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VERDADEIRO MISTÉRIO BRASILEIRO NUNCA FOI QUEM MATOU ODETE ROITMAN

Jocelaine Santos

No Brasil de hoje, o verdadeiro mistério brasileiro nunca foi quem matou Odete Roitman – até porque ela não morreu – mas como chegamos a uma distopia tão grande sem que quase ninguém se desse conta

Você já se perguntou quantos brasileiros são, neste exato momento, alvos de censura? Ou quantas vezes a liberdade de opinião, de pensamento, de expressão foi espezinhada? Quantas leis e quantos artigos da Constituição foram adulterados em nome da militância política? Quem são os responsáveis por destroçar o que resta do Estado de Direito? Muita gente nunca vai fazer essas perguntas, mas talvez tenha feito, na semana passada, outro questionamento bem mais banal: quem matou Odete Roitman.

Antes de tudo, não, não assisti à nova versão de Vale Tudo. Há anos não sei o que é uma novela das oito (ou das nove) – assim como milhões de brasileiros cada vez com menos paciência para as lorotas globais. Mas é impossível deixar de esbarrar aqui e ali em um mínimo sobre a trama. Por isso sei dos excessos da nova versão: merchandising, politicamente correto, “empoderamento” feminino, puxa-saquismo declaradamente pró-Lula. Cheguei até a tentar ver um trecho do discurso ufanista do último capítulo, mas não tive paciência – nem estômago. E, claro, sei o mais importante: Odete não morreu.

Num país onde há tanta coisa mais urgente – golpe do INSS, abusos judiciais, censura, tarifaço, etanol na bebida, um presidente em vale-tudo pré-campanha – do que os rumos de um personagem de ficção, chegou a ser quase engraçada a falsa mobilização “nacional”. Se, de fato, na primeira versão da novela, lá nos já longínquos anos 80, o enigma de quem matou Odete foi assunto nacional, agora não foi nem suficiente para dar algum fôlego final a uma novela que ficou entre as piores audiências da história do plim-plim.

Novela xoxa, mas que ainda diz muito sobre o Brasil: Odete Roitman nunca poderia morrer no país de Lula e do STF porque ela é a essência dos poderosos que mandam e desmandam aqui hoje. Na primeira versão, os brasileiros adoraram ver a vilã sendo aniquilada porque ela era uma aberração. Não à toa foi chamada de maior vilã das novelas num tempo em que novela global realmente tinha apelo nacional. Era cruel, malvada, esnobe, desumana. Um ser desprezível em todos os sentidos – como deve ser um bom personagem de folhetim.

Já a Odete dos tempos da linguagem neutra e do relativismo moral nem era “tão ruim assim”, a julgar pelos comentários que destacavam o lado “humano” da vilã – sim, teve isso. Odete, ainda que tenha feito todas as maldades que fez durante a novela, teria justificativas para agir assim. Nessa lógica distorcida, segundo a qual fins e motivações justificam qualquer meio, a mesma usada para acobertar atrocidades e barbaridades sem tamanho – inclusive aqui no Brasil –, Odete, “coitada”, só acabou vilã por conta de seu excesso de humanidade. Eita.

No final das contas, Odete Roitman é a imagem dos poderosos que hoje mandam e desmandam no Brasil já não democrático: seres que se acham supremos, acima da ralé do povo e das leis, que mandam os outros calar a boca, jogam na nossa cara todos os dias que quem manda são eles e que a nós só cabe obedecer e temer. E quando a gente acha que vai se livrar deles, ressurgem – ainda que toda a lógica diga que isso é impossível. E, pior de tudo, com gente disposta a defendê-los.

Não se trata apenas de ficção ou entretenimento barato. A novela apenas revela uma metáfora do país. No Brasil de hoje, o verdadeiro mistério brasileiro nunca foi quem matou Odete Roitman – até porque ela não morreu – mas como chegamos a uma distopia tão grande sem que quase ninguém se desse conta. Há milhares de cidadãos – provavelmente jamais saberemos o número exato –, homens e mulheres jogados no limbo ignóbil da censura porque algum juiz quis assim. Processos judiciais sem fim, sem critério nem legalidade, tentam criminalizar a liberdade de pensar e dizer de políticos, jornalistas, empresários. Narrativas com um roteiro pior do que o da nova Vale Tudo são usadas por poderosos supremos para justificar seus atos vis. Mas esses assuntos não ganham espaço, são empurrados para debaixo do tapete, ignorados solenemente pela imprensa alinhada ao poder. No Brasil da censura, até deixam os brasileiros se perguntarem quem matou Odete – já perguntar quem matou a democracia é tabu.

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VANDALISMO – Augusto dos Anjos

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos …

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Cruz do Espírito Santo, Paraíba (1884-1914)

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