A PALAVRA DO EDITOR

AS BRASILEIRAS: Edwiges de Sá Pereira

Edwiges de Sá Pereira nasceu em 25/10/1884, em Barreiros, PE. Poeta, jornalista, professora e precursora do movimento feminista no Brasil. Filha do advogado José Bonifácio de Sá Pereira e Maria Amélia Gonçalves da Rocha de Sá Pereira, tradicional família pernambucana. Irmã do renomado jurista Virgílio de Sá Pereira e do conhecido médico Cosme de Sá Pereira, que distribuía remédios em sua residência, dando o nome à avenida “Estrada dos Remédios”, no Recife.

Foi a primeira mulher a entrar para uma Academia de Letras no mundo. Foi também uma das primeiras jornalistas do Brasil e ativista social na luta pelos direitos humanos. Estudou no Colégio Eucarístico e foi professora de Educação Fundamental de História e Português, além de superintendente de ensino em várias escolas do Recife, até o cargo de professora catedrática da Escola Normal. Aos poucos foi estendendo sua atuação para a conquista da emancipação feminina e participou do I Congresso Internacional Feminista, em 1922 e colaborou na fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

No II Congresso Internacional Feminista, realizado em 1931 no Rio de Janeiro, proferiu discurso “Pela mulher, para a mulher”, onde classifica a condição da mulher brasileira em 3 categorias: 1) a que não precisa trabalhar; 2) a que precisa e sabe trabalhar e 3) a que precisa e não sabe trabalhar. Evidentemente estava se referindo ao trabalho externo, fora do lar. Sua atuação dirigia-se a mudar a situação destas últimas. Em 1920 ingressou na Academia Pernambucana de Letras, tornando-se a primeira mulher brasileira a participar de uma agremiação acadêmica, onde chegou a ocupar o cargo de vice-presidente. Pouco depois ingressou na Associação de Imprensa de Pernambuco, repetindo seu pioneirismo como mulher participante de uma entidade jornalística.

Publicou diversas obras nas áreas de poesia, ficção e jornalísticas: Campesinas, Horas inúteis, Joia turca, Um passado que não morre, Eva Militante e A influência da mulher na educação pacifista do após-guerra. Como jornalista, atuou em diversos órgãos da imprensa pernambucana e de outros estados: “Jornal Pequeno”, “A Província”, “Jornal do Commercio”, “O Lyrio” e “Escrínio”, no Rio Grande do Sul. E também revistas como “Vida Feminina”, “Revista do Instituto da Sociedade de Letras de Pernambuco” e “A Nota”.

Sua atuação, tanto nas instituições como na imprensa, ficou marcada pela luta em defesa da cidadania e dos direitos humanos; pela conquista da emancipação feminina e conquista do voto da mulher, participando de campanhas sufragistas. Um direito que foi ratificado na Revolução de 1930. Com a conquista do direito de votar e ser votada, candidatou-se a Deputada da Assembleia Nacional Constituinte, em 1934. Foi também precursora pelo direito ao divórcio e propagava nos jornais que “nenhuma mulher era obrigada a viver ao lado de um homem com que não se entendesse muito bem”.

Como professora, sua atuação na imprensa insistia na necessidade da educação da mulher como único caminho para a libertação. Faleceu em 14/8/1958 e seu acervo documental encontra-se à disposição para consultas no Centro de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

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OPERAÇÃO MACACO

Maestro Nelson Ferreira e cantora Nerize Paiva: duas grandes figuras da música e da cultura pernambucana

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COMO PÔR UM ELEFANTE DENTRO DE UMA CARTOLA

Você consegue explicar para si mesmo como, em todo o Ocidente, se repetem os mesmos discursos, com as mesmas palavras, só trocando o idioma? Como as mesmas pautas ganham súbita prioridade aonde se vá? Por que as pressões e o constrangimento social são exercidos de modo tão idêntico?

Pois aí está o imenso perigo que cerca a sociedade e a democracia no Ocidente. É perfeitamente possível esconder de quase todo mundo a existência de um movimento dessa natureza, manter no anonimato e na imprecisão seus líderes e objetivos, escamotear seus êxitos e permitir que seus fins sejam alcançados sem que sua existência seja percebida.

Esse é o perigo. Se um mágico esconde um elefante dentro de sua cartola, isso só pode acontecer se a cartola for maior do que o próprio elefante. Inviável uma cartola desse tamanho? Então é porque a cartola e o elefante são uma coisa só.

Mais uma vez, então: como pode? Só há um modo: contando com poderosa rede de companheiros, com empresários que vendem seu silêncio, com o uso competente dos símbolos no imaginário coletivo e usando-os como arma de constrangimento. Hoje, para o sujeito ser qualificado como fascista e radical de direita basta dizer que ideologia de gênero é uma besteira sem fundamento, ou ser contra a Marcha das Vadias, ou contra invasão de propriedades.

Para compreender o nível dessa manipulação, basta observar alguns exemplos com que já convivemos. O Foro de São Paulo permaneceu oculto da sociedade brasileira durante mais de 10 anos, apesar de fundado pelos ruidosos Lula e Fidel Castro. Quaisquer menções a ele eram tratadas como teoria da conspiração.

Em 2007, decorridos 17 anos desde sua fundação, o FSP realizou em San Salvador seu 13º Encontro. Um longo painel estendido no plenário exibia fotos de Fidel, Lula, Evo, Chávez, Tabaré, Ortega, Correa e Préval. Acima das imagens, os dizeres: “Presidentes de países y fundadores del Foro de São Paulo”. A foto da socialista Michelle Bachelet só não estava ali por um “grave erro logístico”, segundo a organizadora do evento.

Parece-lhe muito, leitor, nove presidentes parceiros do FSP? Um ano mais tarde, em 2008, 17 países eram governados pelo FSP. Mas o Foro, em si, ainda era tratado como ficção direitista em 2013, quando o Foro se reuniu em São Paulo diante dos óculos opacos de uns e o muxoxo de outros.

Ou seja, meu caro leitor, quando se trata de iludir multidões, num projeto totalitário de dominação, os meios e as técnicas disponíveis são conhecidos e eficientes. Não há o que negar. Felizmente, o elefante, por sua própria natureza, acaba se tornando visível e audível seu barrido.

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COISAS ESTRANHAS NA MEDICINA

Você talvez esteja estranhando a postura de parte da classe médica em relação à pandemia. Se não estiver estranhando, não tem problema. Aqui não temos certezas nem sentenças. Mas vamos tentando inventariar as esquisitices, enquanto isso (inventariar esquisitices) não vira também falta de empatia, negacionismo e comportamento potencialmente criminoso para com a saúde pública.

O que está parecendo meio esquisito?

(“parecendo”, “meio” e “esquisito” são palavras deliberadamente atenuantes para não ferir suscetibilidades. Tudo aqui é meio relativo, meio inconclusivo, meio “perguntar não ofende”, ok? Não sabemos de nada.)

Voltando: o que está parecendo meio esquisito no comportamento de parte da classe médica? Estamos novamente usando a atenuante “parte”, porque referir apenas a “classe médica” poderia parecer uma generalização injusta – embora a quantidade de esquisitices consagradas no ano de 2020 sem uma refutação clara por parte da classe médica dê vontade de perguntar, generalizando mesmo: o que houve com a classe médica? Mas vamos seguir prudentemente com o eufemismo “parte”.

São pelo menos algumas esquisitices flutuando por aí com boa imunidade entre profissionais da medicina. A mais esquisita de todas, obviamente, é o tal do lockdown. Inglaterra e Alemanha fecharam tudo de novo. “Tudo” quer dizer praticamente tudo, porque o lockdown deixa funcionar “serviços essenciais” – sendo que em cada lugar a autoridade decide se padaria é essencial, ou só supermercado. E também metrô, ônibus e trem podem ficar de fora do trancamento. Isso tudo cuidadosamente negociado com o coronavírus, para ele não pegar o bonde errado.

Dependendo da região, até 99% das pessoas infectadas com a covid-19 não estarão em risco letal. Mas as políticas restritivas jamais são dirigidas a grupos de risco e à conduta geral para com os grupos de risco. Os trancamentos são indiscriminados para toda a sociedade. O que a classe médica acha desse show de critérios ocultos?

Felizmente você poderá citar médicos que disseram que essa diretriz supostamente sanitária é só uma hipótese aventureira que ninguém nunca fundamentou. Mas onde está o repúdio da classe médica – por meio de suas instituições representativas – a medidas extremas, já reiteradas por quase um ano, que afetam a saúde das populações de variadas formas – com represamento de doenças a partir do adiamento de diagnósticos e da interrupção de tratamentos, para não falar em depressão, violência doméstica e suicídio?

Também não é esquisito que a classe médica de forma geral, ou em sua maioria, ou a ressalva que você prefira, ignore os levantamentos objetivos demonstrando que as regiões mais trancadas são as que têm mais óbitos por milhão?

Por que a comparação inevitável entre uma Inglaterra e uma Suécia – tendo notoriamente o segundo país menos restrições e menos óbitos por milhão – não suscitou ao menos alertas médicos (no nível institucional) quanto à condição no mínimo altamente duvidosa desse instrumento devastador chamado lockdown?

Esquisito. Ou não é?

E as vacinas? Grandes laboratórios celebram contratos eximindo-se de responsabilidade judicial por reações adversas nos vacinados. E estamos falando de vacinas desenvolvidas em pouco mais de seis meses – quando o ciclo mais curto de aprovação de uma vacina na história da medicina é de quatro anos. Sempre aparece um especialista para dizer que está tudo normal, que é assim mesmo. E sempre aparece um veículo de mídia para veicular um palpite científico desse tipo.

E se estatísticas misturam óbitos de covid com óbitos de pneumonia e outras enfermidades, inaugurando a figura bizarra do atestado de óbito “presumido” – sem contraditório ou nenhum tipo de crivo institucional no meio médico -, a literatura ficcional em torno da eficácia e da segurança das vacinas também vai passando como ciência debaixo do nariz da classe.

Mas isso é só uma suposição, uma sensação, enfim, um aroma de esquisitice talvez só relevante para olfatos suscetíveis. Respire fundo. Se achar que o ar está limpo, vá em frente.

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O PARAISO É AQUI

É difícil sair da lembrança do natalense a propaganda inovadora e agressiva lançada pelo Motel Tahiti, que funcionou entre 1974 e 1995, no Bairro Capim Macio. A partir da criatividade do logotipo verbal que marcou o empreendimento financiado com dinheiro do BDRN: Motel Tahiti: O paraíso é aqui!

A assertiva guardava lá suas razões de ser, pois o produto oferecido pelo irreverente pernambucano Alcyony Dowsley, primou pela qualidade durante os 21 anos de existência.

Possuía conforto, higiene, segurança, privacidade e boa comida. Dispunha de grupo gerador próprio, poços tubulares, maquinas de fabricar gelo, de lavar e de esterilizar roupas; saunas, piscinas automatizadas e outras inovações tecnológicas da época para melhor funcionamento do empreendimento e bem-estar da clientela.

Segundo declarava o empresário “A roupa daqui é mais esterilizada do que nos hospitais da cidade” ou “Pode faltar água e luz em Natal, menos no Tahiti”.

Em depoimento à revista RN Econômico, em junho de 1984, o jornalista Vicente Serejo assim se expressou: Alcyony é um profissional numa terra de amadores. O Tahiti tem a neurose da perfeição. Sua campanha alegre e bem-humorada conquistou a opinião pública. Além disso, o Tahiti tem uma das melhores cozinhas de Natal. Ir ao motel hoje é como ir a um restaurante. Graças ao Tahiti, motel não é mais visto como pecado.

A prática de casais casados frequentarem o Motel Tahiti tornou-se corriqueira. Quer por curiosidade das esposas, quer por comemoração de datas especiais, quer para apimentar o matrimônio ou, apenas, para terminar uma noitada com uma boa refeição num ambiente mundano.

Eis algumas das mensagens de duplo sentido das campanhas publicitárias levadas a efeito pelo Motel Tahiti. Segundo pessoas próximas do proprietário, tudo produção da mente fértil de Dowsley:

– Na Semana Santa: Não é peixe nem é carne, pode comer à vontade.

– Promoção de almoço executivo: Coma duas e pague uma.

– No período Junino: Acenda a sua fogueira.

– Campanha contra o fumo: Seja homem! Deixe de fumar! Esse tabaco mata.

– Vaguejada de Jucurutu: O bom derruba dentro.

– Incentivo ao turismo: Turista merece casa, comida e roupa lavada. Carinho nele.

– Dia das mães: Pai, leva mãe para o Tahiti, ela também merece.

– Campanha de vacinação: Vacine o cachorro do seu marido – Raiva mata!

– Incentivando o matrimônio estável: Não troque de mulher. Troque de ambiente.

Quando Aureliano Chaves visitou Natal em campanha para a sucessão de João Figueiredo na Presidência da República, a comitiva do então vice-presidente se deparou, em pontos estratégicos do percurso estabelecido pela comitiva, com a seguinte mensagem: Aureliano, meu amor! – Motel Tahiti.

Para melhor cuidar do empreendimento, o proprietário residia no próprio motel. Alcyony Dowsley faleceu em 2001. No local onde funcionou o motel construíram uma lagoa de captação. Lançando mão do estilo bem-humorado do empresário, bem que caberia ali uma placa indicativa dizendo: Motel Tahiti: O paraíso foi aqui!

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A NOVA LUTA DE CLASSES E A ELITE TECNOCRÁTICA

A Europa e a América do Norte estão experimentando a maior onda revolucionária de protesto político desde os anos 1960 ou talvez 1930. Exceto na França e em alguns casos pontuais, a revolução até hoje permaneceu não violenta. Mas é uma revolução, no entanto. E coloca basicamente elite e povo em lados opostos, numa moderna “luta de classes”. Eis a tese que defende Michael Lind em The New Class War: Saving Democracy from the Managerial Elite. Os argumentos apresentados por Lind nos ajudam a entender certas nuances da invasão do Capitólio na última quarta-feira, dia 6.

O poder social, segundo o autor, existe em três esferas: governo, economia e cultura. Cada uma dessas três esferas de poder social é o local do conflito de classes, às vezes intenso e às vezes contido por acomodações entre as classes.

Entre a década de 1960 e o presente, à medida que o medo menor de conflito das grandes potências diminuía gradualmente os incentivos das elites ocidentais para fazer concessões às classes trabalhadoras ocidentais, o sistema do pós-guerra de “pluralismo democrático” foi desmontado em uma revolução de cima para baixo que promoveu os interesses materiais e os valores intangíveis da minoria de gerentes e profissionais com formação universitária, que sucederam aos antiquados capitalistas burgueses como a elite dominante.

O que substituiu o pluralismo democrático, em que as elites cediam mais poder aos trabalhadores organizados, pode ser descrito como “neoliberalismo tecnocrático”. Para Lind, a revolução neoliberal tecnocrática, realizada em uma nação ocidental após a outra por membros da elite gerencial cada vez mais agressiva e poderosa, provocou uma reação populista pela classe trabalhadora nativa na defensiva e sem poder.

Apesar de todas as suas diferenças, esses demagogos populistas lançaram contra-ataques semelhantes ao establishment “neoliberal” dominante em todas as três esferas de poder social. Os populistas da Europa e da América do Norte terão sucesso em derrubar e substituir o neoliberalismo tecnocrático? O autor acredita que não. Enquanto populistas podem obter vitórias isoladas ocasionais para seus eleitores, a história sugere que os movimentos populistas tendem a falhar ao enfrentar classes dominantes bem entrincheiradas cujos membros desfrutam de quase monopólios de expertise, riqueza e influência cultural.

Alcançar uma “paz de classe” genuína nas democracias ocidentais exigirá unir e capacitar os trabalhadores nativos e imigrantes, enquanto se restaura o poder de tomada de decisão genuíno para a maioria não educada em universidades em todas as três esferas de poder social – economia, política e cultura. O populismo demagógico é um sintoma. O neoliberalismo tecnocrático seria a doença. O pluralismo democrático é a cura, segundo o autor.

O neoliberalismo tecnocrático – a ideologia hegemônica da elite transatlântica – finge que o status de classe herdado virtualmente desapareceu em sociedades que são puramente “meritocráticas”, com exceção das barreiras para a ascensão individual que ainda existem por causa do racismo e da misoginia. Junto com os neoliberais e libertários, os conservadores do establishment afirmam que a elite econômica não é uma classe semi-hereditária, mas sim um agregado caleidoscópico em constante mudança de indivíduos talentosos e trabalhadores.

Os gerentes mais importantes são burocratas públicos e privados que dirigem grandes corporações nacionais e globais, agências governamentais e organizações sem fins lucrativos. Eles exercem uma influência desproporcional na política e na sociedade em virtude de suas posições institucionais em grandes e poderosas burocracias. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, apenas cerca de três em cada dez cidadãos têm diploma universitário, e um terço da população fornece quase todo o pessoal do governo, negócios, mídia e organizações sem fins lucrativos.

Pode ser verdade que diplomas universitários sejam tíquetes para sair da pobreza, mas a maioria é distribuída no nascimento para crianças em um pequeno número de famílias com muito dinheiro. O que Lind está pondo em xeque é a própria noção de meritocracia no mundo moderno, em que o ingresso numa dessas universidades caríssimas já passa pelo filtro do nascimento e costuma fazer toda a diferença no resultado. É delas, afinal, que sai essa elite gerencial que vai comandar as instituições dominantes.

A Revolução Industrial não substituiu os sistemas de classes no Ocidente por sociedades meritocráticas sem classes, afirma o autor. Substituiu o antigo sistema de classes, em sua maioria hereditário, composto de proprietários e camponeses, por um novo sistema de classes, principalmente hereditário, de gerentes e proletários, em que os diplomas são os novos títulos de nobreza e brasões de armas.

As elites gerenciais ocidentais de hoje muitas vezes fingem ser “cidadãos do mundo” e sinalizam sua virtude ao desdenhar do Estado-nação democrático como algo paroquial ou anacrônico. Mas a maioria está profundamente enraizada em seu país de origem. A nova luta de classes não é uma guerra de classes global, portanto. Consiste em lutas em nações ocidentais específicas entre as elites locais e as classes trabalhadoras locais, lutas que acontecem em muitas nações ao mesmo tempo.

As fortunas de muitos executivos de tecnologia de São Francisco dependem de legiões de trabalhadores fabris mal pagos na China e em outros países, em fazendas que consomem muita energia localizadas em áreas rurais remotas e em massivas infraestruturas de transporte e comunicação que se estendem por vastas distâncias entre cidades e nações e são mantidas por operários.

A maior parte da produção física que resta nas nações ocidentais, como manufatura, agricultura e mineração, incluindo extração de combustível fóssil, junto com a construção e a manutenção da infraestrutura, ocorre longe dos centros da moda e subúrbios prósperos, onde a maior parte da classe administrativa vive e trabalha. As elites da classe alta em centros urbanos, portanto, podem defender regulamentações ambientais rigorosas com baixo custo para elas.

Embora a França seja responsável por apenas uma quantidade insignificante das emissões globais de gases de efeito estufa, a fim de anunciar sua liderança moral no combate ao aquecimento global, o governo do presidente Emmanuel Macron aumentou os impostos sobre carros e caminhões movidos a diesel. Os custos desse exercício de sinalização de virtude caíram desproporcionalmente sobre os cidadãos da classe trabalhadora e do campo, dependentes de seus automóveis e caminhões. Daí surgiu a revolta dos “coletes-amarelos”.

Michael Lind trabalhou na Heritage Foundation, um think-tank conservador, mas sua visão não é facilmente definível. Ele defende um “nacionalismo democrático”, é crítico do libertarianismo, elogia o New Deal e poderia ser encaixado na tradição do pensamento centralizador de Alexander Hamilton. No livro, fica clara a defesa de um papel maior tanto para o Estado como para os sindicatos, o que seria rechaçado por liberais clássicos e conservadores da linhagem britânica. Mas o livro traz alertas importantes, mesmo para quem discorda de sua visão, acerca do abismo criado entre as elites gerenciais e o povo governado.

É basicamente o mesmo fenômeno explicado de forma diferente por Charles Murray em Coming Apart, ou por Christopher Lasch em The Revolt of the Elites, e que pode ser bem ilustrado pelas vitórias de Trump e do Brexit. Há um crescente afastamento entre a classe governante e a classe governada, que supostamente seria representada por essa elite, mas não se sente assim, com boa dose de razão. Buscar compreender essa crise de representatividade é crucial para salvar a democracia, portanto.

O liberalismo baseado em direitos, levado longe demais, torna-se liberalismo antidemocrático, sustenta Lind. Muitas das instituições importantes para os cidadãos nas democracias são sutilmente alteradas ou deslegitimadas em uma sociedade em que os interesses comuns devem ser justificados exclusivamente em termos deste ou daquele direito individual. Igrejas, clubes e famílias, para citar três exemplos, são impossíveis de justificar com base em contratos entre indivíduos titulares de direitos, como se fossem meras sociedades comerciais. Também é difícil para uma filosofia baseada em direitos legitimar o Estado-nação como uma comunidade que pode exigir lealdade e sacrifício de seus membros.

No geral, a mudança do centro de gravidade das associações de membros locais baseadas em congregações da igreja para fundações, organizações sem fins lucrativos financiadas por fundações e universidades representa uma transferência da influência cívica e cultural das pessoas comuns para a elite administrativa. O sucesso no setor sem fins lucrativos frequentemente depende não da mobilização de cidadãos comuns, mas da obtenção de verbas dos funcionários de um pequeno número de fundações dotadas de bilionários em algumas grandes cidades, muitas delas com nomes de antigos ou novos magnatas dos negócios, como Ford, Rockefeller, Gates, Soros e Bloomberg.

As principais instituições nas quais a classe trabalhadora encontrou uma voz – partidos de massa, sindicatos e instituições religiosas e cívicas de base – foram enfraquecidas ou destruídas, deixando a maior parte da população fora da elite dos países ocidentais sem nenhuma voz nos negócios públicos, exceto por gritos de raiva. Se isso não for revertido, a tendência é a revolta piorar. Apontar para o populismo como causa, e não sintoma do problema, é errar o diagnóstico e, portanto, a receita. Ou o povo tem mais participação efetiva no poder, em suas três esferas, ou as elites tecnocráticas serão desafiadas com cada vez mais desprezo e ressentimento, quiçá violência.

A PALAVRA DO EDITOR

É HOJE A CONFERÊNCIA SEMANAL FUBÂNICA

Daqui a pouco, às sete e meia da noite, começa a reunião semanal dos grandes cientistas, intelectuais, pesquisadores, mestres, pensadores, sábios, doutores e expoentes culturais que dão expediente nesta gazeta escrota.

No comando da palestra de hoje estará o colunista fubânico Rodrigo Buenaventura de Léon, em cuja pele costuma baixar o espírito da impagável Mercedita.

Depois de ter nos brindado, há pouco tempo, com uma instrutiva conferência sobre a viadagem em Pelotas, nesta quinta-feira, dia 7 de janeiro, a primeira do ano, Rodrigo irá deitar falação sobre as Charlas do Sul, discorrendo a respeito dos Dialetos Gaúchos.

Simplesmente imperdível.

Contamos com a participação de todos vocês.

Para entrar na sala, confortável e com ar condicionado, basta clicar aqui

Até lá!

Flagrante da última assembleia realizada no majestoso  salão fubânico, mais conhecido como “Cabaré do Berto”

A PALAVRA DO EDITOR

AGRADECIMENTO RELINCHADO

A secretária de redação Chupicleide, o jumento Polodoro e a cachorra Xolinha agradecem do fundo do coração as doações dos amigos fubânicos, leitores e colunistas, feitas neste começo de mês e de ano.

A direção da Empresa Bartolomeu Silva, responsável pela hospedagem e pela assistência técnica ao JBF, respirou aliviada: está afastada a possiblidade de calote ou de atraso de pagamento no mês de janeiro.

Ufa!!!

Gratíssimo aos leitores Hélio Araújo, Fernando, Rubem Rodrigues, César d’Ávila, Áurea Regina, Manuel Feitosa e Cláudio da Silva, e também aos colunistas Fred Monteiro e Rodrigo de Léon

Chupicleide manda dizer que está aqui torcendo pra que a generosidade de vocês sirva de exemplo pros miscos, pros pirangueiros, pros somíticos, pros fominhas, pros tacanhos, pros sovinas, pros avarentos e pros unhas-de-fome que ainda resistem em enfiar a mão no bolso e mandar uns trocados pra ajudar a pagar o salário dela.

O salário dela, o capim de Polodoro e a ração de Xolinha.

Uma excelente quinta-feira pra todos vocês!!!

Polodoro e Chupicleide: uma dupla relinchando afinada, demostrando muita alegria com a generosidade dos fubânicos doadores

A PALAVRA DO EDITOR

GENIVAL LACERDA VIAJOU ANTES DO COMBINADO

Encantou-se hoje de manhã, aos 89 anos, o grande Genival Lacerda, aqui em Recife.

Um dos maiores nomes da música brasileira, um ícone da cultura da Nação Nordestina.

Nasceu em Campina Grande-PB, e era conterrâneo dos meus queridos amigos Jessier Quirino e Olando Tejo.

Tejo contava muitas e muitas histórias de Genival.

Descanse em paz, seu cabra.

Você vai continuar vivo na minha estima.

Este Editor com Genival Lacerda, num evento em Recife, novembro de 2011