DEU NO X

A PALAVRA DO EDITOR

OUTUBRO

Esta postagem foi feita há quatro anos, em outubro de 2021.

Atendendo pedido do meu xeleléu Walter Portela, amigo e conterrâneo de Palmares, vai ser repetida hoje, neste outubro de 2025.

Como costumava dizer Dona Quiterinha, minha saudosa mãe, “tu é muito amostrado, menino besta”.

Vamos rever.

* * *

NUM OUTUBRO HÁ MUITOS  ANOS

Em outubro de 1986 – já lá se vão 35 anos -, este pernambucano de Palmares foi honrado com um convite para representar o Brasil no Festival Internacional de Autores de Toronto (International Festival of Authors), no Canadá, um dos maiores eventos do gênero no mundo.

Entre várias outras celebridades literárias, naquele ano também participaram a inglesa Angela Carter, o best-seller americano John Irving (Irving teve vários romances transformados em filmes), a canadense Alice Munro (Prêmio Nobel de Literatura de 2013) e o israelense Amos Oz, todos grandes nomes da literatura mundial. 

Amos Oz, o mais importante escritor israelense, indicado para o Prêmio Nobel de Literatura em 2002 e que encantou-se em 2018, era um dos meus dois colegas na mesa de refeições, no hotel onde ficamos todos hospedados, e se tornou um grande amigo. Além de talentoso ficcionista, era também um excelente contador de histórias.

Antes de mim, outros escritores brasileiros já haviam participado do evento: João Ubaldo Ribeiro, Lígia Fagundes Telles,  Moacir Sclicar e Gianfrancesco Guarnieri.

Pois naquele ano em que estive lá, uma produtora canadense realizou um documentário sobre o festival intitulado “Voices on the Water“.

Detalhe: a produtora me pediu permissão para filmar minha apresentação no evento. Lembro-me que assinei um documento autorizando e que me pagaram um excelente cachê. Coisa de país de primeiro mundo, que dá muito valor a esse importante detalhe chamado direito autoral.

Pra todo lugar que a gente ia, lá estava a equipe de filmagem nos seguindo. Nos filmaram até nas Cataratas de Niagara, durante um passeio providenciado pela direção do festival.

Este Editor inxirido passeando de barco nas Cataratas de Niagara, ao lado da colega Argentina

Isso sem falar na mordomia completa, que não deixava faltar nada. Como não tinha cachaça, aí eu enchia a cara de uísque!!! Tudo por conta da casa.

O evento, realizado no Teatro Harbourfront, às margens do Lago Ontario, durou uma semana, de segunda a sexta. Minha apresentação aconteceu logo no primeiro dia. Ingresso caro e casa lotada, público finíssimo.

O Festival consistia na apresentação de quatro autores a cada noite. Dois, um intervalo, e mais dois.

Conforme o regulamento, os autores que não eram de língua nativa inglesa, como era o meu caso, liam um pequeno trecho de um livro seu em sua língua nativa. Segundo me informaram, para que o público sentisse o que eles chamavam de “musicalidade do idioma”. Mesmo sem entender nadinha!

Depois, um leitor, um “reader”, providenciado pela direção do festival, lia a tradução em inglês de um trecho da obra daquele escritor.

Eu tinha um capítulo d’O Romance da Besta Fubana traduzido pro inglês por uma professora da Universidade de Iowa, nos EUA. Uma americana, professora de português. E foi um trecho dessa tradução que foi lido naquela ocasião.

O documentário sobre o festival dura 58 minutos e está linkado no final desta postagem.

Na abertura, logo nos primeiros dois minutos, aparecem os nomes de todos os participantes.

Prestem atenção e vejam que o nome deste pernambucano inxerido está lá. No meio de um monte de gente importante.

Eu apareço em alguns trechos do documentário, falando meu inglês com sotaque palmarense, aprendido no Curso Ginasial com o saudoso professor Amaro Matias.

No vídeo abaixo, com duração de pouco mais de dois minutos, temos a abertura e algumas cenas que Aline selecionou onde eu apareço.

Para assistir ao vídeo completo, com 58 minutos de duração, clique aqui.

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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

SINFONIAS DO OCASO – Cruz e Sousa

Musselinosas como brumas diurnas
descem do ocaso as sombras harmoniosas,
sombras veladas e musselinosas
para as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
os céus resplendem de sidéreas rosas,
da Lua e das Estrelas majestosas
iluminando a escuridão das furnas.

Ah! por estes sinfônicos ocasos
a terra exala aromas de áureos vasos,
incensos de turíbulos divinos.

Os plenilúnios mórbidos vaporam …
E como que no Azul plangem e choram
cítaras, harpas, bandolins, violinos …

João da Cruz e Sousa, Florianópolis-SC (1861-1898)

DEU NO X

DEU NO JORNAL

A MARAVILHOSA ASCENSÃO DO COMPANHEIRO BESSIAS

Paulo Briguet

O Bessias, de office-boy a ministro, simboliza a política de favores e a ascensão por “fidelidade”, não por mérito, corroendo a República

Onde você estava no dia 16 de março de 2016? Lembro-me bem: era uma tarde ensolarada e eu estava escrevendo uma crônica aqui em casa, quando ouvi uma estranha conversa entre Dilma, a Mulher Sapiens, e seu padrinho político. Ali nascia oficialmente uma das figuras mais bizarras da nossa tragicomédia institucional: o Bessias.

Nasceu de uma ligação telefônica, não de uma conversa republicana, mas de um sussurro conspiratório. A então presidente, aflita com a iminência da prisão de seu mentor, profere a senha:

– Tô mandando o Bessias com o papel.

Era o termo de posse. Era o escudo. Era a tentativa de transformar um réu em ministro e o Palácio Presidencial em valhacouto.

– Só use em caso de necessidade – continuou Dilma – como quem entrega um salvo-conduto.

O país ouviu. Todo mundo ouviu. Alguns riram. Outros gritaram. Muitos entenderam que ali morria de vez o pudor republicano – e nascia um personagem.

Naquele dia, o Brasil não conheceu um jurista, conheceu um office-boy: um carteiro de ocasião com função sacramental, impedir a Justiça de alcançar seu destinatário.

Ele não deu entrevista. Não apareceu em vídeo. Não assinou nada. Mas entrou para a história com um apelido e uma frase:

– O Bessias tá indo.

O tempo passou. Pouco mais de nove anos depois, o país acorda com a notícia de que o portador virou destinatário.

Entre o “tá indo” e o “está nomeado”, houve apenas um verbo que explica tudo: recompensar.

Não se trata de mérito jurídico, embora diplomas sempre se encontrem para justificar o já decidido (o Brasil é o país dos diplomados). Trata-se de fidelidade ao Partido e coerência interna: quem leva um termo de posse em 2016 recebe um cargo vitalício em 2025.

A história não premiou um jurista: premiou um funcionário e fez dele guardião da Constituição. Bem, nós já sabemos como se comportam esses guardiões.

O office-boy virou oráculo. O estafeta virou estrela. O subalterno virou supremo.

Nada disso, porém, acontece por acaso. Não existe petista de graça. O Bessias não subiu ao altar da toga por flutuação mística: a ascensão do ex-carteiro da Dilma foi pavimentada com selos dos Correios.

Três diretorias da estatal — que acaba de anunciar um rombo recorde de 20 bilhões – foram oferecidas ao Senado em troca do sim sacramental. É a liturgia do balcão. Davi Alcolumbre, o sacerdote da sabatina, precisava ser acalmado. E não há calmante melhor do que uma estatal sangrando com vaga aberta.

A moeda de troca já foi o ouro. Hoje é o carteiro. O Bessias sobe ao Supremo como quem foi despachado por PAC expresso. Chamam isso de articulação política. Mas qualquer um que já entrou em repartição sabe o nome certo.

A instituição é suprema, mas o caminho até ela continua sendo o mesmo: o da velha escada do vale-tudo. Com selo, carimbo e código de rastreamento. Só assim para os Correios funcionarem!

Mas a trajetória do Bessias não parou no despacho de papéis ou nas diretorias trocadas por bênçãos senatoriais. Em 2023, ele fundou sua obra-prima: a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia – um nome que, como todo nome soviético, diz o contrário do que faz.

A função oficial é combater a desinformação. A função real é combater a dissidência.

Sob seu comando, o governo passou a decidir o que é verdade. Criou-se uma espécie de Procuradoria da Verdade, um ministério informal encarregado de proteger o bom nome das políticas públicas – e, se possível, calar os que ousam discordar delas.

Nada mais coerente. O mesmo funcionário que um dia correu para salvar seu chefe da Justiça hoje corre para censurar quem ousa questionar seus chefes. O Bessias virou o guardião do discurso autorizado. Da função de levar o papel, passou à missão de controlar a palavra.

Parabéns, companheiro Bessias! Já pode assinar o termo de posse – e a certidão de óbito da República.

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LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA