. Em 1979, convidado pelo líder sindical Luís Inácio Lula da Silva, declamou o poema O operário em construção na Assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Em 9/7/1980 sentiu-se mal na banheira e faleceu pouco depois enquanto planejava o lançamento do álbum “Arca de Noé” nº 2. A primeira homenagem que recebeu foi seu nome dado a uma rua do bairro de Ipanema. A rua repleta de bares e restaurantes também abriga a “Toca do Vinicius”, uma loja de discos especializada em Bossa nova. Novos relançamentos se deram por mais de 10 anos após o falecimento, dado a riqueza de seu legado: os álbuns “Toquinho, Vinicius e Maria Creuza: O Grande Encontro (1988) e “A História dos Shows Inesquecíveis – Poeta, Moça e Violão: Vinicius, Clara e Toquinho” (1991).

Foram lançados também livros sobre o poeta: Vinicius de Moraes – Livro de Letras, de José Castello, em 1993; a biografia Vinicius de Moraes: o poeta da paixão, também de José Castello, em 1994, pela Ed. Companhia das Letras; outra biografia Vinicius de Moraes, de Geraldo Carneiro; uma edição em 3 volumes do Songbook Vinicius de Moraes, de Almir Chediak, em 1993 e Poesia completa e prosa, organizado por Alexei Bueno, em 1998, pela Ed. Nova Aguilar. Foi homenageado com um show, em 2000, ao completar 20 anos de sua morte, na Praia de Ipanema, com participação da Orquestra Sinfônica Brasileira e grande elenco de cantores interpretando suas canções. Em 2003, quando completaria 90 anos, foram lançados vários projetos e seu website oficial. Em 2005, a música Garota de Ipanema entrou na galeria das 50 grandes obras musicais da Humanidade pela Biblioteca do Congresso dos EUA.

No mesmo ano, na abertura do 7º Festival do Rio, esteou o documentário Vinicius, dirigido por Miguel Faria Jr. e participação de Chico Buarque, Caetano Veloso e Maria Bethânia entre outros. No ano seguinte, foi lançada a caixa “Vinicius de Moraes & Amigos”, com 5 álbuns do poeta, contendo 70 canções gravadas por vários intérpretes, biografia e letras das canções. 30 anos após sua morte o poeta foi reabilitado pela Lei 12.265 de 21/6/2010 e promovido a ministro de primeira classe, cargo equivalente ao de embaixador. Em 2011, a Escola de Samba Império Serrano saiu no carnaval com o enredo “A Benção, Vinicius”.

COMENTÁRIO DO LEITOR

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

ALGUNS PITACOS

Arrumações de gabinete de trabalho revelam fatos, fotos e falas que pareciam ter caído no baú do esquecimento, mas que saltam vez por outra para o cotidiano, exigindo respeito memorial, como se tudo fosse apenas uma simples questão de começo. Parecem ser de muita valia para os momentos que estamos vivenciando. Ressaltam angústias antigas que persistem, de incômodas consequências para todos. Alguns apontamentos de um ontem já não mais quase hoje, merecem ser aqui reproduzidos, a data sendo irrelevante:

a. A maior tragédia do homem contemporâneo está na sua dominação pela força dos mitos, abdicando de uma soberana capacidade de discernir e discordar, indispensável no trato da coisa pública. Compreensivelmente, os novatos estão mitificando os seus governantes, que se arvoram de primogênitos de Deus. Olvidam-se que no palco da vida há coisas, mil coisas, que custam bem pouco mas acarretam efeitos extraordinários. Um muito obrigado, por exemplo. Um cartão de reconhecimento. Ou um atendimento personalizado, quando o assunto merecer importância. Procedimentos que diferenciariam o agora de um passado autoritário, tecnocrático e pernóstico, até bem pouco tempo vivido e observado pelos que ainda não estão de cabeça baixa.

b. Nada ameaça mais uma democracia que a gestão daqueles que desconhecem a tese fundamental: Em toda democracia, as respostas são difíceis diante de uma demanda facilmente induzida. Nos casos estaduais, nada mais oportuna que uma análise sem preconceitosde todos, sem apegos a cargos e funções, deixando-se refletir diante da seriedade de propósitos. Estratégias e táticas bem definidas e discutidas, contínua postura dialogal e um ver-melhor-o-derredor bem poderiam constituir os balizamentos necessários para um fico-ou-saio dos que auxiliam diretamente os governantes.

c. Nossa crise brasileira, que também se incorpora a uma crise mundial, é profunda, muito profunda. Prenúncio do fim de uma era, início de uma nova era, onde quase todo mundo está despreparado para um assumir consequente. A ausência de uma profissionalidade comprometida com a transformação do hoje está levando inúmeros técnicos, os mais despreparados, a uma não conformação com o fortalecimento do setor político, gerando um outro componente daquele caldo cultural que carrega dupla tendência: uma, a de ser hipercrítica em relação a tudo aquilo que desagrada; a outra, a de ser subcrítica diante daquilo que concorda. E os hiper e os sub não estão ampliando a cidadania do brasileiro. Estão, sim, deixando os senhores políticos sem uma densidade mais criativa e com uma frágil consciência acerca da própria máquina partidária. E eivando-os de um mandonismo inoportuno, detentor de poder decisório quase absoluto, que somente faz aumentar o número daqueles que consideram a repressão como caminho natural para o desenvolvimento nacional, única saída para garantir a segurança do grande capital.

d. A hora de reinventar-se chegou. Ultrapassar os obscurantismos técnicos, políticos e culturais é prova maior de querer democracia cada vez mais solidificada. Caso contrário, outras situações poderão advir, com prejuízos para quase todo mundo.