MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

O BOLO DE CENOURA

Bairro do Morumbi, São Paulo

O amor é lindo!

Quando se ama, todo sacrifício em prol da pessoa amada vale a pena, mesmo quando a alma é pequena, com meus pedidos de desculpas ao espírito de Fernando Pessoa.

Em 1994, ano em que o Brasil ganhou mais uma Copa do Mundo, um dos colegas de Faculdade de meu filho Alexandre, o Duda, despertou os primaveris olhares langorosos e apaixonentos de uma bonita moçoila em São Paulo. Além das virtudes de natureza física tinha também uma outra, esta de origem econômico-financeira: era filha de um dos Diretores de um dos maiores bancos brasileiros, hoje extinto, engolido que foi por um dos gigantes desse segmento.

Fernanda morava com os pais e duas irmãs em um desses grandes, luxuosos e sofisticados apartamentos de um moderno edifício no Morumbi, um dos bairros nobres da capital paulista. Um por andar, claro, como convém a uma família de elevada extração. Tinha seu próprio salão de lazer, todo envidraçado, de onde se desfrutava uma bela vista. Havia também um telão onde se projetava a imagem de uma televisão de última geração (as maiores televisões da época tinham 45 polegadas, e um projetor de imagem com um amplificador estéreo era o supra sumo do status e do prazer de acompanhar uma partida de futebol pela TV).

Em sua investida inicial nossa querida Fernanda levou para o Duda um belo pedaço de bolo de cenoura que a mãe havia feito.

Ora, se havia algo neste mundo que Duda detestava era bolo de cenoura! Mas, como vossuncê bem sabe, a paixão não só cega os olhos e tornam moucos os ouvidos como também perverte a sinceridade das palavras. O rapazola não só engoliu o pedaço inteiro como salientou sua apurada predileção por bolos de cenoura, e que esse havia sido o melhor deles que já havia provado na vida.

Duas semanas depois, em 17 de julho, aconteceria a disputa da final da Copa do Mundo entre o Brasil e a Itália. Duda foi convidado a assistir ao jogo no apartamento da família da Fernanda. Jogo tenso, impróprio para torcedores cardíacos, que acabou empatado no tempo regulamentar e na prorrogação. A decisão foi para os pênaltis. Enquanto os goleiros e batedores se preparavam para o tiroteio final, a mãe da Fernanda veio da copa, toda sorridente, com uma magnífica tora de bolo de cenoura.

– A Fernanda me disse que você adora um bolo de cenoura. Portanto, fiz esse com capricho especialmente pra você. Espero que esteja à altura de seu bom gosto.

Nosso querido Romeu engoliu em seco, mas manteve a pose para não desapontar sua Julieta. Ficou enrolando, deu uma mordidinha aqui, outra ali, mas sem ânimo de encarar o pedaço do bolo.

Nisso a sorte o ajudou: Baggio chutou pra fora, o Brasil venceu por 3 x 2 e virou tetracampeão.

Explosão de alegria. Todos gritavam e pulavam.

Duda aproveitou a balbúrdia da ocasião e despachou seu pedaço de bolo a 136,7 quilômetros por hora pela grande janela aberta do salão que estava às suas costas.

Quero dizer, na verdade a janela não estava aberta, mas o vidro estava tão cristalinamente limpo que dava a impressão que dita janela aberta estava. O resultado foi que a vidraça interrompeu a trajetória do pedaço do bolo de cenoura e agora seus restos mortais deslizavam lentamente por ela em direção ao piso, marcando seu rastro no vidro com uma gosma marrom de chocolate que não deixava dúvidas sobre o que havia acontecido.

Até hoje tenho dificuldades em entender porque o namoro dos dois jovens não foi adiante. Dariam um lindo casal!

DEU NO X

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

O SERMÃO DO BOM LADRÃO

Em 1.655, o padre António Vieira proferiu este Sermão na Igreja da Misericórdia (Conceição Velha, Lisboa), perante D. João IV e sua corte. Advertindo, o Rei, sobre o pecado da corrupção pela cumplicidade. E “Bem quisera eu que o que hoje determino pregar chegara a todos os reis”, explicou depois. Como tem a ver com o Brasil em que, pelas últimas decisões do Supremo, a corrupção parece valer a pena, lembro alguns trechos.

“Antigamente os que assistiam ao lado dos príncipes chamavam-se laterones. E depois, corrompendo-se este vocábulo, como afirma Marco Varro, chamaram-se latrones. E que seria se assim como se corrompeu o vocábulo, se corrompessem também os que o mesmo vocábulo significa? O que só digo e sei, por teologia certa, é que em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: Principes tui socii rurum: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões porque os consentem; são companheiros dos ladrões porque lhes dão os postos e poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem; e são finalmente seus companheiros porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo.

“Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Dom fulano (diz a piedade bem intencionada) é um fidalgo pobre, dê-se-lhe um governo. Mas, porque é pobre, um governo, para que vá desempobrecer à custa dos que governar; para que vá fazer muitos pobres à conta de tornar muito rico!?… Em suma, o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados e ricos: e elas ficam roubadas e consumidas.

“Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam”. E por fim restam absolvidos, nos tribunais, talvez pudesse Vieira concluir. A vingança é que, assim disse mais tarde, “Nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os reis”. Ao menos isso.

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

O MEDO

Otávio Pires, coronel da reserva, era conhecido pela sua valentia e agressividade.

Casado com Elza, uma das mulheres mais bonitas da cidade, e bem mais nova do que ele, tinha tanto medo de ser traído, que ameaçava qualquer homem que a olhasse com admiração. Ninguém se atrevia, sequer, a levantar os olhos para sua esposa. Na opinião de todas as pessoas, aquele que o fizesse seria um homem liquidado.

Foi no auge do ciúme do coronel, e quando mais se acentuava a fama da sua agressividade, que voltou a residir na mesma cidade, o famoso advogado Dr. Agostinho Santos, depois de morar vários anos fora. Não era coronel, nem major, nem capitão, nem tenente, mas sempre foi considerado o homem mais namorador da cidade, quando jovem.

Divorciado e sozinho, o advogado foi morar num apartamento de sua propriedade, que, por coincidência, ficava no mesmo prédio em que morava o coronel Otávio. Muito simpático e conversador, não foi preciso muito esforço para que o advogado se tornasse amigo do coronel.

A amizade foi tão espontânea e sincera, que, uma semana depois, o coronel convidou o Dr. Agostinho para almoçar com ele e sua esposa, no apartamento.

Muito simpático e gentil, Agostinho conquistou a simpatia do casal. O coronel, com grande esforço, conseguia disfarçar o seu ciúme e insegurança. Com um sorriso sem graça e uma amabilidade forçada, conseguia esconder sua austeridade marcial. Elza, usando um vestido elegante e jovial, jogava charme para cima do marido, chamando a atenção do convidado.

Minutos depois, estavam sentados à mesa redonda, em que havia três talheres. A palestra corria num clima amigável e feliz, entre petiscos saborosos e sorrisos significativos, quando o telefone tocou. Era o procurador do coronel, que precisava lhe falar com urgência, sobre transações comerciais, no escritório.
-Diabo! – exclamou o militar, irritado. Tenho de ir resolver um problema. E virando-se para o advogado, falou:

– Esteja à vontade, doutor. É questão de meia hora. Fique por aí; eu não demoro!

E para a esposa:

– Elza, se encarregue das honras da casa, que eu volto já!

Mal o coronel saiu, duas taças de vinho se chocaram no ar, por cima da mesa, festejando aquele momento. O enlevo foi tão grande, que, ao retornar, o marido encontrou a mulher e o advogado no seu gabinete, num colóquio amoroso. Apanhado em flagrante, o advogado pôs-se de pé, sentindo-se paralisado. Apoiado na porta que empurrara, o coronel o encarou, esbravejando:

– Sim, senhor advogado!!! Sim, Dr. Agostinho!!!

Pálido e trêmulo, o advogado lembrou-se da fama do coronel, e sentiu que iria morrer.

A mulher ainda teve coragem de dizer para o marido:

– Amor, não é nada disso que você está pensando!!!

Humilhado, o coronel falou novamente:

– Sim, senhor!!!

E abrandando a voz:

– Você está correndo o risco de sofrer uma congestão!!!

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

MAURÍCIO ASSUERO – RECIFE-PE

Prezado Papa,

o Cabaré do Berto recebeu nesta quarta feira o poeta tabirense Genildo Santana. Eu o conheci através de um vídeo onde ele declamou O Plantador de Milho e posteriormente, em 2018, presenciei uma mesa de glosas na Missa do Poeta lá em Tabira com sua participação. Fiquei admirado com a versatilidade do poeta e muito mais sensibilizado com sua história de vida, sofrida, como é a vida do sertanejo.

Em versos, Genildo foi capaz – não sei como – de se apresentar para vida, porque a perda de uma pessoa amada é rima difícil de se achar. Eis o cartão de apresentação do poeta:

Sou Genildo Firmino de Santana
mais um filho da seca nordestina
Ao nascer não sabia que minha sina
Era uma sina cruel e tão tirara,
Eu sou doce igualmente o mel da cana,
Mas também sou azedo igual limão,
Sou irmão pra quem sabe ser irmão,
Sou pastor, sou ovelha sem ter guia
E com aula, improviso e poesia
Vou deixando mais belo meu sertão.

Minha infância foi triste e dolorida
Inda lembro de como pai morreu,
De repente mamãe apareceu
Com um câncer medonho em sua vida,
Minha noiva morreu numa batida
Inda lembro o local, o carro, o canto,
Quem me ouve dizer que sofri tanto
Se pergunta porque já não morri,
Quem sofreu nessa vida o que eu sofri
Se lembrar do passado, verte pranto.

Mas com tudo que em vida já passei
Fiz da dor passaporte pra o amor,
Se capaz de matar não foi a dor
Pelo menos mais forte eu fiquei,
O amor eu busquei e muito amei,
Dei respostas que o mundo se espantou,
Perdoei a quem mais me magoou
E a quem me feriu, dei minha mão,
Transformei em um lar, meu coração,
Onde até o diabo já morou.

A cana para virar mel é espremida numa moenda e a moenda da vida espremeu Genildo gerando o improviso poético.

Contamos com a presença dos nossos amigos de sempre como Neto Feitosa, Hélio Fontes, Aristeu Teixeira, José Ramos, Rômulo Angélica, Terezinha Araújo, Ângela Gurgel, Ivon Sacramento, dentre outros que passaram rapidinho, e outros novatos como Margarida Lima, Cláudia Lira e meus conterrâneos Marcílio Siqueira e Expedito Brito.

Abraços e obrigado.

SANCHO PANZA - LAS BIENAVENTURANZAS

HÉRCULES E AS ONZE DEUSAS

“Os fatos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles.” Clarice Lispector

Como não ouso deixar passar sem palavras as grandes questões do nosso tempo, com políticos e outros tais a sair do armário (o que é de gosto é regalo da vida), reforço minha convicção de que deveria ter dado continuidade àquelas aulas de mandarim, cantonês e chinês padrão (Pǔtōnghuà).

Seguindo tal lógica, ou falta de, posso afirmar, com 99,9% de certeza, que Donald John Trump será o próximo presidente dos EUA. Falando em cabra macho…

Aqui em SBC, um policial civil morreu durante ação sexual em noitada, segundo noticiado pela mídia, com 11 gostosonas, belíssimas, maravilhosas, gatíssimas deusas profissionais do amor em um motel. O recordista sexual estava no local para comemorar o aniversário de 50 anos (garanhística investigação a cargo do 3º Distrito de Polícia Civil de São Bernardo do Campo).

A morte do priáprico homem da lei e hercúleo herói de Sancho, me fez recordar Allan Stewart Konigsberg, que dijo: “No le tengo miedo a la muerte, pero no quiero estar allí cuando suceda”. Sabiamente a vida nos ensina que quem vive de amor é dono de motel. La petite mort (em português: a pequena morte) se refere ao período refratário que ocorre depois do orgasmo. Este termo geralmente tem sido interpretado para descrever a perda da consciência ou desmaio pós-orgástico das pessoas em algumas experiências sexuais. Nosso herói não teve a mesma sorte de apenas sofrer uma “petite mort” ou “Der kleine Tod”.

Coincidência das coincidências estava eu, a passar vergonha, por estar no mesmo motel, no mesmo instante com apenas uma fêmea (sim, senhores; ele com 11 e eu com uma ruivinha sardenta, de seios fartos, cintura de pilão, quadris grandes e olhos cor de mel). Tão perto e tão distantes… Ele com 11 e eu com uma. Fiquei com uma puta inveja, apesar da formosura e maestria na arte de fazer “cama-sutriano” sexo a dama que me acompanhava (a inveja é uma zherda, Sancho).

No auge de meus 58 anos, faminto por sexo, levarei 12 garotas de programa para bater o record do bravo, hétero e fubânico homem da lei, prestando-lhe justa e póstuma homenagem. Se sobreviver, contarei minha façanha, certamente com generosas doses de exagero quanto ao meu desempenho («Amigo meu, não despreze a bisbilhotice! Ela é um impulso humano, de latitude infinita, que, como todos, vai do reles ao sublime. Por um lado leva a escutar às portas – e pelo outro a descobrir a América!» José Maria de Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes, p. 75 – Carlos Fradique Mendes é uma personagem criada no ano de 1868-69 por Jaime Batalha Reis, Antero de Quental e Eça de Queirós).

Falando em amor… Tenho uma relação de amor-ódio com a petista Gleisi (uma mulher nota 1000). Eu amo-a. Ela, se me conhecesse, odiaria-me. Quem manda no coração? Culpa do Bolsonaro, por certo. E as urnas, em 2022 nos colocarão mais distantes. Este amor platônico me leva a pensar em Platão e no quanto sou invisível diante de minha amada dama de vermelho…

De acordo com estudo da Universidade de Rochester, no Reino Unido, a atração masculina aumenta quando uma mulher se apresenta vestida de vermelho. A dama de vermelho… Alguns fubânicos certamente deixaram a imaginação voar até a sensacional Kelly LeBrock (Kelly Marie LeBrock) e à canção (“I Just Called to Say I Love You”).

Falando em invisibilidade, Salvatore Garau vendeu recentemente uma escultura invisível, por 15.000 euros (“mede”, segundo o “artista” 150 x 150 cm). Você leu exatamente isto: Uma escultura invisível. Ou seja, que não se pode tocar, ver por ser imaterial, um nada que alguns cabras muito “ixxxxxxpertos” levam para casa, similar, na literatura, a “El traje nuevo del emperador” – A roupa nova do rei (Kejserens nye Klæder), también conocido como El rey desnudo, un cuento de hadas danés escrito por Hans Christian Andersen y publicado en 1837.

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PENINHA - DICA MUSICAL

DEU NO X

DEU NO X

LADRÃO CARA-DE-PAU

* * *

Este cabra safado, este cara-de-pau sem limites, este bandido de alto escalão, este ladrão com mandato, certamente deu ordens pra um seu assessor comprar o “presente”.

Com o dinheiro da rachadinha.

O próprio assessor tirou a foto.

E o canalha botou no Twitter hoje de tarde.

Não tem um pingo de vergonha no fucinho, um mínimo de senso do ridículo.

É phoda!!!

Aí eu aproveitei e já mandei pro e-mail dele (sen.omaraziz@senado.leg.br), uma foto do jegue Polodoro.

Informei que a pica do nosso jumento será o presente desta gazeta escrota pra enfiar no furico deste corrupto descarado.

No furico dele e no de todos os eleitores que votaram nele, para os quais o nosso mascote, o jegue Polodoro, vai rinchar agora.

Rincha, Polodoro!!!

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

SONETO MATINAL – Bocage

Eram seis da manhã; eu acordava
Ao som de mão, que à porta me batia;
“Ora vejamos quem será”… dizia,
E assentado na cama me zangava.

Brando rugir da seda se escutava,
E sapato a ranger também se ouvia…
Salto fora da cama… Oh! que alegria
Não tive, olhando Armia, que arreitava!

Temendo venha alguém, a porta fecho:
Co’um chupão lhe saudei a rósea boca,
E na rompente mama alegre mexo:

O caralho estouvado o cono aboca;
Bate a gostosa greta o rubro queixo,
E a matinas de amor a porra toca.

Manuel Maria Barbosa du Bocage, Setúbal, Portugal (1765-1805)